2004-11-07
Nova crítica do capitalismo (1)
O que mudou na história do The manchurian candidate que numa patusca adaptação portuguesa se tornou no Enviado da Manchúria?
Em 1962, dirigido por John Frankenheimer, (foto da esquerda) a conspiração fora urdida pelo «campo comunista» que programara hipnoticamente militares americanos capturados na Manchúria, com o intuito de liquidar o Presidente dos EUA. Agora, no remake deste ano, assinado por Jonathan Demme, (foto da direita), a conspiração comunista foi substituída por uma urdidura de uma grande empresa da indústria farmacêutica, fornecedora das forças armadas norte-americanas.
Há, com certeza, numerosas outras diferenças a apontar, desde os contextos históricos - Guerra Fria e Guerra da Coreia para a história de 1962; Guerra do Golfo e Campanha Presidencial para a versão de 2004 - ao casting - Frank Sinatra e Laurence Harvey, no primeiro; Denzel Washington e Liev Schreiber, no remake, além de Meryl Streep, que faz de senadora e mãe egoísta, possessiva e destrutiva. E há também sinais interessantes nas alterações e adaptações do novo script.
Parece-me um daqueles casos em que o mais estimulante é o exercício de descobrir diferenças entre as duas versões.
A maior parece-me residir na percepção do «novo perigo» que ameaça a democracia americana: o complot das multinacionais conluiadas com cientistas contratados para o efeito, com militares e outras instâncias da administração, numa poderosa rede eficazmente gerida.
Sinal dos tempos, a nova ameaça ao regular funcionamento das instituições vem de dentro do próprio sistema e é orientada pela maximização do lucro.
Terá mesmo de ser o cinema americano a levar a sério a nova crítica do capitalismo?