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2009-09-04

 

O líder e os zelotas (2)


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A qualidade do jornalismo de Manuela Moura Guedes na TVI, voltou, de súbito à colação. Os críticos da tabloidização, da ligeireza profissional, da deontologia fraca e dos enfoques parcimoniosos fartaram-se de zurzir na jornalista, na estação e, por carambola, até em Vasco Pulido Valente que foi comentador residente do Jornal de Sexta durante largo tempo.

Recordo que a maior parte das críticas eram bem fundadas e razoáveis.

Houve até quem, na qualidade de entrevistado, em estúdio, aberta e frontalmente, dissesse a Manuela Moura Guedes que o jornalismo ali praticado era "vergonhoso". Foi o caso de Marinho Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados, que espumou em directo, contundentemente, denunciando os modos e os processos ínvios daquele padrão de jornalismo.

Subscrevo a maioria dessas críticas.

Porém, o que está a acontecer agora tem mais a ver com a liberdade de expressão do que com a crítica do jornalismo.

A única posição razoável que o PS poderia tomar era a de exigir, não piedosas explicações, mas o regresso de Manuela Moura Guedes e do Jornal de Sexta. Perante tamanho desrespeito pela separação entre caprichos empresariais e actividade redactorial, os defensores da liberdade de imprensa só poderiam ter defendido a jornalista contra uma intromissão inadmissível.

Era de supor que, no PS, paladino das liberdades, essa destrinça entre crítica legítima e defesa da liberdade de expressão, fosse feita automaticamente e a posição a tomar fosse de luta aberta pelo regresso de Manuela Moura Guedes.

Os zelotas, porém, costumam agir sempre depois do líder, supostamente de acordo com ele, mas sem respeitar os princípios e as oportunidades.

Confundindo o tempo e o modo da justa crítica com uma iniquidade que não podemos tolerar, nem que fosse contra um adversário nosso, o PS arrisca-se a ficar sempre mal na fotografia.

O sentido de oportunidade dos zelotas é sempre arrepiante.

Comments:
O que me é dificil compreender é como em Portugal se aceita a anormalidade de uma forma tão...digamos natural.
O que é cá normal é o nojo e o pântano, com julgamentos mediáticos a toda a hora, suspeitas diarias de corrupção sem provas, insinuações que partem da PR de que há escutas e outras idiotices.
Tudo fruto de uma atribuição errada de licenças televisivas no governo da Cavaco que veio enviesar totalmente o espaço mediatico em termos de pluralidade informativa.
Com efeito portugal deve ser o unico país europeu que camufla a falta de liberdade e pluralidade informativa com a não assunção dos posicionamento editoriais dos meios de comunicação, porque a ser feito, ver-se-ia sem espanto que a totalidade deles se situa no centro-direita, o que a nivel europeu é uma aberração.
Com a totalidade dos meios de comunicação com este posicionamento ideologico será sempre dificil a qualquer governo de esquerda ou centro esquerda governar. O neo-salazarismo noticioso apoiado nas corporações e nos jogos de interesse da direita não deixa.
E é com espanto que vejo jornalistas da SIC dizer que os espanhóis da PRISA são ideologicamente proximos do PSOE, e depois? O patrão deles não é o militante nº1 do PSD? Como facilmente se pode constatar na politica editorial do grupo?
Já ninguem se lembra do caso Carreira Bom?

Defende-se o regresso de MMGuedes? Porquê? Foi uma decisão legitima de uma empresa privada.
No PS enquanto não se souber afrontar o 4º poder até às ultimas consequências, como Socrates faz e bem, poucas hipoteses terá de governar com normalidade respaldado no voto popular.
Bastantes casos o provam, para não ir muito longe, o caso Casa Pia...
Exigir o regresso de MMguedes?Quem não deve não teme.É de coragem que se precisa e não o "bom mocismo" subserviente que serve à direita e os faz manipular livremente a informação em Portugal.
 
