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2006-05-31

 

Talvez a Austrália com uma "opa amigável" consiga...


O herói australiano maj Alfredo Reinado nos media australianos: "EAST Timor's rebel commander, major Alfredo Reinado, says he will not surrender his weapons unless Prime Minister Mari Alkatiri resigns" [The Australian]



1) "O Primeiro Ministro Mari Alkatiri deveria demitir-se para evitar ser demitido" diz Kirsty Sword-Gusmão, esposa (australiana) do Presidente Xanana Gusmão, ao diário The Australian (edição on line de ontem, segundo o Público) aliás, na sequência de várias outras entrevistas do mesmo teor aos media australianos, nos últimos dias. (Ver também Ana Sá Lopes no DN Kirsty manda).

2) O major Alfredo Reinado, (que fez a guerrilha contra a ocupação indonésia na Austrália) chefe da tentativa de golpe de Estado, declara aos media australianos que não deporá as armas enquanto o 1ºM Alkatiri não for afastado.

3) O 1º M australiano John Howard não se cansa de repetir que os males que apoquentam Timor Leste têm um responsável, o 1ºM Alkatiri, tendo até afirmado, que "qualquer timorense seria melhor 1ºM de Timor que o sr Alkatiri".

4) O Ministro dos Negócios Estrangeiros australiano Alexander Downer avisou (Público de 2006-maio-30) que "Timor-leste corre o risco de se tornar um Estado falhado..." Entretanto as tropas australianas em Timor observam calmamente os incêndios e as pilhagens.

5) Desde o acordo entre Timor e a Austrália sobre as jazidas do petróleo que o Governo de Camberra sem respeitar a lei internacional sobre delimitação de fronteiras não conseguiu no entanto apoderar-se, tanto quanto queria, do petróleo de Timor em virtude da firme resistência de Mari Alkatiri que todos os analistas sabem que em Camberra este é o homem a abater.

Com todos estes australianos, o 1ºM John Howard, o MNE Alexander Downer, a australiana Kirsty Sword-Gusmão, mulher do presidente Xanana e o major "australiano" Alfredo Reinado chefe da rebelião, talvez a Austrália consiga em Timor Leste, com uma "opa amigável", o que a Indonésia não conseguiu com uma "opa hostil".


 

Frase do Dia



Olh'ó Robot



Se continuarmos a ter contribuições só sobre o factor trabalho, ainda vamos ver os robots a contribuir para a Segurança Social

Vítor Batista, deputado, coordenador do PS na Comissão de Orçamento e Finanças

O deputado considera ainda que as propostas do Governo em matéria de Segurança Social seguem uma linha que “tenderá, ano após ano, a reduzir os direitos dos trabalhadores”. (PÚBLICO de hoje, página 36, título da notícia: “Deputado do PS critica ‘falta de coragem’ na Segurança Social”).

Depois da maioria Parlamentar ter chumbado as propostas do BE e do PCP que recorriam à tributação do VAB (Valor Acrescentado Bruto) das empresas, o debate sobre este tema corre o risco de afastar ab initio quaisquer perspectivas diferentes das do actual governo. Para isso, de facto, não necessitamos de um espaço público.
Basta-nos um cortejo de robots.

 

"Há forças externas a desestabilizar"

Este é o título de uma entrevista (sem link) com Moisés Silva Fernandes do Instituto de Ciências Sociais (ICS) que tem, entre as suas áreas de investigação, o tema TIMOR

Para este investigador, a crise timorense era visível desde as eleições de 2001. E porquê? A "força motriz " da crise está no petróleo. As expectativas da Austrália sairam um tanto quanto goradas. Os australianos não poupam a Alkatiri as excelentes contrapartidas que obteve para Timor no que respeita ao petróleo.

Segundo este investigador, Alkatiri "é um nacionalista do ponto de vista económico. O que ele quer é que os recursos rendam o máximo para Timor".

Este ponto de vista é idêntico a muitos outros especialistas da área dos petróleos nacionais e internacionais. Ainda há dias num comentário na SIC um especialista português da área dos petróleos dizia exactamente o mesmo: "Mari Alkatiri foi o melhor negociador para Timor".

Mas a questão da crise timorense não é apresentada desta forma. A comunicação social mais generalista fala de conflitos étnicos, da luta pelo poder entre o presidente e o primeiro-ministro, mas não fala da igreja de Timor no desencadear deste processo, na eventual falta de tacto de Alkatiri nas relações com a Igreja, do papel de Xanana e designadamente de sua mulher, dos "jogos" de Ramos Horta, etc. As análises são ligeiras e pouco objectivas.

Todos estes problemas existem. São reais. Todos eles desde há muito que iam contribuindo para o desencadear de uma crise. Mais difícil é a questão de deslindar os laços entre eles e as benesses que muita gente "alimentou" poder vir a usufruir e até onde vai "a manobra" dos interesses petrolíferos.

Um país, sem Estado construído, frágil, sem quadros, sem forças de segurança, com o petróleo como a riqueza do curto prazo, ensina-nos a história, raramente "corre" pelo caminho certo.

Se até o Chile caiu!! Os tempos eram outros mas o Estado Chileno de então também não era o timorense. E agora até se pode cair de forma mais branda....


 

"As Farmácias e o Poder"

Com este título, Vital Moreira publicou ontem, no Público, um artigo (a não perder) onde mostra
como o Governo com a liberalização da propriedade das farmácias, indo no bom caminho, ficou a meio e por outro lado mostra como os termos do acordo firmado com a Associação Nacional das Farmácias representa uma deplorável cedência ao lóbi do peculiar Dr. Cordeiro.
O acordo com a ANF está [aqui] e o artigo talvez surja no Causa Nossa com o habitual link para a Aba da Causa.

2006-05-30

 

A burocracia como forma de humilhação

Quando cheguei a França no inicio dos anos 90 fui, como muitos outros, confrontado com a odiosa burocracia dos serviços de estrangeiros franceses. Logo de inicio só me concederam uma autorização de residência de um ano com o argumento que as inscrições universitárias eram por um ano; ora na altura os regulamentos comunitários diziam que a duração das autorizações de residência para europeus era igual à validade dos bilhetes de identidade. Após um ano de estudo fui pedir uma nova autorização: lá tive de fazer 20 km de moto durante o dia pois a repartição abre tarde e fecha cedo. Depois de uma boa espera lá me marcaram um dia para voltar com os papeis : cerca de 2 meses depois!
Na data e hora marcada fui ao tal encontro seguindo escrupulosamente as instruções descritas num papel oficial: lista dos documentos (diga-se de passagem com coisas como o extracto do banco de 12 meses), originais e fotocópias na ordem solicitada, etc. A pessoa que me atendeu tinha cara de poucos amigos, aliás diga-se que mal se lhe via a cara pois não levantava os olhos da papelada. Lá lhe fui dando os papeis e as fotocópias para o meu processo, quando pensei que já tinha acabado eis que a senhora me diz: "falta um papel", e eu ingenuamente: "mas está aqui tudo o que vinha na lista", do outro lado do guichet: "você é estudante, falta o certificado de assiduidade", "o que é isso", "a prova de como foi às aulas", "mas eu estou a fazer um doutoramento, não há aulas, estou num laboratório, faço investigação", "se não tem aulas então não é estudante, se não me dá o papel da assiduidade não tem autorização de residência". Por fim, após me terem ameaçado de expulsão lá voltei ao trabalho bastante enervado, o director resolveu o problema escrevendo um papel onde certificava que eu era muito assíduo com o carimbo da École Polytechnique.

Esta pequena experiência pessoal não é nada ao pé do que sofrem os imigrantes não comunitários: em alguns sítios pratica-se um racionamento burocrático que faz as pessoas passarem, por vezes, 10 horas ao frio para terem um papel que lhes dá direito de voltarem alguns meses depois. Aconselho-vos a leitura desta reportagem.
 

Belas Adormecidas



Sleeping beauties, Teresa Dias Coelho, Óleo sobre tela, 35 X 35, 1998. Mais aqui.



Primeiro, ela está sentada à mesa, numa esplanada de Berlim. Estamos em 1973. Desenha uma ceifeira num guardanapo do festival. Por detrás dos olhos dela, diviso um trejeito divertido, em que o brilho súbito anuncia uma mudança de humor.
Ali, a dois passos das Portas de Brandenburg, quem diria?
Tantas gentes dos dois lados do muro.
Anos mais tarde, vi um quadro dela, grande, onde está uma menina à janela, de costas para nós. E então, perante aquela grandeza que se converte a um momento da infância, em que a solidão, a curiosidade e o sofrimento se desfazem no olhar imaginado da menina, caí, redondo de admiração.
E continuo, assim, a olhar para os quadros dela.

2006-05-29

 

Teresa Dias Coelho


No Memórias [link] podem ser vistas outras oito imagens de outros tantos quadros a óleo de Teresa Dias Coelho referentes a quatro séries da sua obra (anos 2002, 2000, 1998, 1994) e onde está também disponível um link para a sua home page.

 

A nova tabela dos alimentos

O Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge apresenta hoje o estudo de 942 produtos crus e cozinhados e 42 nutrientes actualizando assim a antiga tabela de 1961.
O estudo e a nova tabela é um elemento precioso para todos os que intervêm na alimentação dos portugueses e assim possam promover uma alimentação mais racional e contribuir para a saúde pública.
Era boa ideia aproveitar o ensejo para se apostar numa política nacional de educação alimentar tão necessária nomeadamente no ataque à pandemia da obesidade que cerca adultos e crianças. Junto destas, nas escolas, desde o ensino primário e junto dos pais. E apostar também numa política mais firme contra a promoção de sub-produtos alimentares (hamburgers, beberagens açucaradas, etc).
É necessário, sem fundamentalismos, ensinar a comer. O que se deve comer e o que se deve evitar. É necessário intervir do lado da procura (todos nós que comemos) e do lado da oferta, os que nos impingem os venenos disfarsados de alimentos que aliás deveriam trazer no rótulo a simbólica caveira.

