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2007-12-31

 

O poeta-filósofo Manuel Gusmão

Numa época de descrença para os órfãos do comunismo mas também para todos aqueles (e são a grande maioria do planeta a quem a captura da globalização pelo capital atrasa os benefícios da globalização) que sofrem a contínua concentração da riqueza numa minoria privilegiada o artigo do poeta-filósofo Manuel Gusmão [Público 2007-12-30] saúda o NOVO ANO com um incentivo à esperança e à acção.
_____________
Um extracto:

"De há uns tempos para cá, vozes muito dissemelhantes parecem insinuar, se não explicitamente afirmar, que não há futuro para ninguém ou que vivemos tempos em que ninguém se arrisca a qualquer gesto de protensão ou actividade de prognose. Conheceríamos uma era em que teríamos já desistido ou teríamos de desistir de tentar imaginar ou desejar um rosto para o futuro. Esta situação dever-se-ia a um medo que inibe a própria imaginação e de que padeceríamos para além de todo e qualquer pessimismo individual ou grupal.
E contudo se não houver futuro, se não tivermos futuro, seremos como dizia o outro, “cadáveres adiados que procriam”. Porque aquele medo se torna uma patologia do desejo, uma tão brutal antecipação simbólica da morte que inibiria todo o imaginário, amputaria a capacidade de simbolização e tornaria toda a esperança uma ilusão ou um produto do sono da razão. Ora nós precisamos do futuro como do ar que respiramos." [Artigo completo aqui]

2007-12-30

 

Descompassados (12)


Li o artigo de José Pacheco Pereira no PÚBLICO de ontem. Intitula-se A cultura de blogue nacional e traz, à guisa de antetítulo, a rotulagem do produto: Mostruário da nossa pobreza, da nossa rudeza, da falta de independência que caracterizam o nosso "Portugalinho". Também pode ser lido no Abrupto [AQUI]. Gostei sobretudo dos últimos parágrafos. Encerram uma reflexão que anula ou relativiza enormemente a porção de texto que vai até às citações de Eça de Queiroz.
Pois como poderia a blogosfera de ancoragem portuguesa deixar de reflectir as culturas, os tiques e os assuntos que cá predominam? Pacheco Pereira, por via disso, parece cair, ele próprio, nessa maledicência que se diferencia da crítica exactamente por não acrescentar nada ao retrato negativo da situação. É verdade que o seu blogue é um exemplo de conjugação de géneros, temas e abordagens que se orientam para a abertura ao novo e para a reflexão livre. Mas o "nível de análise" que escolheu para poder exorcisar os arcaísmos ainda reinantes (os blogues nacionais), sendo o mais cómodo, não parece ser o mais apropriado. A blogosfera portuguesa já não pode ser estudada fora dos "anéis" ibero-americanos.

A invasora contiguidade do objecto faz acudir a 1ª quadra de um célebre soneto de Luis de Camões, que como se sabe viveu uns tempos antes da emergência da internet, mas padeceu do mesmo mal de proximidade.
"Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada."
A blogosfera em que a manu portuguesa labora é um pouco mais extensa do que José Pacheco Pereira a pinta, e assemelha-se enormemente a outras.

Muito a propósito: um bom Ano Novo para todos.

2007-12-29

 

Al Qaeda niega

"El líder de Al Qaeda en Pakistán niega que esté relacionado con el asesinato de Bhutto" e
recusa as acusações do Governo paquistanês. [link]
A Al Qaeda não merece maior credibilidade que o ditador Musharraf. Nem menos. Mas parece lícito concluir que os serviços de segurança pquistaneses e o Exército se não foram os organizadores do atentado também não se esforçaram para garantir a vida de Benazir Bhutto.
Entretanto parece reinar o caos no Paquistão, pelo menos em certas regiões:
"El número de muertos desde el asesinato, el pasado jueves, asciende ya a 38 personas, según ha anunciado el Ministerio del Interior, mientras los heridos alcanzan los 53...
" 174 bancos, 34 gasolineras, 765 comercios y 72 vagones de tren han sido incendiados en los disturbios registrados por todo el país."
[link]

2007-12-27

 

Os SMS natalícios

Por supuesto: «A cuatro de cada diez personas le molestan los SMS navideños»
Além do mais a smsmania da quadra natalícia (em especial no Ano Novo) dará às empresas de telecomunicações espanholas - esperam uns 200 milhões de mensagens escritas - um lucro de 18 milhões de euros.
Portanto já sabe, se receber não responda, desculpe-se com a adesão aos 40% que discordam.

 

O Paquistão

Benazir Bhutto pode ter sido assassinada pela Al Kaheda, ou qualquer outro grupo terrorista islâmico mas lá que faz jeito a Musharraf faz. Pelo menos até ver. No pressuposto de que ele consiga convencer o pagode de que tem, neste atentado, as mãos limpas.
 

Chato foi ter dito publicamente

Na quadratura do círculo todos verberaram a desfaçatez de Luís Filipe Menezes ao expor publica e desavergonhadamente as suas recriminações ao Governo e ao PS por este não estar a respeitar o acordo consuetudinário do bloco central no que respeita à sacrossanta política clientelar, pataca a mim pataca a ti. Dá cá BdP toma lá CGD.
Uma nojeira. Uma insensatez. Uma contradição (desmantelar o Estado em 6 meses e defender o estado clientelar). Mais ou menos isto todos disseram. E bem. Só um pequeno reparo ao nosso tão sagaz homem das empresas Lobo Xavier. Quando reprovava LFM por ter dito o que disse, Lobo Xavier, talvez esquecendo que não estava a assessorar nenhum conselho de administração mas sim em nossas casas trazido pela mão da SICNotícias repetiu três vezes publicamente: não faz nenhum sentido LFM dizer o que disse «publicamente».
Oh Lobo Xavier você incorreu no mesmo deslize do rapaz de Gaia. Você repetiu o «publicamente» três vezes publicamente.

 

Descompassados (11)

(Cortesia de Kibe Loco)


Depois dos cambalachos, fraudes e esbanjamentos que deixaram o Millennium desacreditado, prepara-se uma intervenção do Estado mal encapotada: BCP vai ser liderado por três gestores da CGD.
Nas horas de aflição, banqueiros e restantes accionistas, engolem o orgulho empreendedor, calam-se, apoiam (pudera!) e agradecem. Bom. Então vá lá: que o Estado nacionalize, pelo menos, o buraco financeiro que as gestões anteriores deixaram, garantindo que assumirá a responsabilidade dos danos.
A iniciativa privada poderá deste modo continuar a viver no melhor dos mundos.
De manhã, liberal; à tarde corporativista; à noite, social-democrata.
Seria, porém, injusto, insinuar que estas coisas só se passam em Portugal.
Quem quiser dar uma olhadela ao filme da crise que vitimou o Banco Northern Rock (p.ex.aqui) poderá constatar que além dos benefícios fiscais, os banqueiros podem sempre contar com o Estado nas horas más.

Coisa de que nem todos os portugueses se podem gabar...

Manuel Carvalho da Silva e João Proença terão de compreender.

2007-12-26

 

Outra opinião

Nem só de operários do Barreiro chegam os comentários ao livro "Álvaro Cunhal e a dissidência..." também da Marinha Grande, [exposto aqui] que em pergaminhos operários não fica atrás do Barreiro, e desta vez de um operário-artista, do Alfredo Poeiras.

 

Tony

Tenho andado todo este tempo a matutar. Li jornais, blogues e gazetas. Que quererá ele com esta mudança de poleiro? De Londres para Roma. Da rainha para Bento XVI.
Por burrice não é porque, diz-me quem sabe, que é espertíssimo.
 

O drama de D. Policarpo

O cardeal patriarca José Policarpo, ao explicar, na homilia do dia de Natal, na Sé de Lisboa que
«Todas as expressões de ateísmo, todas as formas existenciais de negação ou esquecimento de Deus continuam a ser o maior drama da humanidade...» teve, ao contrário do Manuel Correia, no post aqui em baixo, total compreensão da minha vizinha do café do largo, a D. Aldegundes:
«Como eu o compreendo - comentava ela a homilia - também me queixo do mesmo. Para mim o maior drama da humanidade é a minha constante perda de clientes»

 

Descompassados (10)

Cardeal diz que afastamento de Deus é o maior "drama" (PÚBLICO de hoje, pág. 8).

