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2013-08-31

 

Quem são os réus na guerra da Síria?

Para o Ocidente, "desfalcado" agora do Reino Unido, porque os deputados dos trabalhistas e 70 outros do partido do próprio Cameron votaram no Parlamento inglês contra, para já, a entrada na guerra da Síria, "o réu" é o regime sírio. John Kerry, qual falcão à Bush, não tem dúvidas; não precisa das conclusões dos inspectores da ONU. As armas químicas têm sido lançadas das "áreas controladas pelo governo e caíram na área sob controlo dos rebeldes".

Noutras esferas menos ortodoxas, subsistem dúvidas de que não haja também armas químicas no lado dos ditos rebeldes.Aliás existem indícios muito fortes nesse sentido.

O Ocidente, sem Reino Unido mas com a França de Hollande, mesmo com algumas dúvidas de Obama empurrado pelos falcões do seu governo, está de guarda prestes a avançar contras as decisões da ONU que não serão favoráveis a esta guerra, altamente complexa e cujos efeitos são de todo imprevisíveis.

Não me inclino para o regime sírio, mas menos ainda para a miscelânea dos ditos "rebeldes" onde até alinha a Al Quaeda, segundo algumas fontes que valem o que valem dispõe no terreno  2000 combatentes integrando os rebeldes. 

Interessante mas que faz reflectir os EUA emparceirados com os destruidores das Torres Gémeas em 2001.

As voltas que o mundo pode dar por interesses muito perceptíveis, mas sem dúvida grandes interesses.

2013-08-30

 

Cameron ontem no Parlamento inglês

O primeiro ministro inglês foi ontem ao Parlamento tentar convencer os deputados a apoiarem a sua participação na guerra contra a Síria, ao lado dos EUA e da França. 

David Cameron afirmou nas suas intervenções que ainda não estava completamente provado que as forças armadas da Síria tivessem utilizado armas químicas. 

 Mas como ele estava convencido pedia a devida autorização para entrar na guerra. De certo modo já entrou, pois vários caças britânicos já foram enviados para a zona ou mais concretamente para Chipre. Acontece que Cameron levou uma sova e o parlamento não lhe deu luz verde para já. 

Os Inspectores da ONU, segundo alguma comunicação social mundial mais isenta, estão em dificuldades de provar que o uso das armas químicas tem sido das forças armadas ou dos ditos rebeldes ou então ambos os lados têm feito uso delas. Mas para o Ocidente é preto no branco: quer atribuir o uso pelas tropas sírias para justificar a invasão. O Ocidente considera-se a polícia do mundo com os EUA ao comando. 

Afinal, com Obama ou com Bush neste aspecto as diferenças esvoaçam. A própria decisão do parlamento britânico, apesar de alguns deputados terem actuado de perfeita consciência dizendo aquilo que pensam tem muito jogo escondido e se a guerra avançar como tudo indica ainda vamos ver os trabalhistas a dar a volta e a apoiar a invasão. Foi apenas um compasso de espera para que Cameron averbasse uma derrota..

2013-08-29

 

Síria. O tema trouxe 1.100 visitas em 2 dias


Potenciado pelo Facebook o Puxapalavra foi muito visitado. 600 visitas a 27/Agosto e 500 a 28. O post sobre a Síria teve no Face  117 (94 + 23) partilhas. A perspectiva de um novo "Iraque" é assunto que desperta  muito interesse e... a máxima apreensão.

2013-08-27

 

Por razões de estupidez, Damasco usou o gás sarin para facilitar a invasão do país

