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2004-07-18

 

Mas..., onde está o centro?  ( II )


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[João Soares a caminhar... em frente]


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1. O Governo tomou posse. Não posso adiantar mais nada. O Raimundo Narciso, no seu blog pessoal Memória do Presente, saciou-nos a curiosidade com  os pormenores mais rocambolescos dos bastidores da cerimónia. Lê-lo, torna-se divertido e instrutivo...
 
2. João Soares mantém a candidatura a secretário geral dos socialistas. Foi ao congresso da JS. Diz que vai ganhar e que a notoriedade de José Sócrates lhe vem do palco televisivo. Eu pergunto: não haverá mais diferenças?
 
3. Paulo Portas irritou o PSD/Madeira ao declarar que o ciclo de Alberto João tem de acabar, está esgotado, etc. Porque não terá Paulo Portas sido capaz de dizer coisa semelhante sob a batuta de José Barroso? Será que está mais à vontade agora? Tem um pouco mais de poder?
 
4. O que têm as três notas anteriores a ver com a problemática do "centro" político, fica para um próximo post. 
 

Comments:
Gostaria de rectificar o ponto 3. Quem afirmou que os modelos político e económico da Madeira estavam esgotados foi o lider do CDS/PP regional, José Manuel Rodrigues. Portas só disse que o «ciclo do actual sistema» estava à beira do fim, ou seja, o jardinismo e que o futuro pertencia aos populares. Este dualismo de comportamentos deve-se ao facto da Coligação viver na Madeira um caso sério de esquizofrenia política.
Já agora, sabem onde é que o CDS/PP comemorou os 30 anos de partido? No Funchal, numa quinta chamada Magnólia, antigo Clube Inglês, privadissimo até dizer basta(os madeirenses estavam proibidos de lá entrar), e expropriado por Alberto João Jardim, no pós-25 de Abril, para «devolver ao povo», sendo hoje um espaço de lazer público. Há ironias do destino muito engraçadas.
Sara
 
Obrigado à Sara pela correcção e pela constextualização. Talvez nos ajudasse a compreender melhor o que se passa se nos dissesse porque considera o CDS/Madeira uma força esquisofrénica. Ficamos a aguardar.
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A esquizofrenia popular revela-se no seguinte:
Na Madeira, as alianças nacionais, desde ao Bloco Central, passando pela AD e pela actual coligação PSD/PP, nunca funcionaram porque o partido de Jardim, desde 1976, governa em maiorias absolutas e bipolarizou a sociedade madeirense entre os do partido do poder (leia-se PSD) e os outros, catalogados de frentismo, ou seja, os que "estão contra o desenvolvimento da Madeira Nova», como diz Jardim. E isto abrange, em pacote, o PS, PCP, UDP e CDS/PP, representados no parlamento regional e facilita o discurso e a prática do PSD na região.
Por tudo isto, sem esquecer o passado histórico, o CDS de Paulo Portas é obrigado a fazer um discurso anti-regime na Madeira, contra o PSD, caso contrário perde eleitorado regional, pois, desde sempre, o CDS tem sido oposição a Jardim. Por exemplo, recordo que foi o CDS/PP que denunciou a "falcatrua" de uma Fundação Social Democrata, sediada no Funchal, que detém todo o património do PSD/Madeira, que recebe dinheiros para o partido, e que foi considerada de utilidade pública, com o mesmo estatuto de isenção fiscal de um lar de terceira idade ou instituições do género.
Recordo, ainda, que, em 1992, quando o PS mediatizou a questão do défice democrático, problema levantado por Mário Soares na campanha das presidenciais de 1991, o CDS Madeira, então liderado por Ricardo Vieira, propôs que os partidos da oposição não deveriam concorrer às eleições regionais desse ano, por não haver garantias de liberdade e exercício da democracia. O PS e o PCP rejeitaram a ideia.
Desculpe a conversa longa mas, infelizmente, existe algum desconhecimento nacional sobre a realidade desta ilha. Na Madeira, ou somos do PSD ou da oposição. Tão simples quanto isto. A questão ideológica ou a divisão esquerda/direita quase desapareceu. Cheira a antigamente, não é verdade? Mas é assim. Quando falei do esquizofrenismo do CDS/PP, referia-me à dualidade de comportamentos, discursos e atitudes exigíveis pela situação. Prometo contar mais histórias sobre esta região, cuja pérola foi dada aos porcos.
Sara
 
Saltou-me uma frase no comment anterior.
"
O CDS/PP em 1992 propôs ao todos os partidos da oposição madeirense que não concorrem às eleições regionais desse ano, por não haver condições de liberdade. O PS e o PCP rejeitaram a ideia».
Sara
 
Achei muito interessante a caracterização que fez da política madeirense. Volte mais vezes.

Quais têm sido as reacções ao novo Governo?