A quadra natalícia é dada aos grandes pensamentos em torno das distâncias espirituais. O mandatário português da Igreja de Roma evidencia, pois, as suas maiores preocupações, deixando para outros a badalada conversão de Tony Blair ao catolicismo, ou as proverbiais sumptuosidades do Vaticano e as concupiscências dos seus Papas.
Chegam-nos ecos das guerras que devoram vidas e a boa-fé dos que as justificam; os lugares de culto das outras crenças e religiões são reduzidos a cinzas; o clamor contra as injustiças da repartição dos bens eleva-se em todos os continentes, mas o Cardeal Patriarca de Lisboa conduz tudo isso a essa causa maior do "afastamento de Deus".
A esses exemplos de afastamento entre os homens de Deus e os outros homens, veio agora juntar-se o drama do Padre espancado, despido e preso a árvore antes da Missa do Galo (PÚBLICO de hoje, pág. 20).
Dividido dentro de si entre homem de Deus e homem vitimado, nessa noite de injúrias e angústia, o padre Aires há-de ter olhado o firmamento e recordado o desespero de Jesus Cristo na hora nona:

- Pai, porque me desamparaste?

É esta a experiência humana do afastamento de Deus.

Até hoje, não houve forma de lhe dar uma resposta convincente...

 

No balanço das prendas

Espero não chocar nenhuma mente mais natalícia onde tudo nesta quadra é "amor e família". Mas a vida ensina-nos que há também aquela situação dos que fazem o balanço das prendas recebidas, onde no "amor e família" o predominante fica pelo lado bem material. Também há os que socialmente durante uns dias se exaltam com as prendas dadas. Há de tudo, de tudo!

A minha curiosidade centra-se no PM, José Sócrates. Não sei em que segmento dos referidos ele se encaixa, mas, de certeza, que pensou nas oferendas de Luis Filipe Menezes, seu principal adversário político do momento.

Foram tantas e tão "boas" que, assim, Sócrates corre o risco de ser entronizado e proclamado por larga maioria PM em 2009.

Que rica prenda aquela de "destruir o Estado em apenas 6 meses". Toda a gente ficou ciente de que estamos perante um "homem rico, cheio" de potencialidades desconhecidas. Com esta entra no Guiness dos disparates. Mas sejamos menos duros e percorrendo o trajecto de alguns PSD encontramos o lapsus linguae, tipo Jaime Ramos.

Vejamos outra prenda, a do BCP. O governo a manipular Joe Berardo, Sabadel, Teixeira Duarte, EDP, BPI, Sonangol, Manuel Fino, João Rendeiro e outros? temos um governo de influência, sem dúvida.

Outra coisa será a Caixa Geral de Depósitos. Aí aguardemos.

Melhores prendas que estas, só mesmo encomendadas e mesmo assim. ...

2007-12-24

 

O FORROBODÓ do BCP

«Para o coordenador do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, o mais preocupante são as "falsificações" do BCP. "Ficou-se agora a saber que o maior banco privado português fez passar por 24 sociedades offshores 700 milhões de euros, dos quais obteve um prejuízo total de 200 milhões de euros", sublinhou. Louçã adiantou que "em cada três euros escondidos nas offshores, um foi para prejuízo absoluto".
Segundo Louçã, "grande parte do prejuízo criminalmente organizado do BCP é pago pelos impostos dos portugueses".» [DN]
E eu a pensar que coisa privada é que era bem gerida, séria e incorruptível. Para mais gerida por gente da OPUS DEI.

 

Menesadas (2)

O Presidente do PSD não satisfeito com o alarme da "OPA" ("informal") que ele está a ver no BCP, colocou o país em alerta vermelho: «Espero que [o Governo] não tenha o descaramento de escolher algum socialista para presidir à CGD" a verificar-se a saída de Santos Ferreira. Avisa que é "de bom senso" e de "respeito pela democracia" "colocar à frente da Caixa Geral de Depósitos uma personalidade da área do maior partido da oposição". E para que não haja engano diz que deviam escolher o seu amigo Miguel Cadilhe.
Quando Meneses ganhou balanço no discurso pensei que iria exigir um gestor financeiro competente, ou alguém com reduzidas conotações partidárias, algo de "bom senso", mas não, Meneses exige para a presidência do banco do Estado um administrador partidário, mais precisamente do seu partido.
Necessitará de algum financiamento para o PSD, agora que o quer transformar numa S.A., como fizeram com o futebol ?

 

Menesadas (1)

Luís Filipe Meneses lá vai animando a política. Ainda está longe do mestre Santana Lopes, mas mesmo assim vai dando um ar da sua graça. Serviu para o caso a novela do BCP, cujo próximo episódio parece iniciar-se com a escolha de um novo líder, Santos Ferreira, actual presidente da Caixa Geral de Depósitos.
Sendo o BCP um banco privado é evidente que Santos Ferreira só será seu líder se os seus principais accionistas, os capitalistas que em conjunto tenham peso maioritário, assim o decidirem.
Ora, para animar a quadra festiva com uma pitada de sal político, o nosso Meneses ia assustando o povo aos gritos, lá de cima, de Gaia, que a ida de Santos Ferreira para o BCP é uma OPA. "Uma opa informal com uma lógica político-partidária." Do PS, subentende-se.

2007-12-22

 

"Banqueiro" do ano

Elejo Berardo "banqueiro" do ano por ter revelado um bocadinho do que se oculta por detrás do "respeitabilíssimo" mundo da banca. Talvez isso ajude a uma maior vigilância futura por quem tem obrigação de o fazer: Banco de Portugal e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.
Segundo os media o ministro das Finanças deu indicações ao governador do Banco de Portugal para averiguar o que se passa com o BCP até às "últimas consequências". Ora o Banco de Portugal, em 2004, "decidiu arquivar este mesmo dossiê". Por isso de Victor Constâncio, do Banco de Portugal e da CMVM fica a suspeita de conluio. Fica a suspeita de que quem circula e faz a sua vidinha entre BdP, CMVM e as administrações dos bancos defraudam o país.

 

Espaço Schengen

Com o alargamento do espaço Schengen aos novos países aderentes "400 milhões de pessoas podem deslocar-se sem fronteiras por 3,6 milhões de km2" . José Barroso informava a Europa de quão podemos confiar agora na nossa segurança, em todo este espaço.
Hum...! Mesmo com o BCP cá dentro?

 

Sarkozy de trazer por casa Gaia

«Desmantelo o Estado em seis meses».
«Defendo a privatização do ambiente, das comunicações, dos transportes, dos portos, de parte das prestações sociais e da Nossa Senhora de Fátima.» (Entrevista ao Expresso, hoje)
Se não diz nada de bombástico ninguém o ouve. Se fala assim ninguém o leva a sério.
 

Isto do BCP está para durar (2)

Parece ter havido algumas evoluções positivas no caso BCP.

Segundo notícias de ontem e de hoje, o Banco de Portugal terá pressionado os administradores actuais do BCP a não se candidatarem a nova gestão, como se perfilhavam e, agora aparece o actual presidente da Caixa Geral de Depósitos, Santos Ferreira, como indigitado para presidir ao BCP.

Depois de muita pressão institucional, de algum mal estar no sector e de tanto se arrastar este problema na praça pública, eis que os reguladores dão um ar de sua graça, embora sem se vislumbrar até onde querem ir. Será para arrumar o caso, assim, sem mais?

Espera-se que a verdade seja convenientemente apurada e atribuídas as culpas, como país civilizado que somos, com os devidos encargos e penalizações normais para situações desta natureza.


2007-12-21

 

Descompassados (9)

1. Nuno Azinheira escreve, no DN de hoje, um apontamento sobre a "despedida" de Nuno Santos, que sai da RTP1, regressando à SIC. "Está a ser muito difícil a despedida" é o título.
Aconselho uma leitura atenta da peça (não é muito comprida). Deve ser antologiada. A actualidade, o interesse e a pertinência, são indiscutíveis. O "jornalismo de referência" está a chegar a patamares de exigência insuspeitados.

