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2004-12-21

 

O Espectro do Bloco Central (2)


Faz-se um teste didáctico à política e fica-se a perceber o que é proposta democrática e o que é pré-imposição autoritária disfarçada de proposta programática. Sócrates volta à co-incineração sem se perceber exactamente o que quer dizer. Será teimosia? Suporá que conseguirá uma maioria folgada deste modo? É estranho, dado que tem um bom ponto de partida face a um governo que, parafraseando o post de ontem do Mário Lino, não poderia ter ido pior do que foi.

Há qualquer coisa de patético na atitude de um dirigente político que vai a votos e dá prova da mesma obsessão que teve enquanto ministro do ambiente do Governo de António Guterres. Suporá, porventura, que a apreciação negativa da sua postura se delimitará regionalmente?

Onde irão votar aqueles que costumam dar o seu apoio ao PS mas têm declarado o seu irredutível desacordo com a milonga básica e arcaica do Nymbismo?

Que contas estará a fazer a actual liderança do PS?

Comments:
Esta história faz-me pensar que a política está a ficar como a televisão: em vez de se aprofundar as ideias lançam-se para o ar frases curtas e redutoras.
O tratamentio dos resíduos é demasiado complexo para poder ser arrumado com uma simples receita.
 
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A propósito de complexidade: como é que os franceses se dão com os resíduos deles. Fala-se (ou falou-se) disso nos últimos tempos?
 
Recentemente falou-se bastante nos resíduos nucleares, mas isso daria pano para mangas.
Nos resíduos domésticos a França tem uma política de favorecimento da incineração e um grande atraso na reciclagem.
Sobre os resíduos industriais a política oficial é uma mistura de co-incineração, incineradoras dedicadas (por exemplo para os PCB) e armazenamento vigiado (por exemplo para o amianto).
Com alguma frequência há suspeita de problemas de poluição devida a resíduos em fábricas abandonadas ou depósitos selvagens. O mais célebre é o subsolo do estádio construído para o mundial de futebol que obrigou à impermeabilização do solo sob o relvado e à construção de uma central que bombeia os gases gerados por uma antiga poluição de hidrocarbonetos despejados por uma fábrica entretanto demolida.
 
Quando a frase se reduz ao chavão...
Quando a obstinação se identifica com coerência...
Quando a competência se faz por comparação e não pelos resultados...
Eu , porventura, já decidi...
 
Caro Manuel Correia, com toda a sinceridade de companheiro: Acho que é um erro centrar a campanha eleitoral (em termos de prós e de contras) em questões parciais ou sub-parciais (antes da co-incineração, ainda há a discutir questões de fundo sobre a política para o ambiente, onde depois entroncará a questão dos resíduos e milhentas de outras). Claro que topando-se que o calcanhar de Aquiles do Sócrates é "Souselas", há uma tendência de o encostar aí. Para mais, tem a eficácia de "dividir ps´s" e lá volta Manuel Alegre e vem Vital à baila (que, dizem, se prepara para ser cabeça de lista por Coimbra). Só se a direita fosse estúpida (e a esquerda que acha que o PS é de direita) é que não iam aproveitar esta oportunidade. E o que fez a direita estes 2 anos sobre os resíduos? Está tudo resolvido e é a mania socrática pela co-incineração que vem estragar tudo? E que alternativas (não para a co-incineração) mas para os resíduos? Para o meu entender, é um erro que Sócrates se deixe enredar na provocação à Souselas (politicamente, é infantil). E é um combate menor querer apanhar Sócrates nos seus defeitos políticos por aí. Porque é fácil e barato. Proposta minha: aperte-se com o gajo nas grandes questões, sobretudo, que projecto para o País. E como vai fazer esquerda sem "unidade" de esquerda? Foge ou não para o centro? Abraço companheiro. João Tunes
 
Ah, esqueci-me de referir que sobre a co-incineração o único líder que tem posição clara e infalível é o Jerónimo (basta deduzir pq o homem trabalha com Chapa 4): nacionalizava os resíduos, marcava-lhes um plenário para elegerem uma CT unitária (com malta do PEV recrutada na JCP), ele ia lá fazer um discurso (escrito com a mão esquerda, é claro e como sempre) e mandava-os para um curso de marxismo-leninismo, dirigido pelo Domingos Abrantes, num dos muitos Centros Ecológicos que devem ter sobrado da pátria do socialismo tragicamente desaparecida. João Tunes
 
