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2004-12-09

 

O Aumento da Produtividade e o Desemprego(2)

O meu post sobre esta notícia da OIT mereceu cinco comments de muito interesse pelas questões colocadas. Mas atenção, tratava-se apenas de dar uma informação comentada e não mais. Só o último parágrafo era opinativo e da minha autoria.
No entanto, li os comments como uma tentativa de nos empurrar para a realidade portuguesa.
Pois bem, algumas notas. A situação de partida (actual), utilizando terminologia de um dos comment, é de fortes constrangimentos. A economia portuguesa padece de males estruturais longínquos de solução difícil. Por exemplo, o défice orçamental que não se resolve cortando aqui e acrescentando ali. É um défice que tem de ser agarrado pelo lado das receitas mas sobretudo pelo das despesas e por este lado mexe com muitos interesses no terreno. Urge pensar e reformatar a Administração Pública, o tipo de gestão e acima de tudo os seus alicerces: qual a sua estratégica, ou seja, a AP serve para quê ? E está ao serviço de que valores e objectivos? Sem esta definição e assumpção pela sociedade de uma nova estratégia nada feito: continuaremos aquela estratégia dos remendos.
Outro grande constrangimento é o da inadequação do modelo de desenvolvimento, ou utilizando outra linguagem, o do seu esgotamento.
Sendo radical acho que não tem havido modelo. Há um deixar andar e uma inércia dos agentes económicos e da classe política cuja voz muito ténue é o de admitir uma aposta na competitividade. Mas como? Pouco se diz e ainda menos se faz.
Talvez na base da consigna competitividade seja possível construir as bases de um modelo que desde já entendo leva tempo a singrar. E aqui exactamente poderíamos ir beber em exemplos como a Irlanda e a Finlândia. Ver o que estes países fizeram para hoje ter bases de desenvolvimento competitivo.
É preciso ao partir para a construção das bases ter a noção real que a economia portuguesa no seu estado actual dispõe de pouca margem de manobra para obter ganhos de competitividade. E porquê?
Exactamente porque lhe falham as bases. Tem uma cadeia de valor muito encurtada, sem domínio daqueles elos que geram grande valor acrescentado. Exemplo, as empresas portuguesas do calçado em geral ou melhor do aparelho produtivo sabem fabricar bem alguns bens, mas não dominam a concepção, a moda, o design, as cadeias de distribuição, o marketing, etc., não inovam, tem falhas de conhecimento de como movimentar-se na cadeia e talvez aquilo que hoje a maioria ainda domina deveria deslocalizar pois são aqueles elos que menos valor criam e em que Portugal já começa a não ser competitivo. Agarrar-se a estes elos da cadeia e não saber avançar para outros geradores de maior valor é entrar pelo caminho do empobrecimento. Concretizando na base de estudos internacionais por exemplo para o vestuário e calçado Portugal só abarca umas fases da cadeis que corresponem a 40% do valor gerado ao longo da cadeia. Serão precisas mais teorias?
Mais duas notas centrais apenas. Estes dois constrangimentos estão muito interligados e as soluções, ou melhor, o caminho das soluções tem de estar bem ligados, a outra este país precisa de muita cooperação e geração de confiança entre as instituições, sem nenhumas perderam a sua autonomia. A nossa sociedade civil é fraca e aqui temos um grand handicap competitivo.

Comments:
Este post sugere uma estratégia do seguinte tipo: mão firme na despesa pública e uma política de inovação assumida consensualmente pelo sistema político e pela sociedade civil.
Será que existem as pré-condições para viabilizar esta opção? Pacto de regime em relação à despesa pública e níveis educacionais e qualidade institucional para promover uma estratégia de inovação?
Para já não falar na tal visão estratégica !...
 
Infelizmente, a contenção da despesa e a mutação do padrão de especialização carecem de tempo! Tal não significa que este facto constitua um argumento contra esta proposta mas, antes pelo contrário, um factor adicional ... para que seja feita (de preferência!) ontem!...
 
Parece-me bem que o João Abel de Freitas não tenha focalizado a atenção no Estado e no sistema político e que tenha realçado que que existe também uma postura defensiva e conservacionista dos nossos empresários!
 
Não acho este post nada radical. Antes pelo contrário, parece-me constituir uma reflexão muito equilibrada e realista!
 
