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2004-07-26

 

Azevedo o grande ponta de Lance

Azevedo e Armstrong Posted by Hello
José Azevedo ficou num honroso 5º lugar na volta à França que hoje terminou em Paris. É o ciclista português melhor classificado na mais importante prova do ciclismo internacional, a seguir a Joaquim Agostinho que conseguiu, em 1978 e 1979, a 3ª posição.
José Azevedo não participou no Tour como um atleta participa numa prova desportiva onde cada um tem como único e supremo objectivo ultrapassar as suas melhor metas e ganhar. José Azevedo estava como hoje estão a maior parte dos desportistas-profissionais, e sem qualquer reparo à legitimidade, a ganhar a sua vida. E na volta à França, infelizmente, direi eu, José Azevedo não podia fazer o seu melhor, dar tudo por tudo, para ser ele o campeão. Ainda que o não conseguisse. Esse objectivo, verdadeiro objectivo do desporto, ele não podia ter. Nem ele nem os outros sete seus colegas de equipa e muitos outros ciclistas em todas as equipas de todas as voltas às Franças. Ele estava ali para ajudar Armstrong a ganhar a Volta. E foi um dos mais diligentes obreiros dessa vitória.

Aproveitando a conotação das palavras em francês em que o nome Lance do texano tem o significado de lança o L'Humanité digital titula
José Azevedo, le fer de Lance
Seul coureur portugais dans le peloton du Tour, cet ancien étudiant en médecine a été recruté par Armstrong pour l’escorter en montagne. Rencontre avec cet équipier modèle.
Saint-Flour, envoyé spécial.
José Azevedo, coursier de l’US Postal, est un peu le Porthos
[referência ao mosqueteiro, companheiro de armas de d’Artanhand, na obra de Alexandre Dumas]de Lance Armstrong, le grand favori de ce Tour 2004. Natif de Vila do Conde, à quelques kilomètres de Porto, - traduzo - o único lusitano do pelotão diz, por exemplo: " O meu objectivo é que Lance Armstrong ganhe o máximo número de vitórias. Nesta equipa, se tu pensas em ti próprio, tu não tens lugar. Em todo o caso, não é possível fazer outra coisa quando se tem o patrão do ciclismo mundial na nossa equipa" E mais adiante num registo não muito lisonjeiro - alguns franceses são um bocadinho sobranceiros - continua: "tudo isto para dizer que o nosso homem se contenta sem nenhuma mágoa do seu papel de "fer de Lance".

Sabemos o que é o mundo e poderá parecer "naif" prestar atenção a conceitos ou situações que de tão triviais e inelutáveis nos nossos quotidianos já não causam nenhum escândalo.
Ouvia um destes dias na TV uma das nossas celebridades do futebol dizer com ar naturalíssimo "fui comprado por tanto", "fui vendido àquele clube por tanto". O tanto é sempre muito dinheiro mas o que quero que me escandalise neste momento não é as somas astronómicas que são o contraponto da miséria obscena de milhões de seres humanos é o à-vontade com que uma pessoa aceita dizer de si que foi comprada e foi vendida. Claro que não me comove a situação em que ficam algumas destas mercadorias - e uso o termo sem réstea de ofensa - que ganham por mês o que um vulgar portuga não ganhará a vida toda.
Diferente, mas no mesmo mundo das mercadorias, com venda e compra, é a reportagem que hoje mesmo vi na SIC Notícias:
Que idade tem? 16 anos. Também teve de se prostituir? Também. E você? Tenho 18. E...? Igual. E você? Tenho 23. Também sou albanesa e vim aqui para a Bósnia contratada para lavar panelas. E então? Então fui vendida. Aqui o patrão da casa de alterne deu dinheiro por mim. Não quer perder o seu dinheiro. Mas... e não fugia porquê? Bom todas fugimos, umas antes outras depois, umas daqui outras dali. Por isso é que estamos todas agora nesta prisão. Mas não se queixavam à polícia? A polícia está feita com os nossos donos. Com os que nos venderam e com os que nos compraram. Fugíamos e entregavam-nos ao patrão. Fomos todas vendidas!

Não teremos aceitado com excessiva complacência a mercantilização dos Homens e das Mulheres? Das nossas vidas e das nossas consciências?

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