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O comentário do Pedro Ferreira remete-nos para a necessidade de uma visão de conjunto sobre as políticas públicas e, dentro delas, as diferentes regulamentações (com especial mas não exclusiva atenção para os RIP). Concordo que, nessa medida, se trata de uma matéria complexa (intrincada e complicada). A responsabilização dos produtores de RIP que estão habituados a considerá-los «externalidades», está a montante do processo e deveria obviamente ser sempre recordada nestas abordagens.
Quando o João Tunes chama a atenção para o carácter eventualmente subparcial desta problemática, tem razão. Suponho que partilho com ele a preocupação de «entregar» o Governo ao PS, pressionando-o para um desempenho que não constitua mais uma decepção. O plano em que me coloco é o das enunciações políticas de pré-campanha. Quem promoveu decididamente a co-incineração (não um conjunto de políticas para o ambiente) foi a liderança de Sócrates. Os termos em que o fez inquietam muitas gentes. No meu caso, espero pelo programa. Entretanto acho estranho que seja o próprio PS a colocar a questão nestes termos. Porquê privilegiar a co-incineração na complexa problemática dos RIP? É uma questão de fé? De honra? De cientismo?
A fixação co-incineradora de Sócrates é patética. Espero que corrija o discurso, emprestando-lhe proporções mais didácticas e abertura em vez daquele tique obsessivo. Tudo isso com vista a uma maioria folgada que lhe permita governar à esquerda sem ser tutelado pelo espectro do Bloco Central.
Digo maioria folgada em vez de Maioria Absoluta porque, nesta matéria, partilho do pensamento de António Guterres face à maioria absoluta de Cavaco Silva. Se uma maioria relativa já perverte o funcionamento demaocrático das instituições (com os deputados da maioria a votar disciplinadamente, seguindo a orientação do respectivo partido de que o primeiro-ministro é o chefe), uma maioria absoluta tende a fazê-lo de modo absoluto.
A sorte do PS nas próximas eleições é tão importante para a esquerda que macropolítica e minudências não podem ser deixadas apenas nas mãos dos socialistas.
 
Concordo plenamente em que é um erro político (infantil, disse antes) que Sócrates dê de mão beijada a obsessão pela co-incineração. Para mais, a imagem de marca que passa é a da teimosia o que não é atributo de talento para quem quer ser Primeiro Ministro. Ou seja, péssimo será se Sócrates der a entender que quer formar governo para faer o que o guterrismo não fez, não percebendo, pelo menos, que o guerrismo pertence a uma memória detestável e irrecuperável.
E nisto volto à vaca fria - sobre Sócrates tenho muito mais dúvidas que confianças, mas é o que sobrou para a esquerda...
Já não entendi bem essa da "maioria alargada" (mas não absoluta). Concordando, é claro, quanto aos riscos da degradação política que as maiorias arrastam sempre (mas abaixo das maiorias só restam as minorias e essas não governam...). Fica pois um repto para tema de próximo post teu - explicares melhor a ideia. Mas para além da formulação das prevenções (pq dessas já nós sabemos quanto aos riscos). É que maioria relativa, impossibilitada que está a "unidade de esquerda" (objectivamente e para além das "culpas"), resta o quê? Não é o "bloco central" ou um "limiano II"? Desafio feito, fica o abraço. João Tunes / PS - E parabéns ao PUXAPALAVRA que está a animar a malta! (e o Manuel Correia, um dia destes, há-de prestar contas por, de vez em quando, meter férias prolongadas...)
 
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João Tunes, sem esconder o prazer que dá conversar assim (com acordos e desacordos, anuências e resistências), deixo para logo à noite uma melhor explicitação do que me vai na cabeça entre maiorias folgadas, alargadas e absolutas. Obrigado pela chamada de atenção e pela sugestão.
 
Seria bom não se perder a objectividade. De facto nem sequer consigo encontrar na internet uma história de todo o processo da co-icineração.
Se bem me lembro este processo foi conduzido de forma transparente pouco habitual em Portugal.
Depois de estudado, reestudado foram produzidos relatórios claros e objectivos onde ficava óbvio que: Para as populações locais a melhoria ambiental relativamente à situação actual é indiscutível ; A não criação de sistemas dedicados permite fácilmente voltar atrás na decisão quando (se) for provada a existência de melhores soluções; As populações locais fazem parte integrante do processo de fiscalização.
Assim parece-me que o José Socrates fez muito bem em clarificar a sua posição sem se refugiar nas politiquices eleitoralistas. Depois de conduzir bem os processos tem de se decidir e fazer.
A única coisa em que o condeno é o facto de na altura ter escolhido Souselas em vez de Alhandra apenas por ter chegado a acordo com a Rosinha que queria manter Vila Franca quando a maioria dos residuos existem em LVT.
 
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Na minha opinião, nem houve (e ainda não há...) transparência no processo, nem foi (ou é...) claro. Houve e há uma discussão em curso. Se se quiser apreciar prós e contras, há numerosos relatórios, pareceres e outros apontamentos de análise nos servidores de universidades e organizações ambientalistas. É tudo menos simples, claro ou... transparente.
 
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