2. Ferreira Fernandes discorre sobre o putativo provincianismo do 1º Ministro. Na sua ideia, Sócatres, "Afinal é menos provinciano do que diz" . Será? Deixaria de o ser só por ter oferecido um GPS a cada membro do Governo? Ora aí está um bom tema de discussão para a noite da consoada. Enquanto os reis magos se guiavam por aquela grande estrela que resplandecia sobre a Galileia, os ministros deste governo poderão fazer excursões ao interior (sem se enganarem no caminho) e testemunhar a desertificação acelerada a que foi submetido o Portugal profundo. Nenhum deles quereria ir viver para qualquer daquelas terras onde a escola e o centro de saúde fecharam. Nesse sentido, Sócrates é mais provinciano do que parece. Dum provincianismo profundo! Aliás, só assim se compreende a ideia de um GPS por cada ministro...

3. "Cavaco Silva só concedeu seis indultos" . A locução adverbial acentua a impressão de escassez. De facto, dos 617 pedidos que lhe chegaram, o Presidente da República, ao conceder o menor número de indultos dos últimos 11 anos, está a fazer prova de uma austeridade impiedosa. Será porque não tinha gravatas para todos?

4. Congratulo-me com a nomeação de Raimundo Narciso para um dos "Cinco escritores da liberdade".
"Escritor da Liberdade" confere um estatuto especial ao autor, e o galardoado veio já, com moderada timidez e irónica modéstia, dizer-nos que aceitou.
Fez bem. O principal fundador e animador do Puxa-Palavra estava mesmo a necessitar da afortunada distinção. Quanto mais não fosse, para compensar aquela carta inamistosa que recebeu do "Ferroviário do Barreiro".


 

Isto do BCP está para durar

Ontem ouvi na TSF as razões da escolha do politólogo José Adelino Maltez, penso que Professor do ISCSP, sobre a escolha da personalidade portuguesa do ano: Joe Berardo.

Achei alguma piada das razões "de humor sério" invocadas e até sou levado a concordar em grande parte. Trata-se de uma "rixa" entre o pobre agora rico e o aristocrático que também enriqueceu, num país onde os mecanismos de mercado funcionam muito pobremente. Dois ricos de origens genealógicas diversas à disputa contra um pobre, a economia. Imagem excelente.

Na realidade, estamos num país de economia controlada, se não é o Estado é o sector privado que ditam as regras. São grandes os laivos ainda do condicionamento e onde o mercado está lá bem ao longe. O mercado continua, em grande parte, manipulado por mãos obscuras.

Uma questão, no entanto, se nos coloca. Como se passam as coisas nos países que se dizem de economia de mercado?

Não sei se os economistas respondem sem respirar fundo. Haverá mesmo economia de mercado a sério?

Qual o papel da regulação?

Em Portugal pouco ou nenhum. De uma maneira geral frágil. Por exemplo, em 2004, o BP (gestão Vítor Constâncio) mandou arquivar o "mesmo dossier" hoje em grande polémica no BCP.

Pode admitir-se que haja defensores, por exemplo de Filipe Pinhal para que possa encabeçar a nova gestão, pós Jardim Gonçalves quando é ele a pessoa que, ao lado de Jardim Gonçalves, mais responsabilidades tem neste emarinhado que pouco dignifica nacional e intenacioanlemente o sistema financeiro português?

Acho muito bem que Teixeira dos Santos esteja preocupado com a questão e desenvolva todos os esforços para que se saia da lama em que o sistema bancário mergulhou, porque de tão má imagem internacional já chega.

E há que apurar responsabilidades com as penalizações que, em qualquer outro país, seriam normais.


 

Liga dos Campeões e Taça UEFA

Afinal tudo vai bem ou quase.

O Braga parece ter um osso mais duro de roer, mas para todos os outros clubes, Porto, Sporting e Benfica, foi mesmo de encomenda. Só não percebi se a Senhora de Fatima lhes apareceu nesta fase, já que anteriormente complicou a vida pelo menos ao Porto e Sporting.

Agora só lhes falta mesmo provar em campo o favoritismo. E mesmo o Braga se tomar umas calorias também lá chega. Uma vergonha se por mãos alheias deixarem s respectivos troféus. Em frente é o cminho, sem excepções.

 

Espanha vai nós não

«A prosperidade e o dinamismo dos espanhóis contrastam com o nosso resvalar, do ano 2001 em diante, por comparação com os demais países da União Europeia. Ainda recentemente se soube que a Espanha ultrapassou já a Itália em poder de compra.
O que se passou foi que a Espanha, desde a sua transição democrática, assumiu a sua incontornável adesão à então CEE com tudo o que isso implicava na altura: mudança qualitativa do tecido produtivo, com fechos maciços em sectores, como os estaleiros navais, a siderurgia ou o carvão, para atingir, a marchas forçadas, os níveis de produtividade da Europa avançada. Os Pactos da Moncloa de 1977 deram o pontapé de saída, aceite por centrais sindicais e patrões. Com grandes custos sociais, que resultaram, durante anos, em taxas de desemprego bem acima dos 10%. A isto soma-se, nos anos 90, a reestruturação do Estado.
O que a Espanha fez fizeram, também, a Irlanda, a Suécia e a Finlândia. Mas os resultados só se consolidaram passados cinco a sete anos.»

 

Diz que não. Pelo menos para já

«O primeiro-ministro afirmou-se "muito feliz" com a sua equipa, dizendo ainda contar "com todos" no início do próximo ano.
Todos os que na residência oficial do primeiro-ministro ouviram José Sócrates interpretaram as suas palavras no mesmo sentido: remodelação talvez, mas não para já. O que deixa uns aliviados - os tidos como mais remodeláveis, como os ministros da Saúde (Correia de Campos), Cultura (Isabel Pires de Lima) e da Economia (Manuel Pinho) - e outros desapontados (secretários de Estado que esperavam subir a ministros). »

2007-12-20

 

Um futuro cada vez mais inseguro

É difícil encontrar outro momento de tanta insegurança no futuro, para muitos portugueses, desde o 25 de Abril, como aquele que vivemos. O desemprego é a chaga social maior. O trabalho precário aumenta. O número de trabalhadores dos serviços (para já não falar desse outro sub-mundo das obras, ou dos imigrantes) empregados em empresas de fornecimento de mão de obra a prestar serviços a outras empresas, a recibo verde, a trabalhar 10 e mais horas por dia, aos Sábados ou ao Domingo se o serviço o exige, sem direito a pagamento de uma única hora extra é o mais corrente.
A jornada de trabalho de 8 horas e descanso ao Sábado e Domingo são conquistas perdidas para dezenas ou centenas de milhar de trabalhadores portugueses.
A classe política que governa o país tem vindo a ficar física, social e emocionalmente cada vez mais longe da vida de alguns milhões de portugueses que se debatem com a falta de trabalho ou a "escravidão" a que têm vindo a ser submetidos no plano laboral. A INSEGURANÇA e o desalento há décadas que não é tão grande.
De modo que os nossos governantes quando rejubilam com alguma pequena melhoria do salário mínimo, por exemplo, que é sem dúvida uma melhoria, devem esforçar-se por conhecer este outro mundo que os rodeia mas principalmente fazer muito mais para o mudar. Não estou a pensar em revoluções mas darmos, a par do esforço por mais e melhor economia, passos sérios na melhor distribuição do produto. Uns passos mais resolutos na direcção da melhor Europa.

 

Ferroviário do Barreiro

Recebi-a em Outubro mas agora que o Natal se aproxima e pára quase tudo dediquei-me a arrumar papéis e encontrei-a:
___________
Barreiro, 12 de Outubro de 2007
Exmº Senhor Raimundo Narciso
Antes de mais quero identificar-me: Sou o A... C... cidadão reformado, ferroviário durante 43,5 anos. Tenho actualmente 75 anos e desde muito jovem que abracei os ideais da liberdade. Trabalhador e filho de trabalhadores rapidamente percebi que a sociedade em que vivia era uma sociedade injusta em que os humildes eram votados ao mais miserável desprezo.
Assim tornei-me logo na minha adolescência um militante anti-salazarista. Pertenci ao MUD Juvenil e mais tarde nos meus 26-27 anos, ingressei no Partido Comunista Português, onde estarei até ao fim dos meus dias.
O senhor e toda essa gente que cita no seu livro também dizem que foram comunistas.
Li o seu livro "Álvaro Cunhal e a dissidência da Terceira Via" e digo-lhe desde já que o mesmo me merece uma total repulsa.
....
O texto completo aqui ao lado, em a grande dissidência.
____________
26 anos... precisamente a idade com que passei à clandestinidade.

