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2004-10-06

 

Fumo Branco no PCP?

Há uns dois meses quando em férias conversava com um antigo camarada, daqueles que por inércia e desapego a guerras de família se deixara ir ficando e confessava que agora já lhe parecia tarde demais para dar qualquer significado ao seu abandono do PCP - quando com ele conversava, à vista das águas tépidas do levantino Sul algarvio, eu alvitrei o nome de Jerónimo de Sousa.
- Ele é o homem! Há muitos camaradas que acham que o partido está á beira do precipício e que ele é o homem capaz de dar o passo em frente.

Acho que Jerónimo de Sousa é a boa escolha. E já não era sem tempo. É uma escolha clarificadora. Carvalhas só servia para branquear, confundir e empatar.
O momento eleitoral para revelação de um acontecimento tão grave como é sempre a substituição de um secretário-geral no PCP, como bem disse Manuel Correia no post que antecede este, é prova de malquerença e guerreia entre os membros do corpo eleitoral pêcêpista, os membros do Secretariado do Comité Central em primeiro lugar, os membros da Comissão Política em segundo lugar. Em caso de ausência de consenso o corpo eleitoral alargar-se-á ao Comité Central. De contrário este apenas ratificará e os delegados, em congresso, aclamarão com entusiasmo.

A escolha de Jerónimo de Sousa, a confirmar-se, devolverá, o PCP à direcção de um operário. Desde a morte de Bento Gonçalves, em 1942, no campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, que o PCP andava a ser dirigido por intelectuais: Álvaro Cunhal, Júlio Fogaça enquanto Cunhal esteve preso, entre 1949 e 1960, de novo Cunhal após a fuga do Forte de Peniche em Janeiro daquele ano e depois por Carvalhas.
Carvalhas nem sequer foi eleito. Foi escolhido por Cunhal.
Cunhal escolheu Carvalhas por três razões: a primeira e mais importante porque este lhe obedeceria em qualquer caso ou, o que é o mesmo, não teria força anímica nem coragem para romper com o cunhalismo e encontrar o seu caminho. Carvalhas não seria para Cunhal o que Iglésias foi para Santiago Carrilho que uma vez empossado deixou de ser um homem de palha daquele.
Em segundo lugar porque o momento da escolha foi ainda no tempo em que Gorgatchov mandava em Moscovo e se requeria uma imagem soft.
Em terceiro lugar e não menos importante porque Carvalhas sabia ler e escrever.
Não sou da opinião do camarada algarvio que citei de início. O PCP não está à beira do abismo e se estivesse Jerónimo não daria o passo em frente.
Desde sempre contrariei a ideia de alguns "críticos" ou "renovadores" de que com a sua própria saída o PCP se afundaria. O PCP vai desfalecendo devagarinho pela mesma razão de que nos seus tempos áureos foi forte. O país é muito pobre, há muito povo marginalizado e últimamente voltou a crescer o número dos excluídos e votados à miséria. Esta base social de injustiçados e revoltados vai dando uns balões de oxigénio ao PCP. Novos aderentes, ainda que menos do que os que morrem, virão quer da área dos marginalizados quer da área intelectual juvenil justamente indignada com o que se passa no país.

Comments:
O PCP já deveria ter juízo, idade tem-na, para não exumar o Jerónimo Martins.
Mas hoje a minha preocupação não passa pelo futuro do PCP. A saída de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI é preocupante. Se o professor doutor não teve peso para bater o pé e fazer valer o seu direito a emitir a sua opinião num país livre - Paulo Portas e Pais do Amaral sabem bem com que linhas se cozeram nos tempos do Independente e não só - imaginem o pobre do jornalista pressionado todos os dias nos jornais, televisões e rádios. E o sindicato dos jornalistas anda a dormir.
 
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Dois apontamentos rápidos: 1) sobre o post do Raimundo Narciso; 2) sobre o comentário antecedente.

1) acompanho em geral a reflexão do Raimundo Narciso acerca do PCP. Ele próprio foi expulso do PCP com base numa apreciação que o PCP mais tarde corrigiu. A condenação do golpe de Moscovo que apeou Gorbatchev. Álvaro Cunhal disse, então, que «às vezes Deus escreve direito por linhas tortas» supondo talvez que a ala mais conservadora do PCUS tinha feito um lindo serviço. O PCP de Carvalhas reapreciou o «Golpe», reconheceu que o Partido errou, mas não teve (felizmente) de reabilitar ninguém. Aí o Raimundo Narciso safou-se. Injustamente expulso mas politicamente demasiado activo para ser reabilitado. Seria bom recordar-nos esse exemplar capítulo da nossa vida político-partidária.
Porém, já não o acompanho na fundamentação que faz para a sobrevivência actuante do PCP. A pobreza das gentes e a exclusão nunca foram boa receitas para os PC's. A desindustrialização também não. Acho que o PCP continua viável por outras razões mais profundas.

