2004-09-18
Espera aí que eu já venho (2)
[Fórum Social Mundial: Porto Alegre, Brasil, Janeiro de 2003]
____________________________________________
Imaginem um país de obras embargadas pelos tribunais, com as redes viárias num pandemónio, em que o Chefe de Estado se interroga todas as noites, antes de adormecer, se, lá no fundo, terá feito bem em reconduzir uma maioria formalmente legítima mas politicamente esgotada; em que os mais velhos se interrogam se o sistema de segurança social aguentará até à data de se reformarem, ou se, entretanto, se terá tornado insolvente, enquanto um descamisado de Mira se locupleta com uma pensãozeca de 18.000,00 euros (é a economia? sócios); e onde os funcionários públicos são culpados da falta de vontade (e competência) política das sucessivas maiorias que praguejam quando na oposição e amansam os ímpetos logo que se empoleiram nos poderes do Estado, adiando as reestruturações e marrando sempre nos mesmos bodes expiatórios.
Fecham escolas (desculpem lá o mau jeito, mas tem de ser... - é a economia, estúpido!); preocupam-se (e bem) com a reconversão dos licenciados e deixam todos os outros pendurados, desempregados (em alta), empobrecidos, info-excluídos, desmotivados... Em que os investimentos se deslocalizam e os trabalhadores são despedidos e abandonados às excelências da criatividade, encorajados a abandonar o seu típico conservadorismo estético e a divisarem o belo no desespero de não conseguirem sustentar a família, pagar a renda de casa... (é outra vez a economia, palerma!).
Um país em que os desprovidos de poder são acusados de não conseguirem manter o emprego e, ainda assim, continua a haver quem enuncie projectos políticos que privilegiam a instância económica (eufemismo para empresarial).que é uma forma moderna de assegurar a «estabilidade», o «respeito pelas regras», a «crítica construtiva», o «empenho e o brio», coisas excelentes, como se sabe, para quando se anda há um ror de tempo à procura do primeiro emprego ou se é desempregado de longa duração... (é a economia, - alarve!).
Um país em que muitos pensaram, porventura, um dia, que o poder económico se deveria submeter ao poder político, e até houve uns tantos constituintes, nos idos de 74, que chegaram a incluir essa subordinação na Lei Fundamental (também dada pelo nome de Constituição da República Portuguesa) . Ideia estranha, é certo, mas calejada pelo despotismo financeiro que falava e fala de modernidade mas apoiou e apoia regimes fascistas e suas opressões, enquanto vai gaguejando que devemos ter cuidado, porque «estamos todos no mesmo barco» (é a economia, tanso!).
As gentes de esquerda batiam-se por isso.
Até alguns de direita, creio que com sinceridade.
Agora há quem se reclame da esquerda e rodeie esta questão, empregando o fraseado tecnocrático dos que se estão marimbando para o sofrimento alheio.
Direitos humanos? Mas como?, se até o Presidente da República de Cabo Verde é humilhado no aeroporto e para além de um desconchavado e pálido pedido de desculpas, nada de exemplar é feito?
Não. Não é (só) a economia.
É a política, bonzo !!!
Disseste bonzo?
Bom. Chega.
Basta de negativismo, de queixas e azedumes.
Hoje é dia de encarar as coisas de outro modo, com ânimo, graça, garra, alegria e satisfação.
Porquê?
Porque hoje é sábado.
Comments:
<< Home
Que maravilha de texto.
Infelizmente o seu conteúdo corresponde à verdade. E por isso o subscrevo.
I. Videira.
Infelizmente o seu conteúdo corresponde à verdade. E por isso o subscrevo.
I. Videira.
Quem diabo será este Manuel Correia? Só depois de saber quem é ele, e se é solteiro ou casado, é que digo se subscrevo ou não escrevo o que ele escreveu.
Pronto tábem mesmo sem saber...subscrevo quase tudo, em especial as boas intenções. Desde que... desde que algumas daquelas coisas não sejam umas piadinhas disfarsadas ao Eng.Sócrates.
Ortigadulce
Pronto tábem mesmo sem saber...subscrevo quase tudo, em especial as boas intenções. Desde que... desde que algumas daquelas coisas não sejam umas piadinhas disfarsadas ao Eng.Sócrates.
Ortigadulce
________________________________________
Um forte abraço para o Chapeau e para o Inácio Videira (estes sei quem são) e uma saudação de simpatia para a OrtigaDulce que apreciou o post com uma graça romântica que já vai escasseando nas nossas discussões sempre tão sérias e ponderadas. Como se costuma dizer, ao telefone, se falasse um pouco mais creio que adivinhava quem era...
Diga-me, conhece as Caldas de Monchique?
De facto, não creio que o este post atinja o Eng. Sócrates. Pelo menos, os apoiantes socráticos cá do PUXA-PALAVRA ainda não acusaram o toque, o que já dá algumas garantias de neutralidade face à campanha para SG do PS.
Em todo o caso, obrigado pelas suas simpáticas palavras. Volte sempre.
Enviar um comentário
Um forte abraço para o Chapeau e para o Inácio Videira (estes sei quem são) e uma saudação de simpatia para a OrtigaDulce que apreciou o post com uma graça romântica que já vai escasseando nas nossas discussões sempre tão sérias e ponderadas. Como se costuma dizer, ao telefone, se falasse um pouco mais creio que adivinhava quem era...
Diga-me, conhece as Caldas de Monchique?
De facto, não creio que o este post atinja o Eng. Sócrates. Pelo menos, os apoiantes socráticos cá do PUXA-PALAVRA ainda não acusaram o toque, o que já dá algumas garantias de neutralidade face à campanha para SG do PS.
Em todo o caso, obrigado pelas suas simpáticas palavras. Volte sempre.
<< Home