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2004-08-31

 

Relativizando as Ideias (X)

Este “relativizar de ideias”, como tudo, tem de ter um fim e pronto é hoje.

Muitas mais ideias ficam por “relativizar”. A propósito, ainda ontem o DN negócios dedicou duas páginas a Angola sob o título “Angolanos preferem empresários brasileiros para fazer negócios”. Acho que o governo português devia reflectir muito sobre o que diz ao DN Alves da Rocha, professor da Universidade Católica em Luanda e uma das vozes mais credíveis sobre a problemática económica de Angola. “Portugal tem de definir onde é que quer estar a tempo inteiro e em part-time”…. “Portugal tem de definir uma estratégia” e, acrescento eu, não andar a reboque de outras potências. Essa estratégia tem de ser definida articulando, no essencial, os interesses nacionais e os de Angola.

Mas, com toda a franqueza, estes posts excederam o objectivo inicial: umas quantas linhas para chamar a atenção para uma realidade africana, em especial a realidade angolana, sobre a qual há muitas ideias feitas, pouco aderentes e pouco evolutivas.

É evidente que se não fossem os comments que me levaram a uma reflexão mais profunda nada disto tinha sido assim. Em especial o João Tunes espicaçou e bem o andar deste processo.

Bem, feito o balanço, valeu.

Mas, antes de terminar o prometido: uma palavra ao Manuel Correia sobre a cultura. Não tenho grande informação sobre o seu estado. Tive oportunidade de comprar uns discos, de estar num lançamento de um livro de Ondjaki “quantas madrugadas tem a noite”, um jovem escritor já com uma vasta obra, e, infelizmente, durante a minha passagem Henrique Abranches, “ o Homem dos Sete Talentos”, deixou–nos.

Mas o panorama cultural, actual e futuro, de Angola não poderá ser insensível e deixar de interiorizar a seguinte questão: a guerra “miscegenizou” muito as etnias, o que levou à perda de muitas das suas especificidades. Esta questão que é muito peculiar de Angola no contexto dos países de língua portuguesa não pode deixar de ser equacionada numa estratégia cultural porque se, por um lado levou à perda da especificidade dessas etnias, cultura, língua, costumes, por outro conduziu a uma aproximação entre esses povos. Acho que este elemento diferenciador da sociedade angolana merece reflexão em várias perspectivas e começa a ser alvo de debate.

 

Partido Socialista, por extenso (1)





1. Aí estão, agora, os candidatos e as suas moções. A discussão pode elevar-se das declarações de circunstância, cujo peso, no entanto, continua a ser importante - veja-se o que é dito pelos candidatos acerca da regionalização ou do aborto - , para as análises circunstanciadas e para as propostas ou para a... ausência delas. Queixam-se aqui ao lado, no Professorices (post intitulado «As moções do PS»), que as moções não adiantam quase nada sobre o ensino superior. Se é verdade que, pelo menos, um dos concorrentes não é candidato a 1º Ministro, também se calcula que nenhum deles o seja a Ministro da Ciência e do Ensino Superior. Poderiam ter dito algo mais? Decerto. Mas, bem vêem, nem mesmo as moções substituem os equilíbrios da governação.

2. O Mário Lino chamava a atenção, aqui no PUXA-PALAVRA, (post intitulado «As eleições no PS (4)»), para o facto de José Sócrates não ter sido beneficiado pelo tratamento mediático no caso que aponta. Não verifiquei, mas nem preciso. Basta-me a palavra dele. Esclareço que quando chamo a atenção para um ou outro caso, quero significar o que ainda se faz nos «nossos media», de vez em quando. Estou longe de pretender enunciar qualquer lei. Mesmo quando qualquer um dos candidatos é beneficiado, a manipulação implícita não lhe pode obviamente ser imputada. Nesse plano, José Sócrates «beneficia», sem igualmente disso poder ser responsabilizado, de apoios bem mais embaraçosos. Seria, porventura, prático demarcar-se de todos eles?

3. Por cima e por baixo de tudo o que as moções dos candidatos parecem ter em comum, a crítica que esboçam sobre o capitalismo e o nosso sistema político, acusa diferenças interessantes. Haverá tempo e vontade para discuti-las? Escolho este ângulo porque não há propriamente abismos programáticos entre o PS «por extenso» e o PPD/PSD sozinho ou, na sua versão hodierna, aliado ao CDS-PP de Paulo Portas. Se não for a crítica do capitalismo a separá-los, que mais poderá vir a separá-los? A «sensibilidade para o social»? Os ritmos de privatização? As prioridades? A história?

2004-08-29

 

Relativizando as Ideias (IX)

A economia de Angola é extremamente dependente do petróleo. Esta é uma realidade bem conhecida de todos. Talvez o que não seja tão conhecido é a dimensão real desta dependência e, para isso, aqui se registam alguns indicadores.

Peso do Petróleo na Economia de Angola
Anos 1999 2000 2001
%PIB 58.7 60.6 54.0
%Export - - 90.0
%R.Fiscais 87.7 89.3 80.5
Fonte: FMI, OCDE

Mas uma dúvida nos surge: porque razão esta actividade não foi afectada, quando toda a economia angolana esteve paralisada durante estes anos de guerra?

O relatório das Nações Unidas (2002) “Angola os desafios do pós-guerra” avança a seguinte explicação para o facto: “o crescimento da indústria petrolífera em Angola, protegida da guerra devido ao facto de se localizar principalmente offshore e de ter um quadro legal favorável e de incentivos fiscais atraentes, é um dos resultados mais bem sucedidos das últimas duas décadas”.

Este mesmo relatório acrescenta que, devido às descobertas de petróleo da última década, ao largo do litoral angolano, Angola se tornou “numa das zonas de exploração petrolífera mais bem sucedidas no mundo e uma das mais procuradas pelas empresas petrolíferas”.

A esta situação de país dependente quase em exclusivo do petróleo há que apontar vantagens e inconvenientes. As vantagens decorrem do volume de receitas fiscais de que Angola pode dispor ao longo destes anos: um dos mais elevados do Continente africano. Os inconvenientes decorrem, no essencial, da situação pouco saudável, sob os mais diversos aspectos, da elevada concentração/dependência da economia de um único sector, ainda com a agravante da volatilidade do preço do petróleo.

Assim, o futuro de Angola, assente na estabilização a nível macroeconómico e na criação de emprego de forma sustentada, de forma a potenciar a melhoria do nível de vida e bem estar, não pode deixar de assentar necessariamente na diversificação da sua estrutura económica.

Potencialidades reais para atingir este objectivo não faltam a Angola. Mas há apostas indispensáveis e inadiáveis para a exploração dessas potencialidades.

Desde logo, um esforço na criação e transmissão de condições de segurança à população, em que a as acções de desminagem assumem um grande papel, assim como as políticas relativas às armas de pequeno porte. Em paralelo, há que prosseguir com a recuperação e a modernização das infraestruturas básicas para propiciar a circulação de pessoas e bens e as relações entre famílias.

Finalmente, há que criar as condições para estabilizar a vida a nível político. O processo de negociação iniciado com vista a concertar todo um programa conducente ao entendimento sobre a realização de eleições indicia avanços positivos nesse sentido.

2004-08-27

 

Aborto: não ha justificação para o recuo

Tem-me passado ao lado a campanha dos candidatos a SG do PS. Estou de acordo, no entanto, com VM que afirma no Causa Nossa: não devemos ser indiferentes, embora não votemos,porque não associados, porque o país também está em jogo neste confronto.

Isto vem a propósito de não entender o recuo de Manuel Alegre e João Soares, no tocante ao aborto, que agora passaram a defenderem a AR como o local adequado para tal debate e decisão.

Há receio? Não têm argumentos convincentes? Duvidam da adesão? Acho que o País evoluiu, mas independentemente disso, há mesmo que ir a novo referendo, a democracia representativa não é tudo e não tenhamos medo do voto. Construir uma sociedade civil activa é dar-lhe voz.
 

As eleições no PS (4)

Os três candidatos apresentaram já as suas moções de candidatura, pelo que será interessante comparar agora as questões, orientações e propostas que cada um considera mais relevantes, quer no que respeita ao partido quer no que respeita ao País, assim como detectar o que mais os une e o que mais os afasta. Procurarei contribuir para para essa apreciação em próximos textos.
Mas não posso deixar de fazer, desde já, um comentário à entrvista de Manuel Alegre, publicada no passado dia 26 no Diário de Notícias.
(A propósito, não sei se o facto desta entrevista ter honras de primeira página e da notícia sobre a apresentação da moção de candidatura de Sócrates ter sido remetida para a página 6 será motivo de alguma interpretação por parte do Manuel Correia).
Tal como tem sucedido com outros textos e entrevistas de Manuel Alegre (e da maior parte dos seus apoiantes que mais notoriamente se têm publicamente manifestado), este candidato gasta muito mais tempo a criticar o candidato José Sócrates com base em juízos preconceituosos, de intenção e de suspeição, do que a esclarecer sobre quais são as suas propostas para o PS e para o País.
A coisa vai mesmo ao ponto de Manuel Alegre afirmar que quem vota em Sócrates não está interessado em prosseguir uma política alternativa de esquerda mas apenas quer o poder pelo poder e substituir os rapazes do PSD na máquina de Estado?!
Trata-se, a meu ver, de uma declaração de desespero, inconsistente e desnecessariamente insultuosa relativamente à maioria dos militantes do PS (é o próprio Manuel Alegre que afirma que Sócrates vai, certamente, ganhar as eleições), aliás repetida por outros dos seus apoiantes, como Vicente Jorge Silva.
Julgo que o PS e o País nunca iriam longe com esta esquerda demagógica e auto-proclamativa, mais de crítica e resistência do que propositiva e de acção. Governar à esquerda é muito mais o que fez Sócrates no Governo (vale a pena ler o artigo de João de Almeida Santos no DN de 20 de Agosto) , do que as grandes tiradas de Manuel Alegre sobre o «Partido Socialista por extenso», as diatribes de Ana Gomes sobre o Presisente Jorge Sampaio (cuja decisão sobre a não convocação de eleições legislativas antecipadas considero ter sido um erro), ou a frouxa gestão de Helena Roseta quando esteve à frente da CM Cascais. Esta não é, claramente, a esquerda com que mais me identifico.

