2004-09-27
"Dúvidas Socráticas"
Olho para os resultados. José Sócrates esmaga Alegre e João Soares passa a ser, com os seus 4%, um ser, fora do baralho político.
Do desaparecimento de João Soares gostei porque não lhe perdoo a derrota da Câmara de Lisboa. Penso que eu e muitos milhares. Votei nele para a Câmara e entendo que a perda se ficou a dever a uma birra, a um final de campanha "abaixo de cão", de fuga. O seu descrédito ficou por demais registado e muitos como eu, não do PS, dificilmente esquecerão essa conduta e julgo que dentro do PS a situação não seja melhor.
Agora o contexto global angustia-me. A entrada de Manuel Alegre na corrida a SG dinamizou, sem dúvida, o processo de disputa. Os militantes do PS mobilizaram-se, os votantes mais que triplicaram. Segundo li e ouvi, o número de votantes constituiu um facto histórico na vida do PS. Mas não há dúvida que se mobilizaram para penalizar Alegre.
Daí que me surjam interrogações/dúvidas a diversos níveis.
A imagem de distinção entre os candidatos, veiculada pelos "media", não na base das suas ideias/propostas dos candidaturas, mas rotulando entre direita e esquerda, terá influenciado os resultados, de modo a que se possa inferir que "a esquerda" foi penalizada?
Ou quererão os resultados significar que "a esquerda" personificada por Manuel Alegre está desajustada da actual dinâmica de sociedade?
Ou quererão os resultados significar que a base PS é claramente ao centro?
Ou ainda que José Sócrates tem propostas que independentemente da sua qualificação pelos "media" entusiasmaram os militantes PS?
Temos imensa matéria para reflexão.
Do desaparecimento de João Soares gostei porque não lhe perdoo a derrota da Câmara de Lisboa. Penso que eu e muitos milhares. Votei nele para a Câmara e entendo que a perda se ficou a dever a uma birra, a um final de campanha "abaixo de cão", de fuga. O seu descrédito ficou por demais registado e muitos como eu, não do PS, dificilmente esquecerão essa conduta e julgo que dentro do PS a situação não seja melhor.
Agora o contexto global angustia-me. A entrada de Manuel Alegre na corrida a SG dinamizou, sem dúvida, o processo de disputa. Os militantes do PS mobilizaram-se, os votantes mais que triplicaram. Segundo li e ouvi, o número de votantes constituiu um facto histórico na vida do PS. Mas não há dúvida que se mobilizaram para penalizar Alegre.
Daí que me surjam interrogações/dúvidas a diversos níveis.
A imagem de distinção entre os candidatos, veiculada pelos "media", não na base das suas ideias/propostas dos candidaturas, mas rotulando entre direita e esquerda, terá influenciado os resultados, de modo a que se possa inferir que "a esquerda" foi penalizada?
Ou quererão os resultados significar que "a esquerda" personificada por Manuel Alegre está desajustada da actual dinâmica de sociedade?
Ou quererão os resultados significar que a base PS é claramente ao centro?
Ou ainda que José Sócrates tem propostas que independentemente da sua qualificação pelos "media" entusiasmaram os militantes PS?
Temos imensa matéria para reflexão.
Comments:
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O debate eleitoral distinguiu-os bem. A esquerda deve respeitar a vontade popular.Alegre e Soares assumiram o desrespeito, pelo menos na postura sobre o processo aborto. Um contributo (talvez pequeno entre outros) para a sua desacreditação.
Algumas questões postas são interessantes para reflexão. Junto mais. Será que há uma esquerda "reencontrada"? A esquerda de Alegre não é essa. Uma esquerda sem alternativas pouco convence. Onde estão as propostas para corrigir as desigualdades que são cada vez maiores? Onde estão as propostas para um Estado forte, mas dialogante? O Estado estratega era uma ideia baloufa pq não passava de um slogan sem conteúdo.
Sócrates por seu lado tb não tem propostas para isto mas ganhou por várias razões pq as figuras do PS de peso o apoiavam e pq passa a imagem de empreendedor e de aguerrido. O que no presente "basta", embora não baste.
