2005-01-22
Tratamentos mediáticos (1)
Após décadas de acesa controvérsia entre tabaqueiras e associações de defesa da saúde dos consumidores, deu-se por cientificamente provado, em finais do século passado, a associação entre o hábito de fumar e o cancro do pulmão (entre outras afecções malignas provocadas ou agravadas pelo uso do tabaco), de que a imposição legal do aviso de que «Fumar Mata» em local bem visível na embalagem, constitui uma das consequências mais conspícuas.
Porém, ao noticiar que numa dada marca de tabaco foi detectada uma substância perigosa para a saúde (resíduos de um pesticida), o que estão a fazer os «mensageiros»? Estão a dizer-nos que aquilo que mata pode fazer mal à saúde? Não. Por momentos, fazem tábua rasa das características nocivas do produto, tentando concentrar-se no que é aparentemente novo (a detecção de resíduos de pesticida) desprezando o que parece óbvio e fez correr dilúvios de tinta e sound bytes: «fumar mata».
Nos últimos dias, muitos fumadores suspiraram de alívio. Afinal, as peritagens de «laboratórios internacionais» revelam que o tal pesticida deixou de ser detectado nas marcas de cigarros anteriormente mencionadas. Bom, poderia ter sido muito pior: imaginem que a dialdrina tinha sido detectada em todas as marcas de cigarros...
Contrastando com a grande trapalhada que o Governo e os partidos da direita protagonizaram nos últimos meses, Santana e Portas aparecem radiantemente bem dispostos diante das câmaras de televisão, dizem-se disponíveis para quaisquer debates...
Ao manhoso e relutante pedido de desculpas que o PSD/PPD endereçou ao PS, José Sócrates respondeu, justamente indignado, que não o aceitava. O que Santana Lopes, irresponsavelmente, afirmou em Almada sobre nomeações, foi torpe. É o costume. A pública recusa de Sócrates em aceitar desculpas foi de uma inflexibilidade duvidosa, depois de ter exigido a Santana Lopes um público pedido de desculpas.
No jogo político nem sempre ganha quem fica por cima.
Com a publicação dos programas eleitorais, talvez seja possível passar dos incidentes e das minudências de précampanha para a discussão das medidas concretas e para os grandes projectos. Espero. Porém, mesmo que venhamos a ter essa felicidade, convém lembrar a quem se prepara para ser poder que o tom conta e que a crispação serve mal uma estratégia de mobilização e de expansão.
Um abraço
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