.comment-link {margin-left:.6em;}

2004-09-23

 

RESPOSTA ao POST de Mário Lino «As eleiçõesno PS (VII) - Retomando as três falácias»


________________________________

Este «poster» de Guevara é uma homenagem à prosa de Mário Mesquita que se referiu, no PÚBLICO, à necessidade de ter uma «alma de Guevarista» para não deixar apagar a «chama» da social-democracia.

«Certo é que, nesta Europa de 2004, para reavivar o espírito de Lord Keynes, a justiça social e a intervenção do Estado na economia, é necessário possuir alma de guevarista. Após a queda do muro de
Berlim, o reformismo transfigurou-se, ficando, subitamente, revolucionário.» (o artigo, na íntegra, pode ser lido aqui).
____________________________________________

Meu caro amigo Mário Lino,

Num breve balanço dos nossos debates, aqui no PUXA-PALAVRA, podemos constatar que houve pouca abertura à crítica de alguns aspectos menos felizes da personalidade, da intervenção e do programa político de José Sócrates. Esse é um aspecto estranho num debate, mas consabido numa campanha em que alguns preferiram a eficácia promocional ao enfrentamento das questões mais difíceis.

Vejamos a história das «Três falácias».

Qual é a matéria factual próxima e afluente da 1ª (A fuga de Sócrates aos «Frente-a-Frente»)?

Sócrates recusou participar nos debates a dois. Razão: agenda sobrecarregada. Reflexão: se visse nisso vantagem, teria alterado a agenda. Como não viu, recusou. Está no seu direito. Isso não permitiria sustentar, como tu fizeste no decurso da discussão, que os «Frente-a-Frente», tal como depreendeste do que «opôs» Alegre e Soares, não são relevantes para o esclarecimento das posições dos candidatos. Eu, pelo contrário, sustento que todas as oportunidades de debate podem tornar-se imprevisivelmente esclarecedoras dos propósitos dos debatentes.

Além disso, como devemos estar recordados, José Sócrates começou por recusar quaisquer debates públicos, recuando, depois. Quem está meramente em campanha, «esquece» o tique; quem adopta uma postura crítica, sublinha-o.

2º falácia (o complexo aparelhístico).

Não sei se no PS há ou não pessoas que condicionam a orientação dos seus votos a interesses caracterizados malevolamente como aparelhísticos. Admito que sim. Se o PS não estiver, como suponho que não está, fora do mundo que conheço, deve lá ter um pouco de tudo. Não por problemas de carácter, mas por outros. Isso não me choca nem acho que mereça relevância especial. A questão, uma vez mais, é de reconhecer, ou não, que tais problemas existem. Evitar a discussão ou enfrentá-la. Quando se assume todo o PS tal como ele foi até aqui, com todos os Secretários Gerais, todas as Opções Políticas e Governativas, etc (o que Sócrates faz por acção e muitos dos seus apoiantes por omissão) está-se a «deixar cair», dentro e fora do PS, os que têm uma visão crítica de muitos «maus passos» que o PS deu. Vejo-os agora, um tanto inquieto, reduzidos à insignificância por ti e outros apoiantes de Sócrates. Continuam a parecer-me «lógicas políticas», de aparelho ou de estrutura. Não certamente «lógicas de carácter».

3ª falácia (o apoio da direita a José Sócrates)

Se (re)leres o que escrevi a este respeito, não encontrarás (espero) nas minhas elocubrações nenhuma manifestação de maniqueísmo. Há gentes de direita que gostariam de ver José Sócrates em SG do PS? Há. O que quer isso dizer? Isso mesmo.
Tal não implica que caiamos no jogo tonto de suspeitar que, se há gentes de direita a apoiar Sócrates, então é porque, etc. Claro que não. Mas, a meu ver, também não permitiria a afirmação oposta, que, como sabes, foi utilizada no arranque da campanha, antes (é claro) da divulgação dos resultados das primeiras sondagens de opinião. «A direita teme Sócrates», slogan que alguns reproduziram precipitadamente, perfila-se como um tanto (como direi?) falacioso...

Em conclusão:

Havendo, de facto, matéria substancial nas teses (1)«Sócrates evita debates», (2) «Yo no creo en los aparejos pero que los ay, ay...» e (3) «Há gentes da direita que apoiam Sócrates», porquê atribuir propósitos falaciosos a quem lhes aponta o dedo e mostra curiosidade em saber como é que o PS vai lidar com isso?
Para mim, estas e outras questões, que não tivemos «tempo» de discutir, continuarão a ser matéria de elevado interesse. Mesmo depois de eleito o novo Secretário Geral do PS.