2004-08-26

 

Relativizando as Ideias (VIII)

Na terça feira, João Miguel Tavares, na coluna DN - geração de 70 - escrevia sobre a mulher e a igreja: para a igreja não existem realmente mulheres, o que existe são mães ou virgens.

Tentando aplicar frase lapidar, mas cheia de significado e visão da história ao “sistema socialista” que “se esboroou” e aonde os movimentos de libertação foram beber o seu pensamento e os seus passos de acção, por opção, livremente (embora sobre isto se possam colocar “algumas questões”), é minha opinião que, naquele sistema, também o Homem não existiu, existiu o “fervoroso” comunista.

Isto não é uma resposta ao João Tunes ou ao amigo moçambicano para justificar a situação, vivida em Moçambique, Angola, etc. É mais um elemento de enquadramento na tentativa de subir alguns degraus na compreensão de todos aqueles fenómenos complexos.

E se a Leste, apesar de mais desenvolvido e de mais sólido, sem passado colonial, deu o que deu - as guerras, o caos, a queda do nível de vida, o regresso mesmo a situações de pobreza impensáveis, leva-nos a questionar: tudo isto porquê?

No fundamental, porque se tratavam de sociedades, em que, quem falhou foram os regimes políticos na sua globalidade (concepção, teoria/doutrina, formas de acção), independentemente, de poder haver uns mais culpados que outros, de entre as elites governantes. E o que falhou foi impedir-se a participação das pessoas de forma ampla e livre na vida política, económica e social. Numa palavra não se deixou respirar, crescer e fortalecer a sociedade civil.

É evidente que “as guerras” de ontem e de hoje no centro e leste europeu têm uma base de descontentamento de alguns povos. Mas não podemos ser tão ingénuos para não ver aí também uma mãozinha (e que mãozinha!) de algumas potências ocidentais.

Em Africa, fenómenos deste tipo existem e a “exploração” do estado latente de descontentamento das etnias, sem querer entrar em domínios que não domino, também foram usados.

Enfim, meus amigos, há aqui muito para pensar.

2004-08-24

 

Relativizando as Ideias (VII)

Meu caro João Tunes

Acho que é uma boa postura de vida a pessoa poder dizer o que pensa, pensando, amadurecendo as muitas e múltiplas incertezas, colhendo informação sobre a complexidade dos problemas, indo ao encontro da não cabal explicação para certos fenómenos vividos e sentidos nas sociedades. E os posts da minha passagem por Luanda, intitulados de uma forma um tanto bizarra “relativizando as ideias” tiveram apenas esse objectivo: dizer alto algo que me preocupa, algo que ainda não compreendi em toda a dimensão, algo que eventualmente não consigo fazer passar, ou talvez noutra linguagem, ir contra a corrente de “ideias comumente aceites”

Rejeito a “tese” niilista de que está tudo perdido. E sobre África, como dizia num dos post, existe muito essa ideia. Aqui. É a má governação, é o atraso, é o atraso cultural, é a pobreza, é a pouca transparência, é a desorçamentação da gestão pública, em alguns até a má consciência, tudo serve para “sustentar” as ideias.

Esta problemática, na minha óptica, é muito menos linear e muito mais abrangente. Não se trata de um grupo restrito a comandar o jogo do poder nas suas múltiplas facetas. Existe um grupo alargado, variável em dimensão de país para país, de que Angola não é excepção e, daí, a complexidade de todo o jogo.

Tentando ir um pouco ao teu encontro. Não sei, embora pense, que não andamos a ver países muito diferentes. Sinto dificuldades em separar, neste processo, a evolução africana, Angola, Moçambique, São Tomé, etc., a evolução da América Latina, etc., de todo um sistema que “se esboroou” a partir das transformações no Leste europeu, originando situações em termos de direitos humanos muito piores do que as que vigoram na dita sociedade ocidental, apontada como a sociedade a substituir. Não consigo separar a evolução em curso do processo do colonialismo com todo o seu impacte em termos de mentalidades dos povos. A tudo isto acresce, em alguns casos, onde há petróleo ou outros recursos naturais de monta, o jogo das multinacionais desses sectores e a sua inserção e peso na orientação da política mundial, sendo o jogo das petrolíferas o mais percebido, até pela sua importância e pelas crises cíclicas que têm sido desencadeadas e de maior visibilidade.

Daí alguma maior “contenção” da minha parte, até porque a institucionalização do Estado de direito está ainda em gestação e há que ver se tem pernas para andar.

Em minha opinião, a complexidade de tudo isto é tão ampla, tem tantas dimensões de análise que uma abordagem interdisciplinar e alargada a domínios como a Ciência Política, a Antropologia, a Sociologia, sem esquecer a História da Economia e a própria Economia se impõe para trazer mais luz a estes processos.

O princípio básico de que os países devem ser abertos ao escrutínio internacional é inquestionável com redobrado reforço para países que não têm um passado de vida política participada, para países em que a abertura para a democracia e a emergência da sociedade civil estão em lançamento, como é o caso africano.

Tendo por referência o que diz Stiglitz sobre esta matéria, é preciso ser prudente com a escolha dos “indicadores de benchmark” para a avaliação deste tipo de questões.

Daí que me parecem bem razoáveis os processos de escrutínio participados pelos próprios países africanos, através do tipo de coordenação aberta (peer-review) como apontam os objectivos e metas da Cimeira do Milénio promovida pelas Nações Unidas, porque constituem uma forma de medir o progresso realizado em várias áreas ligadas aos direitos fundamentais.

No caso de Angola, a guerra foi longa e devastadora, já houve a ruptura de sistema e de tipo de economia, embora se registe algum saudosismo de um passado, sem grande história, de economia centralizada, a nível de alguns quadros.

Sinto alguma confiança (penso que não cega) porque se notam alguns indícios e pessoas a pensar e a querer implementar os objectivos da Cimeira do Milénio.
Um abraço

 

O Atleta e o Homem

FU Posted by Hello

Agradeço ao Jumento a oportunidade de poder publicar a imagem e parte do execelente post sobre Ubikwelo cujo original podereis visitar aqui

...E no meio desta feira de pequenas vaidades em que Portugal se vai transformando Obikwelo humilha muitos dos que o vão aplaudir.

Ubikwelo trabalhou nas obras, ganhou vinte contos por mês quando se iniciou no atletismo e para que muitos não se possam esquecer de tudo quanto ele representa ainda mal fala a língua portuguesa. Obikwelo representou Portugal, mas também representou os emigrantes, também representou os que trabalham nas obras; Obikwelo é um novo herói de Portugal, mas é também um herói dos pobres.

Obikwelo mostrou quanto se pode quando se quer, e o seu compromisso com Portugal nada tem que ver com o compromisso de outros, ele deu a Portugal algo que era quase inimaginável sem pedir nada em troca.

 

Enigmas à solta (5)



[Eduard Munch: Madonna (1893-94) and The Scream (1893) ]



Como é que não dei antes pela falta destes quadros?
Ele há coisas do diabo!...

2004-08-23

 

Relativizando as Ideias (VI)

As condições de participação das pessoas na vida política angolana são ainda de uma grande fragilidade.

Apesar das reformas políticas de 1991/92, como se referiu, instituirem o multipartidarismo e permitirem, pela primeira vez, a constituição de organizações da sociedade civil, independentes (sindicatos, associações profissionais, ONGs, etc.), múltiplas razões concorrem para a enorme fragilidade das organizações de base social.

Estamos perante uma sociedade sem qualquer tradição de participação na vida política do País e com um alto nível de estratificação, onde a pobreza "apanha" uma percentagem elevada de pessoas, onde apenas uma pequena minoria da população está empregada no sector formal da economia, onde os níveis de analfabetismo são elevados, onde a comunicação social ainda se encontra em fase embrionária e onde continuam as marcas do medo e da violência e uma grande luta pela sobrevivência.

Tanto assim é que organizações como os sindicatos, em vários países da África Austral (África do Sul e Zâmbia, têm tido um papel motor nas mudanças e nas melhorias das condições de vida, em Angola a sua presença faz-se pouco sentir, exactamente porque o seu número de aderentes é fraco por não haver base social de recrutamento, a não ser na Administração Pública.

Esta situação tem sido/é propícia à elite organizar-se e a influenciar, de forma determinante e de acordo com os seus interesses, o rumo da vida política do País.

A situação de Paz vai alterar, necessariamente, estas condições a mais ou menos curto prazo, pois estão a criar-se expectativas de melhorias na população e a guerra, por outro lado, não pode continuar, até porque acabou, como a justificação para o que, sendo possível, não se fizer.
 

