2004-08-06
As eleições no PS (3) - A política de alianças
Uma das relevantes questões que está a animar a discussão entra as candidaturas de Manuel Alegre e José Sócrates é a da política de coligações a seguir no caso de, nas próximas eleições legislativas, o PS não dispor da maioria absoluta de deputados na AR para formar governo sozinho. Note-se que qualquer dos candidatos recusa qualquer coligação pré-eleitoral e defende que o PS se deve bater por ter essa maioria absoluta, rejeitando, se a tiver, qualquer coligação pós-eleitoral.
Para Manuel Alegre, é fundamental que tal política de alianças seja desde já definida e apresentada aos militantes e ao País, declarando também desde já a sua intenção de fazer coligações com o PCP e /ou o Bloco de Esquerda.
Para José Sócrates, o que é fundamental, neste momento, é mostrar vontade, determinação e confiança para conquistar a referida maioria absoluta, com base num programa e numa campanha eleitoral mobilizadores da maioria dos eleitores, considerando, por isso, prematuro estar-se já a pôr outras hipóteses que, em seu entender, traduzem insegurança e falta de confiança nos eleitores, e enfraquecem as aspirações do PS.
Manuel Alegre, a esta posição de José Sócrates, lança a suspeição de este poder vir a fazer coligações com o PSD ou com o CDS, ou a recorrer a soluções do tipo “queijo limiano”.
Pessoalmente, parece-me a posição de Sócrates politicamente muito mais forte e consistente com o interesse e a estabilidade do País, com os legítimos objectivos do PS e com a vontade dos militantes, não enfraquecendo à partida, inclusivamente, o possível efeito do apelo ao voto útil no PS. Já no caso da posição de Manuel Alegre, parece-me ser mais forte a sua convicção na possibilidade de uma coligação pós-eleitoral à esquerda do que na possibilidade de o PS conquistar uma maioria estável para governar.
Por outro lado, não me parece correcta e justificada a suspeição lançada por Manuel Alegre, que nem sequer concedeu a José Sócrates a hipótese de este pretender fazer uma coligação à esquerda, no caso de tal se vir a mostrar necessário. É que, ao entrar neste campo das suspeições, Manuel Alegre tem de aceitar que também se levante a suspeição de que, no fundo, o que deseja é que o PS não tenha maioria para governar sozinho, tanto mais que já declarou que, se fosse hoje, teria dúvidas em aderir ao PS.
Mas, suspeições à parte, a posição de Manuel Alegre sobre a política de coligações pós-eleitorais só é clara aparentemente, pois não esclarece com qual dos dois partidos faria prioritariamente coligação, assim como não esclarece que compromissos ou cedências em relação ao programa do PS estaria disposto a assumir para concretizar tal coligação. Assim como não esclarece também o que faria se tal coligação à esquerda se mostrasse inviável, para além da sua patética declaração de que pediria, pelo facto, responsabilidades a essas esquerdas. E depois? Será que desistiria e entregaria o poder à direita? Faria um governo minoritário? Faria uma coligação à direita? Recorreria à solução “queijo limiano”?
Quer isto dizer que, para além dos argumentos aduzidos por José Sócrates, nem sequer me parece legítimo exigir a qualquer candidato à liderança de um PS que quer ter um programa de progresso económico e social viável e mobilizador para o País, e que aspira a conquistar uma maioria estável para governar, que especifique neste momento, a dois anos das eleições legislativas e dadas as múltiplas hipóteses que se podem colocar, face aos programas eleitorais dos vários partidos concorrentes e face aos resultados eleitorais, qual a política de coligações concretas que vai seguir.
Mas então não haverá nada a dizer agora sobre esta matéria?
Pela minha parte, o que gostaria que os candidatos dissessem neste momento era que, em qualquer caso, o PS jamais fará uma coligação pós-eleitoral que não assegure a concretização do essencial do seu programa eleitoral. Para concretizar o programa de outros e assumir depois as responsabilidades, melhor será serem esses outros a governar. Se os eleitores lhes derem esse mandato, evidentemente.
Para Manuel Alegre, é fundamental que tal política de alianças seja desde já definida e apresentada aos militantes e ao País, declarando também desde já a sua intenção de fazer coligações com o PCP e /ou o Bloco de Esquerda.
Para José Sócrates, o que é fundamental, neste momento, é mostrar vontade, determinação e confiança para conquistar a referida maioria absoluta, com base num programa e numa campanha eleitoral mobilizadores da maioria dos eleitores, considerando, por isso, prematuro estar-se já a pôr outras hipóteses que, em seu entender, traduzem insegurança e falta de confiança nos eleitores, e enfraquecem as aspirações do PS.
Manuel Alegre, a esta posição de José Sócrates, lança a suspeição de este poder vir a fazer coligações com o PSD ou com o CDS, ou a recorrer a soluções do tipo “queijo limiano”.