Parece que o mundo livre e o seu comandante, os EUA,  já decidiram invadir a Síria. Diz o vice-presidente Kerry e diz David Cameron que só falta saber a hora e como.
Estava anunciado há muito que, se o regime sírio usasse armas químicas contra os rebeldes, os EUA não tinham outro remédio senão intervir militarmente, derrubar, o actual governo,  em defesa da liberdade e da democracia.
O governo de Damasco, sabendo isto, e estando desde há meses na mó de cima na luta contra os insurgentes sírios, decidiu por razões de estupidez, atacar um bairro dos arredores da capital com gás sarin e assassinar indiscriminadamente 1300 civis, incluído muitas crianças que a imprensa, TVs e Internetes de todo o mundo mostraram revoltando contra Damasco a humanidade (que lê ou vê estas notícias) que em uníssono não só apoia como exige aos EUA e à UE o derrube de Bashar Al-Assad que sem o parecer é afinal um Sadan Hussein.
Veio mesmo a calhar porque a decisão de intervir já estava em preparação mas era necessário ter o apoio da massa ignara que dá os votos de vez em quando.
Talvez, talvez, talvez, que daqui por uns anos, quando a administração norte-americana, vencidos os prazos, abrir à consulta a sua documentação secreta, lá venha a informação que hoje nos escapa :  os serviços secretos israelitas, a pedido da CIA, forneceram a uma célula da Al Qaeda X doses de gás sarin para ajudar os nossos amigos, democratas e amantes da liberdade, a verem-se livres do horrível ditador Bashar Al-Assad eliminando uns 1300 desgraçados, nos arredores de Damasco. Infelizmente havia muitas crianças mas paciência. Ou tanto melhor, dado que uma muito bem conseguida  campanha de informação atribuiu a responsabilidade do crime ao presidente da Síria.
Talvez. Talvez. Não é que o campo oposto não fosse capaz de um crime daquele jaez mas os ideais do imperialismo apenas se medem em dólares ou euros, petróleo ou outras riquezas naturais. É claro que já não vivemos tempos tão propícios aos mandantes e poderosos como aqueles em que aniquilaram milhões de seres humanos para lhes roubarem tudo, como sucedeu, por exemplo, na conquista das Américas, ao ponto de povos e civilizações inteiras terem sido totalmente dizimados. Depois a ”nobreza do dinheiro” teve  de se ir conformando com as conquistas da plebe, consequência de grandes e vitoriosas lutas do “terceiro estado”  e tem de lidar com essa chatice das eleições e dos votos. Mas conseguiram, controlando a educação, a comunicação social, corrompendo, mentindo, falsificando, por vezes de forma tão monstruosa que ninguém de boa consciência pode sequer admitir que se trate de falsidades.
Na realidade não sei quem cometeu o crime monstruoso nos arredores de Damasco.  É certo que já em Maio passado, a ex-Procuradora do Tribunal Penal Internacional e membro da comissão de inquérito da ONU sobre as violações dos Direitos Humanos na Síria, Carla del Ponte dissera, numa entrevista à Rádio Suíça italiana que: "De acordo com as provas que recolhemos, os rebeldes utilizaram armas químicas, fazendo uso do gás sarin" [Link].”  Mas se ele só aproveitaria a quem quer a intervenção militar, admitindo que Damasco não é um manicómio, tudo parece apontar para uma operação montada para justificar a intervenção armada na Síria. Mas seriam as potências ocidentais, cristãs, democratas, paladinas da defesa dos direitos humanos, capazes de uma monstruosidade destas, numa atitude de "os fins justificam todos os meios"?
O que se passou com o Iraque, as provas forjadas, ou apenas enunciadas das armas nucleares que o Iraque tinha, provas tão evidentes que até Durão Barroso as viu nas mãos de W. Bush deixa qualquer pessoa no seu juízo de pé atrás com as políticas dos imperialistas.
Afinal o truque se é que esta chacina é de facto uma armadilha, é velho. Em 1939 Hitler vestiu umas fardas polacas a militares alemães despejou-os do outro lado da fronteira, na Polónia, eles dispararam uns tiros para o lado de cá, contra a pátria sagrada dos nazis e Hitler cheio de razão e apoiado por muitos alemães, justamente indignados com o traiçoeiro ataque dos polacos, invadiu a Polónia e foi por aí fora acabando a suicidar-se 6 anos e 50 milhões de mortos depois, no Reichstag. Já antes Hitler tinha mandado incendiar o Reischtag (o Parlamento) para acusar do crime os comunistas alemães e assim, com a moral do seu lado, ilegalizar o PC alemão e de caminho os socialistas.
Os EUA também necessitaram de uma justificação moral, para iniciar a invasão do Vietnam do Norte. E a justificação surgiu. Em 1964, uns tiros disparados contra navios de guerra norte-americanos junto à costa norte-vietnamita, que logo ali ficou provado ser de canhões do Vietnam do Norte “obrigaram” os Estados Unidos a invadir aquele país. Foi a primeira guerra em que os EUA foram derrotados, mas depois de milhões de vietnamitas mortos e de um país destruído. 
As guerras de rapina por vezes, no curto prazo, dão prejuízo financeiro. Mas é ao país! Os custos são pagos pelo contribuinte mas os grandes, os gigantescos, os inimagináveis lucros da pilhagem são de quem investiu… na guerra.
Não sei se a realidade da Síria é esta que aqui apresento. Mas não me espantaria. Não é nada que não possa ser feito por quem apoiou a criação do exército taliban no Afeganistão, por quem foi protetor e apoiante da Al Qaeda (parceria EUA/Arábia Saudita/Paquistão. Os EUA deu a formação, a Arábia Saudita o dinheiro e o Paquistão as bases de treino). Era para combater o regime de Bashar Al-Assad "amigo dos russos", e lhes permitiu uma base naval no Mediterrânio. O regime sírio é para Washington uma ditadura má muito diferente do da Arábia Saudita que é uma ditadura boa. É certo que o regime sírio, ao contrário do que se passa no reino da familia Saud, eliminou a escravidão das mulheres que podem andar na rua sem a trela de um homem, têm os mesmos direitos que os homens, nomeadamente no ensino, na saúde, podem eleger e ser eleitas. A Síria proibiu na Constituição a lei islâmica da sharia. Mas compra armas aos russos em vez de ser aos EUA, não permite a privatização da única companhia de petróleo síria e pior que tudo não deixa passar pelo seu território o grande gasoduto que devia partir do Qatar para a Europa e libertar esta da dependência do gás e dos gasodutos que vêm da Rússia. 
Para derrubar este maldito regime - vá lá compreendam - vale tudo. 