 

Temos uma política redistributiva laxista

O Governo que tanto gosta, e bem, de seguir o exemplo dos países nórdicos devia seguir-lhes o exemplo no que diz respeito às políticas sociais de redistribuição de riqueza.
De acordo com o Eurostat, em 2004, o risco de pobreza abrange 27% da população portuguesa, melhor que a Suécia (30%), a Finlândia (29%) ou a Dinamarca (31%). Mas o que contrasta é a política de redistribuição lá e cá. Naqueles países através das prestações sociais os 30% baixam para 11 e em Portugal os 27 baixam apenas para 21%.
As mesmas fontes mostram também, para 2004, que 20% dos portugueses mais ricos ganhavam 7,2 vezes mais que os 20% mais pobres. Ora a média nos 25 estados da UE foi de 4,8 o que revela uma situação social incomparavelmente menos desigual.
Redistribuir melhor obriga a frontar os grandes interesses e fortunas e aí o Governo tem claudicado. [link]

 

O Roteiro para a Inclusão

A iniciativa do Presidente da República do Roteiro para a Inclusão, ontem iniciado no distrito de Faro, em Alcoutim, tem o meu aplauso e seguramente o de todos os portugueses. Mas a coesão social, de que a inclusão faz parte, necessita de uma política firme e corajosa da parte do Governo. Ora o que tenho visto da parte deste é firmeza e coragem para afrontar as classes baixas e médias, ainda que com medidas necessárias, mas falta de coragem para afrontar as camadas mais abastadas comprometendo assim uma indispensável política distributiva mais justa.

 

Prós, Contras e antes pelo contrário




O programa de Fátima Campos Ferreira, Prós & Contras (RTP-Um, segundas-feiras à noite) vai para férias, depois de, hoje, debater com Belmiro de Azevedo, Medina Carreira, Silva Lopes e Ferreira de Oliveira, “Para onde vai o país?”(*).

Passando por cima da bizarra representatividade social e política dos convidados desta noite, a formulação peca por um certo fatalismo implícito. A metáfora permite que palavras e (outras) coisas se desloquem, num espaço-tempo imaginário, aparentemente sem que a humana agência, derivada de muitos braços de ferro e da negociação de interesses diversos, possa interferir decisivamente no curso dos acontecimentos.

Não custa muito antever a resposta de um painel com esta composição…

No entanto, se o país de deslocasse, de facto, se fosse efectivamente para algum lado, a esfera da política haveria de ter algo a dizer.

O país, para já, “vai partir para Timor” – ver, a este respeito, o post do nosso vizinho João Tunes no seu Água Lisa (6), ver aqui – mas não me parece que vá ser esse o tema da conversa…

Não adianta muito perguntar quando já se conhece a reposta.


(*)
Trata-se de uma insistência de Fátima. Em 13 de Março p.p., o título do programa inquiria, – “Um ano depois… [da Maioria Absoluta do PS] Para onde vai o País?” e chamava para o plateau Carlos Carvalhas, Proença de Carvalho, Jorge Armindo e Francisco Sarsfield Cabral.

2006-05-28

 

Pamukkale na Turquia


Chegou a canícula. Antes de tempo. Esperemos que não traga (já) os incêndios. Para refrescar aconselho um saltinho aqui. Mais imagens e explicações no blog de Sérgio Fonseca [aqui] ou [aqui]


2006-05-27

 

Avaliação dos professores pelos Pais

A Ministra da Educação e a sua equipa voltaram a surpreender propondo que os Pais participem na avaliação do desempenho dos professores.

Sou um Pai que participo activamente na educação dos meus filhos e nos últimos anos fiz parte da direcção das Associações de Pais das escolas que eles frequentam.
Nestes últimos anos habituei-me a conhecer bem as escolas por dentro. Participei em assembleias de escola, vivi por dentro os dramas do atraso nas colocações e da revolta pelas mudanças.

Como pai recebo esta medida com uma enorme satisfação. A minha experiência é a de que os pais são vistos pela generalidade dos professores como inimigos e não como parceiros de educação das crianças.

Com esta medida poderei finalmente ajudar a separar o trigo do joio avaliando os professores interessados e cumpridores e finalmente vendo a sua progressão na carreira ser muito mais justa do que a mera angariação de créditos através da participação em acções de formação de qualidade duvidosa.

Bem sei que a maioria dos pais não participa na vida escolar dos seus filhos, no entanto tal como em tudo tal não deve ser razão para que os que se preocupam não possam ter uma palavra a dizer.

Esta medida é de uma enorme importância na abertura da escola à sociedade fazendo que os professores passem a estar muito menos fechados sobre si próprios.
Irá contribuir de forma decisiva para que o conceito da "comunidade educativa" finalmente funcione.

A Fenprof, claro está, já veio contestar tal decisão. Com o estilo corporativo a que já nos habituou, Paulo Sucena declarou os Pais como "não tendo competência ciêntifica" afirmando mesmo que a sua participação "desvaloriza a profissão de docente" e ainda - inacreditável - "É o mesmo que passarem a avaliar qualquer outra profissão". Com este sindicalismo bacoco de facto os professores não vão a lado nenhum. Em primeiro lugar a avaliação dos pais será devidamente ponderada e por fim se bem que existam pais incompetentes e desinteressados, tal não é razão para que os outros sejam ofendidos desta forma.

Srª Ministra e equipa : Continuem. Estão REALMENTE e finalmente a fazer uma mudança da educação em Portugal.
 

A SIC-Notícias e o "Jornalismo de agência"



Ricardo Costa, Director de Informação da SIC-Notícias

O último “Expresso da Meia Noite” (SIC Notícias, sextas-feiras, 23 horas) foi pouco menos do que uma vergonha. O esquema matricial do programa foi distorcido. A discussão sobre temas relevantes, com convidados especializados nas áreas em debate, foi substituída pela conversa mole com Paulo Teixeira Pinto e Roberto Medina, numa onda claramente promocional do Rock-in-Rio e do Millennium-BCP. Carrilho, por momentos, há-de ter-se sentido vingado. O canal dirigido por Ricardo Costa não poderá, doravante, ser acusado de promiscuidade com as Agências de Informação. Sorridente, ufano, privado e informal, está a tornar-se ele próprio numa delas.


 

A propósito do "negócio da morte"

A propósito do poste "negócio da morte" que, ontem, inseri aqui no PUXA, acabo de ler no DN que, afinal, terá sido um erro processual que levou à absolvição dos 20 arguidos. Não é possível link, o artigo do jornalista Carlos Rodrigues Lima na Sociedade não se encontra na NET.

Mas segundo o autor da notícia: "um erro processual relacionado com facturação detalhada dos telefones levou a que o tribunal que julgou o processo da agência funerária Funeropeia (que realizou o funeral de Amália Rodrigues) absolvesse 20 arguidos e condenasse o principal a apenas dois anos de pena suspensa. Na leitura do acórdão, o juiz Fernando Ventura criticou a investigação conduzida pelo Ministério Público."

Bom, algumas das minhas interrogações de ontem estarão resolvidas. É por situações destas que se percebem bem as falhas flagrantes da Justiça, designadamente, a quando da investigação.

Admitamos que estes arguidos pedem uma indemnização. Não seria inédito, pois o Major parece querer usufruir uns trocos desta forma. Mas afinal o Major é mais que estes? Talvez, não tenho "indicadores de desempenho" para os hierarquizar em termos de eficácia.

Mas a mim aflige-me. Estes senhores da investigação (MP e PJ) não podem ser impunes. Ainda ontem se viram as contradições da senhora inspectora Rosa Mota no caso Casa Pia.
Aqui registo a minha preocupação. Para além de não sabermos em que mãos estamos em termos de justiça, a não ser que um pobre diabo se tiver de ir a uma destes instituições é sempre mal tratado, ainda vamos ter de pagar indemnizações?

2006-05-26

 

Um ambiente de decadência

Já aqui vos deixei a minha impressão sobre o clima político que se vive actualmente em França, em poucos meses vivemos a revolta dos arrabaldes, e a guerra entre o primeiro-ministro e o ministro do interior. Hoje soubemos que Chirac utilizou uma lei recente para tirar um amigo de apuros.

Guy Drut, campeão olímpico de 110m barreiras em 1976 foi condenado, em Outubro 2005, por desvio de fundos públicos: o que por aqui se chama um emprego fictício, ou seja recebeu um salário da região Îlle-de France sem exercer qualquer actividade. Um tribunal condenou-o a 15 meses de prisão com pena suspensa e 50 000 euros de multa. Na sequência da condenação o Comité Olímpico Internacional suspendeu Guy Drut. Em 2002 a actual maioria parlamentar aprovou uma lei que permite ao presidente conceder amnistias individuais a pessoas que tenham prestado serviços à nação, essa lei foi aprovada com o voto do próprio Guy Drut, que na altura já estava acusado. Hoje Chirac pública o decreto de amnistia e os seus amigos justificam-no com a defesa dos interesses da França no Comité Olímpico pois este fica se argumento jurídico uma vez que a lei francesa apaga completamente o registo criminal em caso de amnistia.

Será que o governo não percebe que este tipo de atitudes só serve para desprestigiar ainda mais a classe política?

Para mais informações podem ler o Libération ou o Monde
 

Fim das taxas dos contadores domésticos

Acabar com a taxa de aluguer do contador só peca por tardio. É medida justa assente em princípios de tratamento sãos e iguais para estas situações.

Como diz a DECO, o contador não é mais do que um taxímetro, pelo que não faz sentido um cliente pagá-lo (ninguém paga o taxímetro (?)). É, na realidade, um aparelho de medida para quantificar o serviço prestado ao consumidor/utilizador.