2) O comentário precedente, justo no essencial, comete a injustiça de supor que o Sindicato dos Jornalistas «anda a dormir». Basta ir ao «site» do SJ e constatar até que ponto, nestes tempos difíceis de reconcentração das empresas mediáticas, os dirigentes e activistas sindicais têm feito das tripas coração. Não têm conseguido grandes resultados, - é certo. Mas não por não por falta de combatividade, ou por não continuarem a tentar e a resistir. Para além do mais, o caso de Marcelo Rebelo de Sousa, como melhor se verá nos capítulos seguintes, não tem nada a ver com os problemas que afligem os sindicatos.
 
Não posso estar em maior desacordo com Manuel Correia na parte do seu comentário relativo a Marcelo. Lá por o homem ser de direita e não concordar com as análises dele, não posso deixar de reflectir no significado da sua saIda tão extemporânea. Toda a gente, que não o governo, está de acordo que é preciso clarificar esta situação, pois houve pressões por MRS ter incomodado o Governo e eis a resposta de Pais do Amaral. E é evidente que o SJ deve estar preocupado com estes atentados à liberdade de expressão como todos nós.
Ana Valente
 
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Eu sei que fica bem, nesta hora de onda pró Marcelo, defendê-lo, apesar de não sermos tripulação da embarcação dele. Tenho chamado a atenção, aqui no PUXA-PALAVRA para os seus malabarismos ideológicos e para um sistema mediático selectivo cuja estreiteza o próprio Marcelo critica (aí estou de acordo com ele) mas onde o próprio vive, desde há muito, à tripa forra.
O Governo não me surpreendeu. De Santana e Portas não espero (desde o princípio) nada de bom. Agiu pessima e estupidamente como é seu timbre. Mas a guerrilha interna do PPD/PSD e de um importante sector do PSD com o Governo populista Santana-Portas não deve ser confundida com a «luta pela liberdade de expressão». Os excluídos da opinião nem são lembrados; os info-excluídos não têm nenhum tempo de antena. Estará, porventura, o País, a tornar-se apenas aquilo que se vê nas televisões?
Quanto tempo vai estar o Professor Marcelo sem púlpito? Aceitam-se apostas. Dois dias? Três?
Quanto vai ganhar, a seguir, para outra estação, se não for para a mesma?
Ana Valente, faça-me um grande favor: não guarde apenas para si a complexa virtude de poder estar de acordo com alguém que não é da sua linha ideológica.
Garanto-lhe que não exprimo esta opinião por o homem ser de direita. Vá lá... É apenas porque os poderosos disfarçados de vítimas dão-me náuseas, primeiro e, depois, uma irreprimível vontade de rir.
 
Manuel Correia aceito perfeitamente que você veja e opine diferente de mim e tudo o que Marcelo, amanhã, depois ou depois lá terá o púlpito. Mas pressões na tentativa de calar alguém incomódo, não deixa de ser indicativo de um governo que se tiver rédeas não tem limites. E permita-me que expresse a minha opinião não por moda mas por pensar assim.
Ana valente
 
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Ana Valente, desculpe. Tem razão. Às vezes exagero um poucochinho. Aquela parte da «onda» é demasiado ardilosa. Acho, como a Ana, que o Governo tentou condicionar o Marcelo. Isso é evidente. Divergimos apenas no que me parece ser algo que ele, Marcelo, também procurou (e que estratega ele é!) - a vitimização.
Com o devido respeito, estas atribulações trouxeram-me (vá-se lá saber porquê...) à memória uma frase do Padre António Vieira: [cito de cor] «As cores que no camaleão são gala, no polvo são malícia».
 
Permitam-me a Ana valente e o manuel Correia que entre na troca de ideias sobre o "caso Marcelo".

É evidente que, tratando de uma figura mediática, um caso destes provoca comentários. E acho que não é correcto falar-se de uma moda. O facto deu-se e quem não concorda pode/deve pronunciar-se, pois de facto indicia até onde este governo quer ir se o deixarem e o tempo da mordaça já la vai.
Clara Fonseca
 
Tudo muito bem, mas acho que a maioria dos comments estão em post errado. Aqui trata-se de uma opinião sobre o PCP. Sobre isso, é-me indiferente seja quem fôr o escolhido, porque acho que o PC, este, é um caso de definhamento.

