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2004-08-19

 

Enigmas à solta (1)


Gravações em papel»]


Eu sei que as «cassetes roubadas» põem à prova a justiça portuguesa e que Souto Moura esteve à espera que a direcção do Correio da Manhã declarasse ter destruído as gravações «originais» para «desistir» de uma busca para apreendê-las. Sei, também, que Octávio Lopes e o seu jornal tiveram uma conduta repreensível, com ilegalidades à mistura. Sei, ainda, que O Independente, ao decidir publicar extractos das alegadas gravações visou sobretudo Souto Moura, através de Sara Pina, e Adelino Salvado, sendo descaradamente parcial e indecorosamente selectivo. Saber isto tudo, todavia, não me adianta nada em relação ao conhecimento que tenho do modo de actuação de alguns jornalistas, de alguns jornais (as direcções, sobretudo) e de uns e de outros quando assumem os papeis de «fontes» ou de agentes noticiosos manipuladores/manipulados por elas.

Porém, não sei porquê, Fernando Negrão, demitido de director da PJ por ter «avisado» que iria à Universidade Moderna uma semana depois, foi, logo após,
nomeado para a direcção de um instituto público, aí permanecendo em «banho manel» até Santana Lopes o promover a ministro do actual Governo. A direcção do DN e o Governo de então, apertaram a jornalista a quem Fernando Negrão «soprara» o timing da PJ, e as pressões foram tais que ela (a jornalista, obviamente) acabou por desandar. Tudo isso, é claro, sem quaisquer cassetes pelo meio...

Agora, que por um acto de pura censura interna - não, nem sequer é a «censura oculta» de que falava Paquete de Oliveira na sua tese de doutoramento - o DN se tornou de novo uma casa de doidos, com receio pavoroso de desfavorecer o actual Governo (leia-se, a propósito, um artigo da concorrência aqui), tendo levado já à demissão de outra jornalista (Graça Henriques), porque não «juntar as pontas»? Neste caso trata-se também de uma «gravação», porém já publicada na época, em papel, no «Semanário».

Desafio aos leitores:
O que têm em comum estes três casos?
(Demissões de Fernando Negrão, Adelino Salvado e Graça Henriques)
Quais as diferenças?

Comments:
Já agora porque não falar no "poder" de doze anos de Cunha Rodrigues e das alegadas escutas, talvez fabricadas? Serviram a quê?
Não é correcto fazer associações entre os três casos. Há que não baralhar. É contra-informação. É preciso ter cuidado. A bagunça no jornalismo já começou há muito tempo. E as responsabilidades são várias. Todos querem, ou quiseram, controlar os jornalistas, dentro e fora das redacções. Ainda há pouco tempo um texto no Público não foi publicado por ordem do director portanto, cheira a má fé o comentário em relação ao DN, como se fosse um caso isolado.Há que ter uma visão de fundo e não estigmatizada. Será que no tempo de Saramago o DN é que era bom?
João José
 
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O João José (a quem saúdo) não aceitou o desafio que lancei e que consistia no exercício de apontar semelhanças e diferenças entre as três demissões referidas. OK. Prefere deixar, ele próprio algumas perguntas: a) as alegadas escutas a Cunha Rodrigues; b)o DN no tempo de Saramago.
Opina que «Não é correcto fazer associações entre os três casos» e que «Todos querem, ou quiseram, controlar os jornalistas, dentro e fora das redacções.»
Informa, ainda, que «Ainda há pouco tempo um texto no Público não foi publicado por ordem do director», concluindo que «portanto, cheira a má fé o comentário em relação ao DN, como se fosse um caso isolado.»

Quanto à incorrecção das associações, não estou de acordo com João José. Expô-lo-ei no próximo post sobre o assunto.
Relativamente às alegadas escutas a Cunha Rodrigues, como não houve, na altura, transcrições a circular nos media, peço desculpa mas não vejo onde quer chegar.
No que respeita ao DN do tempo de Saramago, suponho que deveria ser horrível, pois o Saramago não se manteve como Director e ninguém o voltou a propor para o lugar.
Não me espanta que no PÚBLICO façam o mesmo. Mas lançar o alvitre não corresponde propriamente a uma informação.
Finalmente, garanto que não há má fé da minha parte. Prová-lo-ei ao longo da conversa. Ouso supor que o cheiro a má fé deve chegar-lhe de outro lado.
 
O que me espanta mais nesta história das cassetes, é o facto de algumas pessoas discutirem e criticarem mais o comportamento dos jornalistas e dos jornais (seja do Octávio Lopes, do Correio da Manhã ou do Independente), do que os comportamentos do Director da PJ e do PGR. Para mim, neste caso, a gravação não autorizada de conversas, o roubo (?) de cassetes ou a divulgação de partes do seu conteúdo, embora também me preocupem, são comportamentos muito menos graves do que os praticados por instituições da responsabilidade da PJ e da PGR. Estes, muito mais do que aqueles, são claramente susceptíveis de pôr em sério risco o nosso ainda incipiente Estado de Direito Democrático.
 
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