Realçados os princípios, este projecto de lei que, ainda está muito longe de vir a estar em vigor, (só lá para 2007 devido aos demasiados trâmites a preencher), merece ser claro, bem definido (a que serviços públicos ou equivalentes se dirige?) para não dar aso a subterfúgios legais. Já se vê pela reacção de várias das empresas visadas que nada tem a ver com elas. Por essas reacções, quase diria que o projecto se destina a um "conjunto vazio".

Mas recuando um pouco, para além da clareza e objectividade, atenção a outros aspectos.

Serão exigidos ou não consumos mínimos? O taxi tem e o taxímetro regista- a chamada bandeirada.

Isto pode ou não funcionar como uma forma encoberta de chegar ao aluguer? E se houver esses mínimos, quem os fixa? As entidades reguladoras dos sectores? O Governo?

Continuo a insistir que estas propostas de aparente benefício para o consumidor deveriam ser minimamente quantificadas. Há reacções contra. Câmaras e empresas.

No caso das Câmaras é interessantíssimo. Vêm exigir transferências do Estado equivalentes às perdas de receitas. Se o governo ceder, vai dar no mesmo, pagamos nós.

É, no mínimo, aberrante este posicionamento. Porque nunca pensam as Câmaras em gerir melhor os seus serviços? Esta perda seria certamente recuperável ápenas com mais eficiência.

 

O "negócio da morte"

... ficou por junto em 900 euros.

Segundo ouvi há bem pouco na TSF, apenas um dos visados deste "negócio" foi condenado no pagamento/restituição de 900 euros à Seguranaça Social. A pena suspensa de 2 anos é só cosmética.

Mas afinal, o que tem consistido (e o "rigor" desta sentença é um incentivo) este negócio?

Um conluio entre várias entidades com algumas agências funerárias à cabeça para captarem a realização de funerais quase em monopólio em alguns locais.

No processo que hoje teve este desfecho eram 20 os arguidos, entre eles um médico. Tudo passou para o não provado, excepto o Sr. Nelson Santos, dono de uma agência, que até de falsificação de documentos estava acusado e houve prova disso em tribunal, apenas a acusação de corrupção não ficou provada. Este é o mesmo senhor, segundo a TSF, que no funeral da Amália Rodrigues telefonou para a família dizendo que era funcionário da Presidência da República.

Não haverá matéria para reflectir? A justiça poderá continuar assim? Quem falhou neste processo? A Investigação? O Ministério Público? os Juízes?

Um processo de 20 pessoas para isto?

 

Revoltas, Medos e Bom Humor



Luis Filipe Borges (Pivot de "A Revolta dos Pastreis de Nata")


Uma onda irregular de reflexões acerca de Portugal e dos portugueses, atravessa o espaço público, interpela-nos e desafia-nos. Na edição de A Revolta dos Pasteis de Nata (RTP2, 5º feira passada), discutiu-se O Medo, ou Os Medos dos portugueses. O ensaio de José Gil, Portugal Hoje. O medo de existir, reverberava obviamente na escolha do tema e em muitos dos ângulos de abordagem que quer os participantes no talk-show, quer o sketchs videografados glosaram.

Findo o programa, uma questão permanece no ar: porque é que, contrariamente aos desejos expressos por José Gil e muitos dos seus leitores, o ensaio foi rapidamente absorvido pelo silêncio ruminante das coisas-que-aconteceram-mas-não-importa-muito-falar-delas?

Dir-se-ia que os mesmos dispositivos que bloqueiam a expressividade, a participação, o debate frontal e aberto, o enfrentamento dos arcaísmos, abafaram, através de uma operação meteórica e voraz, todos os pretextos que permitem continuar as discussões a partir do texto de José Gil.

A perversidade consiste, às vezes, em apoiar encomiástica e retumbantemente uma iniciativa, durante algumas semanas, abafando-a e fechando-a, depois, utilizando, como pretexto, o estratagema da perda de actualidade, justificando de modo aceitável (para os mais distraídos) e plausível (para os mais endoutrinados), o silêncio que costuma seguir-se às grandes explosões.

Assim fez o regime fascista com o livro A Vida Sexual, de Egas Moniz. Enquanto muitos outros livros foram simplesmente proibidos, apreendidos, e os respectivos autores perseguidos e presos, com ou sem culpa formada, este livro de Egas Moniz passou a poder ser lido apenas por gentes seleccionadas (estudantes de medicina, médicos, enfermeiros e outros técnicos); vendido mediante receita médica; colocado fora do mercado. Não se devia tocar no autor, nem na obra. Devia-se, apenas, impedir que um número exagerado de pessoas, lesse e comentasse…

Numa “sociedade aberta” os dispositivos de bloqueio têm de ser orientados com maior subtileza.

Faz-se um banzé do caraças quando o livro sai, e depois parte-se para outra, ladeando a discussão que se gerou a partir do livro. Não são propriamente sequelas do salazarismo. São as pessoas e as instituições que controlam as situações de poder (económico, social, cultural, comunicacional), que se sentem ameaçadas. Se a desmontagem dos medos se fizesse, os seus poderes estilhaçar-se-iam inexoravelmente.

Ficamos a dever à equipa de A Revolta dos Pasteis de Nata uma disposição e um ânimo que vão ao arrepio de tudo isso.

Têm razão.

Fazem falta mais conversas sobre O(s) Medo(s) e os modos de superá-los.
Sobretudo, com irreverência e bom humor.

Desistir é que não!

2006-05-25

 

Timor Lorosae e Loromono. Além do petróleo

Casa em que não há pão... Mas a instabilidade em Timor Leste não decorrerá só das graves carências e do abismo entre as expectativas criadas pela independência e a situação real de pobreza e desemprego. Outras causas parecem visíveis. A heterogeneidade étnica, linguística e cultural. A falta de consolidação das estruturas do Estado, a coexistência de instituições democráticas modernas com uma sociedade quase tribal. Além da irresistível e ainda não há muito tempo demonstrada tendêndia da Igreja Católica local (sem que isso contradiga o seu papel positivo na coesão nacional) para se arrogar maior legitimidade para representar o povo timorense do que os órgãos democraticamente eleitos e de se imiscuir na política.
As figuras carismáticas talvez não usufruam do melhor entendimento entre si. O primeiro ministro Mari AlKatiri é muçulmano e acusado de comunista pelo major dissidente e por algumas figuras da Igreja. Ramos Horta, é pela sua projecção internacional e especial relação com os EUA, outro galo na mesma capopeira. Chanana Gusmão, herói nacional, sobre quem recaíam especiais responsabilidades desiludiu alguns. Foi eleito Presidente da República quase à força porque preferia ser fotógrafo amador e ir gozar a lua de mel com a sua esposa. Entrevistado pela RTP o 1º M - interrogado - diz que nada sabe da tomada de controlo de todas as forças de defesa e policiais por Chanana Gusmão. E que isso não faz sentido porque era necessário ter sido declarado o estado de sítio que por sua vez teria de ser previamente autorizado pelo Parlamento e que nada disso acontecera.

A compreensão das dificuldades actuais e outras futuras, previsíveis, talvez não dispensem a ponderação da poção mágica - o petróleo. Muito petróleo que, se ainda não dá muitos dólares, todos sabem que ele ali jaz, a exercer uma atracção fatal, no mar que a fronteira com a Austrália divide.
A negociação com a Austrália foi muito dura e este país-continente achou que o governo de Mari Alkatiri foi demasiado bem sucedido na partilha.

Para Barbedo Magalhães "o que está por trás das sucessivas crises em Timor-Leste desde a conquista da independência em relação ao domínio indonésio é a "legislação, que é do melhor que há no mundo, sobre os recursos resultantes do petróleo". A lei, diz, é de uma "transparência realmente excepcional, que torna muito difícil os abusos e a corrupção. E, naturalmente, quem está habituado a resolver tudo pela via da corrupção, quer Estados, quer companhias, não gosta dessas coisas".

Do lider da rebelião, major ALfredo Reinado, pouco sei. Uma ex-cooperante portuguesa em Timor entrevistada ontem por um dos canais de TV dizia que visitara em tempos a sua unidade e lhe parecera um caos. Os militares fardavam-se como queriam ou andavam meio desfardados. Nas horas de serviço os militares uns dormiam nas casernas outros andavam por ali.
Ao Público, por telefone, o major disse ontem (peça de Francisca Gorjão Henriques) que "todas as populações do Oeste [Timor Loromono] que se sentem descriminadas estão comigo". " Gostaria de voltar à vida civil. Estou farto de ser militar" E no mesmo artigo se informa que "apontou o dedo ao Governo que acusa de ter como único objectivo manter-se no poder mas elogiou o ministro dos Negócios Estrangeiros José Ramos-Horta.

 

Souto Moura posto em causa

Na entrevista que deu na RTP a Judite de Sousa (2006-05-25) Daniel Proença de Carvalho foi certeiro e mortífero para com o PGR . Para além de afirmar que Souto Moura aparenta não ter mão na PGR, disse que o inquérito sobre o "envelope 9" que lhe foi exigido com urgência por Jorge Sampaio, e se arrasta há cinco meses, podia ter sido feito em dois ou três dias e não faz sentido a perseguição aos jornalistas.

 

Timor : Irresponsabilidade do BE

O Bloco de Esquerda declarou grandes reticencias quanto à participação Portuguesa numa eventual missão militar de estabilização em Timor.

O deputado Luís Fazenda, em declarações à RTP, chegou mesmo a afirmar que se trata de ingerência em assuntos internos.

Fazem inclusivamente questão de reafirmar tal posição exista ou não enquadramento da ONU.

É minha opinião que tal posição é irresponsável. Pelas seguintes razões:
O que pretende o BE ?

 

Sobre a economia deste País...

Umas quantas notas .... até porque os relatórios das instituições internacionais não nos enchem de grande regozijo. O INE, contudo, lá terá dislumbrado uns tantos raiozitos de luz que espero não se apaguem, sobretudo se a Europa entrar em retoma, mesmo branda.