De volta ao debate

Caros amigos
Como devem ter notado, nestas duas últimas semanas tenho estado bastante ausente do PUXAPALAVRA, salvo dois pequenos comentários que consegui fazer a textos do nosso bom amigo e companheiro Manuel Correia. Primeiro, porque tive que terminar um relatório de um trabalho que estou a fazer e que não podia ter atrasos. Depois porque entrei de férias e vim a banhos para o Algarve, e confesso que não consegui fazer muito mais do que gozar as férias. Isto incluíu a leitura de livros, jornais, revistas e, evidentemente, do nosso blog, mas não deu para muito mais.
Mas agora, embora ainda de férias, estou de volta ao debate.
Aproveito para informae que criei um novo blog, a que chamei ALFORGE (http://ALFORGE.blogspot.com) e que se destina, entre outras coisas, a depositar textos mais extensos que às vezes escrevo e publico na comunicação social, e de que apenas passarei a fazer uma breve referência no PUXAPALAVRA, para não carregar excessivamente o nosso blog colectivo.

2004-08-22

 

Relativizando as Ideias (V)

Não estou convencido que os meus "sentimentos" sobre a realidade de Luanda traduzam a complexidade do que é a vida dos cerca de 4,5 milhões de pessoas que se estima viverem na cidade. E, além disso, Angola não é só Luanda. Também sei que a guerra não explica tudo. Penso conhecer alguma coisa sobre a complexidade política do que foi/é o processo de construção do Estado Angolano. Aliás é um processo que não pode ser desinserido das transformações iniciadas no Leste europeu nos finais da década de 80 e de todos os efeitos políticos, a nível mundial, daí decorrentes.

A ruptura de sistema político dá-se em Angola em 1991 com a aprovação da Lei de Revisão Constitucional que estabelece o fim do partido único e da economia de tipo planificação central. A revisão da Constituição e toda uma série de outras leis posteriores designadamente de 1992 instituiram, no seu conjunto, formalmente, reformas relativas a partidos políticos, associações, comunicação social, direito à greve e o direito de reunião.

E foi na sequência destas reformas e do processo de paz de Bicese que se realizaram as eleições de Setembro de 1992, cujo processo ficou inacabado, por entretanto se ter reacendido a guerra, entre outros motivos, pela contestação dos resultdos dessas mesmas eleições.

Daí que a aplicação prática destas reformas, legalmente existentes, tenha tido uma vida muito efémera. Por outro lado, não houve qualquer experiência eleitoral a nível intermédio ou de base (Províncias, Camaras, Comunas), pelo que todos os orgãos existentes são de nomeação.

Independentemente da leitura que cada um de nós tenha do processo subsequente às reformas e às eleições, a realidade é esta. Há que começar tudo do princípio, pois o estado de direito, pelo menos na sua concepção ocidental, está muito longe de estar implementado.

E sentimentos como o medo, a intolerância política, a violência fácil marcarão por algum tempo mais a VIDA POLÍTICA e a implementação de reformas estruturantes aos diferentes níveis(social, económico e político).

2004-08-21

 

Relativizando as Ideias (IV)

Alguns comentários e sugestões têm sido avançados sobre umas quantas impressões que aqui registamos acerca de uma breve estadia em Luanda, designadamente a da criação de uma tertúlia para debater e fazer "doutrina" sobre a cooperação portuguesa com África.

Não duvido que se trata de um tema fundamental, sobre o qual há poucas ideias e pouca dinâmica governamental. Sou de opinião que justificar a fraca cooperação existente pelas limitações financeiras é um argumento de má fé ou de ignorãncia, pois o que tem faltado é sobretudo uma estratégia enquadradora do tipo de cooperação e de acções.

No entanto, este blog não reúne condições para desenvolver com a dimensão ambicionada as sugestões avançadas. Não se trata de uma fuga às questões mas apenas de ter os pés na terra.

De toda a forma, o blog está aberto, sob a forma de post, a todos os comentadores que queiram abordar a cooperação portuguesa.




 

Enigmas à solta (4)


Lendo a manchete do DN de ontem, pode pensar-se que José Sócrates afirmou algo que o coloca na posição arrogante de quem já não quer aprender mais nada sobre socialismo, não aceitando, portanto, «lições» de ninguém. Por razões que já apontei em posts anteriores, não confio que Sócrates seja capaz de mobilizar e viabilizar o que mais aproxima o PS das suas nebulosas referências socialistas. Logo, o meu preconceito anti Sócrates impou com a leitura do que parece, à primeira vista, uma frase do entrevistado extraída do texto da entrevista.

De outro modo, porque apareceria a fotografia dele ao lado da frase que lhe é atribuída?

Tudo isto porque a afirmação me pareceu coerente com a arrogância (onde muitos benevolamente preferem ver firmeza) de que faz prova de tempos a tempos...

Porém, desta vez, enganei-me.

Lendo a entrevista, nas interiores, (também disponível aqui), não se vislumbra aquela afirmação. O que lá está mais aproximado é (trecho vermelho)

«DN - Tem esquerda a menos ou é Alegre que tem esquerda a mais?
JS - A esquerda da proclamação, da retórica dos princípios, que apenas se revê na declamação dos seus valores não serve as pessoas. Eu pertenço a uma esquerda que quer aplicar os seus princípios na governação e aceita essa responsabilidade. Dentro do PS, ninguém dá lições de socialismo a ninguém. A nenhum socialista. No PS não há nenhum guiché que passe certificados de socialismo. O fantasma de descaracterização ideológica não passa de uma fantasia de quem se acha no direito de decidir o que é de esquerda.»

Apesar de achar estranho que hoje, no PS, já ninguém dê nem receba «lições de socialismo», reparo que, pela enésima vez, a frase reproduzida na capa do DN, entre aspas, atribuída a alguém, não é mais do que uma adaptação livre do que, em nome da redacção, alguém entende mais apropriado, mesmo ao arrepio do rigor mínimo que traça a linha de fronteira entre a notícia e a fictícia.

O DN dá-nos, assim, três claros exemplos de parcimónia:
1) No dia em que Manuel Alegre apresenta publicamente a sua moção de estratégia (tudo levaria a crer que era essa a notícia), a matéria é remetida para a página 6, com uma subalterna chamada de 1ª página, ameaçadora e disfórica «Alegre lança confronto ideológico»;
2) A fotografia da capa é para José Sócrates e a pseudo-afirmação que serve de manchete, também;
3) Como se tudo isso não fosse já mistificação bastante, selecciona a foto em que se acentua a rigidez da expressão de Sócrates nos olhos levemente semicerrados, e endurece-lhe a resposta (a Manuel Alegre? à esquerda do PS?) com algo que o candidato não diz na entrevista.

Quem será o candidato a SG (e a 1º Ministro) do DN?
O da capa ou os das interiores?

Será esta a postura e o estilo que os apoiantes de José Sócrates preferem?
Espero que não.

Será este mais um exemplo de um jornalismo em queda desorientada?
Decerto sim.

2004-08-20

 

Relativizando as Ideias (III)

Ainda não é desta que entro nos domínios mais apetecíveis para o Manuel Correia e para um dos comentadores, a cultura. Não sei mesmo se adiantarei muito sobre isso que já não se saiba. Veremos a seu tempo.

Mas os dois post colocados atingiram pelo menos um objectivo. Já suscitaram uns tantos comments com informação muito rica que pode abrir um caminho de reflexão sobre uma realidade complexa e nada linear, a precisar de tudo menos de análises ligeiras. As nossas Universidades poderiam prestar um grande serviço nesta matéria,é um desafio que se lhes coloca até como preparação para fornecimento de consultores bem preparados (a propósito, li há dias no Público um artigo de um investigador membro da equipa de consultores do Presidente de S. Tomé para a questão petrolífera, liderado por Jeffrey Sachs da Universidade de Columbia que se referia ao papel de Portugal na ajuda a S.Tomé, que para mim é, pelo seu conteúdo, no mínimo "esquisito").

Mas gostaria de voltar um pouco atrás para situar estes meus post. O que me motivou falar da realidade angolana tem por base uma reacção muito semelhante à do comentador/a que afirma que Luanda é uma cidade excessivamente cara e que há, de facto, um segmento alargado da população com elevado poder de compra. Confirmo isso e a compreensão deste fenómeno não é fácil.

Por outro lado, com um espaço de quase 20 anos estive em Angola duas vezes (cerca de um mês cada), na posição de consultor para a área da economia (o que me proporciona alguma informação específica mas também algumas limitações no campo deontológico) e as diferenças visíveis são bastante palpáveis, designadamente, a do poder de consumo alargado. Donde há que olhar/ler bem esta realidade que "se choca" com aquilo que se diz por aqui.

Angola, toda a gente o sabe, é uma economia sustentada pelo petróleo e em menor grau pelos diamantes e toda a sua dinâmica actual e futura, pelo menos por alguns bons anos, não poderá dissociar-se do que é/será esta actividade a nível mundial e sobretudo das multinacionais americanas, dos seus jogos e dos seus interesses.

África está agora um pouco sob os holofotes e sem grande margem de manobra face às grandes multinacionais em know-how em mercados, etc. Não é indiferente para África,ou para a estratégia de alguns países, por exemplo, o desfecho das eleições americanas.

Ora, uma visão estratégica não pode passar ao lado da dinâmica mundial do petróleo, por muito que se queira.

A ciência estará por conseguinte em criar mecanismos de equilíbrio entre esta tendência pesada inultrapassável e os projectos de sociedade nacionais.
 

Enigmas à solta (3)


[Ah!, les cannards, les canards!]
__________________________________

Tornou-se evidente que a dimensão comunicativa da vida social se desenvolveu e afeiçoou àquilo a que chamamos o sistema mediático, hoje quase inteiramente entrelaçado nas redes de informação e comunicação globalizadas. Onde o Rei enviava o arauto, os poderes de hoje fazem um plano de meios, definem uma estratégia comunicacional, vão à televisão, mandam fazer press releases, sugerem entrevistas, etc. Na Era da Comunicação Global, as fronteiras do Estado surgem mais esbatidas. As funções do Estado ganharam uma geometria variável, abarcando também instituições privadas, de acordo com contratos-programa, privatizações parciais, e financiamento de actividades de «Serviço Público».

