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2005-02-07

 

De Santana Lopes aos EUA e ao Iraque

Quando a falta de carácter não conta para a derrota

Tinha decidido nada dizer sobre o frente a frente entre Santana e Sócrates, por supérfluo, depois de tudo o que foi dito. Opiniões de jornalistas para todos os gostos, incluindo a dos conhecidos "avençados" .
Apenas um desabafo.
Será relevante discorrer sobre quem falou melhor, ou estava mais descontraído, ou sobre a técnica de disfarsar, enganar ou vigarizar os eleitores? Até as próprias propostas políticas não perdiam relevância quando um dos contendores se apresentou como um homem sem carácter? Um homem que nega fazer "campanha negra" e tenta fazê-la ali mesmo, com álacre desfaçatez, trazendo à colação e insistindo nos temas dos boatos. Um personagem que procura envolver o adversário com uma hipócrita manifestação de amizade e cumplicidade!
Um homem que é 1ºMinistro e quer voltar a sê-lo, pode ser considerado vitorioso num debate, tenha debitado seja que promessas for, quando não atinge o grau mínimo exigível de carácter e seriedade?


Importar não o melhor mas o pior!

Boatos, mentiras, difamações em campanhas eleitorais não constituem novidade em Portugal. A grande novidade é o seu uso pelo próprio lider de um grande partido, para mais 1º M em exercício.
A campanha "negra" que Santana Lopes inaugurou em Portugal não é invenção sua. Parece ser inspirada nos EUA, onde se podem encontrar práticas eleitorais exemplares e práticas da maior baixeza. Sobre Santana Lopes e as campanhas "negras" nos EUA, desde 1828, entre Andrew Jackson e John Quincy Adams a W. Busch vale a pena ler Nuno Guerreiro no seu excelente blog "A Rua da Judiaria" [aqui]

Importar o "Estado Penitenciário"?

Recomendo a leitura da entrevista no Público de hoje a Loïc Wacquant, "professor da Universidade da Califórnia e da New School for Social Research, considerado um dos maiores especialistas mundiais em prisões. Em "As Prisões da Miséria", obra já publicada em Portugal, explica como as ideias dos neo-conservadores americanos atravessaram o Atlântico e se tornaram "senso comum". "Se a ascensão do Estado Penal é particularmente brutal na América, a tentação de recorrer a instituições judiciais e penitenciárias para jugular os efeitos da insegurança social faz-se também sentir em toda a Europa", avisa. "

PÚBLICO - O que pensa do sistema prisional português?

LOÏC WACQUANT - Sei que a taxa de encarceramento é a terceira mais alta da Europa. Aqui, como noutros países europeus, o número de reclusos tem vindo a aumentar e isso parece-me um desenvolvimento alarmante, porque todos os estudos comparativos mostram que não há relação entre o nível de encarceramento e o nível de crime. A história penal mostra também que a prisão não cumpre a sua missão de recuperação e reintegração social. A verdade é que destrói as pessoas, isola-as, empurra-as para uma espiral de desvalorização.

Fala num "pânico moral" em ascensão na Europa...

Nunca a taxa média de ocupação das prisões foi tão alta e a evolução da criminalidade não justifica isso. Os políticos gostam de pôr os holofotes no crime, gostam de ser vistos a desenvolver acções contra o crime, porque não querem lidar com problemas mais sérios, em particular com o desemprego. O Estado demite-se das suas responsabilidades sociais e os políticos transformam a luta contra o crime num espectáculo moral para reafirmar a autoridade do Estado.
(...)

É a internacionalização do "senso comum" punitivo americano?

Estamos no início do desenvolvimento de um agressivo Estado penitenciário, mas ainda vamos a tempo. Os cidadãos têm de perceber que isto é uma opção política: que tipo de Estado Portugal quer construir? Um Estado Social que providencia os meios de vida e de apoio (saúde, educação, habitação) para todos? Ou um Estado que abandona a sua missão social e se transforma num Estado policial, que limpa as ruas e mantém a ordem nos bairros pobres?
O custo da opção penal é enorme. Aumentar a polícia, os tribunais e as cadeias é muito caro. Mais caro do que desenvolver emprego. Não sei em Portugal, mas na Califórnia são precisos 28 mil dólares por ano para manter uma pessoa atrás das grades. O salário mínimo é 13 mil dólares por ano. Podia-se dar um emprego: 'Pagamos-te desde que não cometas crimes'. Era uma opção muito mais inteligente para pessoas presas por ofensas menores.
(...)
A privatização prisional é um desastre. O país que privatizou mais foi os Estados Unidos, que tem operadores privados a conceber, a construir, a gerir prisões [inclusive o serviço de vigilância]. A população reclusa não pára de crescer [em 2003, a taxa de encarceramento era de 686 por cada cem mil habitantes]. Estas empresas têm interesse em ter mais e mais presos. Fazem dinheiro com cada novo preso que têm. Reduzem serviços de saúde, de apoio social, cortam programas de educação, de trabalho. As pessoas morrem porque não recebem cuidados médicos. (...)
As cadeias de gestão privada foram de zero, em 1987, aos 140 mil presos em 1998. Depois, até havia especulação na bolsa. As prisões eram um dos três investimentos mais recomendados. (...)
Texto completo aqui e aqui. (...)

Texto completo [aqui] e [ aqui].


Os Ayatollah xiitas querem Islão na Constituição e Dick Cheney... acha bem.

O ayatollah Sistani e outros dos mais influentes querem para já um Estado iraquiano islâmico ainda que [por agora!] dirigido por um laico.

O Público num artigo de Francisca Gorjão Henriques (não está disponível on line) citando o NYT, diz que em Bassorá "os partidos xiitas têm transformado a cidade num bastião islâmico desde a queda do regime de Sadam Hussein. Milicianos expulsam vendedores de álcool da rua, as mulheres são agredidas se não se tapam dos pés à cabeça, e em alguns tribunais, os juizes sentenciam com base na sharia.
"Reagindo à polémica [nos EU] o vice-presidente Dick Cheney afirmou que o Iraque tem direito a criar a sua própria democracia sem se tornar numa versão iraquiana da América. (...) Vão fazê-lo de acordo com a sua cultura, a sua história e as suas crenças sobre qual deve ser o papel da religião na sociedade. E é assim que deve ser."

Está visto que a Administração Busch será tão compreensiva com a democracia que está a instalar no Iraque como é com a monarquia teocrática do seu aliado, a Arábia Saudita, desde que possa controlar o petróleo, o gás, os oleodutos, os gasodutos e a região estratégica.


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