Costumo de vez em quando dizer, ou até escrever, que Portugal tem cada vez menos bens e serviços para exportar (entenda-se em termos concorrenciais Preço/qualidade) e, daí, a baixa de taxa real média de quota de mercado que o Banco de Portugal estima na ordem dos 0,7% desde o ano de 2000. Por outro lado, os produtos e serviços oriundos de outros países estão cada vez mais presentes na nossa economia. Ou seja, o aperto chega de todos os lados.

Esta situação é objectiva. Não se trata de uma posição pessimista, mas bem realista e como tal tem de ser encarada. É o resultado de anos e anos de contradições e de políticas públicas erradas ou de falta delas a que deve adicionar-se a falta de empresários com visão estratégica.

Temos de partir do que há e transfomar. Continuar com "as políticas das últimas décadas" é perpetuar a actual estruturação da cadeia de valor que, em si, contém pouca margem de manobra para a competitividade, ou seja, fracas potencialidades de oferecer bens e serviços competitivos.

Como romper?
Vou citar o que escrevi há bem pouco numa revista económica.

Conjugar " a cadeia de valor nos seus aspectos material e imaterial através da articulação das empresas em rede e de uma aposta forte na clusterização das actividades é o bom caminho, talvez ainda longo, para uma economia mais competitiva e de maior valor acrescentado.

Esta estratégia exige rupturas. Primeiro em termos de pensamento e depois na acção. Um modelo diferente sobretudo de mentalidade.

É bem visível que, no tocante às políticas públicas, não têm sido preconizadas estratégias coerentes de rupturas. Têm mudado os nomes e os programas, mas não se geraram vontades de mudança e novas mentalidades. As oportunidades surgem mas passam ao lado.

Em Portugal tem faltado garra e ambição. Uma nova agenda para a competitividade, como agora está na moda dizer, requer um olhar sobre a economia como algo a “refundar”, ou seja, novas maneiras de conceber, financiar, produzir, distribuir, de associar e captar inovações técnicas, novos produtos e serviços com novas formas de gestão, novos tipos de organização social: a nível empresarial, sindical e de cidadania.

Não tem sido por falta de investimento que estamos a perder competitividade (Portugal tem uma das taxas mais elevadas da UE), mas pela qualidade desse investimento e ausência de definição de uma ideia para o País. Sem se saber o que se quer de Portugal, na Europa e no Mundo, não é possível dar passos largos e seguros".



 

Porquê mudar o Protocolo de Estado, Agora?

Certamente tenho andado distraído porque ainda não atingi o alcance desta iniciativa da direcção do grupo parlamentar do PS sobre o Protocolo.

Como cidadão gostaria de perceber o porquê e o para quê da mudança do Protocolo de Estado, quando toda a gente, incluindo o próprio PS, parece também estar tão distraídos quanto eu, tal a pouca euforia por questão "tão transcendente" para este País, nesta altura da nossa vida colectiva .

Será que os frágeis sinais de retoma (?) estão a ser originados por este súbito impulso de "produtividade" na direccção parlamentar do PS?

 

Aqui sobem. Lá descem

O Governo convocou as organizações sociais para elaborarem conjuntamente uma nova lei sobre a reforma. Uma proposta do executivo é baixar a idade da reforma dos homens dos 65 para os 60 anos e das mulheres dos 60 para os 55. [Link]
É na Bolívia, não é cá!
Afinal isto do "populismo"... talvez não seja tão mau assim.

2006-05-24

 

Retoma ou Recaída?

Os sinais de retoma estão aí. Ainda débeis, é certo, mas em todo o caso sinais. E são vários e de várias fontes. Apesar de surgir um que outro contratempo, o optimismo, a esperança, a fé, crescem. O país, depois de tão longa depressão, atira com o pessimismo, tão lusitano, para trás das costas e começa a levantar a cabeça.
Os sinais estão aí já bem visíveis. Bandeirinha aqui bandeirinha ali. Nas varandas, nas janelas, nos nossos corações.
Retoma? Recaída!

 

Barganha

Você é a partir de hoje o rosto da vergonha do jornalismo português. Quase gritava Manuel Maria Carrilho para Ricardo Costa que contra-atacou com e você é o rosto da derrota eleitoral.
A plateia de Os Prós e os Contras premiou com abundantes palmas a respota de Ricardo Costa o que me fez concluir que ou tinha muitos jornalistas ou pouca simpatia pelo estilo do ex-ministro da Cultura ou as duas coisas.
O Manuel Correia já apresentou aqui em baixo, e com excelência, as conclusões a retirar da tertúlia de Fátima Campos Ferreira. Por isso contento-me em apresentar o episódio final da barganha.
O director da SIC Notícias duramente atingido por Carrilho guardou para o fim o que julgou ser uma genuína ADM sem avaliar que estas armas de destruição em massa são muito traiçoeiras e podem, se surgem ventos contrários, atingir com a sua mortífera radioactividade o próprio operador. Tal como o vídeo de Manuel Maria Carrilho com Bárbara e o Miguelinho não surtiu o efeito esperado também este "tiro" de Ricardo Costa acabou por lhe atingir o pé.
O jornalista queria expôr à exacção o mau carácter de Carrilho e assim desculpar as partidas que os media ( ou as agências de informação) lhe pregaram e não desistia de lhe atirar à cara e às nossas consciências o episódio assassino, ocorrido em Outubro de 2002, com o então ministro Nuno Morais Sarmento.
Carrilho insurgia-se: que aquilo era o exemplo acabado do jornalismo "policial", "persecutório" e que Ricardo Costa "não tinha emenda" e estava a repetir o golpe traiçoeiro das imagens da SIC Notícias que na campanha eleitoral deram o não aperto de mão sem mostrar as razões que o motivaram.
O caso que Ricardo Costa tentou relatar no meio da algazurrada do fim do programa para evidenciar o suposto mau carácter de Manuel Maria Carrilho, acabou meio chocho e incompleto mas eu, que gosto de guardar coisas, tenho-o [aqui] ainda fresquinho para quem o não tenha então apreciado.

2006-05-23

 

O Polvo, as Redes, e....


Foto do Blogue Pim Pão Digital


Seis Apontamentos sobre o debate ocorrido ontém à noite no programa "Prós e Contras" da RTP Um.

1. Carrilho acusa Ricardo de ter passado as imagens da recusa do aperto-de-mão, desligadas das razões que o levaram a agir desse modo; acusa-o, ainda, de se ter pronunciado acerca do seu último livro sem o ter lido na íntegra. Nestes aspectos, como noutros, M.M. Carrilho tem razão. Foram golpes baixos que o próprio Ricardo Costa tentou justificar em perda, sem ânimo.

2. Rangel, austero e seráfico, parecia pairar sobre as desavenças como um paladino da deontologia jornalística, puro e virginal. Deve contar demasiado com a falta de memória de alguns de nós. Está enganado.

3. Ricardo Costa atacou pela tardinha. Foi às antiguidades recentes e colocou Carrilho perante os seus tiques autoritários e os seus traços de carácter intolerantes e irascíveis. Sublinhou verdades deslocadas (válidas, com certeza, noutros contextos), e reconheceu alguns erros da sua estação. Descolou da arrogância habitual. Já é qualquer coisa.

4. J. Pacheco Pereira (o ganhador do debate, na opinião do meu amigo João Tunes, do Água Lisa.6) quis separar o polvo (os interesses urbanísticos que Carrilho culpa) das redes mediáticas. Fez-me lembrar dois versos de uma canção de Sérgio Godinho: “Cada coisa para seu lado/ que isto anda tudo ligado”. Experiente e astuto, aguardou que os ânimos serenassem. Fez esquecer as vezes que errou e os rocambolescos episódios que protagonizou, coarctando a liberdade de expressão dos deputados, a começar pelos do seu próprio partido. Dos presentes, era o único que todos reconheciam ter autoridade no assunto. Neste aspecto, como noutros, o João Tunes (Água Lisa.6) tem razão.

5. M. M. Carrilho, apesar dos seus exageros e dos traços de carácter pouco recomendáveis, prestou um bom serviço à dinamização do nosso anémico espaço público. Mostrou que um derrotado não tem de se calar, baixar a cabeça e fazer a tradicional travessia do deserto; que quando não se tem razão em tudo, pode-se ter razão nalguma coisa; e que sem frontalidade e coragem, as outras virtudes intelectuais são insuficientes para uma intervenção cívica eficaz.

6. Não creio que Carrilho tenha sido derrotado pelo polvo (do imobiliário) ou pelas redes (do enviesamento mediático), mas é bom que aqueles que não ganham o imitem no hábito de prosseguir o debate democrático, sem vergonha nem culpa.
Em maioria ou em minoria.

2006-05-22

 

Sinfonia para dois Guy(s)


Um é negro; o outro não...


É muito difícil resistir à tentação de brincar com a entrevista da BBC de há uma semana, em que Guy Goma, foi confundido com Guy Kewney, no programa News 24. (Ver História e Vídeo aqui).

Tentando passar ao lado dos chistes mais óbvios, já explorados à saciedade, deixem-me tomar um ângulo diferente.

Primeiro, correu o rumor que Guy Goma, congolês, era taxista. Se assim fosse, era mais fácil contrastá-lo com Guy Kewney, especialista em direito comercial e editor do site Newswireless.net. Um negro, o outro branco; um altamente qualificado, o outro com uma profissão comum. Essa vontade de contrastar, além de dar muito jeito para (re)narrar a história, mantém os tiques mais arcaicos do imaginário conservador, o que parece constituir uma espécie de lubrificante para fazer correr a mensagem.

Depois, descobriu-se que Guy Goma, congolês, não era taxista. Um OOOOH! de decepção ecoou por todo o lado. Goma tem formação superior e, assim sendo, já não se pode ridicularizar tanto a BBC…

Moral da história: o bom jornalismo não se pode deixar substituir pelos caprichos narrativos de quaisquer comunidades informacionais. Há algumas regras e princípios deontológicos que continuam a fazer diferença.