Então, e nos jornais, como é?

Alguns pensadores hipermodernos (com JPP quase sempre à frente) zurzem o jornalismo e os jornalistas, fingindo não perceber que a gestão das rotinas jornalísticas é estritamente hierarquizada, e que os modelos jornalísticos são, antes de mais, os modelos aceites ou impostos pelas direcções e chefias das redacções, de acordo com directrizes cuja formulação, apesar de patente nos respectivos livros de estilo, não dispensa, como muito bem se tem visto, uma ou outra firme correcção, quando necessário. Um comum entendimento sobre o que é (ou deve ser) a estabilidade, a funcionalidade, a convencionalidade e o Segredo de Estado, - com ou sem o «Segredo de Justiça» lá dentro -, atravessa ideologicamente as fronteiras entre o Estado dos velhos manuais e o Estado do nosso tempo. Com o financiamento da SIC e da TVI, a título de compensação pela quota parte de «Serviço Público», ficará melhor ilustrada a medida em que o sistema mediático se intersecciona com o sistema político.

Acho, pois, que neste aspecto, os comentadores do meu antepenúltimo post «Enigmas à solta (1)» - João José e Mário Lino - têm razão, cada um à sua maneira, (é claro).

Porque as manchetes, as fotos, as legendas, o espaço disponível, a interpretação do que é a actualidade, a paginação, a visibilidade, a acessibilidade, e a agenda, constituem os elementos de conversão da «realidade» que, pela sua decisiva importância, são directa ou indirectamente vigiados por quem detém o poder num jornal, constituindo, em muitos casos, reserva das chefias. Aquém e além dos constrangimentos de mercado, qualquer jornalista sabe isso. O exercício dos poderes, (incluindo o político), passa também pelas direcções e redacções dos jornais. Obviamente. Porém, não passa de uma forma clara e estável. As lógicas empresariais e a alternância política destilam um pacto em negociação permanente.

Basta olhar e... ver.

 

Enigmas à solta (2)


[Papers like papers...]
______________________________


A resposta correcta ao desafio lançado no post anterior «Enigmas à solta (1)» é «Tudo vai bem desde que não se torne público quem disse o quê». Sem isso, as violações do segredo de justiça relacionadas com o caso da Universidade Moderna, não teriam arrastado o mui dedicado Fernando Negrão de director da PJ para Presidente do IDT e, depois, para Ministro da Segurança Social, da Família e da Criança, do actual Governo. (Ver memória abreviada do caso aqui.). A Justiça funcionou, uma vez mais, de modo estranho, tendo a juíza desembargadora que julgou o caso concluído provavelmente que os jornalistas inventaram ou adivinharam tudo.

No caso das cassetes do Correio da Manhã, igualmente, foi o despautério de uma distribuição inesperada de CD's contendo uma antologia de como alguns jornalistas, direcções de jornais, e fontes, tão «próximas» quanto «anónimas», o factor invocado para demitir Adelino Salvado. Não fora isso e... estaria tudo bem. Vamos lá ver onde colocam o homem agora. Fernando Negrão, segundo o JN (disponível aqui) terá tido influência na escolha do substituto de Adelino Salvado. Virão dizer-me, depois, que ele só intercedeu para eu aqui, no PUXA-PALAVRA, poder dizer que «isto anda tudo ligado». Bom, a esse respeito, não confirmo, nem... desminto.

Quanto ao caso da jornalista do DN, (Graça Henriques) o que a tramou foi, 1º, a coluna vertebral; 2º não perceber que a entrevista de Álvaro Barreto a desancar Santana Lopes tinha caído sob a alçada do segredo de justiça. Fernando Lima, ex-acessor de Martins da Cruz (outro que saiu, atrás de Pedro Lynce, porque alguém falou de mais e os media nunca mais se calavam!) não há-de ter achado graça ao mau gosto de estar o DN, agora, a lembrar uma coisa daquelas, - uma entrevista de 1996, vejam bem!

Dirão alguns leitores, mais rigorosos do que eu, que estou a confundir «segredo de justiça» com «conveniência política». Pode parecer, mas estou em condições de asseverar que, em qualquer dos casos referidos, não fui eu quem fez essa confusão.

O Mário Lino faz um comentário muito pertinente que remete para a estrutura e funcionamento dos órgãos de informação e para as relações do chamado sistema mediático com o sistema político. Para não tornar este post mais intragável do que já está, converso sobre isso no próximo.

2004-08-19

 

Enigmas à solta (1)


Gravações em papel»]


Eu sei que as «cassetes roubadas» põem à prova a justiça portuguesa e que Souto Moura esteve à espera que a direcção do Correio da Manhã declarasse ter destruído as gravações «originais» para «desistir» de uma busca para apreendê-las. Sei, também, que Octávio Lopes e o seu jornal tiveram uma conduta repreensível, com ilegalidades à mistura. Sei, ainda, que O Independente, ao decidir publicar extractos das alegadas gravações visou sobretudo Souto Moura, através de Sara Pina, e Adelino Salvado, sendo descaradamente parcial e indecorosamente selectivo. Saber isto tudo, todavia, não me adianta nada em relação ao conhecimento que tenho do modo de actuação de alguns jornalistas, de alguns jornais (as direcções, sobretudo) e de uns e de outros quando assumem os papeis de «fontes» ou de agentes noticiosos manipuladores/manipulados por elas.

Porém, não sei porquê, Fernando Negrão, demitido de director da PJ por ter «avisado» que iria à Universidade Moderna uma semana depois, foi, logo após,
nomeado para a direcção de um instituto público, aí permanecendo em «banho manel» até Santana Lopes o promover a ministro do actual Governo. A direcção do DN e o Governo de então, apertaram a jornalista a quem Fernando Negrão «soprara» o timing da PJ, e as pressões foram tais que ela (a jornalista, obviamente) acabou por desandar. Tudo isso, é claro, sem quaisquer cassetes pelo meio...

Agora, que por um acto de pura censura interna - não, nem sequer é a «censura oculta» de que falava Paquete de Oliveira na sua tese de doutoramento - o DN se tornou de novo uma casa de doidos, com receio pavoroso de desfavorecer o actual Governo (leia-se, a propósito, um artigo da concorrência aqui), tendo levado já à demissão de outra jornalista (Graça Henriques), porque não «juntar as pontas»? Neste caso trata-se também de uma «gravação», porém já publicada na época, em papel, no «Semanário».

Desafio aos leitores:
O que têm em comum estes três casos?
(Demissões de Fernando Negrão, Adelino Salvado e Graça Henriques)
Quais as diferenças?

 

Relativizando as Ideias (II)

Com o meu anterior post sobre Angola apenas comecei a questionar umas tantas "ideias feitas", como aquela tese niilista de que África é um caso perdido.

Penso não estar perante um caso de optimismo militante!(um abraço ao João Tunes o autor deste comment), pois não voltei nem mais nem menos optimista. Voltei com dúvidas sobre algumas/muitas das leituras que ouvia/continuo a ouvir da realidade africana e angolana neste caso e, sobretudo, dos desafios exigentes ideológico-teóricos que se colocam para mexer/mudar situações tão complexas.

De uma forma geral, diz-se /constata-se que a grande maioria dos países de África estão mal governados. Sobre isso não há dúvidas e também que é deveras contrastante a potencial riqueza natural de muitos dos países e a miséria dos seus povos que, na região subsariana, obriga a que metade da população tenha de sobreviver com menos de um dólar por dia.

Mas existem questões novas, específicas, (para além das mais globais a nível dos jogos e interesses mundiais) pelo menos pelo ritmo assumido no seu desenvolvimento, a exigir respostas inovadoras. Angola, por exemplo, deverá ser umas das zonas do mundo com uma das taxas de urbanização mais rápidas, motivada pela deslocação das pessoas para os centros urbanos em fuga à guerra. De acordo com as estimativas correntes, em 50 anos, a percentagem da população urbana passou de 6% para mais de 60%. Só Luanda estima-se ter 4,5 milhões de pessoas para uma população global também estimada em 14,2 Milhões (2002).

Se a esta realidade se aliar o rápido crescimento populacional(há a referir que a taxa de fecundidade global é 7,1 crianças por mulher) surge-nos um leque de problemas de muito difícil solução.

Desde logo a elevada taxa de dependência juvenil, ao contrário do que se passa nos páises desenvolvidos em que esta taxa se relaciona com as pessoas idosas e tendências para práticas não consentidas como o trabalho infantil.

Por outro, em termos de políticas, como conciliar objectivos de desenvolvimento rural com a situação de uma sociedade urbana e que, por muito mais incentivos que se criem para se fixar as pessoas ao meio rural, a situação tornou-se em grande parte irreversível, isto apesar de no momento presente ainda não estarem criadas as condições de "reassentamento" das pessoas por causa das minas.

São questões deste melindre que, não desculpando a má gestão política das sociedades por muito do seu atraso, designadamente em termos de desperdício ou má aplicação de potenciais recursos naturais, nos fazem contudo pensar, até porque nem estão encontradas, em muitos casos, as soluções, ao nível académico, para estas situações criadas. (Os elementos estatísticos aqui mencionados têm por fonte o relatório "Angola os desafios do pós guerra: Avaliação Conjunta do País 2002 Sistema das Nações Unidas em Angola)

2004-08-17

 

Relativizando as situações e talvez de forma mais apropriada as ideias (I)

A uns bons quilómetros de Lisboa dispondo, em simultâneo, de muito e pouco tempo, o que parece um contrasenso, mas é a realidade vivida, dei por mim a dispõr de algum espaço/tempo, não direi para grandes reflexões, mas de relativização dos problemas.

