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2004-07-27

 

Comentarismo politico (3)


[Henri Matisse, 1939, La Musique]


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O ideal para a plêiade de comentaristas da direita erudita (MRS, JPP, VGM) ou da direita menos erudita (LD, LX), seria que os governos da direita governassem efectivamente à direita, desequilibrando (ainda mais) o acesso aos recursos disponíveis (materiais e imateriais) em favor de alguns grupos empresariais (das “classes média alta” e “Alta”, pela ordem inversa), do “país empreendedor”, dos “criadores de postos de trabalho” e das “forças vivas”.

Depois, quando a governação desse para o torto (e dá sempre para o torto!), a “esquerda alternante e credível” deveria ocupar o “centro”, isto é, prometer medidas políticas moderadoras dos "excessos" da direita radical, resistindo à tentação de governar à esquerda, para não assustar o “eleitorado do centro”.

Perfeito! As políticas de esquerda vão para a gaveta, como outrora foi o socialismo, e ficamos condenados a umas pitadas de “luta contra a pobreza”, RSI em vez de RMG, formação ao longo da vida  -  que não interessa muitos aos patrões que apostam em resultados imediatos e não têm, sequer, nas suas intenções, uma planificação de médio prazo.
 
O fenómeno político eleitoral da “percentagem flutuante” que ora dá maiorias ao PS, ora ao PPD/PSD, é encarado com a ligeireza que convém aos arautos do “centro”.
 
Há uma entidade eleitoral estável por detrás da derrota do PPD/PSD em 1995, e do PS em 2002?

Será por causa de o PPD/PSD ou de o PS anunciarem, em campanha eleitoral, que vão governar ao “centro”, que conseguem captar a tal “percentagem flutuante” a que alguns chamam o “eleitorado do centro”?

Improvável. Guterres viu aumentar a influência eleitoral entre a 1ª e a 2ª legislatura. Desistiu quando os uivos dos lobbies irromperam no interior do Governo. José Barroso afirmava solenemente, antes de eleito, que não autorizaria nem mais uma grande obra enquanto os velhinhos e as crianças não tivessem uma vida digna...

Onde é que o “eleitorado do centro” está acampado agora? No centro ou nos subúrbios? Nas florestas a arder ou à espera de aumento vai para mais de dois anos? No desemprego em crescendo ou nas filas de espera dos hospitais SA?  À espera do choque fiscal ou orgulhoso da consolidação orçamental?

Aquelas e aqueles que se sentem enganados, feridos, desapontados e, muitas vezes, traídos; muitos dos que infligiram a maior derrota de sempre à direita de José Barroso e Paulo Portas, nas eleições para o PE, votarão outra vez, à esquerda, provavelmente,  em próximas eleições legislativas.
 
Continuarão, alguns, a chamar-lhe o “eleitorado do centro”.  Obviamente... à falta de melhor.

Comments:
Voltei hoje à leitura do teu artigo. ( Artigo dá mais ares de jornal do que post. Coisa mais séria.)O tema é aliciante e obriga a pensar. A esforço. O q, em fins de Julho, desanimará qq comentarista ansioso de férias. Nos tempos do comunismo, os seus adeptos acusavam os socialistas/social-democratas (s/s-d)de serem uma espécie de sedativo do capital (ou do grande capital.
Quando os governos de direita após esvasiarem os cofres do Estado ou esgotarem o ciclo económico de vacas gordas se desmascaravam e esgotavam a paciência do eleitor com a defesa dos interesses dos grandes, perdiam as eleições que se seguiam dando no Governo, o lugar aos s/s-d. Estes, por vocação, segundo os comunistas, e invocando o esvasiamento dos cofres do Estado ou o ciclo económico de vacas magras, faziam uma governação de aperto de cinto. Os trabalhadores e classe média baixa enganados com a falsa propaganda dos s/s-d de que eles eram os defensores dos seus interesses, aceitavam os sacrificios na esperança de que com melhores tempos seriam beneficiados com uma melhor distribuição da riqueza entretanto criada. Com o correr do tempo nada tendo mudado,a distribuição da riqueza seguindo os padrões do costume e iniciando-se o ciclo económico de retoma, voltava a vez da direita regressar ao Governo. A direita assumia então a demagogia de defesa dos pobres, denunciava os intrujões dos s/s-d e prometia o céu aos escalões sociais de baixos rendimentos e...ganhava as eleições.
Era o que os comunistas munidos da "ciência" marxista-leninista e do proverbial sectarismo diziam. Com alguma razão, diga-se de passagem, particularmente no período da grande confrontação entre o mundo/sociedade capitalista e o mundo/sociedade comunista em perspectiva.
Para se ganharem eleições é necessário obter mais de 50% dos deputados que entre nós com o método de Hondt se aproxima de 50% de votos. É necessário com ou sem alianças de partidos juntar votos da esquerda do centro e pelo menos um pouco mais. Aqui o conceito de centro é puramente geométrico. Para isso é necessário ter um programa político do centro? Centro, agora na concepção política: políticas da direita com pozinhos de esquerda? Acho que não. Acho que tal desiderato (>50% de votos em eleições)é atingível com um programa de esquerda definido por um conjunto de políticas concretas suficientemente claras para servirem de bandeiras e que sirvam interesses de classe dos mais desfavorecidos e das classes médias (médias-médias e médias-baixas. Esta gentinha toda é numérica e sociológicamente bastante mais do que os 50% de eleitores necessários. Assim a esquerda saiba vender o seu peixe e consiga convencer de que não se trata de peixe podre.
 
É claro que nem todos utilizamos o termo "centro" com o mesmo conteúdo. Por isso mesmo, propus uma interpretação encostada aos discursos de alguns comentaristas políticos de direita. Quando MRS classifica Sócrates como o candidato do centro dentro do PS, está a fazer uma avaliação do sentido global das políticas que o acha capaz de defender. Para os pseudo-centristas, tal como eu os entendo, trata-se de ir "aperfeiçoando" o sistema político e as instituições reguladoras, sem grandes rasgos reformistas, cedendo sobretudo aos interesses socio-económicos financeiramente polarizados. A esquerda, em tese, deveria ir um pouco (?) mais longe, sendo capaz de afrontar interesses para cumprir os desígnios de justiça social e de efectivo combate à exclusão, de que é (ainda) historicamente portadora.

A história dos 50% é mais complicada.
Acho que a "exigência" dos > 50% faz parte de uma teoria geral da "estabilidade" política, em que, para governar à vontade, se procura "apagar" (ou dissimular ?) a dinâmica democrática no Parlamento, evitando uma fiscalização séria sobre o Executivo.
Como conseguir, então, 50% ou mais dos votos expressos sem defraudar, enganar ou traír alguém?
É o fado dos "catch all parties" que recorrem à mentira para arrebanhar votos, baralhando muitos dos que lhes dão a sua confiança, confundindo técnica e ética, sempre prontos a chorar lágrimas de crocodilo nas areias da oposição, quando voltam a perder o poder.
Pode parecer, às vezes, uma fatalidade. Todavia, tu sabes, tão bem ou melhor do que eu, que é apenas uma forma de fazer política...
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