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2009-12-02

 

De Fora e de Dentro (4)



Quando o líder da bancada socialista, Francisco Assis gritou ó da guarda que querem "decapitar o PS" (ou o Governo?), o pessoal habituado a estas andanças percebeu. Estava a dramatizar um poucochinho. Mesmo quando falou de "assassinato de carácter", percebeu-se que se tinha instalado a tendência discursiva para hiperbolizar, visto que o mesmo Assis já utilizara expressão semelhente - "assassinato da identidade da cidade" - um ano antes, no Porto, referindo-se muito justamente à "fúria privatizadora" de Rui Rio.

O pessoal das esquerdas encolheu os ombros e resmungou: lá estão os socialistas a rasgar as vestes.

Porém, ainda não tinham desencolhido os ombros, quando o ministro Vieira da Silva se saiu com aquela da "espionagem política". De dentro e de fora do PS foram tantos os franzir de sobrolho que por momentos parecemos um país de míopes, em que se tem de contrair os músculos orbitais e semicerrar as pálpebras para conseguir ver um palmo à frente do nariz.

Os magistrados foram aos arames, a PJ ficou amuada, os constitucionalistas ousaram alvitrar que o ministro se excedera, os formalistas horrorizaram-se e até membros da direcção do PS, a contragosto, claro, tiraram o tapete ao ministro da Economia.

Vai-se a ver de mais perto, tudo em vão.

Vieira da Silva explicou-se esta manhã no Parlamento.
Foi tudo uma sobreleitura das oposições e uma falta de literacia média. Ninguém entendeu o que o ministro quis dizer quando disse o que disse. No fundo, tudo uma cambada de gentes incultas e propícias ao abuso da interpretação.
Conflito sanado?
Parece que sim.

Só falta agora saber que espiões o ministro Vieira da Silva estava a vituperar. Mas talvez não se deva ir tão longe. O ministro da Economia, pedagogicamente, explicou que estava a referir-se a "todo um processo".
Não insistam.
Quando um ministro (ou um ex-ministro) quer levar as suas idiossincrasias linguísticas para o discurso público, nem o mais pintado dicionário o assusta.

Em contrapartida, mostrando um domínio teórico irrepreensível da arte do judo, Vieira da Silva e o PS viraram contra os adversários (pelo menos nesta matéria) o movimento e a energia do golpe: como é que sabem tanto acerca do que deveria permanecer em segre do de justiça?
Foi assim que Manuela Ferreira Leite (que por acaso não fora chamada a dar explicações...) se tornou suspeita de sombrios desígnios.

Bravo.

Primoroso.

Os magistrados podem não gostar e muitos deputados não se darem por satisfeitos. Que importa?

O número foi quase perfeito!

Comments:
Meu caro Manuel Correia,

então vc anda-me agora a perseguir os socialistas? Só a zurzir no Vieira da Silva e a poupar os laranjinhas e a Ferreira Leite.

Ensandeceu?

A. Santos
 
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