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2004-08-09

 

Quando o que tem que ser tem muita força (3)


[Cimenteira de Souselas]

1. Chove em Agosto. A evocação de um soneto de Manuel Alegre, «E alegre se fez triste, como chuva que viesse em pleno Agosto». O poeta está agora a braços com aquilo que se presume ser a afirmação da sensibilidade (ou será ala?) esquerda do PS. Não é tanto o cargo de SG que o faz correr, mas o que será do PS venerando e obrigado, atrás de Sócrates, não conseguindo divisar nenhum defeito no novo líder. Mesmo que José Sócrates ganhe, o PS ficará melhor tendo-se visto ao espelho de um debate público em que os socialistas terão tomado consciência daquilo que os aproxima e afasta de outros partidos, - à esquerda e à direita - e de outros projectos políticos, com inúmeros pontos programáticos que ou não são para cumprir, ou são para ir cumprindo até 2020 (estou a pensar na convergência do salário mínimo com as pensões de reforma, por exemplo...).

2. João Soares, daqui a pouco, perguntará (se não perguntou já) a Manuel Alegre se não quer desistir em favor dele. De um modo ou de outro, apesar dos episódios Sérgio Sousa Pinto e José Lello, o saldo parece-me positivo. O apoio de Mário Soares significa também uma demarcação. Algum dia tinha de ser...

3. Os mandatários dos candidatos terão acordado em silenciar alguns temas-tabu. Um deles seria o da co-incineração. Porque seria? Bom, quanto à metodologia da imposição com que o Governo de Guterres quis oferecer-nos o sistema, recordo-me que a postura de José Sócrates foi má. No Congresso do PS que se seguiu, não tendo havido tempo para discutir todas as moções apresentadas (pudera!), decidiram divulgá-las todas, depois... do Congresso. Recordo-me, de cor, de uma delas cujo primeiro subscritor conheço de vista. Intitulava-se «O Barreiro não se pisa. As pessoas estão primeiro, Dona Elisa!». Ele nem queria discutir a fundamentação técnica da proposta de sistema nacional de co-incineração. Estava apenas a insurgir-se contra o autoritarismo e a insensibilidade com o que o processo foi conduzido. A «Dona Elisa» era a independente Elisa Ferreira, Ministra do Ambiente. O Secretário de Estado era José Sócrates. Logo depois, já como Ministro, mostrou-se igualmente inflexível. Até hoje, não percebi se ele, regressado ao poder, seria capaz de voltar a fazer o mesmo.

Comments:
Bem lembrado, sim senhor. O nome do militante socialista que apresentava a tal moção é Caboz. Tabus na discussão dentro do PS? 'Tá de gesso.

Artílio
 
Olá Manuel Correia parabéns pela tua prestação bloguística nesta silly season. Passei hoje por Lisboa e não resisti a deixar um breve commentário. Sobre o Sócrates. Referes a reprovação relativamente à inflexibilidade/insensibilidade revelada pelo ministro Sócrates relativamente a casos da co-incineração. É um aspecto que em geral é negativo e para o qual chamei a atenção no meu post sobre o candidato em 16 de Julho, lá para os fundos do blog. Mas lembro-me que na altura apreciava a "inflexibilidade" de Sócrates até porque ela fazia a diferença para a permanente concertação e diálogo do Guterres que acabava por deixar ir pela pia abaixo as melhores metas do Governo sempre que pela frente se levantava a gritaria dos media (reflexo dos interesses). Um amigo meu reprovava com muito acerto e uma frase lapidar essa conduta: "Ele (Guterres)não aguenta a gritaria". A co-incineração não seria a melhor solução do mundo mas parece que era melhor do que não fazer nada. Manuel Alegre não a queria em Souzelas porque era perto de Coimbra. Nessa contenda acho que era Sócrates que estava bem e Alegre mal. Na minha terra, no Vilar, por causa do aterro sanitário que acabou com mais de uma dezena de lixeiras a céu aberto, os próprios socialistas de lá sentindo-se prejudicados relativamente aos outros municípiod se pudessem comiam o Sócrates. Apesar de a solução prejudicar um pouco a imagem daquelas belas paragens não participei na gritaria porque afinal o aterro tinha de ficar nalgum sítio. Fico por aqui porque me está a parecer que isto é campanha a mais a favor do... Platão;-)
 
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Viva Raimundo.
Ainda bem que voltaste.
As conversas, por aqui, andam muito mornas.

Quanto à questão da co-incineração, perante os Km de estudos e pareceres a que tive acesso (e continuam disponíveis, inclusivé à distância de um click) não deixaria de me munir de mais alguma prudência.

Quanto à «gritaria», o PS teve (tem e terá) sempre que decidir de que lado ouve melhor. Será mouco de que ouvido? Se não governar tendo em consideração os que «gritam» e optar pelo estilo autoritário, cedendo na reforma fiscal e na taxa de alcolemia e impuser um sistema de co-incineração que se está barimbando para a saúde pública (estações de pré-tratamento no interior de localidades, como no caso do Barreiro) e para o ambiente natural (como era o caso da sobrecarga da cimenteira do Outão em plena Serra da Arrábida), - então terá agido com firmeza, sim, mas em nome de quem? Não havia mesmo mais nenhuma alternativa? Que estranho...
A teoria do NIMBYsmo pode ser posta do avesso. Então os valores da tolerância, da sensibilidade social e do socialismo moderno darão para sustentar que não devemos dar ouvidos às «gritarias». Devemos amouchar perante o paleio tecnicista? É aí que acaba a política e a governação decidida?
 
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Falaste da tua terra, julgo que para ilustrar a tese do NIMBYsmo que José Sócrates pôs no frigorífico porque o seu primeiro propósito e pôr o PS a falar para todos.
Eu falo-te da minha. Achas que o Barreiro, depois de um século da mais despótica e estuporada poluição industrial, devia ser tratado assim?
Numa coisa, porém, tens razão. - O José Sócrates é muito decidido.
 
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