Por outro lado, confirma-se a vantagem da informação escrita.
A vertigem do directo é má conselheira do intelecto.

 

Mais um simulacro de democracia?

Uma democracia não se mede pelo número de propostas de referendos.

Um país democrata será aquele que aposta, muito convicta, séria e objectivamente, através de meios idóneos, na prestação de informação sobre as questões estruturantes da vida do país, sejam internas sejam externas.

O nuclear é uma dessas questões.

Estranho apenas que para o grupo de "peritos" que hoje esteve a debater na TSF o nuclear e de que o DN fez eco, a questão central desta importantíssima questão se situe no referendo.

O referendo vem cedo demais. Fazer grande aposta desde já nele pode ser uma excelente forma de enviesar debate tão preciso.

Agora não acho importante e menos ainda aliciante tal ideia. Depois logo se vê.

O País encontra-se num grau de informação e de conhecimento próximo do Zero nesta matéria do nuclear. O que é urgente fazer é montar as condições para o debate - um debate alargado - não só em termos de segurança (nuclear vs outras fontes), mas de investimentos (alternativos), vantagens para a população em termos por exemplo de preços, que problemas resolve o nuclear num contexto mais vasto de um plano energético, que efeitos terá na economia, no seu todo, será que vai potenciar o aproveitamento do minério de urânio nacional, que estruturas são necessárias criar, pois é preciso (re) começar de novo o que se foi desmantelando ou ainda está a desmantelar (por exemplo IGM) e quais os custos/benefícios dessas medidas que necessariamente terão de se tomar, algumas com ou sem nuclear.

2006-05-21

 

Colagens

"Os socialistas colaram-se às nossas ideias e tiveram o descaramente de nos imitar a toda a hora..." - queixou-se Manuela Ferreira Leite, no Congresso do PSD.
Mas Manuela Ferreira Leite não tem total razão. É que se muitas "ideas" são comuns ao seu partido e ao PS a diferença é que os governos de Barroso e Santana não fizeram o que Sócrates está a fazer e por isso aqueles não obtiveram a aceitação que este tem tido.
O que salta à vista não é a colagem do PS às ideias do PSD mas a colagem de Ferreira Leite à popularidade que Sócrates, por enquanto, vai tendo.

2006-05-20

 

O Mistério do caso "Envelope 9"

... continua mal contado.

O procurador- geral da república, José Souto Moura, vem 4 meses depois admitir que o inquérito está parado, embora, já se apontem "culpados". E está parado por um incidente de escusa dos jornalistas à abertura dos seus computadores.

Vendo bem segundo Souto Moura há dois culpados: A PT que enviou mais informação que a solicitada pelo juiz e os jornalistas do 24 horas. A culpa da PT já prescreveu. Restam os jornalistas.

Não se percebe, ou melhor eu não percebo, porque razão são os jornalistas os culpados.

Olhando para os circuitos da informação solicitada, que se saiba entre a recepção da informação dos dados enviados pela PT e a sua anexação ao processo Casa Pia, alguém assim o decidiu, presumo que um juiz. Alguém analisou esses dados senão não faria sentido pedi-los. Presume-se que foram pedidos com objectivos de contribuir para clarificar algo. E então pergunta-se: esse alguém que os analisou, não percebeu que havia dados desnecessários? E mesmo assim manda apensá-los sem correcção?

Esta incúria não merece reparo? Ou não será que o imputar da culpa aos jornalistas é mais prático e um "acto de solidariedade e branqueamento da incúria da classe"?

Isto parece mais uma história da carochinha.

 

De Fra Angelico a Bonnard

95 obras primas, da colecção de Gustav Rau, no Museu de Arte Antiga, em Lisboa, até Setembro.

"Retrato de uma jovem", de Bernardino Luini, 1525

Fra Angelico (S. Miguel, 1424-25) ; Pierre Bonnard (Baía de S. Tropez, 1914)


2006-05-19

 

Da Vinci code, nota geográfica

Mais uma vez um post de MC inspirou-me e deu-me um pretexto para vos chamar a atenção para uma liberdade literário-geográfica de Dan Brown no "Da Vinci code". Quem lê o livro sabe que o autor coloca o transepto da igreja de Saint Sulpice e a pirâmide invertida do Louvre no meridiano de Paris.

Ora o meridiano é definido pelo observatório de Paris e se olharem bem para um mapa (ou imagem satélite) podem ver que na verdade tanto a pirâmide como a igreja ficam a Oeste do meridiano. Fica um pretexto para vos fazer visitar uma imagem satélite de Paris na qual o obervatório está no meio do bordo inferior (no enfiamento do jardim do Luxemburgo) e o Louvre no meio do bordo superior (distingue-se bem a partir da "Cour Carrée"). A igreja de Saint Sulpice em ampliação máxima pode ser vista aqui.
 

Dan Brown (1)



Ela e Ele.

Passando por cima da crítica do filme The Da Vinci Code, de Ron Howard, que estreou ontem, retomo o texto do livro a que o filme se alapa, com raras excepções. A “indústria cultural” que o livro ajudou a globalizar, apresenta, no imediato, algumas vantagens. Suscita questões normalmente afastadas das temáticas oferecidas quotidianamente aos grandes públicos; interroga o passado e as ideias feitas; convida à reflexão. Apesar do género guionista de uma literatura a que muitos dos nossos Petrónios se apressaram a chamar “de aeroporto”, o sucesso de Brown mostra que ele entendeu, pelo menos, três coisas fundamentais.

Que a força do cristianismo está na divinização de cada um de nós. Cristo, enquanto homem, é o exemplo da paixão, do inconformismo, irmanado aos mais pobres contra a opulência dos ricos, déspotas e poderosos.

Que a força do cristianismo será sempre uma heresia contra a Igreja de Roma que expulsou o “sagrado feminino” por este reconduzir sempre ao renascimento de Cristo, no Homem e na Mulher.

Que não tem sido fácil preservar o exemplo civilizador do cristianismo contra a falsificação institucional, colonizadora, e tiranizadora dos povos.

Deste modo, Dan Brown tem contas a ajustar com a Igreja de Roma. Como Isaac Newton e Galileu; como todos nós.

À sombra do Código, enquanto uns celebram o regresso de Cristo à História, outros inquietam-se com a divinização do humano e a sugestão de que o verdadeiro templo, a Rosa Cruz e o Santo Graal, são as formas milenarmente clandestinizadas de nomear e celebrar a mulher.

Não há nada mais realista do que uma boa ficção.

 

A gestão no reino animal

Transcrição pura e simples do email acabadinho de receber do meu amigo Henrique Moreira.

Para quê acrescentar coisas inúteis?

"Todos os dias, a formiga chegava cedinho à oficina e desatava a trabalhar. Produzia e era feliz.

O gerente, o leão, estranhou que a formiga trabalhasse sem supervisão.

Se ela produzia tanto sem supervisão, melhor seria supervisionada. E contratou uma barata, que tinha muita experiência como supervisora e fazia belíssimos relatórios.

A primeira preocupação da barata foi a de estabelecer um horário para entrada e saída da formiga.

De seguida, a barata precisou de uma secretária para a ajudar a preparar os relatórios e contratou uma aranha que, além do mais, organizava os arquivos e controlava as ligações telefónicas.

O leão ficou encantado com os relatórios da barata e pediu também gráficos com índices de produção e análise de tendências, que eram mostrados em reuniões específicas para o efeito.

Foi então que a barata comprou um computador e uma impressora laser e admitiu a mosca para gerir o departamento de informática.

A formiga de produtiva e feliz,passou a lamentar-se com todo aquele universo de papéis e reuniões que lhe consumiam o tempo!

O leão concluiu que era o momento de criar a função de gestor para a área onde a formiga operária, trabalhava.

O cargo foi dado a uma cigarra, cuja primeira medida foi comprar uma carpete e uma cadeira ortopédica para o seu gabinete.

A nova gestora, a cigarra, precisou ainda de computador e de uma assistente (que trouxe do seu anterior emprego) para ajudá-la na preparação de um plano estratégico de optimização do trabalho e no controlo do orçamento para a área onde trabalhava a formiga, que já não cantarolava mais e cada dia se mostrava mais enfadada.

Foi nessa altura que a cigarra, convenceu o gerente, o leão, da necessidade de fazer um estudo climático do ambiente. Ao considerar as disponibilidades, o leão deu-se conta de que a Unidade em que a formiga trabalhava já não rendia como antes; e contratou a coruja, uma prestigiada consultora, muito famosa, para que fizesse um diagnóstico e sugerisse soluções.

A coruja permaneceu três meses nos escritórios e fez um extenso relatório, em vários volumes, que concluía : "Há muita gente nesta empresa".

Adivinhem quem o leão começou por despedir?

A formiga, claro, porque "andava muito desmotivada e aborrecida".

2006-05-18

 

Tentar perceber a Bolívia (2)

A Bolívia é um país pobre e esquecido que habita os confins do continente Sul- Americano. A população em número quase igual à portuguesa refugiou-se no altiplano a 3.600 metros de altitude entre píncaros dos dois braços da cordilheira dos Andes que sobe aí acima dos 6 mil e 500 metros. A populações indígenas (não gostam de ser chamados de índios. Que isso foi equívoco de europeus) ocupam também a floresta húmida e tropical que desce até à bacia do Amazonas.

Os espanhóis não conseguiram ou não quiseram exterminar toda a população local, aliás, ao que parece, com culturas milenares. Desde a independência, em 80 anos o país foi governado pelos brancos que ainda hoje não ultrapassam os 15% da população. O resultado não é famoso. Desde a independência 200 golpes e contragolpes. Desde 2001 5 presidentes.A Bolívia é o país mais pobre da América do Sul (75% da população abaixo do nível de pobreza), as riquezas nacionais foram vendidas às multinacionais estrangeiras a troco de umas comissões generosas pelos governante que nos últimos 25 anos puseram o país em leilão.