 

Muitos foguetes e... pouca "festa"

Gosto da cidade do Porto por vários motivos, a começar talvez porque lá vivi quase 3 anos, os meus primeiros de Continente. Por lá passei "epopeias" bem marcantes. De lá vi fugirem muitos amigos, para não irem para Mafra e alguns que nunca mais voltaram.
Tudo isto a propósito de tanto foguetório por causa dos crimes da Noite. Foguetório nos écrans televisivos, nos jornais e rádios, com Director Nacional da PJ, com Ministro da Justiça, com o Presidente Rui Rio, etc, etc. Sem dúvida, um desfile de estrelas.

"Cheira-me a esturro", tantos indícios acusatórios. De terrorismo para cima!

Afinal, em que se ficamos?! Muito pouco e situação bastante periclitante. é pelo menos a sensação.

... E ainda o espectáculo de grande desentendimento e falta de cooperação entre os Magistrados do Ministério Público do Porto e de Lisboa. Abro aqui um parentesis para dizer que o Sindicato dos magistrados actuou com algum bom senso, embora me pareça que sobretudo para não fragilizar o Procurador que francamente, como aqui já escrevi, não usou de tacto ao nomear Helena Fazenda. A competência da senhora magistrada não está em causa, mas há sempre formas melhores de não melindrar ou de reduzir ao mínimo os estragos.

Por outro lado, alguma dança de advogados no caso do Bruno Pidá dá para entender que o meio no seu conjunto é todo muito lamacento.

 

Cinco Escritores da Liberdade

Numa feira do livro, no Porto, há uns pares de anos, quando o meu colega de blog Manuel Correia se aprontava para apresentar o meu livro sobre a ARA entrou na sala a Lídia Jorge, com quem apenas trocara umas palavras uma ou duas vezes na vida. Corri logo para ela, cumprimentando-a e agradecendo tão significativa presença, tentando evitar assim que ela invocasse um engano de sala ou desculpa equivalente. Lídia Jorge tratou-me por escritor. Não a conhecendo bem não percebi logo se estava a gozar comigo ou simplesmente a ser simpática. Optei pela simpatia, desculpei-me de ter escrito o livro, tartamudeei que plantar uma árvore não era bem ser agricultor e, claro, desde aí fiquei eternamente agradecido e amigo de Lídia Jorge. E desde aí quando alguém me trata por escritor tenho tendência a considerar que tal tratamento faz todo o sentido.

Por isso quando a Cristina, uma bloguista que eu coloco lá em cima, nos píncaros, e que faz o favor de ser minha amiga, me nomeia como escritor (e mais! atribui o prémio Escritor da liberdade) eu não me desfaço em explicações de falsa modéstia protestando contra tal mérito. Não. Acho-o merecido. Não por ter balbuciado nuns livros e em alguns blogues umas quantas ideias mal amanhadas, mas porque a minha amiga Lídia Jorge o disse. E se ela o disse...

Cinco Escritores da Liberdade:

Joana Lopes (Entre as Brumas da Memória), Rui Tavares (Pobre e mal agradecido), Fernanda Câncio (Cinco Dias), José Medeiros Ferreira (Bicho Carpinteiro), Rui Namorado (O Grande Zoo).


2007-12-19

 

Descompassados (8)

O gesto não diz tudo o que há para dizer sobre o actual PR, mas diz bastante. Cavaco Silva, segundo o PÚBLICO de hoje, na versão da jornalista Andreia Sanches, "visitou ontem a associação O Companheiro, em Lisboa - uma instituição que trabalha para a integração social de quem já esteve detido ou está ainda a acabar de cumprir pena em regime aberto." (A notícia intitula-se "Cavaco acabou dia dedicado a projectos sociais a oferecer gravatas a ex-reclusos", e vem na pág. 10)
Com a quadra das festividades cristãs a impor os seus ditames, o Presidente de todos os portugueses, não esqueceu a proverbial prendinha. Fica sempre bem levar um regalo a quem enfrenta os obstáculos da "reinserção".
Nem bolos, nem sabonetes; nem livros, nem DVDs. O Presidente da República levou-lhes gravatas.
É justamente o que autora da peça destaca, a abrir: "Gravatas - umas verdes, outras vermelhas - para incentivar os reclusos e ex-reclusos a levar "por diante um novo projecto de vida".
Ora esta aparente convicção de que a gravata favorece a aceitação dos engravatados, continua a colocar Portugal na rota do arcaísmo e da piroseira que Alexandre O'neill retratou sofridamente, no seu livro "Feira Cabisbaixa" (1965), com estes dois versos extraídos do célebre poema "País relativo":

"País engravatado todo o ano
e a assoar-se na gravata por engano"

Do mal, o menos. Os ecos do surrealismo português poderão despertar a funcionalidade latente dessa sobrevivência dos gostos medievais. Em último caso, os (in)felizes contemplados sempre se poderão assoar às gravatas.

Paz na terra aos homens de boa vontade.




 

Luís Pacheco só há um. Ele e mais nenhum



Quando fiz zap lá estava ele com os seus 82 anos e a aquela sua cara mordaz e inconfundível. O grande Luís Pacheco.
Falava-se da sua obra maior Comunidade. E ele explicava como foi. Como se lembrou de passar aquilo, aquela sua realidade madrasta ao papel. Eles cinco na cama, na mesma cama, que não tinham mais nenhuma. "Cinco na mesma cama, um rapaz e uma rapariga com a cabeça para os pés eu, ela e o bebé mas de maneira honesta não era lá maluqueira" - dizia ele hoje, ali na televisão.

«Somos cinco numa cama. Para a cabeceira, eu, a rapariga, o bebé de dias; para os pés, o miúdo e a miúda mais pequena. Toco com o pé numa rosca de carne meiga e macia: é a pernita da Lina, que dorme à minha frente. Apago a luz, cansado de ler parvoíces que só em português é possível ler, e viro-me para o lado esquerdo: é um hálito levemente soprado, pedindo beijos no escuro que me embala até adormecer. Voltamo-nos, remexemos, tomados pelo medo de estarmos vivos, pela alegria dos sonhos, quem sabe!, e encontramos, chocamos carne, carne que não é nossa, que é um exagero, um a-mais do nosso corpo mas aqui, tão perto e tão quente, é como se fosse nossa carne também: agarrada (palpitante, latejando) pelos nossos dedos; calada (dormindo, confiante) encostada ao nosso suor.» (Aqui há mais)


 

O desprendimento do poder


"Não pensem que me quero agarrar aos cargos ou obtruir o lugar dos mais jovens." - Afirmou ele, ontem. E deixou o país em transe.


 

Com tanta celeridade ainda cansam os Juizes

Dezooooooooooooooiiiito - 18 - anos depois. Dezoito anos depois de iniciado o processo o tribunal absolveu os 36 arguidos da acusação de fraude com os dinheiros do Fundo Social Europeu. É o célebre caso do mega-processo da UGT. Torres Couto, João Proença, Rui Oliveira e Costa, José Veludo e mais 32 arguidos podem agora declarar que se fez justiça. Dezooooooooooooooiiiito - 18 - anos depois.

 

Transparência na política


Bem... uma mulher como a Carla Bruni faz de qualquer namorado um homem famoso.
(Obrigado Eduardo )

 

Uma réstea de bom humor!

Uma troca de piropos imaginária (email recebido):
Em Portugal, o poder de compra caiu de tal modo que até a classe média está a sentir na pele essa queda.·
No seu estilo inconfundível, o Bloco de Esquerda atacou o Governo com o seguinte argumento:
A resposta de Sócrates não se fez esperar:

2007-12-18

 

Descompassados (7)

Jean Quatremer entrevistou o 1º Ministro José Sócrates para o Libération de ontem [ver aqui].
O entrevistador ficou surpreendido por, alguns dias antes do encontro, alguém lhe telefonar a perguntar o que queria para o jantar. Quatremer ficou surpreendido. Não só tinha conseguido a proeza de uma conversa "livre", ao jantar, com o Presidente em exercício da União Europeia (sem limites temáticos nem de duração!), como, ainda por cima, o deixavam escolher a ementa.
Optou pelas amêijoas (de entrada, ao natural, depreende-se ) e, convencido que se arriscava a levar com uma qualquer das mil maneiras de cozinhar bacalhau à la portugaise (que, pelo visto, não aprecia), escolheu pato.