2013-08-26

 

David Cameron quer invasão da Síria, já!

David Cameron interrompeu hoje as férias para exigir, em Londres, a intervenção militar na Síria, já. "Mesmo sem o acordo da ONU" chegando-lhe como prova da autoria da matança de 1300 civis, nos arredores de Damasco, com gás sarin, pelo governo Sírio, as certezas que W. Bush, Blair, Aznar e Durão Barroso tinham sobre as armas nucleares do Iraque. Posição próxima tem a França e a Alemanha coloca como questão prévia saber se foi de facto o regime sírio o autor da chacina.
O assassínato dos 1300 civis nas proximidades de Damasco, dos quais grande parte crianças, com o gás sarin tanto poderá ter sido cometido pelas autoridades de Damasco como por um qualquer dos grupos terroristas do fundamentalismo islâmico que atua ao lado dos oposicionistas, incluído a Al Qaeda, talvez, quem sabe, com a ajuda amiga de serviços secretos de Israel ou dos países do “Ocidente“ mais sensíveis aos "direitos humanos" .
Não poria as mãos no fogo por nenhum dos lados. O governo da Síria, o Irão, os xiitas, o Hezebolah, os alauitas, ou a Rússia tendem à priori a culpar os rebeldes pelo assassínio em massa do seus compatriotas. Pelo outro lado, os EUA, o Reino Unido, a França, a Turquia, Israel, a Arábia Saudita e outros países árabes sunitas, “sabem”, uns mais que outros, conforme os seus interesses, que foi o governo de Bashar a Al-Assad  a usar armas químicas. Do lado desta barricada está a maior parte da comunicação social a que temos acesso.