Sobre as questões mais diversas, temos alguma tendência para "as formatar" a partir de "ideias feitas" que, por vezes, nos acompanham ao longo da vida. Este background pode ser positivo quando não nos "fecha" a visão de mudança face à mudança envolvente.

Este curto comment vem a propósito da minha estada ou estadia (melhor escolherão os linguistas qual a palavra melhor) em Luanda.

Dei por mim a pensar, a testar no terreno, as ideias sobre Angola, (outras regiões e outros assuntos) que, por vezes, temos: "ideias feitas", elaboradas à distância mas que nem sempre colam com a realidade.

Não pretendo sugerir uma visão da problemática de Angola. Melhor dizendo tenho mais interrogações que certezas.

Para começar será que temos em conta a olhar para a realidade angolana uma questão tão comezinha como a de que só com o Memorandum de Entendimento , assinado a 2 de Abril de 2002 entre os representantes militares do MPLA e da UNITA, se restabeleceu a Paz no País e retomou o processo de Luanda, o qual foi formalmente dado por concluído, entre as partes e as Nações Unidas, em 21 de Novembro de 2002?

Foram quase 30 anos de guerra civil e de instabilidade no País, antes de se reunirem os pré-requisitos para o recomeço da edificação do Estado Angolano. Juntando-lhe o período de guerra colonial... temos um quadro de partida de bases muito frágeis. Um país destruído, sem pontes, sem estradas, com uns transportes muito deficientes, com um elevado número de minas espalhado pelo terreno,intimidando as pessoas, com quase um terço da população deslocada, dificultando o regresso aos seus locais de origem e o relançamento das produções agrícolas,- enfim uma situação económica bastante grave-basta ler os indicadores económicos das Nações Unidas com Angola numa posição muito baixa entre os países menos desenvolvidos do Mundo.

Apesar deste quadro negro, há confiança de que a situação está a melhorar e nas ruas de Luanda, única parte de Angola onde estive, há vida, movimento, muito comércio informal, até parece que os indicadores das Organizações Internacionais de tão "negros" não colam com a vida que pulsa e se sente nessas mesmas ruas.

2004-08-16

 

Quem vai/quer ou tem vontade em desfazer a teia?!

Não sei se o Manuel Correia tem razão no tocante a "se apanhar", rápido, o fio à meada desta teia que envolve a justiça portuguesa. Aparentemente, o que me parece é haver muitos interesses a amplificar a teia. Quanto mais complexa melhor. Uns conscientes e de forma premeditada, outros por incapacidade ou indecisão. Mas a teia está em crescendo. Ninguém está disponível para desfazer o novelo.

Bem, hoje fiquei ainda mais baralhado. Tanta audiência para nada. Que foi o PS fazer a Belém? Para que serviu a reunião Sampaio/Santana? Para confirmar Souto Moura apenas. Mas porquê todas estas cenas de tão mau desempenho "teatral"?

Souta Moura continua com as suas tiradas surrealistas, dando cada vez mais razão à análise do Bloco de Esquerda a seu respeito. Então o comportamento de uma assessora pelo facto de não ter sido nomeada pelo próprio é menos comprometedor!! É um espanto!! Com gente desta, sem espinha dorsal, o país não vai longe.
 

Modelo Político

Recebi do coronel Fontão o texto que pelo seu interesse abaixo publico. José Fontão é coronel de Infantaria na reforma e foi um dos "capitães" que participou na revolução do 25 de Abril de 1974. As aspas em capitães devem-se ao facto de que, na realidade, ele já era então major e um dos raros oficiais superiores que não receou arriscar liberdade e carreira quando esta já se encontrava garantida. Fontão era oficial de uma importante unidade de Lisboa o Batalhão de Caçadores 5 e teve um importante papel na revolução garantindo a participação da sua unidade ao lado do Movimento das Forças Armadas e também a tomada do Quartel General do Governo Militar de Lisboa.
Eis o texto de Fontão:

As minhas dúvidas sobre o nosso modelo político foram aumentando com o tempo, sem nunca colocar em causa o princípio fundamental da separação de poderes e o significado insubstituível das votações eleitorais.
Creio que a solução encontrada depois do 25 de Abril foi inspirada numa filosofia democrática bastante pura em que o papel dos Partidos, de que o País estava ávido, era tido como chave.
O seu teor era, portanto, de natureza estritamente política, a que foi dada forma técnica por especialistas da área jurídica.
De fora terão ficado muitas considerações sociológicas e históricas, como também uma discussão mais aprofundada de outros modelos, muito provavelmente, porque os partidos de esquerda teriam preconceitos nesta matéria.

O que tem mostrado a realidade?
- A I República, assente no mesmo modelo, foi o que se viu.
- A Ditadura fez a sua cosmética como mais lhe convinha e não prescindiu de um Presidente, apesar de não servir para nada.
- As crises geridas pelos vários Presidentes depois do 25 de Abril funcionaram sempre a favor da direita e que ganhou a democracia com isso?
- A mecânica partidária com a submissão dos deputados e da Assembleia da República à disciplina partidária, os arranjos políticos, asfixiam a verdadeira democracia. Os cidadãos refugiam-se na abstenção e na punição das más governações, em vez de optarem por políticas bem enunciadas.
- O próprio funcionamenton interno dos partidos é uma fraude democrátca. Um velho socialista dizia-me que as decisões numa Secção eram tomadas pelo telefone com os amigos e o António Capucho gabou-se de mobilizar o Partido com uma pequena lista telefónica.
- A invenção das juventudes partidárias tornou-se uma obscena via de carreirismo e proteccionismo político. Uma sua dirigente insurgia-se contra um apelo à austeridade, segundo ela, uma "ideia antiquada". Nascida em cama política já feita, nunca soube, nem quer saber de austeridade e agora, no poleiro em que está,que socialismo é o dela? ( Como militante do PS, estou pronto a participar num movimento para extinção da Juventude Socialista ou, em alternativa, a fundar um Movimento Socialista Sénior acima dos quarenta anos).

Em Portugal o presidencialismo ainda hoje é visto à luz da aventura de Sidónio Pais , como dizia o seu amigo Egas Moniz, " Homem cheio de qualidades que um desvario messiânico perdeu" e é bom não esquecer que a sua popularidade resultava do domínio político bipartidário. Hoje não há essa "Santa Aliança" mas haverá o mesmo descrédito e pior desinteresse. O apodrecimento da situação que pode ter sido favorecido por esta decisão presidencial colocando os dois grandes partidos em banho-maria é, por isso, perigosa.
Estranhamente, muitas grandes potências governam-se bem com o presidencialismo e a Austrália anda de vento em popa sem presidente e com uma falsa rainha. O seu forte movimento republicano já deve ter percebido que se vive bem sem casas reais ou casas presidenciais ( segundo me dizem, um livro de memórias do General Azeredo, ajuda ao descrédito das "passeatas" oficiais).
Será bom também não esquecer que o movimento republicano, da minha total simpatia,não triunfou tanto pelos seus méritos e muito mais pela inépcia dos governos monárquicos.A democracia pode estar a sofrer uma erosão parecida.

Uma análise que estará por fazer é a da qualidade das elites que ascenderam depois do 25 de Abril, nomeadamente a da elite política. Um nosso analista, cujo nome não me ocorre, acentuava que o problema de Portugal, depois do Marquês de Pombal, foi sempre a inexistência de uma boa classe dirigente. Se calhar, continua a ser verdade.

Em conclusão: não estou a defender o presidencialismo se bem que ele deve ser visto sem preconceitos. O que principalmente combato são os vícios instalados na democracia portuguesa e noutras que se regem pelo mesmo figurino.A discussão precisa de ser muito ampla e sem teias de aranha.

José Fontão


2004-08-15

 

Confusão ou Premeditação?

A umas quantas horas de regresso de Angola, país de si muito complexo de entendimento,a isso vamos dedicar algumas linhas dentro em breve, aqui no terreno, a situação também não se apresenta nada transparente.

Para quem chega, sem ter seguido as peripécias nacionais, porque não era possível, apesar de no hotel haver NET o acesso e sobretudo a queda sucessiva da rede tornava quase impossível a consulta da imprensa,a situação apresenta-se no mínimo surrealista.

Não se percebe como pode um jornalista andar a falar com pessoas e a gravar sem consentimento!! Não se percebe o alegado roubo das cassetes!!Não se percebe a atitude de Souto Moura!!Não se percebe a necessidade das declarações de Santana nem de Sampaio sobre Souto Moura. Quase não se percebe o país em que estamos, ou talvez seja esse o que percebemos melhor.

Mas isto de estar longe também dá para dar alguma barraca. Regressado na sexta e não tendo já assistido à constituição do governo, encontrei certa pessoa no fim de semana que tinha sido afastada de uma posição de chefia e pensando que continuava no local de origem para onde voltara comecei a conversa sobre a sua readaptação e afinal estava a falar com um SEstado do actual governo.Bom, apesar de tudo algum espanto, apesar da já ter idade para ter juizo.

Enfim resta-nos esperar pelas próximas cenas, Quantas premeditadas?

2004-08-14

 

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (1)



« (...) o endeusamento do mercado, a desistência da crítica do capitalismo, sobretudo, nesta fase perversa, financeiro-especulativa e a adopção da ideia de que o socialismo representa tão só a coexistência do capitalismo com a justiça social. A transformação da sociedade, para melhor, e a igualdade de oportunidades, para todos, foram temáticas que desapareceram do ideário socialista...»