Esta proposta corresponde, no fundo, ao choque tecnológico do José Sócrates, não é?
 
Não sou economista, mas este post, meteu-me medo pois vem confirmar uma ideia de que receava ser real. Vamos continuar por muito tempo na cauda da Europa a 15 e mesmo na de 25, pois falta-nos quase tudo para entrar nas fases protutoras de mais valor: a massa crítica e uma classe política que teça linhas de orientação.
 
Vou ser tido por conservador. Mas esta linha de desenvolvimento não significa que o País deve abandonar os ditos sectores tradicionais, como já foi moda há anos?
 
Há bons conservadores porque não? Quem não gosta de bons vinhos bem conservados e tratados?. Já agora vou dar uma achega. Trabalho num daquele grupos português, poucos infelizmente, que dominam ou sabem estar com proveitos na sua cadeia de valor (concepção, tecnologia, inovação, domínio dos mercados, marca, massa crítica)mas concordo que estas actividades. Num mundo globalizado, não tendo que dominar tudo, há que saber escolher parcerias para estar na cadeia em todos os elos, directa ou indirecta. Mas para isto há que "cultivar" uma área de grande pobreza em Portugal. Para nos associarmos há que ter grande respeito pelo sócio, quase mais por ele do que por nós, e este comportamento não é um princípio do empresariado português.
C. Botelho
 
É um post que merece reflexão? mas estaremos assim tão mal? Ainda há pouco ouvi na TV que em carros acima de 200 000 euros, Portugal é um dos maiores na Europa. Tanta massa por aí.....
 
Acho que o post coloca questões de fundo que poderiam muito bem enquadrar uma estratégia de mudança para o nosso país. E refere algo que aprecio, a mudança é algo a implementar que precisa de tempo. Realismo assumido

Daí me questionar sobre as promessas dos nossos políticos que parecem dizer tudo estará bem no dia seguinte á sua tomada de posse.

Assisti a um ministro da economia corrigir, numa sessão pública empresarial, uma ideia sobre a competividade defendida por uma Associação Empresarial a implementar a 10 anos, dizer que o governo faria isso tal e qual a 5. Esse ministro de Durão Barroso continua, hoje, a ter um lugar top como adjunto de Durão. Onde está a massa cinzenta e a seriedade? Atenção, massa cinzenta não é demagogia.
Ana Esteves
 
Peço Desculpa, mas o meu comment (C.Botelho) saiu incorrecto por culpa minha e quase não se percebe o sentido. Eis o que pretendi dizer:
Há bons conservadores porque não? Quem não gosta de um bom vinho bem conservado?
Já agora uma achega ao tema. Trabalho num grupo português, dos poucos que infelizmente existem, bem posicionados na sua cadeia de valor (concepção, tecnologia, inovação, domínio dos mercados, marca, marca crítica). Num mundo globalizado não se pode dominar toda a cadeia de valor. Há que fazer parcerias para nela estar pelo menos nos elos mais determinantes.
Mas para isso é preciso "vencer" uma área de grande pobreza em Portugal: o saber cooperar. Uma cooperação requer um comportamento de respeito pelo sócio, pelo acordo, o que não é um princípio muito consistente no nosso meio empresarial.
 
Acho que este post deveria ser lido tb em conjunto com a da multinacional de Pekin que comprou a IBM -PC. Porquê? Por causa do espírito de aprendizagem que é um factor competitivo que nos falta em grandes doses. Nós somos os desenrascas, não os aprendizes, a formiguinha.
C. Pedro
 
O C. Pedro diz uma coisa muito sensata, "somos um País do desenrasca" (uma grande qualidade). Falta-nos a qualidade básica, a envolvente estratégica. Aqui, excepto meia dúzia de Belmiros(se tanto), o País é um deserto. E isto explica o nosso atraso. E enquanto não houver políticos e sociedade civil que compreendam isto... e os sinais...
 
Os portugueses, sobretudo a nível dos decisores de gestão, são falhos em duas áreas fundamentais: a aprendizagem e a cooperação em plano de igualdade, isto é, com direitos e deveres mútuos. Sem estas normas básicas, nada feito. Como mudar esta mentalidade?
Onde estão as Universidades com o seu papel activo e formativo nessa nova mentalidade?!!!!Precisam-se.
 
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