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2004-09-08

 

Quando a realidade é "têtu">

Quando a realidade não se conforma com a insuficiência dos conhecimentos humanos, há indivíduos, grupos ou instituições que preferem ficar do lado da "sua ciência" e rebelarem-se contra a teimosia da realidade.
Foi o caso de algumas pessoas (e não só) que não aceitaram durante anos a queda do Muro de Berlim e a falência de certa "ciência" mesmo que para imperecíveis ideais, ou outras pessoas (e não só) que ainda não querem aceitar que a invasão imperialista do Iraque não representou para os iraquianos o seu 25 de Abril.
Mas o caso que aqui trago é do domínio da medicina.
O programa da cadeia norte-americana CBS "60 Minutos" é um excelente programa que a SIC Notícias passa aos Domingos às 16 e às 22h. O último trouxe-nos uma reportagem sobre doentes de paralisia cerebral. Esta resulta, à nascensa, de insuficiente oxigenação do cérebro, provocando-lhe lesões que deixam os recém-nascidos incapacitados para toda a vida. Sem locomoção e por vezes mesmo sem mover a cabeça ou os maxilares.
Nos EUA nascem oito mil crianças por ano com paralisia cerebral. A ciência ainda não tem soluções. Para os pais possam ir à sua vida instituições especializadas ficam com os filhos e fazem terapia ocupacional 1 a 2 horas por semana.
A reportagem narra o caso de uma mãe a quem os vários médicos consultados tiraram toda a esperança. Informada não se conformou e voou para Budapeste com a sua fila de 2 anos, para o Instituto Peto depois de angariar meios para pagar os 60 dólares por dia. A reportagem continua na Hungria. E os pais da menina sentiram uma nova vida quando ali lhes disseram que a filha estaria a andar dentro de dois anos.
O milagre consiste em fisoterapia, ginásio, apoio psicológico. As crianças com paralisia cerebral pensam e raciocinam mas não conseguem fazer movimentos. O método inventado por Andreas Peto foi falar com as crianças, incentivá-las, dar-lhes confiança e movimentar-lhes as pernas e os braços e as mãos e os pés e a cabeça e a boca. O segredo está em oito horas por dia, cinco dias por semana. Ao fim de dois-três anos 80% das crianças ficam autónomas e podem frequentar a escola pública com sucesso.
Confrontada com a reportagem, Caroline Green, médica em Cleveland, especialista de crianças com paralisia cerebral, não acredita. Conhece o Instituto de Budapeste já leu vários artigos científicos sobre ele mas acha que "falta um estudo independente e a longo prazo". Diz Green: "os resultados são positivos de uma forma quase suspeita. Não digo que falsifiquem os dados mas são demasiado bons para serem reais."
O repórter insiste: "Mas é a realidade". Ela encolhe os ombros como quem diz: olhem a realidade! Eu é que sei, eu é que tenho a "ciência" logo isso não pode ser.
Estudo a longo prazo? Insiste o entrevistador - Mas o tratamento, o método e a clínica têm...60 anos de sucesso!
O método tem origem no médico húngaro Andreas Peto que não se conformando com o pouco que a ciência sabia desafiou a fatalidade. O Instituto Peto tem hoje 1500 crianças de todo o mundo a fazer recuperação com sucesso. "É, no entanto, necessário começar antes dos 3 anos. Mais tarde só se o caso não for muito grave."
Os pais americanos de filhos com paralisia cerebral é que não querem saber do "cepticismo da classe médica" e os que podem pagar levam os filhos para o Instituto Peto de Budapeste. E mais, com o sentido prático norte-americano começaram a importar a metodologia Peto. Hoje, não porque os médicos tivessem aconselhado mas porque os pais exigiram, 21 Estados criaram clínicas "húngaras". Em Cleveland os próprios pacientes de Green - provavelmente contra a sua vontade - frequentam o Centro de paralisia cerebral a funcionar sob a indicação de orientadores do Instituto Pete.
A CBS desabafou, ali nos "60 minutos: "No tempo da cortina de ferro ainda se poderia entender a recusa da realidade mas agora!"

Comments:
A queda do muro!!...Difícil é o que está por detrás. As causas, essas, muita gente pensa que as topou, mas ficou formatada. É a "sua ciência".

Ana Esteves
 
O convencimento ignorante é muito atrevido. C.Pais
 
O convencimento ignorante é muito atrevido. C.Pais
 
Olá Ana Esteves, essa da formatação gostei. Não sei a que formatação te referes se à de cá se à de lá do Muro quando estava em pé.Sugiro que dês uma contribuição para ajudar os "formatados" a perceberem.
Dá o pontapé de saída que eu vou logo a seguir.
Quanto à clínica a notícia é interessante. Já tenho visto o programa 60 minutos e em regra é bom. Grande jornalismo. A léguas do que se passa aqui nos nossos canais generalistas.
João Gil
 
Olá, João Gil, para abrir o jogo, refiro-me á formatação cá. Há muita gente "formatada" embora convencida do contrário. O debate entre os candidatos a SG PS são um bom exemplo, sobretudo na ala Manuel Alegre. Essa das origens do PS portugU~es"proleta" é mesmo de se rir. Se há raizes que o PS não tem de forma significativa é essa.
Ana Esteves
 
A geração de 60 continua perigosamente revivalista, "formatada" por dogmas. Custa-lhe abandonar a adolescência e o tempo romanceado de um passado feito de lutas estudantis. Um problema por resolver bem visível no "proletário da palavra" Manuel Alegre, uma espécie de Amália do PS, sem ofensa. Coitado deste país se lhe cair nas mãos.
 
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