O poder, ou ao menos os poder institucional, foi agora ganho em eleições pelos que ainda há umas dezenas de anos viviam à margem da “civilização” e até nalgumas zonas mais recôndidas sob o jugo da escravidão. Camponeses contam que ainda não há 50 anos, em certas terras como em Vale Verde o comprador de 100 cabeças de gado podia levar 2 ou 3 famílias indígenas - oferta do senhor da terra.

Um indígena na presidência. E indígenas no Governo. Metade deste é constituído por académicos brancos os outros oito são indígenas ou mestiços. Dirigentes de organizações que estão na origem das revoltas que conduziram à actualidade.

A Ministra da Justiça, Casimira Rodrigues, era dirigente do movimento das mulheres empregadas domésticas. ( Empezó a trabajar como empleada doméstica a los 13 años. Sometida a abusos físicos, mentales y sexuales, trabajó dos años sin que le pagaran, como es común en muchos lugares de Latinoamérica. “Había momentos en que se sentía insignificante”.)

É difícil conceber um desfecho diferente da derrota para esta equipa ao leme dos destinos deste país humilhado. (Está nos tribunais o processo contra generais que aceitaram que a embaixada americana, na certeza da vitória de Morales, sonegassem para os EUA os únicos 44 mísseis comprados à China, das forças armadas bolivianas). É difícil conceber um desfecho diferente da derrota não porque tenham, até ao momento, dado más provas mas porque têm contra eles quase tudo. O poder económico interno, boa parte das forças armadas e policiais, a pobreza, a falta de meios humanos e tecnológicos, a inexperiência e a economia globalizada, as multinacionais, Washington.

Reduzir o líder indígena Morales e a sua equipa representativa dos libertos, ao gesto largo e definitivo de “populista” parece-me bem na boca da direita e dos interesses que adivinham ser atingidos. Mas os democratas, os que não desdenham da justiça social e da dignidade dos povos não devem ir na onda sem melhor reflexão. Afinal deveríamos rezar (os que rezam) para que a sorte os acompanhe. Porque necessitam de muita sorte e toda a sabedoria do mundo para levar adiante, em mar tão tormentoso, nau tão frágil.


 

Governo da Bolívia distribui terras aos camponeses


"El presidente interino, Álvaro García Linera, anunció que se distribuirán de 2 millones a 4,5 millones de hectáreas de áreas para los campesinos...

"El gobierno del presidente Evo Morales dio a conocer ayer los decretos supremos que entrarán en vigencia en las próximas horas, para dotar tierras a los sectores más necesitados, originarios, campesinos, indígenas y mujeres...El anuncio lo realizó ayer en Cochabamba el presidente en ejercicio, Álvaro García Linera...

"El Ejecutivo propone ... poner en marcha un proceso masivo de reversión de tierras que no cumplen la función económica y social, agilizar el saneamiento e implementar cambios en el ordenamiento jurídico agrario.
“Nadie expropiará tierras, se garantizará la propiedad que está cumpliendo la función económica y social, como dice la Constitución”, aseguró García Linera.
Los decretos permitirán la redistribución... tierras ... a pueblos indígenas, originarios y campesinos.

La dotación de tierras ya fue tratada durante la gestión de [ex-presidente derrubado pelas manifestações populares] Jorge Quiroga, en agosto de 2001, cuando el Ejecutivo se comprometió a entregar 3,8 millones de hectáreas de tierras en favor de familias indígenas, así los campesinos levantaron un bloqueo.
Las propuestas tienen un enfoque de género porque en la dotación de tierras tendrán tratamiento preferente las mujeres indígenas, jefas de familia.
Con relación a los asentamientos humanos, el Gobierno establece salvaguardas como el respeto al uso mayor, o lo que se conoce como la vocación, de la tierra y el compromiso del Estado, a través de prefecturas y municipios, de respaldar la organización, la institucionalidad, el financiamiento y técnicamente a este proceso." [link jornal boliviano La Razon do grupo Prisa a que pertence o espanhol El País]



Evo Morales no Parlamento Europeu (15 de Maio de 2006)

"A Bolívia tem o direito de explorar seus recursos para deixar de pedir esmolas, afirmou nesta segunda-feira à tarde o presidente boliviano, Evo Morales, durante sessão plenária do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, num discurso que também tocou nos temas da imigração e do narcotráfico.
Morales não foi recebido de braços abertos por todos os grupos políticos, já que, como era de se esperar, a maioria dos membros do Partido Popular Europeu-Democratas Europeus (PPE-DE) abandonou a sala em protesto contra a nacionalização do petróleo e do gás no país andino.
Ainda assim, ele conseguiu calorosos aplausos dos deputados que ouviram seu discurso, carregado de alusões pessoais, e no qual pediu apoio aos europeus para salvar um povo mergulhado na miséria, o que ele pretende conseguir recuperando os recursos naturais, "renováveis ou não".
"Quero que entendam que não se está expropriando, nem expulsando ninguém (...) Entendo que queiram recuperar seu investimento e ter direito aos serviços. Mas o governo boliviano vai controlar tudo isso. Serão sócios e não donos", tentou explicar Morales, referindo-se às empresas com interesses econômicos no setor dos hidrocarbonetos, como a espanhola Repsol YPF, a francesa TotalFinaElf e a britânica British Petroleum.
"Queremos acabar com este Estado mendigo. Antes, os governos iam para o exterior para pedir esmolas. Queremos acabar com isso, aumentando o volume das exportações e os preços de forma racional. Não se trata de chantagear", justificou Morales.
..."Outro tema delicado, recorrente nos pronunciamentos de Morales, foi o tráfico de drogas. Ele se comprometeu a impedir o livre cultivo de coca no país, mas advertiu os eurodeputados de que "tampouco pode haver o que chamou de Zero Coca. Neste sentido, Evo se declarou favorável a "racionalizar" uma pequena extensão de cultivo de 40x40 metros por família.
Morales também pediu o apoio da Eurocâmara para a defesa dos direitos humanos, "criando fontes de trabalho e recuperando nossos recursos".
O Partido Popular Europeu (PPE-DE) não deixou por menos e rebateu Morales, afirmando que a nacionalização torna os direitos humanos vulneráveis.

À imprensa, o presidente do Parlamento Europeu, Josep Borrell, comentou a ausência de muitos deputados do PPE-DE.


 

Uma interessante leitura

Graças a uns amigos que vieram passar uns dias a Paris pude ler o livre de Nuno Crato "O «eduquês» em Discurso Directo Uma crítica da Pedagogia Romântica e Construtivista". Neste livro o autor faz uma crítica acérrima das teorias mais extremas das ciências da educação que estiveram na moda até há alguns anos. Algumas destas teorias têm origem em algumas escolas da pedagogia francesa, por exemplo, a ideia de que os alunos são capazes de redescobrir a matemática e que os professores estão lá apenas para os guiar. Só lamento que o livro não apresente mais ideias que permitam resolver os problemas graves do ensino da matemática em Portugal. Podem ler um artigo do autor sobre o mesmo assunto aqui.

Em França existe um debate similar sobre o ensino da Matemática, a generalidade dos profissionais dos assuntos de ensino observam uma degradação do ensino, sobretudo elementar e secundário. Mais difícil é encontrar soluções: alguns preconizam o regresso ao modelo de escola dos anos 30 esquecendo-se que, desde essa época, a escola e a sociedade mudaram muito, até aos anos 60 terminar o liceu era um luxo reservado apenas a alguns. Por outro lado a sociedade dá hoje menos valor à cultura do que dava há algumas décadas, este fenómeno reflecte-se na motivação dos alunos.
 

A propósito das explorações mineiras

As recentes noticias quanto à retoma das explorações mineiras levou-me a relembrar e retomar a história do IGM.

A extinção do Instituto Geológico e Mineiro (IGM) em 2003, pelo ex-ministro Carlos Tavares, do governo de Durão Barroso e a sua integração no INETInovação foi condenada pela generalidade da comunidade geocientífica portuguesa e por muitos estrangeiros.

Assim, Portugal que foi dos primeiros países do Mundo a ter um serviço geológico nacional é actualmente o único da União Europeia a não possuir um organismo deste género.

O saldo dessa integração é francamente negativo para a actual área das geociências do INETI devido à sua evidente especificidade e não ter promovido quaisquer das sinergias esperadas.

O Partido Socialista, pela voz do Professor Augusto Santos Silva defendeu na Assembleia da república em Fevereiro de 2004 que se tratava de uma medida errada, com consequências graves, solicitando ao então Governo a reposição da existência de um Instituto Público autónomo em matéria de Geociências em Portugal

Ultimamente, no texto da Resolução de Conselho de Ministros 198/2005, relativa à reforma da administração central do Estado, é referida esta extinção como um acto meramente administrativo.

Na altura em que os Laboratórios de Estado estão a ser redefinidos, espera-se que a situação do ex-IGM venha a ser retomadas e aquelas intervenções concretizadas.

No entanto o tempo não pára...e depois de passado mais de um ano seria de esperar que tal medida já tivesse sido corrigida. Esperemos que não se trate de mais uma das posturas de quem está na oposição que se esquece do que tem de fazer quando chega ao governo.


 

Bragança na "Vanguarda"...

... Mas antes houve Alberto João ... Foi este quem primeiro tentou, com aqueles seus modos tão peculiares e "simpáticos" e "linguagem farta", que, recentemente, denominou de "gangs" os empresários madeirenses e que não quer aceitar as regras das incompatibilidades para cargos públicos na Madeira (prefere o "mensalão" eternizado), expulsar os chineses.

Bragança segue-lhe a pista, segundo li na comunicação. Um documento sobre o "perigo amarelo" apela ao boicote às compras nas lojas chinesas.