Tão distintamente acolhido, Quatremer pôde, ainda, dar-se ao luxo de entalar no seu texto as frases de José Sócrates, sem ser submetido àquele sensaborão e maçador padrão da Pergunta-Resposta, as mais das vezes com "direito" a revisão por parte do entrevistado.

Fica-se a saber que Sócrates veio (quase) do nada. Um provinciano que hoje vive com uma jornalista do Diário de Notícias, privilegiando a "liberdade", se necessário, em detrimento da "igualdade"; conduzindo o PS ao "centro" e recordando enfaticamente o seu apego (de sempre) à social-democracia.

Já sabíamos que Sarkozy lhe invejava este modo peculiar de ser de "esquerda". Em tom de espanto e desabafo, o Presidente Francês reconhece que se fizesse um décimo do que Sócrates fez, a nação lhe caía em cima, quase em bloco, e o estrafegava.

Quanto à marca social das suas políticas, José Sócrates continua a sublinhar as Leis da Paridade, do Aborto e da Procriação Medicamente Assistida.

Eis, em resumo, o que Quatremer e Sócrates, depois de um bom jantar, resolveram filtrar para a "esfera pública" francesa.

Hoje, o DN, destaca, no topo, à esquerda, uma frase da entrevista. Não encontrando nada de mais assertivo na conversa que Quatremer coou para o Libération - desperdiçando, por isso, aquelas tiradas habituais da "teimosia", da "determinação", de "marcar o rumo e seguir em frente", etc - o jornal dirigido por João Marcelino trouxe esta terna confissão para a capa:

"José Sócrates:
Sou um provinciano"

Depois da aprovação do Tratado de Lisboa (já ratificado pelo Parlamento Húngaro) e da Cimeira Euro-Africana, que muito dificilmente poderia correr melhor do que correu, nada como um toque telúrico de regresso às raízes.

Impecável, Sr. 1º Ministro!

2007-12-17

 

Poderá a África do Sul cair nas mãos de um populista?

Teve início o congresso do ANC o principal partido suporte do Presidente da República, Thabo Mbeki e líder do ANC. O seu rival Jacob Zuma está bem posicionado (apoio da Confederação Sindical COSATO, da Liga das Mulheres e da Juventude do ANC, do PC da África do Sul) para o substituir à frente do partido e se assim for Mbeki que tem mandato até 2009 poderá sentir-se sem apoio e ver-se obrigado a resignar.
Acontece que a África do Sul, uma potência regional, com o melhor índice de desenvolvimento humano da África austral, é o exemplo do país que melhor conseguiu fazer a transição de país subjugado (pela minoria branca e o apartheid) para um país livre sem a destruição da economia e um temido mar de sangue. Mérito de Mandela e também, nalguma medida, de Frederik de Klerk. Mas se a visão estratégica e o controlo das emoções venceu a mais que compreensível sede de vingança, a verdade é que apesar do bom desempenho da economia, a miséria, a doença, o desemprego fere mortalmente grande parte da população que, tendo melhorado a sua situação não a melhorou o bastante para atingir um mínimo aceitável.
E assim, Jacob Zuma, considerado um populista, apesar de perseguido pela justiça, pode vir a ser o rosto do novo poder da África do Sul (48 milhões de habitantes). Um novo Mugabe temem alguns.

 

Xanana vexado por Alfredo Reinado

É o título do Público para uma notícia que informa que o homem de mão usado pela Austrália em conluio com Xanana Gusmão e Ramos Horta para o golpe que afastou o Primeiro Ministro Alkatiri do poder está agora a morder a mão a quem lha estendeu.
Volta-se o feitiço contra o feiticeiro.
Sobre a crise e o golpe: aqui , aqui ou aqui (onde se pode ler "EAST Timor's rebel commander, major Alfredo Reinado, says he will not surrender his weapons unless Prime Minister Mari Alkatiri resigns" [The Australian]

 

A operação PJ no Porto

Apreciei a condução do processo. O Director Nacional foi ao Porto mostrar apreço pelo trabalho da PJ e mostrar a importância de tanto trabalho de impacto nacional realizado localmente

Agora há que pensar naquele dito "navegar é preciso". E isto da justiça e da sua administração é um grande barco a cujo rumo é preciso estar muito atento. É preciso não perder a confiança nos órgãos da justiça. É tão fundamental ao país uma justiça célere e bem fundamentada em todas as frentes.

Neste todo confuso que não o devia ser, o Procurador, simpático, não terá agido com a maior das diplomacias. Certamente aprendeu e sê-lo-á a quando do próximo passo.

2007-12-15

 

Tertúlia " madeirenses em Lisboa"- TML

A TML "não existe". Materializa-se todos os meses e de forma dinâmica nos seus convívios/jantares que se realizam todos os meses.

Ontem foi um dia, melhor uma noite, de Tertúlia que acabou hoje. Uma noite onde os sabores madeirenses e os vinhos alentejanos se cruzaram. Digamos um feliz casamento, mas cheira-me por pouco tempo. Os sabores madeirenses são traiçoeiros. Estão logo prontos para juntar os trapinhos com outros bons vinhos de outras zonas. O que é preciso é que sejam mesmo bons. "Bem comer e bem viver" lá diziam os antigos (e se não diziam a gente o diz e passa a ser antigo "por decreto regional") "dá saúde e faz crescer".

Ontem aconteceu do melhor vinho e da melhor carne de vinh'alhos, preparada à maneira da Fajã da Ovelha, sob o efeito das leis e costumes deste país e acho que se saiu melhor que esse labirinto soturno de leis e costumes. O vinho, embora alentejano, teve por padrinho São Jorge, o intermediário de casamento.

Assinale-se que este casamento dos sabores com os vinhos não foi devidamente arregimentado contra o que é costume, por falta de comparência, embora devidamente justificada, do incumbente, apesar de alguns presentes ainda saberem muito dessa poda, mas já não a exercem por decisão própria.


 

100 milhões para os lobos, sem lobos

Acabo de ler no Expresso "Lobos custam 100 milhões de euros".

É o título de um artigo sobre o custo dos arranjos a mais para que os lobos fossem protegidos na serra de Falperra pelo atravessamento de duas auto a A24 e A7. Tais obras a mais "justificaram-se" na mira (irreal) de haver uma boa circulação dos lobos que afinal, na realidade, acharam por bem dispensar esta dávida dos humanos.

A ser assim, 100 milhões de euros é mesmo muito dinheiro perdido. Conheço tanto pequeno projecto na área da investigação a quem 100 mil euros dava um grande jeito e que o País bem melhor ficaria. Mas para os lobos (sem lobos) foram mil destes projectos.

Dói o coração ver deitar tanto dinheiro fora. Mas acredito que seja assim, pois conheço outras obras a mais, públicas e privadas, de menor montante, como a protecção de morcegos e de outras aves que se fizeram por razões "ambientalistas" para nada. Os morcegos evadiram-se e que se saiba a zona nada perdeu e o morcegário está vazio. Melhor seria que fosse desmantelado até por razões ambientais se a estética entra nesse conceito.


2007-12-14

 

New York is a woman (3)

Also Yoko Ono (I miss you...)
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New York Woman

It was getting dark in a snow-covered park,
I thought I saw you smiling.
You left town to marry a texas millionaire,
I wonder how you are doing.

You were a new york woman,
New york woman,
New york woman,
I love you.

I heard him on the air discussing world affairs,
And something about his global vision.
Thats when I wondered if you made the right decision,
I want to know what youre thinking.

You were a new york woman,
New york woman,
New york woman,
I miss you.
You were a new york woman,
New york woman,
New york woman,
I miss you.

I miss you,
I miss you,
I miss you,
I miss you, my friend.

I miss you,
Oh, I miss you,
Oh, I miss you,
Oh, I miss you.


 

New York is a woman (2)


ISABEL MAGALHÃES

Manhattan; 1998; 50 x 70 cm; acrílico sobre tela

(Obrigado, Isabel)


2007-12-13

 

New York is a woman (1)

Incluída no "último" disco de Susan Vega "Beauty & crime" (2007).
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New York is a woman

New York City spread herself before you
With her bangles and her spangles and her stars
You were impressed with the city so undressed
You had to go out cruising all the bars

Your business trip extended through the weekend
Suburban boy here for your first time
From the 27th floor above the midtown roar
You were dazzled by her beauty and her crime

And she's every girl you've seen in every movie
Every dame you've ever known on late night TV
In her steam and steel is the passion you feel
Endlessly

New York is a woman she'll make you cry
And to her you're just another guy

Look down and see her ruined places
Smoke and ash still rising to the sky
She's happy that you're here but when you disappear
She won't know that you're gone to say goodbye

And she's every girl you've seen in every movie
Every dame you've ever known on late night tv
In her steam and steel is the passion you feel
Desperately

New York
is a woman she'll make you cry
And to her you're just another guy


2007-12-12

 

Descompassados (6)


"PJ ainda sem provas/para prender suspeitos/de crimes da noite."


