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2004-08-20

 

Enigmas à solta (3)


[Ah!, les cannards, les canards!]
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Tornou-se evidente que a dimensão comunicativa da vida social se desenvolveu e afeiçoou àquilo a que chamamos o sistema mediático, hoje quase inteiramente entrelaçado nas redes de informação e comunicação globalizadas. Onde o Rei enviava o arauto, os poderes de hoje fazem um plano de meios, definem uma estratégia comunicacional, vão à televisão, mandam fazer press releases, sugerem entrevistas, etc. Na Era da Comunicação Global, as fronteiras do Estado surgem mais esbatidas. As funções do Estado ganharam uma geometria variável, abarcando também instituições privadas, de acordo com contratos-programa, privatizações parciais, e financiamento de actividades de «Serviço Público».

Então, e nos jornais, como é?

Alguns pensadores hipermodernos (com JPP quase sempre à frente) zurzem o jornalismo e os jornalistas, fingindo não perceber que a gestão das rotinas jornalísticas é estritamente hierarquizada, e que os modelos jornalísticos são, antes de mais, os modelos aceites ou impostos pelas direcções e chefias das redacções, de acordo com directrizes cuja formulação, apesar de patente nos respectivos livros de estilo, não dispensa, como muito bem se tem visto, uma ou outra firme correcção, quando necessário. Um comum entendimento sobre o que é (ou deve ser) a estabilidade, a funcionalidade, a convencionalidade e o Segredo de Estado, - com ou sem o «Segredo de Justiça» lá dentro -, atravessa ideologicamente as fronteiras entre o Estado dos velhos manuais e o Estado do nosso tempo. Com o financiamento da SIC e da TVI, a título de compensação pela quota parte de «Serviço Público», ficará melhor ilustrada a medida em que o sistema mediático se intersecciona com o sistema político.

Acho, pois, que neste aspecto, os comentadores do meu antepenúltimo post «Enigmas à solta (1)» - João José e Mário Lino - têm razão, cada um à sua maneira, (é claro).

Porque as manchetes, as fotos, as legendas, o espaço disponível, a interpretação do que é a actualidade, a paginação, a visibilidade, a acessibilidade, e a agenda, constituem os elementos de conversão da «realidade» que, pela sua decisiva importância, são directa ou indirectamente vigiados por quem detém o poder num jornal, constituindo, em muitos casos, reserva das chefias. Aquém e além dos constrangimentos de mercado, qualquer jornalista sabe isso. O exercício dos poderes, (incluindo o político), passa também pelas direcções e redacções dos jornais. Obviamente. Porém, não passa de uma forma clara e estável. As lógicas empresariais e a alternância política destilam um pacto em negociação permanente.

Basta olhar e... ver.

Comments:
Este p+ost está um bocado professoral. Não vá por aí, amigo. O primeiro desta série estava bem melhor.

Luis Porfírio
 
Mais do que nunca, é urgente rever o filme de Sydney Pollack, "Absence of Malice", (A Calúnia), com Paul Newman e Sally Field, uma referência de culto para qualquer profissional de Redacção pela abordagem séria das relações pessoais e institucionais, poder da Imprensa, manipulação de informação, histórias deliberadamente orquestradas e a facilidade com que se "vende" ao jornalista a miragem de uma "cacha".
Como jornalista que sou, cheio de dúvidas sobre o exercício da profissão nos tempos que correm, sugiro o visionamento deste filme.
Se os jornalistas não pararem para pensar - está na altura de fazer um Congresso, questionar o sindicato, o conselho deontológico, as direcções e administrações dos orgãos de informação - e colocar tudo a nú. A suspeita é o pior dos anátemas.
Não cabe ao jornalista denunciar seja quem for, em registo pidesco. Qualquer dia, admite-se a existência de "agentes" das polícias ou de lobbies económicos infiltrados nas redacções. Só falta. Tremo só de pensar nisso. Parece que ninguém aprendeu nada com o caso Watergate. Em Portugal coitado do "garganta funda". Temo que daqui para o futuro, ao lado das cassetes pirata de música pimba vendidas na Feira do Relógio, surga nas bancas uma colecção de fitas seladas sob o título "Press".
Desculpem o anonimato. Mas, também, não me apetece usar pseudónimo. Continuem...estou a gostar de "ouvi-los".
 
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