2004-09-03
Olá Manel
Este post é uma resposta a parte das muitas e bem pensadas considerações do meu colega de blog, Manuel Alegre, perdão, Manuel Correia no seu comentário ao meu post O Aparelho. Para tudo se perceber melhor e até, quiçá para uma valorização pessoal, aconselho aos mais afoitos e pacientes um mergulho nos comentários do dito post. Já aqui abaixo.
Olá Manel!
Olá Manel!
Vamos lá a ver se percebo! O RN e o ML quando opinam no Puxa Palavra sobre as candidaturas do PS não estão a discutir “com a liberdade de uma escolha em suspenso. Não. Fazem campanha.” Já um tal Manuel Correia que não apoia nenhum candidato mas simpatiza de facto mais (com o meu aplauso, aliás) com o seu homónimo Alegre não faz campanha mas sim opinião “com a liberdade de uma escolha em suspenso”.
Em suspenso? Só mesmo tu, jovem independente, chegado agora à política e… crédulo. Tens andado a ler as 3 moções e os 131 discursos de campanha para caracterizares política e ideologicamente os candidatos e descobrires a identidade das 3 candidaturas? “Com a liberdade de uma escolha em suspenso”?
Desde as primeiras eleições pós-revolução que os portugas deixaram de ir ler os programas dos partidos para saber de que partidos e programas se trata. E não é apenas pela inflacção de promessas e propósitos enganadores. Mesmo os mais sérios programas dizem o que gostariam de fazer se… se… se… e dizem coisas que julgam que se devem dizer para entusiasmar e não ficarem atrás da conversa inflaccionada dos adversários. Não é por aí que o gato vai às filhós.
Os programas de candidatura merecem ser lidos apesar de tudo e dão pistas e servem para terceiros sobre eles opinarem, como nós aqui com os nossos sábios alvitres. Mas mais do que é dito em tais papéis, conta a avaliação das pessoas, seu passado, seus actos, suas capacidades, seus apoios e as circunstâncias-constrangimentos em que terão de actuar, só petit à petit ultrapassáveis no momento histórico que vivemos, se para tanto houver suficiente vontade, engenho e arte.
De modo que “gato escondido com o rabo de fora” aplica-se mais a ti, meu caro amigo e ingénuo Manuel que dizes que não apoias nenhuma candidatura mas na realidade “apoias” mais uma que as outras e te apresentas “com a liberdade de uma escolha em suspenso”, portanto o rabo do gato, dizia, aplica-se mais a ti que ao RN ou ao ML que para não enganarem ninguém anunciaram: olhem, estamos aqui completamente à vista e não só o rabo. Apoiamos o José Sócrates. Por isto e por aquilo.
Comments:
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Viva Raimundo.
Em primeiro lugar, parabéns pela boa forma literária. Quando se escreve bem, até se pode subverter um poucochinho a argumentação que quase não se dá por nada.
Propus, ao longo das últimas semanas, mais de uma dezena de temas que julguei (e ainda julgo) estimulantes, actuais e fecundos. Basta dar uma olhadela aos últimos três posts que afixei para comprovar no que digo, além de uma supina vaidade, alguma verdade. O teu expediente a esse respeito tem, pelo menos, a idade de Aristóteles: «do que o teu contraditor disser, escolherás o que te aprouver. Ignora o que não te convier.». Isto tem-nos levado, desde a Grécia antiga, ao hábito do monólogo mascarado de diálogo. O primeiro gato com o rabo de fora seria teu ou meu?
Vejamos. Para nossa comodidade, respondo-te indicando as iniciais de cada parágrafo do teu bem urdido post. Não me arrisco a ser acusado de só discutir o que me convém...
[V]: Tu (RN) e o Mário Lino (ML) já estavam em campanha antes de estarem em campanha. Disseram-no com clareza. Ora eu, mesmo que fosse apoiante de Manuel Alegre (MA), não poderia ter feito o mesmo. MA foi «empurrado» para a ribalta à última hora. É alguém cuja candidatura foi simbolicamente apropriada por um espaço político que, dentro e fora do PS, se projecta num desejo de esquerda. Sócrates proclama que o PS não tem nenhum problema de identidade. Eu acho que tem e que Sócrates, entre outros, sustenta que ele deve ser ocultado; que assumi-lo e resolvê-lo publicamente enfraquece o PS. Já vi tiques semelhantes noutros partidos. Geralmente em perda de influência.