Ainda espero que a inspeção internacional ao local do crime apure a verdade, se é que consegue, se é que quer. Mas não estou otimista.
No entanto, para se chegar à mão dos criminosos um bom critério é o de saber a quem aproveita o crime e quanto a isto… vejamos:
Ainda que sem grande convicção os EUA, chamuscados no Iraque e no Afeganistão, avisam que o uso de armas químicas é o limite que transposto pelo governo de Damasco obrigará os EUA a intervir militarmente.
Neste quadro internacional atribuir o uso do gás sarin a Al - Assad, vem mesmo a calhar para os rebeldes pressionarem a intervenção do “Ocidente” no derrube do governo Sírio. Ser este a usar o gás sarin, numa tal orgia do horror, só poderia ser estupidez ou estado de necessidade face a forças militares inimigas à beira da vitória, o que não acontece, pelo contrário.
Notícias da Reuters (BEIRUTE, 24 Ago )dizem que “a TV estatal síria informou que soldados encontraram agentes químicos em túneis de rebeldes em um subúrbio de Damasco, neste sábado, e alguns soldados estavam "sufocando".
“… Um alto funcionário de desarmamento da ONU chegou a Damasco neste sábado para pressionar pelo acesso de inspetores ao local do ataque e os Estados Unidos estavam realinhando suas forças navais na região para dar ao presidente Barack Obama a opção de um ataque contra a Síria.
“Relatos da oposição síria apontam que entre 500 e mais de 1.000 civis foram mortos por gás colocado em munições lançadas por forças leais ao presidente Bashar al-Assad.”  (Link )
No entanto, já em Maio passado, a ex-Procuradora do Tribunal Penal Internacional e membro da comissão de inquérito da ONU sobre as violações dos Direitos Humanos na Síria, Carla del Ponte dissera numa entrevista à Rádio Suíça italiana que: "De acordo com as provas que recolhemos, os rebeldes utilizaram armas químicas, fazendo uso do gás sarin", na madrugada de hoje.”  (Link ).
O regime sírio está longe de pertencer ao grupo dos países árabes extremistas onde metade dos nacionais - as mulheres - vive em semi-escravidão e a democracia e a justiça é a da sharia. O regime autoritário  e corrupto sírio, onde as liberdades estão longe de estar garantidas, , está, no contexto do mundo árabe, entre os menos maus. É uma regime secular, laico, onde as diferentes religiões têm convivido em paz. Uma intervenção militar do Pentágono com o aplauso entusiasta do Sr Cameron visa tudo menos a instauração dos direitos humanos com cuja ausência convivem fraternalmente na Arábia Saudita e noutros países árabes “amigos”, e conduziria muito provavelmente a um regime mais ou menos confessional onde os democratas e os que lutam pela liberdade rapidamente seriam submersos pelo fundamentalismo islâmico, sunita ou xiita. 
Impõe-se, isso sim, o uso de todos os meios de pressão políticos não militares que conduzam a uma negociação com vistas a mais liberdade e mais democracia. No contexto do mundo árabe toda a prudência não é demais.
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Síria:  
Área: 185.000 Km2 (quase duas vezes Portugal).
População: 22.457.336 (2013). Árabes 90.3%, Kurdos, Armenios e outros 9.7%.
Idade média da população: 22,7 anos (Portugal 40,7)
Mortalidade infantil por 1000 nascimentos: 14,63 (Portugal 4,54, EUA 5,9)
Religião: Sunitas 74%, outros islamitas incluindo alauitas, druzos: 16%, Cristãos vários: 10%, Judeus: pequenas comunidades em Damasco, Al Qamishli, e Aleppo.
PIB per capita: 5.100 dólares, em 2011 (Portugal 23.800 dólares, em 2012)
Serviço militar obrigatório para os homens 18 meses a partir dos 18 anos. As mulheres podem prestar servico militar voluntário  [Link ]

2013-08-24

 

"Papéis de Trabalho" da IGF. Coitados, ainda não usam computadores...