Mas o que me espanta é o "desconcerto" (face ao que era típico na conduta PCP) na publicitação da renúncia de Carlos carvalhas. vocês que são conhecedores por dentro destes processos têm uma explicação?
I.Videira
 
Se I.Videira e os donos do Blogue me permitem, eu repito opinião: "Num partido onde a essência é escondida dos militantes e da opinião pública, dificilmente se virão a saber os comos e porquês deste anúncio feito daquela forma. Assim, resta a especulação, estando garantido que ela vai trazer o PCP para a ribalta, que mais não seja pela curiosidade irreprimível de tentar adivinhar quem será o sucessor. E assim, a opacidade, o mistério, a arte de bastidores, coisas que são estruturais no centralismo democrático e genuínas das profundezas da sua abencerragem, vão-se prestar à notoriedade, à notícia e ao drama político, agigantando o peso do PCP na cena política e levando-o a uma fasquia acima da sua representatividade e do seu declínio." João Tunes (Água Lisa)
 
Boa achega à questão colocada pelo I. Videira. O João Tunes está sempre atento e agora com novo Blog a que se aconselha uma visita. Um abraço ao Manuel Correia.
 
Não concordo mesmo nada com o meu amigo Raimundo. E lavrei a minha total discordância aqui: http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/326513.html. Abraço. João Tunes
 
Marcelo. A missa dominical do Marcelo era um longo, singular e insólito tempo de antena de um senhor do PSD. Não era tempo de antena do PSD. Ainda que também o fosse era-o em 1º lugar de Marcelo. Concordaria com a sua existência, até porque era bem feito, se às outras correntes de opinião fosse facultado nas TVs tal privilégio. Mas o caso Marcelo não pode ser equacionado em geral mas no contexto das pressões do Governo e da colaboração apressada e despudorada da privada TVI. O que transforma o desaparecimento da missa (um bem em si porque missa única, missa de uma só confissão) num caso de intolerável censura. A luta contra este Governo populista, capaz deste e de todas as censuras para que tenha meios exige que levantemos a missa do Marcelo como bandeira de luta. Não combater fortemente o Governo é que seria errado só porque o Marcelo é de direita, porque as missas do Marcelo não são as nossas missas, porque amanhã estará, talvez na SIC, noutro chorudo negócio a vender o Marcelo/PSD. Claro que este combate, a não perder, não é O COMBATE, ou todo o combate pela liberdade de expressão. Este combate é um oportuníssimo e obrigatório combate contra este Governo de extrema direita. Abensonhado Marcelo se a missa acaba e nos permite com toda a gana atirar com a missa ao veso censurador do Santana/Portas. Penso eu de que...

O CARVALHAS. O anúncio intempestivo da sua "renúncia" (pq num PC q se preza como é o PCP, um secretário-geral só vira a cara à luta, quando insufismavelmente atingido pelas "leis da vida" e se puder deve entregar a pasta a um filho, sobrinho ou afilhado)portanto, dizia, a renúncia de Carvalhas não tão dramática quanto a do presidente cubano (ainda antes do Fidel e do ditador Baptista)que se suicidou com um tiro aos microfones da Rádio Nacional em Havana, mas atirada do meio do Atlântico em plena campanha eleitoral só pode ser uma tentativa de antecipação a notícias que os seus inimigos na direcção do PCP poderiam pôr a correr a destempo e a insinuar (ou provar?)que iam correr com ele.
 
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Censura: os jornalistas conhecem numerosas e diferentes espécies. O caso Marcelo fez despertar a nossa sensibilidade para a censura que se pratica todos os dias na maioria dos órgão de informação. Andámos, então, a dormir até o fragilizado Marcelo - que se fechou em copas até agora - se tornar vítima de uma prática com a qual pactuou sempre.
Apoio evidentemente a «luta contra o governo populista» mas doi-me que a análise das «agendas» se fique pelo frentismo anti-governo, quando são conhecidos membros do PPD/PSD a pedir a cabeça do Ministro Gomes da Silva. O PS, moderno e responsável, ficou-se, para já, por uma convocatória parlamentar ineficaz dos envolvidos. Reparem que, em matéria de «formas de luta» J.Pacheco Pereira vai mais depressa. Pediu a demissão do ministro Gomes da Silva, com base «apenas» nas declarações públicas (aí estou de acordo com JPP) e, se se vier a confirmar que houve outro tipo de pressões censórias (o que, como todos sabemos, deve ser difícil de provar...), a demissão do Governo. Mas, afinal, quem é que não está a ver as «agendas»?
 
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