É deste modo que os tituladores do DN deixam transparecer a confiança que depositam na PJ. Porque se aquela polícia não encontrou, por enquanto, provas, tal não significa que não venha a encontrá-las. Caso o titulador não atribuísse um elevado grau de probabilidade ao sucesso da PJ e, simultaneamente, não intuísse uma relação automática entre a recolha de provas e a prisão dos suspeitos, então o título rezaria, porventura:

"PJ sem provas/para prender suspeitos/de crimes da noite."


Mas o desejo, a confiança e a convicção teriam levantado arraiais da manchete do DN. O que é bom para o jornalismo nem sempre é melhor para a emoção. Pior que isto é, sem dúvida, o título da secção económica nas interiores,

"Transportes públicos sobem 3,9% em 2008".


Para uma taxa de inflação prevista de 2,1%, a balizar severamente os aumentos salariais, parece não haver apelo nem agravo. E todavia, fosse outra a mão titular, e a fórmula poderia ter sido:

"Ainda a subida do custo de vida/ Transportes públicos sobem 3,9% em 2008".


Aqui chegados, os tituladores vacilaram. Confiança, convicção e desejo, desapareceram por completo. As emoções renderam-se diante de notícias sem esperança. O jornalismo das interiores tornou-se mais contido, sóbrio e austero. Euforia por fora, depressão por dentro. Neste caso, contrariamente ao que sucedeu no exemplo da manchete, há provas e culpados, mas ninguém parece correr o risco de ser preso. Dar, com uma mão, 2,1% de aumento, e tirar, com a outra, 3,9% no preço dos títulos dos transportes públicos, apresenta-se como se de uma banalidade se tratasse. Não resisto à tentação de perguntar:

- mas a que título?


 

Com a Banca bulir o menos possível

Esta é a "directiva" vigente entre nós (directiva não comunitária como é evidente - somente muito nossa "país de brandos costumes").

Penso que noutro sítio o Banco Central (leia-se no, nosso caso, Banco de Portugal) já se teria mexido e muito e eventualmente gestores como os do BCP estariam certamente um pouco mais desconfortáveis.

A verdade é que num Banco que "perdoa" cerca de 40 milhões de Euros (12,5 milhões ao filho do Presidente e 28 a um accionista) os seus gestores não poderiam estar tão descansados, tanto mais que um dos responsáveis por este processo está na corrida para presidente da instituição. Certamente num processo a sério a corrida estaria a ser feita para uma cadeira bem menos simpática. A nossa realidade é porém a de que estamos num país em que o Banco de Portugal é também um banco central promotor de brandos costumes.


 

A (in) Segurança neste País!

... Sobretudo em terras portuenses, a "coisa" parece um pouco negra. Não se percebe lá muito bem, mas que parece haver um ajuste de contas, tipo mafia à italiana, parece.

Só que acho que as forças de segurança deveriam estar mais acutilantes e o facto de até agora, passados 4 meses depois da primeira morte, ainda não haver uma única prisão, o mínimo que se pode dizer é admitir uma grande desatenção ao evoluir do "mundo nocturno" que em toda a parte se não tiver "baias" gera violência. Exactamente, em Portugal, há falta dessas baias.

Dentro da PJ, pelo que transpira, há desintelingências com esta forma de procedimento, um jogo em demasia defensivo.

Que discordem entre si tudo bem. Agora que não actuem tudo mal. Ausência de detenções gera mal-estar na Judiciária

2007-12-10

 

A REPER de Alberto João

Ouvi dizer que Alberto João, é assim que é conhecido na Madeira, inaugurou na segunda feira passada a sua representação permanente (REPER) no Restelo. Nada a obstar: cada governo faça o que bem entende, apesar de achar algo esquisita ou de mau gosto a designação.

Já não me é indiferente que, em simultâneo, seja inaugurada a Casa da Madeira em Lisboa, no mesma vivenda mas sobretudo na "mesma cerimómia", sem qualquer abertura política, sendo confusa a promiscuidade e intimidade entre as duas entidades.

Li o que o "presidente" da Casa da Madeira, deputado Hugo Velosa, disse ao DN: "a Casa da Madeira não mete política partidária e quando a houver, eu demito-me". Interessante. Certamente o deputado já terá o requerimento pronto.

Alguns dados sobre a inauguração/confusão: Quem terá sido convidado para a inauguração? Critérios? Pelo que me contaram só gente próxima políticamente. Certamente uma ou outra excepção de disfarce.

Porque se intitula Hugo Velosa Presidente, quando há muitos anos não se realizam eleições?

Não seria mais sensato, aceitável, diplomático, intitular-se coordenador ou presidente, por exemplo, de uma comissão de relançamento da Casa da Madeira?

Concordo que a Casa da Madeira se distancie da política partidária, mas de facto. Seria um excelente princípio, direi mesmo, um princípio refundador da Casa da Madeira.

Apesar da má entrada, o deputado Hugo Velosa ainda está a tempo de demonstrar, na prática, o que afirmou.Assim o deseje mesmo.


2007-12-09

 

A 2.ª Cimeira UE-África

Terminou a Cimeira. Difícil um balanço objectivo sério. Será que se registaram progressos, independentemente dos negócios? Será que se definiram novas e diferentes linhas de relacionamento entre os dois Continentes (estratégia conjunta, plano de acção, etc, como diria José Sócrates) que possam levar algo de bom aos respectivos povos?

O ministro Luis Amado também foi tentando durante o dia de hoje fazer passar essa mensagem. Mas tão pouca foi a informação credível, veiculada para o exterior, que sou tentado a dizer que nos chegou sobretudo desinformação e faits divers.

No entanto, tentando ler alguma coisa nas entrelinhas aponto como positivo a realização da Cimeira e daí alguns dividendos para as presidências Portuguesa e da Comissão, o facto da questão dos direitos humanos não ter sido esquecida, eventualmente abordada sem grande entusiasmo e, sobretudo, o facto de ter sido "abandonada" a tão velha questão colonial. Em termos de abordagem dos problemas parece ter-se avançado para algo substancialmente diferente para problemas de âmbito mais geral e comuns aos países.

 

Recorrente

Cada vez que Luís Filipe Menezes vem à televisão repete a sentença:
"Sócrates devia deixar de se distrair com essas trapalhadas da União Europeia e dedicar-se aos problemas do país..."
Até Marques Mendes era capaz de melhor.

 

O Contrato

Num dos últimos episódios da GUERRA de Joaquim Furtado, exibidos pela RTP, aparecem os filmes e os testemunhos do trabalho escravo (trabalhos forçados) usado massivamente nas colónias portuguesas até à eclosão das guerras de libertação, iniciadas nos anos 60 do século passado. Tão distante e tão próximo!
Os Portugueses, campeões do tráfico de escravos e da sua exploração intensiva, especialmente no Brasil, até pelo século XIX dentro continuámos a usá-lo em moldes pouco distintos até há pouco. Não era raro - diziam no filme de Joaquim Furtado - ver destes trabalhadores castigados a trabalharem com correntes nos pés. Era o "contrato".
Via o filme e toda aquela nossa acção "civilizadora", "cristã","humanitária", "evangelizadora" eis senão quando surge entre os entrevistados o muito respeitado "empresário africanista" Cardoso e Cunha a dar o seu contributo para o contraditório:

«Nos Cuanhamas, esses povos do Sul [de Angola], fazia parte da sua tradição familiar fazer alguns anos de trabalho [forçado] nessas fazendas. Não recuso que tenha havido algum excesso, mas a maior parte dos contratados eram voluntários.»

Esses Mugabes ainda têm muito que aprender.


