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2004-08-23

 

Relativizando as Ideias (VI)

As condições de participação das pessoas na vida política angolana são ainda de uma grande fragilidade.

Apesar das reformas políticas de 1991/92, como se referiu, instituirem o multipartidarismo e permitirem, pela primeira vez, a constituição de organizações da sociedade civil, independentes (sindicatos, associações profissionais, ONGs, etc.), múltiplas razões concorrem para a enorme fragilidade das organizações de base social.

Estamos perante uma sociedade sem qualquer tradição de participação na vida política do País e com um alto nível de estratificação, onde a pobreza "apanha" uma percentagem elevada de pessoas, onde apenas uma pequena minoria da população está empregada no sector formal da economia, onde os níveis de analfabetismo são elevados, onde a comunicação social ainda se encontra em fase embrionária e onde continuam as marcas do medo e da violência e uma grande luta pela sobrevivência.

Tanto assim é que organizações como os sindicatos, em vários países da África Austral (África do Sul e Zâmbia, têm tido um papel motor nas mudanças e nas melhorias das condições de vida, em Angola a sua presença faz-se pouco sentir, exactamente porque o seu número de aderentes é fraco por não haver base social de recrutamento, a não ser na Administração Pública.

Esta situação tem sido/é propícia à elite organizar-se e a influenciar, de forma determinante e de acordo com os seus interesses, o rumo da vida política do País.

A situação de Paz vai alterar, necessariamente, estas condições a mais ou menos curto prazo, pois estão a criar-se expectativas de melhorias na população e a guerra, por outro lado, não pode continuar, até porque acabou, como a justificação para o que, sendo possível, não se fizer.
Comments:
Acho que os seus comentários são cautelosos, mas com uma mensagem que venho a descortinar e a apreciar. Primeiro, não se imiscuir na política interna, embora mostrando perspectivas diferentes. Segundo, apontando um vasto campo para a cooperação, certamente não nos petróleos e que há muito a fazer do lado português nesse sentido. Deveríamos pressionar o actual MEN que tão bem conhece Angola para lançar um programa sério de cooperação com propostas muito claras aos meios competentes angolanos. Se agora a guerra já não é desculpa para Angola tb não o é para Portugal.
Carlos Silva
 
Caríssimo João Abel. Tenho lido com a maior atenção os teus posts sobre a tua experiência luandense. Sabes, até porque já o disse tb publicamente no meu blogue, que não encaixei a tua primeira visão que considerei opimista e conservadora. Porque se chocou com a memória da minha experiência profissional pela mesma banda. E, assim, lavrei protesto. Mas isso não me tem impedido, muito pelo contrário, de continuar a seguir com a maior abertura, o desenrolar do fio das tuas impressões, na ilusão de que não andámos por ali os dois com os olhos enviezados e a ver países diferentes. E alguns valores comuns nos devem ter sobrado dos tempos gloriosos da luta pela emancipação cá da malta. O que dizes neste post já me parece aproximar-se de uma visão mais rigorosa do contexto. Mas continua a ser visto pelo prisma justificativo daquilo que eu chamo "eurocentrismo de mel". A evolução gradual das instituições da superestrutura de que falas e que desejas (e eu também), colidem com um fenómeno que não abordas e que eu considero o nó górdio da situação africana (e da maioria de África, Deus Nosso!) - a corrupção que atravessa toda a sociedade, todas as estruturas e que se tornou um modo de ser e de sobreviver. Pouco ou nada é possível fazer em Angola sem corromper alguém ou alguns. Uma empresa, uma instituição, um cidadão que vá para Angola (ou Moçambique ou Guiné) e decida nada corromper, vai ter de, no mínimo, corromper alguma coisa para fazer as malas e voltar. E quem lá está, porque é de lá, vai para lá ou vai até lá, acaba por "ter" de se adaptar àquela forma de vida. E, com cleptocracia, não há democracia possível. Porque as opiniões, os votos e as vontades serão das coisas mais fáceis de corromper. Como mudar? Sobretudo por pressão externa, condicionando o regime e obrigando-o a "descorromper-se", não pactuar e combater a corrupção. Ao nível interno, só uma imprensa independente e heróica (com gente capaz de correr os riscos que Carlos Cardoso correu em Moçambique) pode forçar a mostrar que o roubo e a corrupção são os grandes problemas e o cancro de Angola. Enfim, achas para a fogueira da excelente discussão que trouxeste à baila neste blogue que cada vez é mais uma referência da blogosfera. Aquele abraço. João Tunes / Bota Acima
 
Caríssimo João Abel. Tenho lido com a maior atenção os teus posts sobre a tua experiência luandense. Sabes, até porque já o disse tb publicamente no meu blogue, que não encaixei a tua primeira visão que considerei opimista e conservadora. Porque se chocou com a memória da minha experiência profissional pela mesma banda. E, assim, lavrei protesto. Mas isso não me tem impedido, muito pelo contrário, de continuar a seguir com a maior abertura, o desenrolar do fio das tuas impressões, na ilusão de que não andámos por ali os dois com os olhos enviezados e a ver países diferentes. E alguns valores comuns nos devem ter sobrado dos tempos gloriosos da luta pela emancipação cá da malta. O que dizes neste post já me parece aproximar-se de uma visão mais rigorosa do contexto. Mas continua a ser visto pelo prisma justificativo daquilo que eu chamo "eurocentrismo de mel". A evolução gradual das instituições da superestrutura de que falas e que desejas (e eu também), colidem com um fenómeno que não abordas e que eu considero o nó górdio da situação africana (e da maioria de África, Deus Nosso!) - a corrupção que atravessa toda a sociedade, todas as estruturas e que se tornou um modo de ser e de sobreviver. Pouco ou nada é possível fazer em Angola sem corromper alguém ou alguns. Uma empresa, uma instituição, um cidadão que vá para Angola (ou Moçambique ou Guiné) e decida nada corromper, vai ter de, no mínimo, corromper alguma coisa para fazer as malas e voltar. E quem lá está, porque é de lá, vai para lá ou vai até lá, acaba por "ter" de se adaptar àquela forma de vida. E, com cleptocracia, não há democracia possível. Porque as opiniões, os votos e as vontades serão das coisas mais fáceis de corromper. Como mudar? Sobretudo por pressão externa, condicionando o regime e obrigando-o a "descorromper-se", não pactuar e combater a corrupção. Ao nível interno, só uma imprensa independente e heróica (com gente capaz de correr os riscos que Carlos Cardoso correu em Moçambique) pode forçar a mostrar que o roubo e a corrupção são os grandes problemas e o cancro de Angola. Enfim, achas para a fogueira da excelente discussão que trouxeste à baila neste blogue que cada vez é mais uma referência da blogosfera. Aquele abraço.
 
Interessante o comentário anterior que é mais um post, mas em minha opinião é levar longe o debate.Entramos no domínio do "capitalismo selvagem". Porque não se colocam essas mesmas questões à Rússia e a outros e outros. Não será do domínio da corrupção tb situações como a "Casa Pia", o "apito dourado"?.E estamos em Portugal.
C. Botelho
 
O comment/post de João Tunes alerta para uma questão na ordem do dia em todo o mundo: a corrupção. O que a distingue é ser mais ou menos sofisticada. Haverá algo de tão diferente entre uma empresa em troca de... dar uns tantos milhares de contos ao partido X,Y ou Z, sendo que o dirigente fica com uma maquia no bolso? Há que considerar que algum desse dinheiro tb foi para comprar armas para a guerra.
 
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