Os "papéis de trabalho" da IGF sobre os contratos swaps foram "destruídos". Papéis? Então as novas tecnologias não chegaram ao Ministério das Finanças? Os inspetores andaram a escrever à mão em "papéis"? Não há um computadorzinho? Um disco externo (no mínimo)? Onde está o suporte informático? Também é destruído ao fim de 3 anos? Ninguém fez um "save us"? A legislação arquivistica continua em vigor sem ter em conta que já não é preciso "papéis"? 
Sim...e eu, neste momento, estou a escrever numa máquina  mecânica de teclado HCESAR e a seguir vou perfurar uma fita de telex. 
Pois, quem anda aos "papéis" somos nós, já me tinha esquecido.
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A minha amiga Lília esqueceu-se do título para o seu post? Coloquei este que ali está agora. Não sei é se ela o aceita. O remédio é colocar outro :)
RN
 

Do preservativo do velho regime aos "briefings" (suspensos) do actual regime de Passos/Portas

Num estudo "Os Segredos da Censura", publicado em 1996, César Príncipe, ilustre jornalista e escritor, apelidou este aparelho de repressão fascista, muito "burilado" por Salazar desde o início do Estado Novo, de "preservativo do regime". É uma designação feliz e de grande humor. Na realidade, como bem refere Irene Pimentel, num ensaio sobre a censura integrado na obra "Vítimas de Salazar", com a censura pretendeu Salazar "fazer de Portugal um país de ficção". Mas Salazar não se contentou em criar este aparelho de censura prévia. Foi mais além, defendeu a criação de um "gabinete" de informações, uns briefings "escritos", a que os jornalistas poderiam recorrer para melhor desempenho das suas funções de informação. A criação deste gabinete não substituía a censura prévia, complementava-a com uma função de cariz mais ideológico, combate de ideias na defesa do corporativismo como sistema e ataque às ideias de teor marxista. Se raciocinarmos um pouco não há assim tanta diferença entre os briefings de Lomba/Maduro em termos de objectivos e aqueles que faziam animar Salazar, dar uma imagem virtual do país, onde tudo corre para um futuro risonho. Ainda ontem o deputado do PSD, Duarte pacheco sobre o descalabro das contas públicas dizia que tudo vai no sentido do programado pelo governo quando a execução orçamental foi um buraco e dos grandes. Só os impostos de confisco aos rendimentos das pessoas aumentam e os impostos resultantes da actividade económica como o IVA caem fortemente e a dívida pública se afunda. Os briefings, embora de má memória para o governo porque só deitaram abaixo ministros e secretários de estado ou então aprofundaram a crise entre PSD e CDS tinham esses objectivos: "dourar a pílula" da situação de Portugal, um Portugal que não existe.

2013-08-14

 

Toxidependência das finanças públicas

Mário Vieira de Carvalho é musicólogo mas não sabe menos da política. Ei-lo, assertivo e didático, no Público (2013-08-12). A não perder.

Toxidependência das finanças públicas
Mário Vieira de Carvalho

"Os cartéis da banca tornaram-se a maior ameaça com que se debatem atualmente países e governos do mundo inteiro. Foi nisso que deu a embriaguez, sem regras, da globalização. Tal como os cartéis da droga, os cartéis da banca geram o tráfico, os traficantes e a toxicodependência.

Já era conhecida a promiscuidade que torna impossível distinguir as linhas de fronteira entre os interesses de uns e de outros (além do mais, a cocaína é coisa que jamais escasseou entre os executivos de Wall Street!). Mas o que está agora em causa é muito mais do que isso: é a transposição para o setor financeiro da mesma lógica que rege o tráfico de droga. Com a agravante de o efeito letal para a humanidade ser muito mais profundo e global. Comparados com os traficantes da banca, os traficantes de droga não passam de uns pobres diabos. Nunca, como hoje, se comprovou tão flagrantemente o verso de Brecht, segundo o qual - considerada a dimensão do - o assalto a um banco nada é, com a fundação de um banco!...

Com efeito, os cartéis financeiros que hoje dominam o mundo conseguiram em poucos anos não só agravar a fome e a miséria onde elas já existiam, como também expropriar do património, do emprego, da esperança de vida, do futuro, milhões de famílias. São os motores de um conceito de crescimento que exaure os recursos naturais, destrói os ecossistemas e compromete perigosamente a longo prazo a viabilidade da própria vida humana. Capturam o poder político e põem-no a trabalhar para os seus negócios especulativos milionários. Forçam-no à suspensão da democracia e das garantias constitucionais, em nome duma nova prioridade absoluta imposta aos Estados: servir os interesses da banca. Eis em que consiste a chamada "crise das dívidas soberanas".