2007-12-08

 

Ditador mais ditador que o outro ditador

Por que é que o execrável ditador Robert Mugabe, do Zimbabué, é mais execrável que o execrável ditador Ahmad al-Bashir do Sudão, que além de crimes como os daquele tem ainda às costas o genocídio do Darfur?
É que, apesar disso de genocídios ser muito desagradável, o execrável ditador Mugabe é mais execrável porque além dos crimes que comete contra o seu povo atingiu também, sem respeito pelos direitos humanos, os interesses de súbditos de Sua Magestade britânica.

 

Fumar or not to be

Os centros comerciais dizem que a partir de 1 de Janeiro vão proibir o fumo, de acordo com a lei. Não estão para gastar dinheiro com salas para fumadores.
A maioria dos restaurantes, cafés, cervejarias, discotecas seguem o mesmo caminho.
Fumar só na rua e em poucos mais locais.
A lei não me atinge mas compreendo que para os fumadores ela é pesada. De parabéns estão os não fumadores que a partir de 2008 ficam dispensados da obrigação de fumar o fumo dos outros.
A situação está, no entanto, longe dos extremos norte-americanos. Nem tem as derivações inadmissíveis como uma que o programa 60 minutos da CBS registou (programa que a SIC Notícias retransmite).
Uma mulher com 12 anos de casa queixava-se ao mais célebre programa de investigação dos Estados Unidos de ter sido despedida por não ter respeitado a ordem de não fumar.
- Insisitiu em fumar no trabalho? - interrogava-a o jornalista (Scott Pelley se a memória me não falha).
- Não.
- Então?
- Fui proibida de fumar em qualquer sítio. Na rua ou mesmo em minha casa. Porque isso prejudicaria a minha saúde e aumentava o risco de a empresa ter de pagar mais pelo meu seguro.

 

A Igreja católica e o sexo

O celibato obrigatório é uma brutal violência imposta pela Igreja aos padres. Ele foi a causa de alguns dos maiores escândalos da Igreja. Com o generalização das governantas em casa dos párocos de aldeia e da respectiva prole de «afilhados» e «sobrinhos» no século XIX e primeira metade do sec XX. Da generalização do abuso de crianças e da pedofilia, vindo a lume, nos EUA, em anos recentes. Para já não falar da luxúria e hábitos desbragados que tornaram célebres certos papas e a Curia Romana.
O celibato obrigatório, por muitos tido por absurdo, também esteve e está na origem da desmobilização de muitas "vocações" sacerdotais.
Vem isto a propósito das opiniões do padre e do filósofo Anselmo Borges e que leio sempre com a merecida atenção. Um extracto do seu artigo A IGREJA CATÓLICA NO LABIRINTO DO SEXO no DN de hoje:
__________

"Uma razão fundamental do mal-estar em relação à Igreja provém da sexualidade. Desde o século XVIII, muitos terão iniciado o seu abandono, porque concretamente a confissão, patologicamente centrada no pecado sexual, esmiuçado até à exaustão, começou a ser sentida como invasão indevida da intimidade e ferindo inclusivamente os direitos humanos.

A Bíblia contém, dentro da literatura mundial, um dos mais belos hinos ao amor erótico: leia-se o Cântico dos Cânticos. Desde o início, no Génesis, se diz que a sexualidade é dom de Deus. Segundo a Bíblia, o ser humano não está dividido em corpo e alma, pois forma uma unidade. Na perspectiva cristã, o corpo não é desprezível, pois o próprio Deus assumiu a humanidade corpórea."


2007-12-07

 

Descompassados (5)

Os patrões voltam a fazer ouvir as suas vozes em uníssono: recusar-se-iam a respeitar o que foi estipulado para o aumento do salário mínimo (450 € até 2009) se não lhes for dado tudo o que enunciam.

A lista das exigências patronais inclui financiamento do Estado para a "reestruturação de empresas abertas à concorrência internacional". Em geral, querem menos Estado na economia. Neste caso querem recursos do Estado para eles. De onde se pode deduzir a consigna provada: - "Menos Estado para os outros; mais Estado para nós".
Exemplar!


De acordo com o DN de hoje, "Os patrões pretendem a eliminação dos custos da contribuição social sobre as horas extraordinárias e prémios. Exigem também em alguns sectores a "flexibilidade dos horários", "mobilidade geográfica" e a "polivalência de funções".

Finalmente, para destacar o sentimento cristão que os anima, os patrões gostariam de impor " Limites às indemnizações por despedimento". Isto, para conseguirem, como dizem, "induzir maior potencial nos recursos humanos."

Valha-me Deus. Isto tudo só por 450 € !?

Mas que grande negócio!!!

Com tanto "risco", tantas vicissitudes de "mercado" e tamanho "espírito empreendedor", estarão os patrões a tomar para eles, como virtudes, os defeitos que apontam aos funcionários públicos?


 

Descompassados (4)


Alain Touraine veio, de novo, a Lisboa, ao Instituto de Ciências Sociais, proferir uma palestra, por ocasião da abertura do ano académico. Do alto dos seus tantos anos de experiência sociológica, caracterizou como excepcionais os últimos 40 anos de história do pensamento social francês. Pela negativa.
Segundo ele, o mundo estava a mudar muito, muito depressa, e os intelectuais franceses (como os restantes, aliás) não se deram conta de que o mundo, visto pelo prisma da "dominação" das "vítimas" (os trabalhadores, as mulheres, os pobres e todo o tipo de excluídos) era um mundo "determinista", sem esperança nem espaço para a acção individual.
Diferentemente, a sua "Sociologia da Acção", faz coro com os que preconizaram "le retour de l'acteur". O sujeito regressava, assim, à análise sociológica...
Touraine tem piada. Procede a um ping-pong intelectual com Marx, referindo amiúde as limitações doutrinárias, mas estribando-se, frequentemente, nos métodos de abordagem e nalgumas categorias de análise criadas ou adoptadas por Marx e Engels.
A inescapável inspiração marxista voltou ao seu discurso quando recordou as ideias gerais em que baseou um dos seus últimos livros, - Le monde des femmes (Fayard, 2006). A condição da mulher como barómetro civilizacional.
Ora quem se der ao trabalho de (re)ler o trabalho de Friedrich Engels, The Condition of the Working Class in England, publicado na Alemanha em 1845, poderá facilmente aperceber-se da originalidade de Touraine.
Pela condição das mulheres e das crianças (de preferência, já agora, as de menores recursos...) pode deduzir-se o grau de civilização de uma sociedade.
Há coisas que mudam e outras que não. Esta parece que se mantem vai para mais de século e 1/2.

É obra!

2007-12-06

 

De profundis (5)



"A Mário Soares perdoa-se tudo o que a outros nada se esquece."


Baptista Bastos, "O último leopardo", no DN de ontem.
Na íntegra [AQUI]

2007-12-04

 

Descompassados (3)

Os exemplos em que um órgão de informação se antecipa ao acontecimento e lança para manchete uma alegada notícia que depois não se confirma, podem contar-se pelos dedos. Evocam a seriedade do director do extinto "Tempo", que foi ao ponto de relatar o conteúdo de reuniões do Conselho da Revolução que não chegaram a efectuar-se. Poderia chamar-se a esse jornalismo antecipatório, que confunde a peta da fonte com a nobreza de uma notícia, jornalismo temporão ou Rochoso, em homenagem ao Tempo e àquele que foi seu director. Contudo, há quem prefira, estribando-se na sinistra conspirata Marcello Rebelo de Sousa/Paulo Portas, chamar-lhe jornalismo à la vichissoise, imortalizando assim, com o apimentado episódio, a ementa de um jantar de aconselhamento presidencial que esteve para vir estampada no Independente, mas que Paulo Portas afirma ter desarmadilhado in extremis.
Em qualquer dos casos, a atitude que preside à decisão de fazer notícias, - ainda para mais, de 1ª página, - a partir de algo de que se não tem a certeza, revela uma relação excessivamente oblíqua com a profissão de jornalista e um entendimento mirabolante da distinção básica entre a informação que tem carácter noticioso e tudo o resto.
Ao confundir resultados de sondagens, à luz de uma leitura apressada, entrelaçada de palpites e preconceitos, com uma vitória, de facto, sólida e confirmada, o Público não apenas errou, como assestou mais um golpe escusado da sua já tão frágil credibilidade.
A 1ª página do PÚBLICO de ontem, inscreve-se nessa tradição de supremo desprezo pelo código deontológico. A escassez das repercussões tem a ver, muito provavelmente, com o consenso ideológico anti-Chavez que, nalguns dos seus afloramentos, considera justificado desprezar a realidade, tendo por certo que, por uma boa causa, até se pode substituir o jornalismo pela bruxaria.
Mas a extrema criatividade da manchete do PÚBLICO de ontem tem a ver, igualmente, com a sistemática atrelagem à agenda da Casa Branca. Foi assim com o Iraque. É assim com as tentativas mais sérias de emancipação na América do Sul.
Compreende-se finalmente o que Belmiro de Azevedo quis dizer quando revelou que os seus CEO(s) podem, caso ele o entenda adequado, circular de um ramo de negócios para outro. Houve na altura quem se mostrasse surpreendido com a indiferença que o patrão da Sonae evidenciava face às particulares exigências, éticas e legais, que devem reger a produção de notícias. Pois não teriam, os produtos mediáticos, de obedecer a umas quantas especificações que não são aplicáveis a outros produtos?