[D1]: É verdade o que dizes. Porém supunha que nós éramos daqueles que se insurgem, na prática, contra o empobrecimento do debate de ideias. No espaço do PUXA-PALAVRA não somos obrigados a subordinar os nossos critérios de análise e discussão às modas justificadas pelas guerras das audiências ou pelas cartilhas do populismo. Como os gatos não sabem fritar filhós, esperam sempre, com impaciência felina, que alguém as ponha a arrefecer...
[O] Inteiramente de acordo. Eu não saberia dizer melhor.
[D2]: Sabes bem que não me incomodo por me colares à campanha do MA. Todavia, enquanto eu já apontei, aqui no PUXA-PALAVRA, insuficiências e incoerências de vária índole a todos os candidatos, tu e o ML não conseguiram ver (até agora, é claro) um único aspecto negativo em José Sócrates, nas suas atitudes e discursos ou no seu programa. Deixa-me dizer-te: um tal candidato, perfeito e irrepreensível, não existe de facto. É uma construção de marketing político. Omitir algo que desfavorece um candidato não é mostrar abertura para discussão. É campanha, da pura.
Bem vistas as coisas, quem é que fica com o gato? E com o rabo de fora?
PS
Gostei do teu post acerca do «aparelho», mas, em contrapartida, achei de uma bondade excessiva (quase equivocante) aquele teu slogan : «Estou como o aparelho». Compreendo a generosidade militante, mas acho que nenhum «aparelho» merece tanto.
Aquele abraço.
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Viva Raimundo.
Em primeiro lugar, parabéns pela boa forma literária. Quando se escreve bem, até se pode subverter um poucochinho a argumentação que quase não se dá por nada.
Propus, ao longo das últimas semanas, mais de uma dezena de temas que julguei (e ainda julgo) estimulantes, actuais e fecundos. Basta dar uma olhadela aos últimos três posts que afixei para comprovar no que digo, além de uma supina vaidade, alguma verdade. O teu expediente a esse respeito tem, pelo menos, a idade de Aristóteles: «do que o teu contraditor disser, escolherás o que te aprouver. Ignora o que não te convier.». Isto tem-nos levado, desde a Grécia antiga, ao hábito do monólogo mascarado de diálogo. O primeiro gato com o rabo de fora seria teu ou meu?
Vejamos. Para nossa comodidade, respondo-te indicando as iniciais de cada parágrafo do teu bem urdido post. Não me arrisco a ser acusado de só discutir o que me convém...
[V]: Tu (RN) e o Mário Lino (ML) já estavam em campanha antes de estarem em campanha. Disseram-no com clareza. Ora eu, mesmo que fosse apoiante de Manuel Alegre (MA), não poderia ter feito o mesmo. MA foi «empurrado» para a ribalta à última hora. É alguém cuja candidatura foi simbolicamente apropriada por um espaço político que, dentro e fora do PS, se projecta num desejo de esquerda. Sócrates proclama que o PS não tem nenhum problema de identidade. Eu acho que tem e que Sócrates, entre outros, sustenta que ele deve ser ocultado; que assumi-lo e resolvê-lo publicamente enfraquece o PS. Já vi tiques semelhantes noutros partidos. Geralmente em perda de influência.
[D1]: É verdade o que dizes. Porém supunha que nós éramos daqueles que se insurgem, na prática, contra o empobrecimento do debate de ideias. No espaço do PUXA-PALAVRA não somos obrigados a subordinar os nossos critérios de análise e discussão às modas justificadas pelas guerras das audiências ou pelas cartilhas do populismo. Como os gatos não sabem fritar filhós, esperam sempre, com impaciência felina, que alguém as ponha a arrefecer...
[O] Inteiramente de acordo. Eu não saberia dizer melhor.
[D2]: Sabes bem que não me incomodo por me colares à campanha do MA. Todavia, enquanto eu já apontei, aqui no PUXA-PALAVRA, insuficiências e incoerências de vária índole a todos os candidatos, tu e o ML não conseguiram ver (até agora, é claro) um único aspecto negativo em José Sócrates, nas suas atitudes e discursos ou no seu programa. Deixa-me dizer-te: um tal candidato, perfeito e irrepreensível, não existe de facto. É uma construção de marketing político. Omitir algo que desfavorece um candidato não é mostrar abertura para discussão. É campanha, da pura.
Bem vistas as coisas, quem é que fica com o gato? E com o rabo de fora?
PS
Gostei do teu post acerca do «aparelho», mas, em contrapartida, achei de uma bondade excessiva (quase equivocante) aquele teu slogan : «Estou como o aparelho». Compreendo a generosidade militante, mas acho que nenhum «aparelho» merece tanto.
Aquele abraço.
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