Quem confessa o crime são os próprios cartéis da finança, que encontraram o nome certeiro para o material que traficam: "produtos tóxicos". Inicialmente destinavase a conter os estragos da chamada "bolha imobiliária", mas hoje é claro que se aplica a um largo leque de operações de engenharia financeira.

Transferidos da posição de pequenos e médios funcionários dos grandes bancos internacionais para gestores de empresas públicas, secretários de Estado e ministros, aqueles que ontem vendiam passam agora a comprar. Só o negócio, os beneficiários e os patrões é que não mudam.

Este estado de coisas inscreveu-se de tal modo no senso comum como uma espécie de "segunda natureza" que ninguém - nem mesmo gente acima de toda a suspeita, bafejada pela sorte - assume qualquer espécie de escrúpulo quando é confrontada com a possível incompatibilidade entre as responsabilidades do governo e a suspeita de favorecimento ("capital económico" acumulado graças a "capital social"). Eram operações "normais", dizem, agora apenas salpicadas pela lama da gestão danosa que veio depois... Mas, enquanto os ganhos foram privatizados, os prejuízos foram "nacionalizados", repartidos pela generalidade dos cidadãos... Assim se fazem as coisas.

O próprio Tribunal de Contas não escapa a esta enxurrada que arrasta consigo o que restava dos valores do bem comum e do serviço público. Não perde uma ocasião para lançar dúvidas sobre a sustentabilidade do Estado social - como ainda recentemente se viu a respeito de uma "derrapagem" de 80 milhões na Saúde. Mas não se lhe ouve um balbúcio quando o chamado "Ministério" das Finanças paga 480 milhões de euros aos gigantes da banca pela "ajuda à colocação dos títulos de tesouro" nos "mercados": seis vezes mais do que a "derrapagem" na Saúde e mais de metade do que se pretende cortar nas pensões! Estas é que são as "boas contas" conformes à Constituição da República?"
O artigo apanhei-o aqui.

2013-08-09

 

Este goveno recauchutado em Belém continua em putrefacção continuada

Há uns dias largos que não me tem apetecido mesmo nada escrever. Hoje resolvi falar deste governo que se encontra, apesar da recauchutagem recente lá pelos lados de Belém, em estado avançado de decomposição que até obriga o PM ou pensa ele que o obriga a correr para Lisboa interrompendo as suas certamente ricas férias a tentar colar alguns cacos. Fez mal porque cada vez mais a coisa parece não ter saída. Mas angustia-me pensar em quem pode pegar na "coisa" e até olhando para as últimas sondagens parece-me que infelizmente não estarei só. O eleitorado ou sendo mais exacto boa parte do eleitorado já percebeu que embora tudo seja melhor sem este governo a nos desgovernar, não vê alternativas credíveis. Daí não mostrar indicações claras. Falar de "governo de esquerda" é um mito. Para romper com o governo da tróika que eu defendo é preciso ter alternativa ou se quisermos duas, uma na tentativa da ruptura continuando no Euro e outra em último caso saindo do Euro que não advogo. Nenhuma destas hipóteses está minimammente conceptualizada de forma que um cidadão normal adira por conhecimento, compreensão. Dizem-se umas palavras aqui e ali sem substância. O PS por seu lado ora namora ora se zanga com o namorado. Esteve "à vista", penso eu a tal "salvação nacional" que acho mais próprio apelidar de funeral. E continua tudo como dantes. Também ninguém vê o caminho do PS para a saída do atolamento em que Portugal se encontra. Daí que nos encontremos numa fase muito crítica da vida do pais.As esquerdas até parece que não fzem esforço em detectar algo que possa ser comum e base de partida. As esquerdas como estão a agir não cumprem os mínimos.