Dado que já sabe que alguns de nós não acompanham com suficiente atenção a vida amdeirense, como é que os madeirenses acompanham o que se passa no resto do país (Açores e Continente)?
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No Continente só sabemos da Madeira o que as TV dizem e elas só dizem o que o Grande Palhaço diz. Claro q já sabemos q o GP não é parvo e as palhaçadas que faz são palhaçadas populistas, q ele julga q podem dar votos.
Portanto faz umas coisitas boas como essa de dar o palácio ao povo (que se calhar muito democrata não teria feito!)para melhor fazer o resto. Estou certo ou estou errado!
João da Ega
 
A expropriação da Quinta Magnólia, propriedade de uma família inglesa, - os reais e verdadeiros colonizadores da ilha - por parte do governo regional da Madeira, foi, durante muitos anos, o simbolo da autonomia. Jardim fazia questão de lembrar a exploração desses senhores, enquanto donos das terras em sistema de colonia, terrenos adquiridos, muitas vezes, com base em hipotecas feitas por emigrantes que não conseguiam pagar a viagem para a Venezuela e a Africa do Sul. Acontecia que as agências de viagens estavam nas mãos dessas famílias inglesas que, muito "caridosamente", adiantavam a passagem. O pagamento, esse, caso tardasse, era reconvertido em património. E assim se fez fortunas.
Esta prática de Jardim, contra os ingleses, que até eram donos da água de rega, calou a esquerda. O fim do regime feudal a que a Madeira estava votada até ao 25 de Abril, regime de colonia, foi extinto nos anos seguintes à revolução. Em todas as campanhas eleitorais, Jardim faz questão de dizer que a unica reforma agrária com sucesso, neste país, aconteceu na Madeira. «Demos a terra a quem trabalha», grita, ou seja, mais uma vez cala a esquerda.
Só mais um exemplo para perceber a prática do lider madeirense que, por estratégia, varre os campos da esquerda à direita, como um eucalipto que suga tudo ao redor.
Na saúde, desde 1976, que o sistema adoptado foi convencionado. Ou seja, a ordem dos médicos na Madeira assinou um protocolo com o governo. Isto significa que o preço das consultas está tabelado. Nem mais um euro é permitido cobrar aos doentes. Nenhum médico pode levar, por consulta, mais de 50 euros, seja ou não especialista. Por outro lado, o utente pode escolher o médico que entender. No fundo, todos estão convencionados, incluindo as clínicas. Até os exames auxiliares de diagnóstico estão tabelados.
Nos idosos, os que recebem pensão mínima, têm um regime especial que os isenta praticamente do pagamento de medicamentos e são reembolsados em quase 40 por cento do preço da consulta. Mais uma vez, isto calou a esquerda. A direita, caso do CDS/PP Madeira, é que chama despesismo a estas práticas, alegando que elas permitem negócios e promiscuidade entre público e privado, ao que Jardim responde chamando-os de fascistas. Portanto, este é só um preâmbulo de, uma parte, da história madeirense destes 30 anos. Na Madeira não há centro. Ou seja, não há partidos dobradiças.
Qualquer dia, faço um comment, mais curto - prometo - sobre a política nacional vista de longe. E parabéns pelo blog.
Sara
 
Estou longe aqui por Angola, mas folgo muito que a minha terra tenha vindo a debate. Infelizmente não reuno grandes condições para nele participar. Apenas quero manifestar a minha concordância com a ideia que vi expressa nos comments da Sara com a qual concordo: o processo político, institucional e sócio-económico é muito mal analisado e compreendido no Continente a todos os níveis: pelos políticos e pela comunicação social.
 
Esta desafio do Manuel sobre o centro e o centrão é muito oportuno tendo presente as actuais corridas no PS à disputa da liderança.
Proponho que entrosemos na conversa a questão do factor media na disputa do poder e no seu condicionamento. Aliás é um tema em que Manuel Correia é especialista. Ofereço-lhe assim a escolha da arma para os duelos (múltiplos duelos porque aqui no PUXA PALAVRA é todos contra todos). Fez mestrado sobre comunicação social e agora faz doutoramento. Mas isso não me impressiona nada e aqui estou para o combate;-))))
 
Alguém explica onde fica a "ala esquerda e moderna do PS" que Helena Roseta tanta fala? Quem são, o que representam? É este o grupo que promete apresentar moção e candidatura, sobretudo contra Sócrates, contra o nome "feito" pela comunicação social, como refere a antiga deputada do PSD?
Afinal, porque razão a senhora arquitecta aceitou falar para aos microfones da TSF?
João Pedro
 
Apoio a sugestão do Raimundo Narciso. O "eleitorado do centro", o "centrismo" e o "centrão". Somos todos especialistas na matéria. Vamos a isso!

O João Pedro interroga-se sobre a razão que terá levado Helena Roseta a "aceitar" falar para a TSF. Eu suspeito. Se ela não falasse para uma rádio, uma TV, ou para os jornais, quem saberia o que ela disse?

Desejo, como o João Pedro, conhecer melhor as propostas, as ideias, o programa de cada concorrente a SG do PS. Até agora, soube-se pouco. Todavia, há duas questões que podem ser lançadas desde já: como é que os candidatos a SG do PS caracterizam o eleitorado que aparentemente lhes falta para repetirem ou aproximarem os resultados das últimas eleições para o PE? O que tencionam continuar ou corrigir relativamente à experiência do Governo Guterres?

Se as moções de estratégia e outros documentos afins só vierem a ser discutidos no Congresso, então já será demasiado tarde (ou demasiado cedo?). Aí, o SG já deverá ter sido eleito...

É cada vez mais difícil tratar das questões partidárias em "vaso fechado". A desadequação e o arcaísmo das estruturas partidárias, herdadas do século passado, traduz-se também nestas delongas dos candidatos. Dirão algo do que pensam quando chegar o "momento próprio". Défice de transparência.
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