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2004-06-26

 

Sem Pundonor

Durão Barroso é o 1ºM de Portugal. E o que diz e promete deveria ter mais valor que o valor de um escárnio.
Pediu sacrifícios para que melhores dias pudessem vir. Prometeu não recuar perante as dificuldades para vencer a crise que por erro e sectarismo político agravou. Prometeu lutar até ao fim da legislatura para que não fossem vãos os sacrifícios que pedia e impunha. E agora, com o barco da governação encalhado, oferecem-lhe uma boia, abandona o barco e quem nele está?
Sem réstia de pundonor!
Comments:
Meu caro Raimundo, uma pequena provocação

Lendo os nossos dois comentários à situação política em curso (eles até estão seguidos)há umas quantas nuances de posicionamento de abordagem. É saudável...isto da "unanimidade" já lá foi..
 
Essa da unanimidade foi boa!

De facto, o Raimundo está numa contra-ofensiva baseada na exploração do sucesso. Mistura - e muito bem - a análise política com a propaganda contra o governo de direita.

Por outro lado, a contracorrente dos múiltiplos comentários cheios de fair-play que aceitam sem dificuldade o actual 1º ministro português em Bruxelas, não me parece que seja uma boa solução para a "nova" UE colocar num dos níveis mais elevados de decisão alguém que dá cobertura a aventuras militares condenáveis à luz do direito internacional.
Será que o reforço do eixo anglo-americano promete alguma contribuição positiva para a consolidação de uma UE a 25?

Para Portugal também não vejo vantagens: cobrar a factura política e eleitoral destes dois anos de governação a outro 1º ministro, facilita muito uma manobra de desresponsabilização relativa. Para os eleitores da direita sempre poderão apresentar a coisa como a culpa foi do outro mas o PPD/PSD já está com outro fôlego e eventualmente com uma relação diferente com o CDS-PP.

Para o próprio Durão Barroso, sim, pode ser bom.

Aí a unanimidade é capaz de ser mundial.
 
Como diz o Ivã, aqui mesmo ao "lado" na "Praia", será assim tão mau para o país e para a esquerda ir a votos?
Se for o Conselho Nacional do PPD/PSD a escolher o novo Primeiro Ministro de Portugal não estaremos a caminho da sovietização do sistema político?
 
A fuga de Durão às responsabilidades levanta vários problemas que a blogosfera tem tratado mais, melhor e de modo mais plural que a comunicação social. Esta apresenta-se reverente ao poder mesmo q se trate de um poder moralmente acossado. Uma das questões muito importantes, a meu ver, é a questão da dignidade, seriedade e responsabilidade perante o país de quem exerce as funções de 1ºM particularmente nas condições em que este Gov nasceu e se comportou. Numa postura de exigência moral de sacrifício pela coisa pública etc. etc. E depois que faz? Faz uns cálculos de deve-haver sobre o seu futuro político, a sua comodidade, os seus interesses pessoais. E a postura moral em que se colocava para atacar a oposição, para colher votos? Ora, ora... o que um 1ºM diz em nome do Estado, do seu Governo, da sua coligação - parece concluir-se da sua vontade de ir para Bruxelas - é para valer tanto quanto as promessas eleitorais!! Nisto é que está a esperteza!!!
Não cabe a quem defende os interesses do país e a seriedade na política entrar no jogo da avaliação das espertezas, interesses, planos de carreira do cidadão Durão Barroso, fazendo tábua rasa dos seus compromissos com o país. Parece-me que isso acaba por coonestar o que não presta em política.
Sem menos respeito e consideração pelas opiniões diferentes ou contrárias!
 
A minha pequena provocação ao Raimundo deu exactamente os frutos que pretendi ao fazê-la. Mais gente no debate. Todos (os entrantes) estão de acordo que é uma fuga, que a decisão entronca principalmente na satisfação de uma ambição pessoal do PM. O que nos parece separar é eleições ou não eleições agora. Acho os argumentos a favor, pouco consistentes, designadamente, na perspectiva da esquerda (PS) que será o tronco da governação se houver eleições e ganhar. Parece-me que está impreparado e com a casa pouco arrumada para assumir a governança e se "a bota não condisser com a perdigota!!! só nos falta o cadafalso". Mas esta é uma observação de quem está de fora. Para as restantes esquerdas, outra postura não é possívele mais acho correcta.
 
O João Abel considera indesejável a via das eleições antecipadas. Se compreendi bem, porque o PS, no estado em que está, arriscava-se a não estar à altura, e uma (outra) oportunidade perdida seria nociva quer para o país e para o povo de esquerda, quer para o PS.

Compreendo.

Mas as alternativas (dentro e fora do PS) não se constroem em face de novos desafios?

Que riscos políticos correm o PS e as outras forças da esquerda em admitir fleumaticamente que que o PPD/PSD pode mudar de 1º Ministro a meio do mandato, assistir à renegociação da maioria de direita e à mais que provável reformulação do Programa de Governo sem desmascarar a batota política que encerram?

Remeter tudo isto para o funcionamento normal das instituições não será cairmos na ratoeira da tecnicização da política?
 
Manuel Correia, aqui está uma grande função dos blogs: trocar opiniões e argumentos. Eu tenho, de facto, dúvidas de fundo sobre a oportunidade de eleições agora. Tenho e pelo menos, penso eu, não se trata de uma questão de "tecnizição" das coisas.

Acho que o exercício do poder requer uma casa arrumada, objectivos estratégicos tendo em atenção as dinâmicas de mudança (por exemplo Portugal está num processo de desindustrialização forte que urge estancar; em menos de 10 anos a indústria lato senso passou de 25% do PIB para 19% e falar de aumento de produtividade, assim, é políticamente um bluff) e uma preparação para levar à prática esses objectivos.

Francamente acho que as condições "reunidas" estão muito longe dos padrões mínimos para o exercício do poder. Por outro lado, sou sensível a uma série de argumentos políticos que entram em contradição com o que acabei de referir.

Terceiro, acho que a política deverá assentar em algo realista, sob pena de falhas graves...E não sou contra alguma utopia por que ela é precisa. Mas entendo, nesta embrulhada de pensamento, que os riscos de eleições já são muito elevados.

Espero que Jorge Sampaio pense e decida bem.

Acho que está na altura de termos uma grande conversa.
 
Sou sensível aos argumentos do João Abel. Partilho as inquietações, dúvidas e a caracterização da situação que ele faz.

Sou contra o voluntarismo bota-abaixista - sem que isto represente nenhum aparte jocoso para o nosso querido colega BOTABAIXO - mas acho que as dificuldades que "realmente" existem devem estimular-nos e levar-nos a apoiar a elaboração de uma alternativa.

Supunhamos que tínhamos chegado a uma fase de ciclos políticos mais curtos (parece ser o caso); que uma assunção crítica da democracia se generalizava no interior das formações políticas tradicionais tornando a vida política (e partidária) mais colorida, interessante, sem dúvida, ainda que a custo de uma certa "estabilidade".

Teríamos então de aprender a viver com isso.

Estas discussões abertas e sem reservas prenunciam algo de valioso que vai nesse sentido. A blogosfera ajuda, de certo modo, a iniciar novos debates sobre (ou ao lado ? d') a arquelogia das convenientes "trocas de ideias" confinadas aos partidos políticos.

...E ainda bem!

A questão que eu coloco é se, à esquerda, nos poderemos conformar a apoiar uma posição de "agora não que não estamos preparados" (?)
 
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