[Mário Soares no Expresso de hoje, rubrica "Contra a Corrente" / "Um combate de futuro", p. 14]

Soares não terá compreendido, ainda, que após um curto esboço de discussão pública, os apoiantes de Sócrates se aperceberam que o confronto de ideias não beneficia o seu candidato?

Mário Soares sabe do que está a falar. Não há nada como estar liberto do «garrote institucional» para as invocações de esquerda regressarem em catadupa.

Ai!, os nossos senadores...

2004-08-12

 

O Iraque. A insurreição soma e segue

A administração W. Busch queria invadir o Iraque. As companhias de petróleo e os fabricantes de armas que em boa parte lhe pagaram a campanha e o ajudarem a pôr na Casa Branca também queriam. Sabe-se lá porquê.
Invadiram o Iraque. Ganharam a guerra. Não sabem é como ganhar a paz.
Faz-me lembrar aquela história do galinheiro. Havia lá um galo, criminoso hediondo, bicava e matava outros galos. Nem pintos o comoviam. Então a raposa aproximou-se do galinheiro e exclamou indignada: mas que bandido, que criminoso, onde é que estão os direitos humanos? E mal nada num abnegado acto de heroísmo assaltou o galinheiro comeu o galo mau e começou a impor a ordem.
Agora lamenta-se que as galinhas que restam não a aplaudem nem lhe agradecem.
O Luís Delgado, está bem. Nada a dizer. Mas o Pacheco...realmente esse lamento. Mas enfim, ninguém é totalmente esclarecido.

 

Santana Lopes salvou Souto Moura?


Quando é que o Procurador Geral da República é afastado das suas funções por, no mínimo, manifesta incompetência?
O que espanta no meio de tudo isto – desculpem, foi excesso de linguagem, na realidade não espanta nada – é, segundo comunicado da Procuradoria –Geral da República (Público 10 de Ago 2004, pág 3) Souto Moura vir célere comunicar que o conteúdo das 50 horas de conversas telefónicas gravadas nas cassetes roubadas “poderá revelar-se inócuo como prova de crimes que possam ter sido cometidos com as conversas que hajam sido gravadas ilicitamente” em vez de se mostrar decidido a cumprir a sua obrigação e fazer jus ao que o país espera dele que é ir averiguar as fugas de segredos de justiça praticados por quem tem a obrigação de os guardar. Fugas que, para mais, se suspeita servirem estratégias políticas e partidárias e apontando para ali tentar desviar as atenções dacolá.
Invocou jurisprudência que se percebe se tratar da que ilibou o actual ministro Fernando Negrão, então director da PJ, e que oportunamente (oportunamente para os eventuais criminosos) confidenciou para a imprensa informações da investigação sobre a Universidade Moderna.
Curiosamente o director da PJ que “conversava” para os jornalistas, feito fonte anónima, fiado no segredo das fontes por parte destes, foi salvo de mais aborrecimentos pela tal jurisprudência mas não se viu livre de ser corrido das suas funções na PJ.
Lembro-me que Portas andava envolvido e sofreu as estopinhas com o processo da Moderna. Segundo os jornais e se não me falha a memória, até teve que justificar ter levantado de um banco milhares de contos e andar com todas essas notas numa maleta, como é costume ver, certas pessoas, nos filmes, com a necessidade de pagar em espécie a uns miúdos que tinha contratado para fazer inquéritos de rua e ele queria evitar que pagassem impostos. (Ai se a Manuela Ferreira Leite tivesse sabido disso!).
Agora vejo Fernando Negrão ministro do Governo de Santana Lopes/Portas. Não é estranho? Estou mesmo a ver o vosso sorriso e a não achar estranho. Paciência. Até quando?

 

Adelino das Cassetes Douradas

Adelino Salvado foi demitido. Tardou mas chegou! Não por mérito do Governo de Santana Lopes mas por culpa da exposição pública da sua conduta reprovável e eventualmente criminosa. O director da polícia de investigação do Estado que é suposto estar ao serviço dos cidadãos e da Justiça, parecia na realidade um polícia ao serviço dos interesses do Governo PSD-PPD/CDS-PP.
O Diário de Notícias de hoje diz que as cassetes roubadas ao jornalista do Correio da Manhã “contém registos em que Salvado envolve o nome de Ferro Rodrigues”(DN12 Ago 2004, pág. 19. Não ponho link porque o DN no Sapo está on line mas pouco). Que mais terá conversado para os jornais o magistrado director da PJ? Aguardemos – com reduzida ou nenhuma esperança – que tudo se esclareça e... que se faça justiça.)
O magistrado Adelino Salvado, nomeado pela ministra do PP, Celeste Cardona, parecia na realidade estar naquelas funções não para, com isenção combater o crime, doesse a quem doesse, mas para gerir os dossiês do crime que porventura pudessem atingir figuras e figurões do poder político e do poder económico da simpatia dos patrões. Do Governo que o nomeou. Digo parecia. Obviamente que ao certo não sei pois se o soubesse teria usado os direitos que assistem a qualquer cidadão para os comunicar à...Polícia Judiciária. Se possível a um pêjota que não comunicasse a queixa a Adelino Salvado, como fizeram os investigadores do caso do Apito Dourado.
Tal ministra, tal Governo, tal director. Não era a ministra da Justiça, segundo Saldanha Sanches, uma especialista e empregada ou consultora das grandes empresas para a fiscalidade? Leia-se para descobrir os truques e lacunas nas leis que permitem fugir “legalmente” aos impostos.
Pois o magistrado, e sublinho magistrado, para não subestimarmos o défice de ética e respeito da desprestigiada classe dos magistrados, pois, dizia eu, o magistrado Adelino Salvado talvez seja um santo mas fez demasiadas coisas para desmentir tal crença de que à partida poderia gozar. Afastou investigadores prestigiados pelo seu firme combate ao crime sem qualquer razão que pudesse ser ouvida. A começar por Maria José Morgado e a acabar nos magistrados que conduziram a investigação que atingiu o popular major, autarca, negociante do futebol, administrador do Metro do Porto e outros negócios, tu cá tu lá com o nosso Primeiro de então, Zé Manel Barroso, deslocalizado para Bruxelas (fez ele muito bem, dizem alguns. Enganou-nos? Ora, ora foi sacar o dele! Dizem os mesmos.)
O magistrado saiu zangado com os novos patrões que aliás são os mesmos. Vide o seu arreganhado e caricato adeus. Provavelmente com alguma razão. Tiraram-lhe o tapete debaixo dos pés. Mas ele já tem idade para conhecer as regras. Quem faz o trabalho sujo, cai fora logo que a lama ameaça atingir mais alto. E no caso parece (parece, repito) que há trabalho sujo.

2004-08-11

 

Jogos de Verão (2)


[It's hard but who knows...]

1. Talvez por estarmos no Verão, (será?) João César das Neves escreveu, no DN de 2ª feira passada, um artigo com piada. Para os que não costumam lê-lo, digo: coragem, tentem. Desta vez vale a pena. Vem na página 10 e intitula-se «A cultura acontece». Muitos, após leitura, poderão dizer: «Oh, oh, - pois. Sopas depois do almoço!». Mesmo assim. Acho engraçado.

2. Também na segunda-feira, Eduardo Prado Coelho expõe, na sua coluna do PÚBLICO (página 6), as razões porque se sente próximo da candidatura de Manuel Alegre a SG do PS. Sei que pode parecer um exagero, mas chega a ser comovente ver que nem todos se precipitaram para dentro do gigantesco atrelado de José Sócrates. Apesar dos protestos de alguns apoiantes de Manuel Alegre que não conseguem ligação telefónica para a sede do PS no Largo do Rato (vidé o suplemento do DN «Negócios», página 4). Compreendo que só haja um telefone disponível para atender os apoiantes dos candidatos a SG. Para mim, o mistério é outro. Porquê estampar esta notícia no suplemento «Negócios»? Estará o quotidiano actualmente dirigido por Fernando Lima a esconder-nos alguma coisa?

3. Ainda no DN e na 2ª feira, na página 16, uma peça sobre o Sudão - «Países árabes tentam evitar sanções da ONU para o Sudão»//«Cartum acusa Israel e a Eritreia de estarem a instigar o conflito na região de Darfur». Ponto forte: perspectiva que raramente tem surgido, alegandoinfluência de Israel e da Eritreia no MJI. Ponto fraco: a redacção truncada pode deixar certos leitores perplexos.

4. Finalmente, um bom artigo de Pedro Mexia - «Só não temos democratas» - no DN de terça-feira (página 10). Dá-me vontade de estar de acordo com ele. Ah!, fosse eu um democrata!, e...

5. A demissão de Adelino Salvado? Disseram-me, à boca pequena, que a verdadeira razão se prende com o facto de Adelino Salvado ter sido vítima do roubo de um revólver há poucos dias. Acho que um Director da PJ (mesmo sendo desembargador) não se pode (ou deve?) deixar desarmar.

6. A conferência de imprensa de Santana Lopes? Não. Estais a brincar?

2004-08-09

 

Jogos de Verão (1)


[The game must go on]
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Os candidatos a SG do PS em ciberforma [J.Soares, J. Sócrates e M. Alegre]

João Soares e Manuel Alegre, o primeiro com um weblog o segundo com um website pessoal, puxam para a esquerda. João Soares afirma

«O PS, como partido nuclear de Esquerda, sob a minha liderança não terá adversários à Esquerda»

Declara-se contra os off-shores, contra a terceira-via de Tony Blair, isto é, contra «todos os compromissos disparatados que acabam a fazer políticas de direita».