Para além da questão de fundo, económica e social, que não é resolvida desta forma, esta atitude que parece, de vez em quando, reunir alguns adeptos, sobretudo comerciantes acossados pelo mau estado do seu negócio, é um comportamento da maior e mais requintada xenofobia.

2006-05-17

 

O que dizem os outros

Vital Moreira no Causa Nossa

Separação de poderes

Por mais criticada que seja, apesar das evidências em favor dela, a decisão de encerrar alguns blocos de partos que não dispõem de condições adequadas e que não realizam o número de partos considerado suficiente, o julgamento dessa decisão só pode ser de natureza política. No dia em que os tribunais pudessem julgar sobre a bondade, ou não, de políticas públicas, estaria em causa um dos fundamentos básicos do governo representativo, ou seja, a separação de poderes.
[Publicado por vital moreira] 15.5.06

Desperdício e privilégio

Cada ramo das forças armadas tem o seu próprio sistema hospitalar. Só em Lisboa existem 6 hospitais militares, com as triplicações de gastos que se imaginam. O Governo vai unificar o sistema, permitindo reduzir o número de hospitais e poupar gastos. Por mim, seria bem mais radical: para que é que são necessários hospitais militares? Por que é que os militares e seus familiares hão-de ter hospitais próprios? A Constituição fala num único sistema nacional de saúde, sem discriminações nem privilégios.
[Publicado por vital moreira] 16.5.06

Comentário de RN: a reestruturação das forças armadas arrasta-se de forma inaceitável há 25 anos. Com prejuizo da capacidade militar e do orçamento. O diagnóstico está feito desde o início dos anos 80. Reduzir a um os hospitais e serviços de saúde dos 3 ramos das FFAA, asim como as três escolas de formação de oficiais, assim como os 3 Institutos de Altos Estudos (decidida agora), assim como serviços de Logística e centrais de compras e por aí fora. Concordo que sem guerras à vista não fazem sequer sentido hospitais militares. Com o arrastar do tempo a reestruturação necessária é muito mais profunda. Alteração do dispositivo, extinção de unidades, fusão ou extinção de estruturas incluindo estados-maiores. Julgo que finalmente se está a proceder a esta grande reforma.



José Pacheco Pereira no ABRUPTO

O QUE É QUE ACONTECEU AO INQUÉRITO "URGENTE" PARA SABER COMO É QUE LISTAS DE TELEFONES E TELEFONEMAS DE ALTAS INDIVIDUALIDADES DO ESTADO FORAM PARAR AO "ENVELOPE 9" DO PROCESSO CASA PIA?

É que, por muito que se esteja habituado ao esquecimento de tudo, a "urgência" foi um pedido expresso e público do Presidente da República, reiterado pelo Procurador Geral da República, e, tantos meses depois, não há resultados, nada se sabe, não há uma explicação, um esclarecimento, nada. É um pouco afrontoso para o Presidente da República, ou não é? E não é muito afrontoso para todos os que exigem em termos de cidadania mínima, um esclarecimento? É. Ou há uma gigantesca conspiração à volta do envelope, que exige meses e meses de trabalho investigatório, ou então ninguém percebe a complexidade e a demora em saber uma simples coisa que deve ter deixado um rasto de papel atrás.

Comentário de RN. Estou totalmente de acordo com o texto e a ideia de PP de uma campanha até haver respeito pelos cidadãos e as instituições do regime democrático.



No Jumento

Independentemente da posição que se possa ter sobre as questão das maternidades, é cada vez mais evidente que o PSD optou por conseguir alguns votos apoiando a manutenção das maternidades onde julga que a mobilização das populações é maior. E se para manter a
maternidade de Barcelos o argumento é o do diálogo, na defesa da maternidade de Elvas o problema é o nacionalismo. (o resto do post aqui)


No Câmara Corporativa

A preservação da espécie

O casamento de Teresa e Helena subiu ao Tribunal da Relação. O magistrado do Ministério Público a quem foi distribuído o recurso defende, segundo o DN, que “só através do casamento de pessoas de sexo diferente” é que o Estado consegue “o objectivo de preservação da espécie”. Mais, o procurador recordou que “é preferencialmente no seio do casamento que deve ser feita a procriação”. O advogado de Teresa e Helena, que é o autor do Random Precision, remata no seu blogue:
Em Portugal, o Ministério Público pode muitas vezes não funcionar muito bem.Mas tem muita graça!


 

Este parto, aquele parto e... todos, todos se vão.



A ameaça da desertificação


As discussões em torno do encerramento de maternidades, levantam uma questão de consciência. Surpreendem-me as profissões de fé, aparentemente tão bem fundamentadas e justificadas por pareceres técnicos e científicos.

Separadamente, tudo parece fazer sentido. Temos de gastar menos e garantir as melhores condições de assistência materno-infantil.

Todavia, no seu conjunto, as perspectivas de desenvolvimento deixam dúvidas.

Depois do encerramento das fábricas, das escolas, e das maternidades, poder-se-á, com alguma razoabilidade, esperar investimento, povoamento, vida nova nas zonas mais atingidas por estes tipos de desqualificação?

Não me parece.

Uma coisa é dar razão ao Governo quando ele age bem; outra, muito diferente, é seguir na marcha das justificações, automáticas e parcelares, sem nos interrogarmos a que tipo de interior levarão, depois, as rotas traçadas pelas scuds cuja isenção de portagens parecia significar um olhar compreensivo deste governo sobre a interioridade.

Por detrás de cada medida parcelarmente justificada, desenha-se um plano de acentuada litoralização que muito provavelmente não agradaria a todos os que agora apoiam o Governo, caso a caso.

É a árvore que não deixa ver a floresta e uma história triste em que, de parto em parto, todos se vão…

2006-05-16

 

Menos maternidades para melhores partos

Numa onda populista para defender interesses partidários vemos alguns autarcas, um ou outro deputado, dirigentes de partidos e sindicalistas a defender a continuidade de maternidades sem recursos humanos e tecnológicos, prontos a sacrificar as condições de saúde indispensáveis ao nascimento dos Portugueses a troco de um futuro e incerto punhado de votos.
Médicos especialistas de todos os partidos defendem a decisão do Governo de fechar algumas maternidades sem condições mas alguns dirigentes partidários da oposição no activo defendem, com argumentos bizarros, o contrário, esquecidos de que defendiam o mesmo quando no Governo.
Ontem no programa Os Prós e os Contras os esclarecimentos prestados pelo Ministro da Saúde, Correia de Campos e por vários especialistas da saúde, incluindo médicos da Comissão Nacional sobre o Plano Nacional de Saúde Materna e Neonatal foram convincentes sobre a vantagem do encerramento das maternidades propostas pelo Governo.
Um impacte particular teve a intervenção de Albino Aroso, médico ginecologista, um dos mais destacados especialistas na área do planeamento familiar e saúde que criou em Portugal a primeira consulta de planeamento familiar, em 1969, e um paladino da luta em prol da maternidade.
Muito interessante e esclarecedora é a entrevista à Radio Renascensa, publicada no Público de ontem, deste ex- secretário de Estado de Sá Carneiro e Cavaco Silva, firme defensor do direito da mulher à interrupção voluntária da gravidez. Nela se demarcou das posições demagógicas de dirigentes partidários, incluindo os do seu partido. Disse aliás que o plano de encerramento de mais maternidades já estava decidido no Governo anterior e referiu que, o anterior "encerramento de 150 maternidades [desde 1989 com Leonor Beleza] não tinha causado tanto reboliço".
O Programa Nacional de Saúde Materno-infantil iniciado em 1989 é um caso raro de sobrevivência e continuidade ao longo de Governos de cores partidárias diferentes e os resultados, o grande decréscimo da mortalidade infantil em Portugal, estão à vista:


---1960------1990------2004---

60

10,9 3,8
(mortalidade infantil por mil nascimentos)

Parece claro que o encerramento de serviços de parto sem condições adequadas foi no passado e é no presente uma decisão acertada. De uma posição abaixo da média da UE, Portugal passou, na mortalidade infantil, para a 4ª melhor posição mundial.
N'Os Prós e os Contras não faltou a demagogia partidária e o populismo autárquico. O deputado do PSD, Fernando Negrão, defendeu a maternidade de Elvas por "razões patrióticas".
Tenha-se presente que o registo de nascimento pode desde há muito, ser feito no local de residência da mãe, salvaguardando-se assim a tragédia nacional de partos em Badajoz e a entrega dos nossos filhos a Castela.
O presidente da câmara de Barcelos (PSD) e suposto inimigo da iniciativa privada, destruiu todo o trabalho da Comissão Nacional sobre o Plano Nacional de Saúde Materna e Neonatal com a insinuação de que o Ministro quereria servir uns interesses inconfessáveis da medicina privada a instalar futuramente no hospital de Braga. Instado pelo ministro a fundamentar ali a insinuação assobiou para o lado.
Entretanto hoje no telejornal Carvalho da Silva explicava que o encerramento programado de maternidades não passava de uma tramóia do Governo para dar lugar a maternidades privadas naquelas terras de poucos partos. Julgará que os privados decidiram perder dinheiro para colocar dispendiosas maternidades ao pé de cada vilória?
Verberar-se-á o economicismo. Mas é evidente que se o dinheiro abundasse contratavam-se médicos e enfermeiros especialistas em Espanha ou no Leste, comprava-se mais e melhor equipamento e, Sócrates sonhando com a reeleição, colocaria uma maternidade em cada paróquia.
Apontar-se-á o dedo à pouca informação das populações para explicar o seu estado de alarme. Mas muitos dos que apontam o dedo é que, por razões partidárias, têm feito o que podem para alarmar.

 

A posição da UE face ao Irão

Javier Solana diz que a UE está disponível para apoiar o Irão no acesso ao nuclear para fins pacíficos.

Esta declaração curiosa, peca por tardia, para não dizer por ineficácia. ...