Sócrates por seu lado tb não tem propostas para isto mas ganhou por várias razões pq as figuras do PS de peso o apoiavam e pq passa a imagem de empreendedor e de aguerrido. O que no presente "basta", embora não baste.
Ao post faltou, entre outras, colocar uma questão de fundo. Sócrates precisa para fazer uma boa oposição e ganhar em 2006 ter umas tantas ideias (poucas) mas bem alicerçadas para mobilizar o País. Por exemplo, ideias para "o cancro" da educação e da saúde, Estado, Desenvolvimento e Justiça Fiscal. Mobilizar o PS e a sociedade para elas. Senão é mais do mesmo, com roupagem diferente.
Clara Fonseca
Clara Fonseca
No post faltam muitas perguntas. Mas a minha ideia não foi colocar questões dispersas, mas questionar a tão avassaladora votação em José Sócrates e, designadamente, se a distinção esquerda/direita foi decisiva. Porque seria ainda mais complexo se assim o fosse, para todas as esquerdas portuguesas. A angústia é esta.
Também tenho dúvidas. Muitas.
Primeira, o que é a esquerda de Manuel Alegre, o homem que, nos velhos tempos, se juntou ao CDS para combater o PCP?
Segunda, ter sido militante da JSD faz de Sócrates um homem de Direita? Nesta ordem de ideias, Helena Roseta, é o quê?
João Soares, sendo para esquecer - acho que se enterrou a ele e ao pai - também ajudou à pseudo-divisão. Ele, o homem da Unita e das ligações à Angola pouco claras (o mesmo se pode dizer de Mario Soares em relação a toda a Africa, Macau).
Moral da História. Há mesmo uma crise de identidade da esquerda portuguesa, herdeira de jogos estranhos, de cumplicidades, de tachos dados e arregaçados, fazendo dogma das velhas matrizes cartilhas desactualizadas mas que dão sempre jeito quando não interessa evoluir. porque não soube, ainda, adaptar-se aos novos tempos.
Espero, sinceramente, que Sócrates faça a diferença.
Teresa
Primeira, o que é a esquerda de Manuel Alegre, o homem que, nos velhos tempos, se juntou ao CDS para combater o PCP?
Segunda, ter sido militante da JSD faz de Sócrates um homem de Direita? Nesta ordem de ideias, Helena Roseta, é o quê?
João Soares, sendo para esquecer - acho que se enterrou a ele e ao pai - também ajudou à pseudo-divisão. Ele, o homem da Unita e das ligações à Angola pouco claras (o mesmo se pode dizer de Mario Soares em relação a toda a Africa, Macau).
Moral da História. Há mesmo uma crise de identidade da esquerda portuguesa, herdeira de jogos estranhos, de cumplicidades, de tachos dados e arregaçados, fazendo dogma das velhas matrizes cartilhas desactualizadas mas que dão sempre jeito quando não interessa evoluir. porque não soube, ainda, adaptar-se aos novos tempos.
Espero, sinceramente, que Sócrates faça a diferença.
Teresa
No comment anterior, assinado por Teresa, as questões são postas com muita frontalidade. Começa a ser tempo de alguns véus serem libertos. são conhecidas situações menos claras em que os políticos de todas as tendências (os do activo) estão enrolados. É indiscutível. A promiscuidade abunda.
Mas há uma questão não abordada e Sócrates presumo beneficiou muito dela. A mudança geracional. Alegre, Soares estão fora do prazo de validade independente do seu valor pessoal. A esquerda PS (?), se a há, escolheu assim mal o protagonista. Além disso a esquerda precisa de se repensar ou então de ser pragmática. Sócrates com a sua "esquerda moderna" mostrou pragmatismo.
C. Pedro
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Mas há uma questão não abordada e Sócrates presumo beneficiou muito dela. A mudança geracional. Alegre, Soares estão fora do prazo de validade independente do seu valor pessoal. A esquerda PS (?), se a há, escolheu assim mal o protagonista. Além disso a esquerda precisa de se repensar ou então de ser pragmática. Sócrates com a sua "esquerda moderna" mostrou pragmatismo.
C. Pedro
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