Mas José Sócrates, com o seu website de aparência institucional, marca a agenda.

Diz quais são as seis questões que quer discutir. Publicita os apoios graúdos (com direito a foto e um pequeno depoimento). José Ernesto de Oliveira, Presidente da Câmara Municipal de Évora, é o que faz a melhor síntese da candidatura [para] «Um partido liderante, da esquerda moderna, competente e sedutora».
Depois, já sem direito a foto e declaração de apoio, alinham-se mais de 850 nomes.

Além disso, José Sócrates resolve com galhardia algumas questões que parecem um pouco mais intricadas aos outros dois candidatos.
A quem se dirige o PS?
«A todos os portugueses.»
Fazendo coincidir os potencialmente interessados no seu projecto político com os destinatários das suas mensagens, Sócrates resolve, como se fosse um problema de comunicação, o que para outros, pode parecer, à partida, um problema político.
Boa ideia.
Parece fácil.
Como satisfazer todos, depois?
Ora, ora...
Atrás de tempo, tempo vem!

 

Quando o que tem que ser tem muita força (3)


[Cimenteira de Souselas]

1. Chove em Agosto. A evocação de um soneto de Manuel Alegre, «E alegre se fez triste, como chuva que viesse em pleno Agosto». O poeta está agora a braços com aquilo que se presume ser a afirmação da sensibilidade (ou será ala?) esquerda do PS. Não é tanto o cargo de SG que o faz correr, mas o que será do PS venerando e obrigado, atrás de Sócrates, não conseguindo divisar nenhum defeito no novo líder. Mesmo que José Sócrates ganhe, o PS ficará melhor tendo-se visto ao espelho de um debate público em que os socialistas terão tomado consciência daquilo que os aproxima e afasta de outros partidos, - à esquerda e à direita - e de outros projectos políticos, com inúmeros pontos programáticos que ou não são para cumprir, ou são para ir cumprindo até 2020 (estou a pensar na convergência do salário mínimo com as pensões de reforma, por exemplo...).

2. João Soares, daqui a pouco, perguntará (se não perguntou já) a Manuel Alegre se não quer desistir em favor dele. De um modo ou de outro, apesar dos episódios Sérgio Sousa Pinto e José Lello, o saldo parece-me positivo. O apoio de Mário Soares significa também uma demarcação. Algum dia tinha de ser...

3. Os mandatários dos candidatos terão acordado em silenciar alguns temas-tabu. Um deles seria o da co-incineração. Porque seria? Bom, quanto à metodologia da imposição com que o Governo de Guterres quis oferecer-nos o sistema, recordo-me que a postura de José Sócrates foi má. No Congresso do PS que se seguiu, não tendo havido tempo para discutir todas as moções apresentadas (pudera!), decidiram divulgá-las todas, depois... do Congresso. Recordo-me, de cor, de uma delas cujo primeiro subscritor conheço de vista. Intitulava-se «O Barreiro não se pisa. As pessoas estão primeiro, Dona Elisa!». Ele nem queria discutir a fundamentação técnica da proposta de sistema nacional de co-incineração. Estava apenas a insurgir-se contra o autoritarismo e a insensibilidade com o que o processo foi conduzido. A «Dona Elisa» era a independente Elisa Ferreira, Ministra do Ambiente. O Secretário de Estado era José Sócrates. Logo depois, já como Ministro, mostrou-se igualmente inflexível. Até hoje, não percebi se ele, regressado ao poder, seria capaz de voltar a fazer o mesmo.

2004-08-06

 

Quando o que tem que ser tem muita força (2)


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1. Lista de questões levantadas por mim:
- Prós e contras dos candidatos (estilos, tiques, impulsos, ideologia e experiência)
- Política de alianças (tb inclui coligações mas vai mais longe)
- Maioria Absoluta como obsessão (para evitar compromissos noutros cenários?)
- A concentração dos cargos de SG e PM
- A questão do "susto" da direita

2. Questões debatidas
- Coligações (um aspecto apenas das alianças)
- Maioria Absoluta (apenas como meta preferencial)

3. Para o PS crescer como partido de esquerda, tem de se libertar das malfeitorias históricas. Porque já se aliou várias vezes à direita, os candidatos a SG deveriam pronunciar-se sobre isso sem ambiguidades.
Bastaria um compromisso simples do tipo: não trairemos no parlamento e no governo o apoio do eleitorado de esquerda às nossas propostas.
A predisposição para acordos com diferentes forças de esquerda inclui a agenda legislativa e, pelo menos, em tempo de "cura de oposição", outras causas e movimentos sociais e culturais.
O direito a um ambiente limpo e a salvaguarda da biodiversidade deve ser mais do que uma rosa na lapela do programa.

4. A acumulação dos cargos de SG e PM deveria ser melhor discutida. A tradição parece-me má. Sobrecarrega o sistema político do lado do executivo; tende a menorizar e subverter a dinâmica parlamentar, pois os deputados do partido maioritário evitam o confronto com o PM que é simultaneamente seu SG. A ênfase posta na necessidade de uma maioria absoluta revela falta de disponibilidade para, na passada, contribuir para o aperfeiçoamento do sistema político, superando esta finta institucional à separação de poderes.
O défice democrático, de informação, participação e transparência, ainda não foi debelado. Deveria ser discutido a par e passo.

5. Ah!... e a solução do "Queijo Limiano" - que Paulo Portas nunca soube explicar muito bem... - confirma como o "melhor" PS pode deslizar para a direita e, já agora, não sendo uma fatalidade, também não deveria ser brandida por alguns como uma ameaça.

6. Finalmente, para não perdermos totalmente o bom humor: É mesmo verdade que o José Sócrates está a "assustar" a direita?


 

As eleições no PS (3) - A política de alianças

Uma das relevantes questões que está a animar a discussão entra as candidaturas de Manuel Alegre e José Sócrates é a da política de coligações a seguir no caso de, nas próximas eleições legislativas, o PS não dispor da maioria absoluta de deputados na AR para formar governo sozinho. Note-se que qualquer dos candidatos recusa qualquer coligação pré-eleitoral e defende que o PS se deve bater por ter essa maioria absoluta, rejeitando, se a tiver, qualquer coligação pós-eleitoral.
Para Manuel Alegre, é fundamental que tal política de alianças seja desde já definida e apresentada aos militantes e ao País, declarando também desde já a sua intenção de fazer coligações com o PCP e /ou o Bloco de Esquerda.
Para José Sócrates, o que é fundamental, neste momento, é mostrar vontade, determinação e confiança para conquistar a referida maioria absoluta, com base num programa e numa campanha eleitoral mobilizadores da maioria dos eleitores, considerando, por isso, prematuro estar-se já a pôr outras hipóteses que, em seu entender, traduzem insegurança e falta de confiança nos eleitores, e enfraquecem as aspirações do PS.
Manuel Alegre, a esta posição de José Sócrates, lança a suspeição de este poder vir a fazer coligações com o PSD ou com o CDS, ou a recorrer a soluções do tipo “queijo limiano”.
Pessoalmente, parece-me a posição de Sócrates politicamente muito mais forte e consistente com o interesse e a estabilidade do País, com os legítimos objectivos do PS e com a vontade dos militantes, não enfraquecendo à partida, inclusivamente, o possível efeito do apelo ao voto útil no PS. Já no caso da posição de Manuel Alegre, parece-me ser mais forte a sua convicção na possibilidade de uma coligação pós-eleitoral à esquerda do que na possibilidade de o PS conquistar uma maioria estável para governar.
Por outro lado, não me parece correcta e justificada a suspeição lançada por Manuel Alegre, que nem sequer concedeu a José Sócrates a hipótese de este pretender fazer uma coligação à esquerda, no caso de tal se vir a mostrar necessário. É que, ao entrar neste campo das suspeições, Manuel Alegre tem de aceitar que também se levante a suspeição de que, no fundo, o que deseja é que o PS não tenha maioria para governar sozinho, tanto mais que já declarou que, se fosse hoje, teria dúvidas em aderir ao PS.
Mas, suspeições à parte, a posição de Manuel Alegre sobre a política de coligações pós-eleitorais só é clara aparentemente, pois não esclarece com qual dos dois partidos faria prioritariamente coligação, assim como não esclarece que compromissos ou cedências em relação ao programa do PS estaria disposto a assumir para concretizar tal coligação. Assim como não esclarece também o que faria se tal coligação à esquerda se mostrasse inviável, para além da sua patética declaração de que pediria, pelo facto, responsabilidades a essas esquerdas. E depois? Será que desistiria e entregaria o poder à direita? Faria um governo minoritário? Faria uma coligação à direita? Recorreria à solução “queijo limiano”?
Quer isto dizer que, para além dos argumentos aduzidos por José Sócrates, nem sequer me parece legítimo exigir a qualquer candidato à liderança de um PS que quer ter um programa de progresso económico e social viável e mobilizador para o País, e que aspira a conquistar uma maioria estável para governar, que especifique neste momento, a dois anos das eleições legislativas e dadas as múltiplas hipóteses que se podem colocar, face aos programas eleitorais dos vários partidos concorrentes e face aos resultados eleitorais, qual a política de coligações concretas que vai seguir.
Mas então não haverá nada a dizer agora sobre esta matéria?
Pela minha parte, o que gostaria que os candidatos dissessem neste momento era que, em qualquer caso, o PS jamais fará uma coligação pós-eleitoral que não assegure a concretização do essencial do seu programa eleitoral. Para concretizar o programa de outros e assumir depois as responsabilidades, melhor será serem esses outros a governar. Se os eleitores lhes derem esse mandato, evidentemente.