2013-08-05

 

SWAP - tal ministra tal secretário de Estado

Joaquim Pais Jorge é o novo secretário de estado do Tesouro, escolhido pela ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, que a decência obrigaria  a imediata demissão de ambos pela sua ligação aos negócios dos swap.  Até 27/06/2013 o governo renegociou alguns swap, antecipando o seu fim tendo para tal entregue mil milhões de euros aos bancos que os impingiram a empresas públicas a troco de nada. Se o contrato fosse com os eleitores, o governo invocava a crise e, é claro, não pagava, mas como o governo é o governo dos mercados, pagou. Pagou mas com o nosso dinheiro, obtido com os subsídios que nos roubou , com mais impostos e novas taxas. E a conta ameaça chegar aos 3 mil milhões.
O Governo de Passos/Portas/Cavaco ou de Cavaco/Portas/Passos, se preferirem, resiste a demitir Joaquim Pais Jorge. Em especial a ministra das Finanças e percebe-se bem porquê, ela própria também contratou swap quando esteve na REFER.
Em Abril deste ano foram demitidos do Governo dois secretários de Estado, Paulo Braga Lino, da Defesa, e Juvenal da Silva Peneda, adjunto do ministro da Administração Interna, por terem  feito contratos swap quando diretores na Metro do Porto e na STCP.

Então é diferente a situação de Joaquim Pais Jorge? É. Cada caso é um caso e o dele não parece ser eticamente melhor.
Enquanto os secretários de estado demitidos tinham nas anteriores funções celebrado contratos swap com bancos Joaquim Pais Jorge tentou nas suas funções de quadro superior do Citibank convencer , ainda que sem sucesso, o governo de Sócrates a realizar esses “excelentes” contratos . Excelentes para o Citibank, claro, e como bónus informava que isso permitia, como fez o governo grego, esconder aos olhos da União Europeia, parte da dívida do Estado.

A situação deste secretário de Estado é diferente das dos outros? É. Os outros foram compradores e este era vendedor e vendedor que tenta convencer oferecendo ao governo português a oportunidade de uma fraude.

Os contratos de swap ditos bons são contratos de seguro de juros. A empresa A pede emprestado ao banco X, a 10 anos, 500 milhões de euros ao juro corrente, digamos 4%. Mas o juro é variável e pode subir ou descer conforme o spread.  Se a empresa receia que o juro pode subir e subir muito nos anos seguintes pode fazer um swap pelo qual troca o juro variável por um juro fixo mais alto que o contratado, mas dentro de um limite que lhe permita pagá-lo. Os swap se não forem “simples” tornam-se complexos!! e são em geral tóxicos. Tóxicos para quem os compra e voluptuosamente “salutares” para os bancos que os vendem. Para isso contratam especialistas financeiros e matemáticos para  inventarem a melhor e mais indecifrável  fórmula que garanta ganhos para o banco 10 ou 20 vezes maiores do que os que possam ocorrer para o comprador se a evolução dos juros for favorável a este.
A partir de certa altura, uma análise da situação política na UE tornava claro que a tendência dos juros na zona euro era para descer. Contratar swaps nestas circunstâncias era mais ou menos como contratar em Dezembro  chuvoso  um seguro contra o risco de Janeiro e Fevereiro se apresentarem secos como o Saara.   
Os Swaps tóxicos e complexos (para esconder a “toxidade”) são portanto negócios de apostas de eficácia garantida para os bancos que os inventam.

Por exemplo num swap tóxico mas não complexo para melhor o “vermos” a fórmula e as cláusulas podem incluir:

se chover 20 dias seguidos no deserto do Calaari (um desgraçado de deserto, no sul de África, onde chove 3 dias por ano de 4 em 4 anos) o banco paga 10 milhões ao comprador mas se tal não ocorrer o comprador paga 100 milhões ao banco. Há compradores para um swap assim? Não. Mas se o dinheiro da compra for do Estado e o banco, sempre pronto a tratar bem os clientes, oferecer ao gestor, não uma agenda, mas uma volta ao mundo, nas férias... o gestor recusa e denuncia o caso à judiciária. Ou não, e dá o passeio. Depende do gestor. Cada caso é um caso.
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Nota: hoje, dia 6 de Agosto, vi aqui um vídeo que ilustra o que aqui foidito.
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2013-08-03

 

Não deixemos que nos roubem


 



Eu
assinei
e tu, se quiseres,
podes fazer o mesmo



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