Se a tempo e baseada, poderia ter funcionado de "ponte" na sequência de que o Irão privilegiava o diálogo com os europeus neste domínio.

É uma declaração curiosa e tardia porque a UE nunca definiu/assumiu uma posição clara e de demarcação dos EUA.

Teerão anunciou agora estar disposto a negociações directas com os EUA. E a posição aparentemente algo arrojada da UE esfumou-se, porque de arrojo pouco tinha, por lhe faltar sustentação.

A diplomacia é um jogo, mas para ser eficaz tem de ter consistência.


2006-05-15

 

Um fotógrafo "malandro"



Uma foto da Primeira Página do DN de hoje dá-nos uma imagem da festa do Porto no Jamor com a taça erguida pelo capitão do Porto, Pedro Emanuel.

Numa nesga, vê-se o Presidente da República, algo bem disposto e numa de adesão contida ao festejo e, noutra, o Presidente do Futebol Clube do Porto a espreitar mas apenas por uma vista. Bem apanhados!!!

Mas não será que a vista ausente anda por outros campeonatos, o de Itália, por exemplo? Por aquelas bandas, o ambiente pia mais fino. Grandes equipas, árbitros de renome, todos andam acossados. Por cá tudo numa boa, tudo numa de brandos costumes.!!!

 

Vem aí um novo pacote de investimentos

O governo prepara-se para anunciar um novo pacote de investimentos. Pelo menos, é o que toda a comunicação social anda a dizer.

O anúncio de tais pacotes de investimento merece algumas considerações.

Primeira e mais importante: o governo deveria ser preciso e informativo, ou seja, deveria fornecer ao público em geral dados sobre os projectos.

Segunda consideração: o governo poderia delegar obrigatoriamente na comissão que avalia cada projecto a preparação e disponibilização na NET de informação suficiente para que os cidadãos possam apreender os impactos principais dos projectos na economia e na sociedade.

Terceira consideração: os departamentos respectivos do AP deveriam acompanhar a implantação dos projectos e divulgar regularmente as fases de concretização.

Nós, os consumidores "forçados" desses anúncios, somos merecedores de uma melhor informação. Entendo que um discurso de circunstância, mesmo de um primeiro ministro, não é informação que baste. Deveria, no mínimo, serem dadas a conhecer as garantias que o governo tem dos projectos que vem anunciar e dos timings de realização e dos montantes de auxílio financeiro concedidos e dos programas a que recorrem.

Só, assim, o cidadão se sentirá devidamente apetrechado para avaliar, como anda a ser preparado o futuro da economia.

2006-05-14

 

LIsboetas

Ainda não vi o filme de Sérgio Tréfaut mas pelo que diz Rui Tavares, no Público de hoje, é um filme a não perder. O realizador nasceu no Brasil em 1965, de pai português e mãe francesa e o filme ganhou o prémio de melhor filme português IndieLisboa 2004.

É sobre os imigrantes em Lisboa. E nele aparecem também os de segunda geração, já lisboetas como nós. A cidade está diferente e nós portugueses conhecemos mal e frequentemente não tratamos bem os imigrantes, os cabo-verdianos, os brasileiros, os ucranianos, os russos, os Moldavos, réplica de nós próprios emigrantes espalhados por todo o mundo.

"Quando saímos dele [do filme], - diz Rui Tavares - percebemos que isto se não resume ao direito dos imigrantes a estarem cá, mas também, que raio, ao nosso direito de os ter cá. Até porque precisamos: sem migrações, pouco se aprende ou evolui"


2006-05-13

 

Do melhor que temos na blogosfera lusófona


-Navegar- (Composição) Cortesia de Luzia Borges Correia

Não percam a arte irónico-epigramática do João Tunes no Água-Lisa(6). Vejam este mimo de post e, depois, demorem por lá o tempo que for preciso. É de primeira água (lisa).


2006-05-12

 

O "Madail"...italiano caiu

... Com um "apito" menos dourado. E com ele toda uma série de dirigentes dos principais clubes. Pelo que ouvi, os indícios são muito semelhantes aos de Portugal: pressão e influência na nomeação de árbitros. O presidente dos árbitros italianos também lá se foi.

Em Itália, vê-se, a investigação e os juízes funcionam.


 

Chefes de governo... para a posteridade.

A foto é de uma acção da Greenpeace para protestar contra a construção de uma fábrica de celulose na Argentina.

Se estiver por aí algum psicólogo talvez possa descodificar o sorriso de Tony Blair e a cara de pau de José Sócrates.

2006-05-11

 

Pode parecer uma "chinesice"...

... Mas choca-me. Sei que hoje pouco se liga a "chinesices" destas. Mas aparecem erros naquelas frases "pé de página" das televisões (aquelas frases que aparecem em movimento quando o "pivot" está a apresentar os telejornais) que são de uma gravidade extrema, porque não são gralhas, são ignorância. Consequências de um mau ensino e domínio da língua portuguesa. Porque se fossem gralhas seriam corrigidas na primeira oportunidade. Muitas das frases passam duas e três vezes em "teles" diferentes.

Ainda hoje, num determinado canal, apareceu o seguinte: "o petróleo sob ".

Há dias, noutro canal, lia-se: "Israel troxe a guerra aos colonatos".

Estejam atentos e vão ver muitas mais destas minhas chinesices.


 

História e Justiça de mãos dadas e … muitíiiiissimo atrasadas !.
Uma visão de Paris

O post precedente de MC deu-me vontade de vos deixar a minha visão parisiense desta comemoração. Por um lado acho bem: é uma iniciativa de uma deputada da Guiana descendente de escravos e aparece numa altura interessante. Por outro lado fico chocado com a forma como muita gente vê esta abolição: comemora-se a figura de Victor Schoelcher (um politico humanista alsaciano que militou pela lei de abolição) mas esquece-se Toussaint Louverture o chefe dos escravos de Haiti que se bateu contra as tropas de Napoleão. Dá-se a ideia que foram os europeus brancos que deram a liberdade aos escravos em virtude dos grandes principios humanistas. A luta dos escravos é completamente ignorada.

O contexto actual é também importante: actualmente assiste-se a uma tentativa de minimizar a colonização e a escravatura: primeiro foi uma lei aprovada pelo parlamento (felizmente já revogada) que obrigava os professores a ensinarem «o papel positivo da colonização», numa altura em que nos meios de comunicação vários intelectuais procuram justificar a escravatura dizendo que ela já existia em África antes da chegada dos europeus, ou que um filósofo como Alain Finkielkraut afirmou no jornal Haaretz que «On dit que l’équipe de France est adorée par tous parce qu’elle est "black-blanc-beur". En réalité, aujourd’hui, elle est black-black-black, ce qui fait ricaner toute l’Europe.» (uma tradução francesa pode ser lida aqui).
O que em portugês significa: «Diz-se que a selecção de França é adorada por toda a gente pois é "black-blanc-beur" (referência às três cores da bandeira francesa: bleu-blanc-rouge e às diferentes origens dos jogadores: pretos, brancos e magrebinos). Na realidade, hoje, ela é preto-preto-preto o que faz rir toda a europa.»
 

História e Justiça de mãos dadas e … muitíiiiissimo atrasadas !




“França homenageou pela primeira vez vítimas da escravatura” (título do PÚBLICO de hoje, na contracapa).

Depois da Igreja Católica ter pedido perdão, vão poucos anos, pelos «excessos» da Inquisição, os Estados Negreiros cujos ministros insultam os governados utilizando expressões proverbiais da ordem da «ralé» e por aí fora, homenageiam, comovidos, as vítimas de uma ordem que, a seu tempo, era justificada pelas leis do Estado e da Igreja. A operação simbólica não deixa de ter importância. Tem também a sua piada.

Imaginamos quem serão os próximos homenageados…

 

Emoções e Lugares da História



Edifício da ex-PIDE/DGS na Rua António Maria Cardoso, Lisboa
Foto do Site do Jornal República

José Pacheco Pereira assina, no PÚBLICO de hoje, a sua habitual crónica. Fala-nos de quão desejável seria podermos tratar o nosso passado colectivo com a isenção e o distanciamento que a presença e intervenção das pessoas envolvidas nos acontecimentos narrados dificulta. Utiliza a expressão “puramente histórico” para resolver a tensão memória–história a contento daquilo a que chama equilíbrio, expulsando a dimensão emocional do registo e interpretação dos factos, etc.

Depois dá o exemplo da sede da PIDE, na António Maria Cardoso, e do projecto de ali se vir a fazer um museu do fascismo. Acha inadequada a pretensão – sobretudo em período de vacas magras – pois poder-se-ia, com vantagem (na opinião dele), criar novas valências no Forte de Peniche e resolver tudo de modo muito mais prático.

Todavia, como ele certamente sabe, os produtos com que julgamos o passado carregam sentidos que vão além das conveniências imediatas e parcelares.

Peniche, será sempre o sítio em que o regime fascista mantinha sob prisão muitos daqueles e daquelas que o afrontavam séria e radicalmente. Por isso, ainda que de modo subliminar, sempre passará por aquelas muralhas a sombra da ditadura na sua fase poderosa e triunfal. Enquanto que, pela sede da PIDE, na António Maria Cardoso, onde se centralizava o terrorismo de Estado, - e onde os pides, no próprio dia 25 de Abril de 1974, desesperados, ainda mataram 4 pessoas e feriram outras 45, antes de se renderem - passará sempre um vento de derrota do regime. Era ali que os agentes do Estado Novo se sentiam em segurança; ali processavam as informações provenientes de uma vasta rede de informadores; ali torturavam afirmando que a lei não alcançava aqueles andares…

Suponho que mesmo daqui a muitos, muitos anos, o suporte da memória fará a sua diferença. E o ser dentro da cidade, no coração da baixa, também tornará mais espessa e significativa a fronteira entre a ditadura e a democracia.

A história diz respeito, também, às emoções, aos sentidos e às diferenças dos lugares do poder.

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