 

Quando o que tem que ser tem muita força (1)


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1. Não se percebe muito bem como o Mário Lino quer discutir (?) as ideias e as pessoas apresentadas nesta campanha eleitoral destinada a escolher o próximo SG do PS. Li o "post" dele e fiquei varado. Dei por mim a pensar: então o Sócrates já convenceu o Mário Lino? Resposta: Parece que sim... O Mário Lino já está convencido. De facto já estava, desde que Sócrates anunciou publicamente que se ia candidatar (basta ler o que escreveu neste mesmo blog por essa altura). O que o Mário Lino está a fazer é campanha pelo Sócrates disfarçada de discussão.

2. No estado actual das coisas, atrevo-me a sugerir que, pelo menos, troquemos impressões sobre o que parece aproximar ou afastar as candidaturas. Por exemplo: a política de alianças à esquerda. Acho um tema interessante. A obsessão da maioria absoluta para evitar discutir outros cenários prováveis, também. O respeito pela tradição de o SG ter de ser igualmente "candidato a 1º Ministro" é outro tema. Mas sobretudo importa-me não dar por adquirido que Sócrates, seja ele bom, mau ou assim-assim, venceu e convenceu antes de ter respondido a algumas questões cruciais.

3. O PS preocupou-se, finalmente, com os seus militantes. O estudo divulgado ontem por alguns órgãos de imprensa reveste uma importância extraordinária. Simultaneamente, os candidatos a SG aceitam debater publicamente as grandes ideias orientadoras do PS e de uma futura governação. Positivo. Aí o Sócrates recuou. Bem, a meu ver. Não recear o debate público parece um bom trunfo para a esquerda. As pessoas e as ideias devem compreender-se. O debate vive disso. O resto pode ficar para mais tarde.

4. Quanto a essa história de a direita estar "assustada" com Sócrates, basta ler o artigo de Mário Pinto no PÚBLICO de há uns dias atrás, juntar-lhe os resultados da sondagem que o Correio da Manhã e a Aximage fizeram, e tentar decifrar que direita será essa.

2004-08-05

 

Guantânamo a mãe de todas as Abu Ghraib

"Foram agredidos, impedidos de dormir, injectados com drogas, encapuçados, fotografados nus e sujeitos a humilhações sexuais e religiosas, entre outros abusos." Do dossiê com 115 páginas, que contém as denúncias de Asef Iqbal, Ruhal Ahmed e Shafic Rasul, três cidadãos britânicos, libertados em Março passado depois de 2 anos na prisão norte-americana de Guantânamo, em Cuba. O documento elaborado pelos seus advogados foi divulgado ontem em Nova York e entregue à Comissão das Forças Armadas do Senado dos EUA, de acordo com A Capital, que reproduz The Guardian.
É uma pequena amostra da "legalidade" e da conduta moral da Administração de W. Bush.
A violência das torturas levou-os a confessar os crimes de que eram acusados apesar de falsos e mais tarde se comprovar isso mesmo.
Todos vimos o impensável, presos a entrar em Guantânamo, privados de defesa e de todos os direitos civis e militares, acorrentados, de olhos e ouvidos tapados para não verem nem ouvírem, com luvas para lhes impedir o tacto, de modo a ficaram totalmente isolados do mundo.
O que inadvertidamente escapou ao segredo de Abu Ghraib é uma amostra dos métodos importados da casa mãe, Guantânamo.
Por sua vez no Público um artigo de José Silva Pinto (que cita a revista norte-americana The New Republic) diz-nos dos esforços de alguns prosélitos do bushismo em culpar pela sua mera presença, as...mulheres-soldados, pelas torturas, nomeadamente as sevícias sexuais nas prisões do Exército norte-americano do Iraque a ver se branqueiam os verdadeiros responsáveis.

 

As eleições no PS (2) - Os desafios de Sócrates

Entre os três candidatos à liderança do PS, todos os analistas e comentadores políticos conferem largamente o maior favoritismo a José Sócrates. Tal decorre, a meu ver, de várias razões, de que destaco:

Não creio que qualquer dos outros candidatos tenha apoios, qualidades e currículo que se compare. Assim como não creio que qualquer deles reúna um capital de esperança tão elevado para conduzir, com optimismo e confiança, os destinos do País no sentido do progresso económico, social e ambiental, pondo fim ao ciclo de retrocesso, aumento das desigualdades, depressão e falta de confiança nas nossas capacidades a que os Governos de Durão Barroso e Santana Lopes nos conduziram.
Certamente por isso, a candidatura de José Sócrates está a assustar seriamente a direita, mas também a causar apreensão entre outros adversários políticos, designadamente entre a esquerda tradicionalista incapaz, cada vez mais, de compreender as novas realidades políticas, económicas e sociais e de viver com elas.
Mas José Sócrates, para vencer convincentemente este desafio, tem ainda uma importantíssima tarefa a realizar: a de clarificar tão completamente quanto possível, perante os militante do PS e perante o País em geral, o seu pensamento, as suas opções a sua visão do futuro, as suas prioridades enquanto líder da oposição e candidato a futuro Primeiro Ministro de Portugal. É isso, certamente, o que a maioria dos portugueses espera.


 

As eleições no PS (1) - Um debate importante

Está já em marcha o processo eleitoral com vista à escolha do futuro Secretário-Geral do PS. Sendo uma eleição puramente partidária, não deixa de se revestir da maior importância para o País: o PS é, actualmente, o principal partido da oposição, e o seu futuro Secretário-Geral pode, com elevada probabilidade, vir a tornar-se o próximo Primeiro Ministro de Portugal.
Três candidatos apresentaram-se, até agora, para disputar estas eleições – João Soares, José Sócrates e Manuel Alegre – não se prevendo que surja mais algum.
Sendo três candidatos com inegáveis provas dadas no plano partidário e no plano político, importa analisar o currículo concreto de cada um deles, a sua posição face aos grandes problemas do País e do Mundo, a sua postura face a estas eleições e o seu programa eleitoral.
Para isso, é certamente desejável que o debate entre os candidatos, seus apoiantes e demais intervenientes nesse debate se faça com elevação, com ideias e convicções, com entusiasmo e determinação mas com respeito democrático, de forma a contribuir para o melhor esclarecimento dos militantes do PS e todos os cidadãos interessados, em geral.
Julgo que seria do maior interesse que o PUXAPALAVRA estimulasse e participasse nesse debate. Pela minha parte, tenciono fazê-lo.

2004-08-03

 

De férias no Vilar do Cadaval

Fui de férias. Por isso só de longe em longe virei aqui dar a minha contribuição ao Puxa Palavra.
Esta semana estou na terra! Vilar do Cadaval, na base da Serra do Montejunto. Passei aqui a minha infância e é sempre muito agradável vir à terra. Porque temos o campo, os vinhedos, os pomares, os pinhais, e a serra que nos oferecem a descompressão relativamente à cidade e o seu crescente stress. Mas a terra, a nossa terra, oferece-nos o mais precioso de tudo: a oportunidade de conversar com as pessoas nossas conhecidas. E conhecidas são todas as pessoas da terra. Falar com elas é o momento de as ouvir falar das suas vidas, de conhecermos melhor o mundo que nos rodeia e que não é só feito de cidade. Saber ouvi-las! Aí reside o segredo de compartilhar outras vidas. Ouvir as suas opiniões sobre a cidade e a vida em geral. Outra visão das coisas apesar da grande uniformização criada pela televisão.
Escrevo na sede da Junta de Freguesia que disponibiliza gratuitamente, três vezes por semana, uma hora e meia de internet. Dir-se-á que é pouco mas mesmo assim é uma boa novidade aproveitada especialmente por crianças e jovens. Os adultos, os adultos residentes, com poucas excepções, já não apanharam este comboio.

2004-08-01

 

O "al-Libi" da política externa dos EUA


O New York Times noticiava, (acessível aqui) ontém, e a imprensa portuguesa de hoje reproduzia uma revelação extraordinária, feita pelos serviços secretos dos EUA. Ibn al-Shaykh al-Libi, preso pelas tropas norte-americanas no Afeganistão, seria o principal responsável pelas afirmações que ligavam a Al Qaeda e o Iraque, no treino de terroristas com armas químicas. A notícia é dada com uma naturalidade que contrasta com a patetice do argumento subjacente. Então a administração Bush dá crédito ao inimigo? Sendo Ibn al-Shaykh al-Libi um próximo de Bin Laden, não deveriam os responsáveis norte-amaericanos manter alguma reserva sobre a veracidade das suas declarações?

José Pedro Zuquete protesta contra o anti-bushismo acéfalo e cobarde que campeia nos Estados Unidos e na Europa ("Reflexão sobre o ódio" in PÚBLICO, 2004/08/01, pág. 10, que pode ser lido aqui), esquecendo-se de mencionar - vá-se lá saber porquê - o Iraque, a Palestina e muitos outros países. Acusa, ainda, o anti-bushismo de configurar o "pensamento único". OK, deve ter havido exageros no tratamento mediático prestado ao Presidente dos EUA. E depois? Qual é a seriedade de uma administração que dá crédito às informações do inimigo? Ou que se serve delas, após os fracassos previsíveis dos seus passeios imperiais, como "al-Libi"?

A guerra deveria ter já sido banida das relações internacionais. O belicismo é um dos piores sintomas da política desumanisada. Mas a administração Bush, nas trapalhadas com que justifica as suas invasões, faz lembrar o pior. Descontemos os exageros, está bem, mas não tentemos tapar o sol com peneiras e, muito menos, com as que foram fornecidas pela própria Al Qaeda.

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