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2007-08-01

 

Força de expressão (7)

O memorialismo político (ou será em geral?) não se desliga da estratégia. Os exemplos que conheço destinam-se predominantemente a declarar de que modo pretendem os aubiografados ficar na história. Nem sempre lhes podemos fazer a vontade, mas, pronto, o desiderato é claro.

Paralelamente, o memorialismo político preenche todos os requisitos do acto político. O conteúdo e a oportunidade revelam-se na simplicidade com que os autobiografados querem dar os próximos passos. É como se estivessem a bater a novas ou a velhas portas, respondendo à pergunta “Quem é?”. Enquanto limpam os pés no tapete da entrada, vão recordando quem são, sendo sempre algo relacionado com o que foram.

Zita Seabra, Vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD, (curioso que Rui Bebiano, em poste intitulado Sapatos Vermelhos, no blog Terceira Noite, a tenha considerado fora da “política activa”) opera um desses lances de revitalização identitária que acentuam o seu desligamento do PCP, apresentando-se como globe trotter a quem a direcção do PSD deverá, de futuro, consagrar maior atenção.

O principal expediente que a autora de “Foi assim” adoptou, empobrece um testemunho que, aquém das inexactidões, ajustes de contas e outras fantasias, revela uma percepção interessante da vivência comunista.

Ao simplificar o seu percurso intelectual, sustentando, contra a evidência que brota da própria narrativa, que enquanto lá esteve, acreditou piamente nas verdades oficiais, e, após a ruptura, se achou nos antípodas, convertida ao neo-liberalismo, revela o impensável (como haveríamos de sobreviver sem as nossas dúvidas?) e resguarda-se de uma explicação sempre complicada e porventura inconfessável, comum às pessoas que se mudaram de uma tribo partidária para outra.

Quando o passado se pode tornar um embaraço, o melhor é moldá-lo a nosso favor. Se não, qual seria a utilidade do memorialismo?




Comments:
Manuel,
Parece-me que generalizas um pouco ao ligar as obras autobiográficas a uma certa tentativa de manipulação da história, mas sobretudo a uma estratégia de promoção política.

Na minha opinião nem todas as obras têm como objectivo ambições de mediatismo e poder político.

Se bem que no caso em concreto de que falas me parece que Zita Seabra se está a meter em bicos dos pés. Começa, de facto, a desenhar-se uma vitória de Marques Mendes para a liderança do PSD e uma derrota eleitoral nas próximas legislativas.

É por isso preciso começar a aparecer para poder cavalgar o cavalo do poder.
 
Lá garantiram então uns tachitos dos boys&girls do bloco na câmara de Lisboa.
 
Claro os pequenos tachos foram dados. Será que também deram as colheres? Os tachitos ficam sempre muito sujos mesmos depois de limpos! Depois uma operação Sonasol fará o resto,é prática barata e ecológica! O Costa não perde a cor, ele adapta-se . Quero ver o que se segue... Sempre houve gente assim, e o Louçã acabará fradescamente no PS.
 
Lester,

Se, como dizes, (e eu concordo)

"nem todas as obras têm como objectivo ambições de mediatismo e poder político."

já o mesmo não dirás, suponho, daquilo a que chamei "memorialismo político". É um terreno de afrontamentos vários e é justamente isso que o torna interessante.

Se te lembrares de algum escrito político de cunho autobiográfico que me estrague a generalização, agradeço-te que o menciones.

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Aqui ao lado, no "Água Lisa (6)", o João Tunes, num poste a que chamou "A memória em pedaços", faz uma espera satírica ao "memorialismo dos enganos".

Em minha opinião, não houve enganos.
Se descontarmos os efeitos de retroactividade bacoca com que alguns nos tentam convencer que o futuro dos dissidentes já estava há muito escrito nos astros, convem recordar que os dirigentes da mesma leva da Zita, tentaram corresponder, cada um a seu modo, aos critérios de selecção, que desembocavam sempre numa espécie de cooptação legitimada em Congresso. Uma boa parte dos membros da Comissão Política e do Secretariado do Comité Central, com maior ou menor banzé, debandou. Não suscitam menos reparos (ou "azia", para acompanhar o gracejo do João Tunes) aos que ficaram no PCP. Uns e outros devem saber que não houve nenhum engano nas escolhas que fizeram. De facto, o que aconteceu, é que nenhum deles soube ou conseguiu fazer melhor.
Independentemente dos diferentes caminhos que tomaram, ao tornarem público o que pensaram e o que pensam sobre esse período, terão as suas razões.
Nós, leitores interessados, também temos as nossas.
Expô-las em discussão aberta faz redobrar o interesse pela vida pública.
 
As memórias de Zita SEABRA,não me interessam,porque a memória é sempre selectiva,mas esta não é a razão principal,a razão principal é o seu ressentimento mascarado,no seu apressado linguajar televisivo, nas suas contradições gritantes,na sua posição de vítima, roubaram-me a juventude! Por que razão foi sempre ojecto e nunca sujeito ! POR que razão não saiu quando saiu a Cândida Ventura ? Por que razão amou o senhor como o escravo? Quer certamente ajustar contas, o tempo o dirá no PSD! Além disso não tem repeito pelos leitores deste livro quando algumas pessoas referidas lhe pedem contas e ela nem se digna a rectificar,acha que ficará para uma próxima edição, tal é a força do alvo e o ressentimento. por hoje é tudo!
 
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