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2004-09-18

 

As eleições no PS (VI) - Três falácias

Os textos do Raimundo Narciso sobre o debate entre Alegre e Soares na SIC e os comentários que já suscitaram motivaram-me a fazer este post.

Falácia nº 1 - Os debates a dois são muito importantes para conhecer o que distingue os candidatos e discutir essas diferenças
O debate entre Alegre e Soares comprova esta falácia: no essencial, não esclareceu nada disto, antes pelo contrário, só deixou o pessoal maios confuso. Quanto ao que foi dito no concreto, era tudo matéria mais do que sabida. Afinal foi nesta falácia que Sócrates não quis participar. Ainda bem. É preciso mudar o estilo, para credibilizar a política.

Falácia nº 2 - A candidatura de Alegre é contra o "aparelho" e as "lógicas aparelhísticas" instaladas, as quais estão pr detrás de Sócrates
Alegre é dirigente do PS há cerca de 30 anos, e portanto, responsável pelo que o PS e o seu "aparelho" são hoje. Também declarou que se Ferro Rodrigues se tivesse candidatado, então ele não se teria candidatado e apoiaria Ferro Rodrigues, assim como já declarou que se Jorge Coelho, considerado o principal responsável pelo "aparelho", e um declarado apoiante de Sócrates (tal como Vitorino, António Costa, António Campos ou Sérgio Sousa Pinto, tudo gente do "aparelho") se tivesse candidatado, ele não se canditaria. Afinal o que parece assustar Alegre não é o "aparelho" mas o Sócrates. Porque será? Porque Sócrates não alinha com esta postura política falaciosa?

Falácia nº 3 - Se Marcelo Rebelo de Sousa e Valentim Loureiro acham que Sócrates é um bom candidato para o PS, então é porque ele é um mau candidato para o PS.
Tirando partido deste raciocínio primário, infelizmente muito em voga em alguma esquerda bem intencionada mas mais reactiva do que activa, como é que políticos sabidos e inteligentes de direita devem tentar descrebilizar um políticio de esquerda que os assusta? Dizendo mal dele ou dizendo bem?
E um político de direita não pode ser intelectualmente honesto e reconhcer o valor de um político de esquerda? E quando um político de esquerda reconhece valor a um político de direita é porque acha que ele faz geito à esuqerda?
Mas a esquerda não é capaz de pensar pela sua cabeça e só consegue pensar em função do que pensa ou diz a direita?



Comments:
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Em bom rigor, a falácia consiste numa operação digna de um ventríloquo, em que alguém quer fazer as coisas falarem por elas próprias (os números falam por si, etc) ou generaliza exageradamente a partir de um facto particular.

Neste caso, acho que a identificação das «falácias» e as tentativas de demonstrá-las, permanecem num território falacioso.

Falácia nº 1 - A recusa do modelo frente-a-frente não pode ser justificada, à posteriori, pelo resultado de um dos debates. Como há mais diferenças entre Sócrates e qualquer dos outros dois candidatos, então seria legítimo esperar, pelo contrário, um melhor resultado. Não se cometa a injustiça de supor que Sócrates não tornaria qualquer frente-a-frente um pouco mais animado e esclarecedor de diferenças.

Falácia nº 2 - Alegre exagerou certamente com a sua teoria da conspiração, mas daí a negar, como Sócrates faz, as «lógicas aparelhísticas», vai um passo grande em cujo intervalo cabem os baronatos que todos vemos mas alguns preferem ignorar. Assim, em vez de aproveitar as propostas relevantes que Alegre faz em matéria de limitação de mandatos, desconcentração de funções partidárias no exercício do poder de Estado, há quem prefira pôr tudo no mesmo saco. Gostos de campanha? Talvez... Recuperando um dito corrente numa cultura política que já partilhámos, vão fora o menino, a água do banho e, até, a banheira.

Falácia nº 3 - Quem tem de se persignar relativamente a esta falácia são os que, tonitruantemente proclamavam o «medo» que a direita tinha de José Sócrates. Como disse já noutro lugar (mas aqui no PUXA-PALAVRA), a direita está dividida a esse respeito. Nem todos têm medo de José Sócrates. Nesse aspecto, podemos afastar quaisquer maniqueísmos e verificar que há uma direita que tem tanto medo de Sócrates como de Lamego ou Pina Moura. É evidente que isso não torna Sócrates pior. Devolve-lhe apenas uma imagem do que ele é. Falacioso? Falacioso poderia ser dissimulá-lo.
 
Falácia-Mentira com que se intenta prejudicar alguém. Erro de um argumento ou raciocínio que apresenta uma conclusão aparentemente verdadeira, mas que na realidade é falsa, involuntariamente ou com o intuito de induzir em erro. (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, Editorial Verbo, 2001),
 
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Também estou de acordo com essa definição de «falácia» mas, de acordo com ela, não vejo, pelo que apontei, que se aplique aos exemplos escolhidos... Poderá a discussão ir além da definição?
 
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