Um forte abraço.

Comments:
Ai manolito, que não pescas nada. Tantos anos de militante comunista para agora andares a fazer tão triste figura. Vem cá. Eu explico-te:
1 – Platão não faz debates a dois. Prefere, se tiver de ser, ajuntamentos maiores.
2 – Não tem nada a ver com o aparelho. Todos têm, mas ele não.
; )
3 – Os gajos de direita que apoiam Platão porque o receiam. Foi sempre assim com Soares, Constâncio, Sampaio (ooops! – Sampaio?! Talvez não, mas já se curou), Guterres e Ferro.
Que andas por cá a fazer manolito?
Abraços
Cesário
 
Manel o debate tem sido interessante mas se não nos esforçarmos não conseguiremos abrir portas ao socialismo. Cuidado, não inverter. Não é abrir o socialismo ao Portas! A Ortigamansa topaste logo! Mas quem é este Sr. Cesário? Sabes quem é? Não estou a dizer que o denuncies, se for nick como calculo. Só saber se topas.
Muito socialismo é que te desejo mais ao Mário.
 
_________________________________________

Topo alguns comentadores, não todos. Este Cesário, sei quem é. Às vezes basta o estilo; outras vezes um deslize ortográfico crónico. De resto, notam-se as «encomendas», as «más vontades», os «embirranços» e até as omissões totais ou parciais.
Creio que tudo isso serenará daqui a horas.
Costuma ser assim. Após este simulacro pré-aclamatório de debate, deverá seguir-se a glorificação do ganhador. Se for necessária, de facto, a tal «alma de guevarista» de que fala o Mário Mesquita, nem todos os grandes inspiradores do reformismo moderno serão venerados. Keynes (que não imaginaria tornarem-no «socialista»), Arnaut (que não previu ser considerado um perigosos~«radical») e Allende (que eu nunca supus vir a ser tão «esquecido»). Um, ou dois deles deverão render-se, pela enésima vez, ao «realismo do que está». Creio que poderão sempre construir-se portas (das que se abrem e fecham) para os socialismos. Veremos por qual delas passará a «vontade de ser esquerda» que emergirá do escrutínio dos membros do Partido Socialista.
 
Julgo que sobre a matéria específica da discussão que está na base deste meu post, estamos todos esclarecidos, podendo cada um tirar as conclusões que achar mais correctas e apropriadas.
Agora, há pelo menos duas coisas em que estou de acordo com Manuel Alegre e a sua candidatura: uma, é que a sua candidatura gerou um movimento dentro do PS; a outra, é que, despois destas eleições para SG, nada vai ficar como dantes no PS.
Quanto à primeira, diria que qualquer das candidaturas (e não só a de Manuel Alegre, evidentemente)gerou um movimento dentro do PS, e que todos são importantes para este Partido e também para o País. Cada um, no entanto, tem o seu peso próprio, o seu grau de aceitação, e a sua credibilidade, dentro e fora do Partido.Em particular no que se refere ao PS, os resultados das eleições dirão como é que tal peso, grau e credibilidade se repartem.
Quanto à segunda, espero sinceramente que o espírito criador e de inovação necessários à permanente compreenção e transformação do Mundo em que vivemos, a visão de futuro sem perder as boas referências do passado, a vontade de proclamar mas também de agir e concretizar, a indignação face às injustiças, descriminações e atentados à liberdade e à democracia, associada à vontade e capacidade objectivas para os combater, arredem de vez as concepções saudosistas (mesmo que tenham por referência figuras da dimensão de Marx, Che Guevara e muitos outros), os apelos aos feitos próprios e de outros no passado, e o espírito criticista, maledicente e despeitado de quem se acha sempre injustamente incompreendido, que apenas escondem a incapacidade para compreender o presente e perspectivar o futuro e que, afinal, acabam sempre por servir o que, alegadamente, dizem pretender combater.
Claro que espero ainda muito mais da nova liderança do PS, mas disso tratarei noutro post.
 
__________________________________________

Como o Mário Lino preferiu mais uma proclamação ao desconforto de uma discussão (podia ter-se pronunciado, ao menos, sobre a matéria factual), eu fico-me com as recordações dos bons e dos maus socialismos. Alguém, não tarda muito, fará falar os números. Os «maledicentes» retomarão as suas arengas inúteis de pseudo-incompreendidos (já ouvi esta milonga noutro partido, é curioso...) e os recém-relegitimados continuarão a fazer de conta que discutem.
Boas votações.
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?