Pessoalmente, parece-me a posição de Sócrates politicamente muito mais forte e consistente com o interesse e a estabilidade do País, com os legítimos objectivos do PS e com a vontade dos militantes, não enfraquecendo à partida, inclusivamente, o possível efeito do apelo ao voto útil no PS. Já no caso da posição de Manuel Alegre, parece-me ser mais forte a sua convicção na possibilidade de uma coligação pós-eleitoral à esquerda do que na possibilidade de o PS conquistar uma maioria estável para governar.
Por outro lado, não me parece correcta e justificada a suspeição lançada por Manuel Alegre, que nem sequer concedeu a José Sócrates a hipótese de este pretender fazer uma coligação à esquerda, no caso de tal se vir a mostrar necessário. É que, ao entrar neste campo das suspeições, Manuel Alegre tem de aceitar que também se levante a suspeição de que, no fundo, o que deseja é que o PS não tenha maioria para governar sozinho, tanto mais que já declarou que, se fosse hoje, teria dúvidas em aderir ao PS.
Mas, suspeições à parte, a posição de Manuel Alegre sobre a política de coligações pós-eleitorais só é clara aparentemente, pois não esclarece com qual dos dois partidos faria prioritariamente coligação, assim como não esclarece que compromissos ou cedências em relação ao programa do PS estaria disposto a assumir para concretizar tal coligação. Assim como não esclarece também o que faria se tal coligação à esquerda se mostrasse inviável, para além da sua patética declaração de que pediria, pelo facto, responsabilidades a essas esquerdas. E depois? Será que desistiria e entregaria o poder à direita? Faria um governo minoritário? Faria uma coligação à direita? Recorreria à solução “queijo limiano”?
Quer isto dizer que, para além dos argumentos aduzidos por José Sócrates, nem sequer me parece legítimo exigir a qualquer candidato à liderança de um PS que quer ter um programa de progresso económico e social viável e mobilizador para o País, e que aspira a conquistar uma maioria estável para governar, que especifique neste momento, a dois anos das eleições legislativas e dadas as múltiplas hipóteses que se podem colocar, face aos programas eleitorais dos vários partidos concorrentes e face aos resultados eleitorais, qual a política de coligações concretas que vai seguir.
Mas então não haverá nada a dizer agora sobre esta matéria?
Pela minha parte, o que gostaria que os candidatos dissessem neste momento era que, em qualquer caso, o PS jamais fará uma coligação pós-eleitoral que não assegure a concretização do essencial do seu programa eleitoral. Para concretizar o programa de outros e assumir depois as responsabilidades, melhor será serem esses outros a governar. Se os eleitores lhes derem esse mandato, evidentemente.
Comments:
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Seria fantástico que cada candidato a SG apresentasse as suas linhas programáticas na Praça Pública para de facto possibilitar uma tomada de posição das pessoas. Para mim tem pouca importância, a questão das coligações. Como independente de esquerda só votarei nas eleições no PS se o programa me agradar em ideias e perspectivas de concretização minimamente. Por isso o meu interesse é saber quais as prioridades de um governo PS e como pensam atacá-las. Questões como a fiscalidade, o aborto, a regionalização, a competitividade da economia, será pela abordagem destas questões que os candidatos podem demonstrar as diferenças e sair para fora do PS, que penso que é o importante.
Pôr a tónica na definição de coligações formais é reducionista e sem perspectivas, é uma linguagem de merceeiro, agora (que me perdoem os merceeiros). O fundamental é debater ideias sobre prolemas concretos que afectam a sociedade portuguesa e apontar como os resolver, porque face a ideias pode haver "adesões" de forças sociais que levem a uma ampliação da base eleitoral.Seria interessante os candidatos abordarem como vão inverter a situação de uma economia que entrou em perda de competitividade estrutural. É um tema estruturante, sobre o qual se dizem verdadeiras banbochatas a nível político. Aboedem-no, debatam-no, queremos saber as diferenças de abordagem e o impacte delas na solução.
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Estou de acordo com as sugestões dos comentadores anteriores. Porém, não me parece mal que escalpelizemos, de entrada, as questões de orientação geral.
Fiscalidade, aborto, regionalização, competitividade, crescimento e desenvolvimento económico, logo a seguir.
Vamos a isso.
Porque será que o PS elege primeiro o seu SG e só depois passa à discussão e aprovação das moções de estratégia?
Estarei a compreender bem?
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Estou de acordo com as sugestões dos comentadores anteriores. Porém, não me parece mal que escalpelizemos, de entrada, as questões de orientação geral.
Fiscalidade, aborto, regionalização, competitividade, crescimento e desenvolvimento económico, logo a seguir.
Vamos a isso.
Porque será que o PS elege primeiro o seu SG e só depois passa à discussão e aprovação das moções de estratégia?
Estarei a compreender bem?
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