Para o Público, pelo visto, continua a parecer que não.



2007-12-03

 

Chávez perdeu o referendo

Há ditadores que dão que pensar. Por um lado organizam eleições e referendos. O que não é inédito. Salazar também fazia eleições. Mas este e os seus congéneres tinham o cuidado de garantir maiorias esmagadoras. Chávez não só não assegura uma vitória esmagadora como perde o referendo. Para maior estranheza reconhece a derrota e felicita os adversários como nas democracias. No entanto seria imprudência "democrática" deixar de o acusar de ditador enquanto não tomar medidas para que o dinheirinho volte todo às mãos onde sempre esteve.
Não sou, chavista, é claro, mas é por razões diferentes das que fazem espumar de raiva as boas consciências do neoliberalismo selvagem que aceitam resignadamente a miséria extrema e o empobrecimento da maioria da população como quem aceita a inevitabilidade do inverno e só vê democracia onde esteja garantido o "livre" jogo de forças entre os que têm quase tudo e os que não têm quase nada.
O chavismo tem, julgo que tem, propósitos e metas humanitárias que merecem simpatia. Mas a política, a percepção do mundo actual, a direcção económica, os métodos, o caminho, as alianças, o populismo, quase tudo me parece errado e destinado ao fracasso que só o petróleo tem, por enquanto, evitado.
Por isso esta derrota de Chávez talvez lhe faça bem e acabe por ser também uma vitória da população que no passado nunca deixou de ser vítima das oligarquias e votou Chávez.

2007-12-02

 

O caso Luísa Mesquita

O PCP invocou a necessidade de "renovação" para afastar a deputada do parlamento. Se entendida por renovação etária o fundamento - segundo Luísa Mesquita - era improcedente porque seria substituída por uma suplente, por acaso também professora, da sua idade.
As verdadeiras razões permanecem desconhecidas. Razões de incompetência, desvio político ou ideológico também não parecem plausíveis. Mesquita era competente e ortodoxa quanto baste por isso talvez se trate de questão de «respeitinho». Questão de obediência, que para o caso tanto faz ser sobre assunto de lana-caprina ou não. Género: Alto lá! Mas quem é que manda aqui!!
Ambas as partes se saem mal perante um código de conduta que deveria primar pela seriedade e pelo respeito pelas eleitores.
O PCP fica mal porque obriga os seus candidatos a assinar uma declaração em que põem o seu lugar à disposição do partido ao sabor da discricionariedade do órgão dirigente em desrespeito pelo papel do candidato e pelo voto de quem o elegeu. Porque se é certo que o eleitor vota num partido vota também nas pessoas indicadas por este. Se as pessoas não contassem então as listas poderiam apresentar-se em branco.
Aquela declaração obrigatória é bem reveladora da cultura "democrática" de quem a usa e reveladora da visão instrumental que a organização tem dos seus militantes.
Luísa Mesquita fica mal porque se assinou a (inaceitável) declaração só lhe restava respeitar o seu (inaceitável) compromisso.
As razões que invoca, um compromisso verbal com a direcção do partido (mas contraditório com a declaração assinada) que lhe garantia o cumprimento total do mandato são manifestamente a prova de que a má fé estava subjacente nos compromissos assumidos por ambas as partes.
Este caso parece denotar incapacidade de liderança, de gestão dos recursos humanos e de prévia avaliação de danos.

 

Não há como um outsider

nos meios financeiros para quebrar as leis da omerta e caírem na rua os negócios confidenciais, os perdões aos amigos, os créditos mal parados, ora agora levas tu ora agora levo eu. Roubalheira - Berardo dixit - de dezenas e centenas de milhões de euros.
Ontem, a RTN por volta das 18 horas entrevistava Joe Berardo e este atirava à rua - e à cara de Jardim Gonçalves, Filipe Pinhal, Christopher de Beck e outros respeitabilíssimos senhores da nossa respeitabilíssima banca - as mais torpes acusações (que por pudor recuso acreditar) de distribuírem entre si, amigavelmente, à margem da lei e à sorrelfa milhões e milhões. De se perdoarem uns aos outros fortunas viajadas por amigáveis offshore "ao mesmo tempo que se mostram intransigentes na aplicação da lei quando se viram para o cliente que se atrasa uns centos de euros na prestação da casa e despejam no olho da rua." Disse Berardo. Mais palavra menos palavra, porque falava em Afrikaner e não havia tradução.

 

A última palavra sobre o aeroporto

Acabo de ler " na mídea" - como diria Berardo - que o ministro do Ambiente, Nunes Correia, tendo em conta a importância da variável ambiente, disse que sobre o aeroporto em Alcochete a última palavra é dele.
Não serei ele a desmenti-lo. Mas fez-me lembrar um dito do tempo da outra Senhora, do tempo em que o marido era o chefe de família e dono da mulher: «quem manda lá em casa é ela mas quem manda nela sou eu!»
Quem tem a última palavra sobre o aeroporto é Nunes Correia - não duvido - mas quem tem a última palavra sobre Nunes Correia é Sócrates.

2007-12-01

 

Descompassados (2)


[De uma modesta presença na capa...]

A ideia geral que os simpatizantes das políticas do governo para a administração central e local querem fazer passar é a de que a "maioria dos portugueses compreende" a austeridade imposta aos trabalhadores da função pública.
Não é isso porém que revela o barómetro DN/TSF, ao destacar que "uma maioria de portugueses concorda que existem razões para esta greve."
Dado, porém, que o mesmo barómetro "mostra,(...) paralelamente, que o Executivo liderado por José Sócrates continua a recolher o apoio da maioria dos portugueses", fica-se sem saber, ao certo, de que "maiorias" estamos a falar.
O autor do editorial do DN, de onde foram extraídas as duas anteriores citações, - "A greve da função pública e a confiança do governo" - começa por simular equidistância, dando uma no cravo, outra na ferradura. Após a constatação de que a greve dos trabalhadores do Estado é conhecida, compreendida e apoiada pela maioria dos entrevistados, segue-se a interpretação do editorialista. De acordo com ela, "existe uma larga compreensão para o rigor orçamental definido pelo Governo socialista".

Ai é?

Os portugueses "concordam" com os trabalhadores, por um lado, e também concordam com o governo que está a afrontar todos os sindicatos do sector?

Uma leitura mais sensata, revelaria que uma boa parte dos entrevistados confirma o seu apoio ao governo, mas, (como, aliás, não poderia deixar de ser), com algumas reservas. E uma dessas reservas consiste na dedutível "recomendação", - ao governo, - de maior atenção, entendimento e sensibilidade relativamente às injustiças acumuladas, ao longo dos últimos anos, sobre os trabalhadores da administração pública. É, aliás, esse, o sentido em que se têm pronunciado alguns membros do PS. Apoiam o Governo, - é óbvio - mas aconselham-no a virar, pelo menos, um "bocadinho" à esquerda.
[...à "Maior greve em dois anos"! Sensacional!]
O editorialista do DN interpreta de outro modo.

Dirão, alguns, que está no seu direito.

Pois está.

Mas está errado quando imputa à opinião filtrada pelo barómetro da Marktest uma ambivalência de ocasião. Chama-se a isso distorcer os resultados por via interpretativa. Os respondentes, por maioria, apoiam a greve dos trabalhadores da função pública, reconhecendo-lhe o fundamento. O diligente editorialista, ao invés, encontra uma forma de fazer parecer que esses mesmos entrevistados apoiam, simultaneamente e na ocorrência, o governo, contra os trabalhadores do Estado.

Um espertalhaço!






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