Caro anónimo,

acompanho-o parcialmente quanto à caracterização do nosso contexto mediático.
E é nesse contexto que os actores políticos se movem.
José Sócrates e o PS decidiram afivelar uma postura arrogante em relação aos chamados poderes de representação privada (media, sindicatos, grupos de pressão, e certos núcleos de interesses, não todos, mas alguns). António Vitorino, no início do mandato, virou-se para os jornalistas atónitos com o desprezo a que Sócrates os votava, e disse-lhes: - "Habituem-se!".
Os prosélitos rejubilaram. Ora aí está um 1º Ministro que sabe por os jornalistas no lugar. Quase parece o Cavaco.
Agora, em vésperas de votos, os jornalistas lembram-se. Ontém, no Expresso da Meia Noite (SIC-Notícias), mesmo os mais moderados, recordaram o modo como o 1º Ministro e o Governo trataram com os Órgãos de Comunicação Social. O saldo é péssimo para o Governo.

Parece não compreender quão ajustado seria o PS (já que não podemos contar com o Governo) exigir o regresso de Manuela Moura Guedes e do Jornal Nacional de Sexta.

Repare que seria a única posição consentânea com a defesa da liberdade de expressão. Sim. Defender a liberdade daqueles que nos desafiam e contrariam democraticamente.

Era isso que o PS dizia que se devia fazer.

Agora, em aperto, faz como os que têm uma concepção instrumental dos valores associados à liberdade.

Pois terá também de pagar por isso.

Obrigado pelo seu comentário.

Cumprimentos.
 
Concordo que a liberdade de expressão é um bem intocável, mas exige seriedade, isenção, independência, deontologia, ética, e responsabilidade.

(Para inimputáveis basta o poder judicial)

Deixando os tiques do Sócrates, que reprovo, acha que a Manuela Moura Guedes é uma jornalista deontológicamente séria e isenta?

Acha que o que ela fazia era jornalismo?

Quem beneficiou, politicamente e economicamente, com esta tomada de posição?

Já leu a posição do antigo dono da TVI?

Passoalmente acho que o programa não devia ter sido suspenso.

Cumprimentos,

duarte
 
Caro Duarte,

estou de acordo consigo, no essencial. A liberdade de expressão implica (não pode deixar de fazê-lo) o jornalismo "pimba". Há quem goste e faz a diferença com os outros tipos de jornalismo de que nós (no sentido lato) gostamos.
Curiosamente, sem esse tipo de jornalismo, não teríamos conhecido algumas peças do processo Freeport. Acho que a democracia e as liberdades trazem mais vantagens do que inconvenientes.

Não acha?

Cumprimentos
 
Caro Manuel Correia,

Não concordo com a sua leitura do que eu disse, é demasiado caricatural e estereotipada. Não sou um grouppie do Sócrates, nem aprecio que se façam guerras a jornalistas ou a quem quer que seja.
Olhemos no entanto com razoabilidade para a realidade. A classe jornalistica é por defeito arrogante e corporativista e pelos vistos vingativa, a julgar pelo seu raciocínio quanto ao "habituem-se" do A.Vitorino.
A verdade é que já assisto em portugal a uma total inversão dos poder saido das urnas, qualquer politico é amesquinhado e humilhado em directo ou atraves de campanhas mediáticas orquestradas pelos media.
O caso do Correia de Campos é sintomático, entre outros...
depois o Sócrates teve uma reacção e não uma acção, perante uma campanha mesquinha e cobarde com a colaboração de certos sectores da justiça.

O que acontece é que face ao habitual acobardamento de inumeros politicos perante o poder dos media, estes foram "crescendo" à sombra da total impunidade e manipulação sempre ancorados no sagrado direito à "liberdade de expressão". Pelo caminho destruiram vidas carreiras desde simples cidadãos anonimos a politicos que não lhes agradassem. Para agravar por vezes este poder está entregue a verdadeiros imberbes falhos de qualquer equilibrio e espirito critico.

A edição do Expresso da Meia-Noite que mencionou expôs à saciedade o que eu disse acima.
Tipos que se julgam donos da agenda dos politicos e que amuam se alguem não lhes sacia a curiosidade morbida do pequeno escandalo e do fait-divers avulso.

Já agora diga-me vê no El País, no Guardian, no Le Monde, no Corriere dela Sera, etc...este tipo de jornalismo?
Sabe que os jornais que essas sumidades produzem não chegam em tiragem (e já agora em qualidade) a um jornal de provincia espanhol?

E quer trocar isso por um poder emanado das urnas? seja ele qual for?

Tanto ou mais que o poder politico, a Comunicação Social portuguesa é responsavel pelo estado em que se encontra o País.
 
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