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2005-02-26

 

Foi um ucraniano!

Você sai de casa 6ª feira à noite. Vai jantar com uns amigos. Antes de entrar no carro tira o casaco, dobra-o e mete-o no banco de trás. Sorrateira, aproveitando a sua desatenção, a carteira esgueira-se para o chão, para debaixo do carro.
No restaurante você dá pela falta da carteira. Assusta-se. A carteira tem cem euros, os cartões de crédito e do multibanco, o BI, a carta de condução e mais 31 cartões necessários, no dia a dia, para poder falar com a Saúde, o Fisco, a mesa eleitoral, sei lá que mais.
Hum! Ficou em casa, pensa V. para se acalmar. Ou então, então... só se foi ao tirar o casaco. Mas não, V. não aceita, seria terrível de mais. Ficou em casa, é o que é, pensa V. para não abandonar o jantar, os amigos, para não dar parte de fraco e ir a correr para casa ou para a desgraça.
No regresso, numa ansiedade que cresce na razão inversa da distância que o separa de casa ou do... maldito local onde teve a fatal ideia de tirar o casaco, V. recebe um telefonema. Atende aí faz favor, pede V. à sua mulher. O coração quase rebenta.
Pronto! Encontraram a carteira, sem dinheiro, que enfim ainda era o menos, sem os cartões dos bancos, sem cartão nenhum, nada! só uns cartões pessoais com o seu nome e o seu número de telemóvel que permitiu ao dono do café onde toma a bica e onde o carro estava estacionado lhe telefonar solícito e poder partilhar consigo o estertor da raiva, da dor, das pragas.
Foi um ucraniano!! Mais gritava que falava, a pontos de V. ouvir, a um metro do telemóvel, à beira do colapso.
Caro leitor não se assuste que não foi consigo. Foi comigo. E provou-se. Era mesmo um ucraniano. Homem dos seus trinta anos, com a mulher que anda a dias, que veio três anos depois dele e ainda fala mal o Português, a viver numa assoalhada ao lado do café. Mal cheguei fui à casa do ucraniano.
Abri a carteira, estava intacta. Tudo. Oh céus, tudinho ali, dinheiro, cartões, tudo!
Oh homem, você nem parece deste mundo! Fico-lhe eternamente grato.
Sabe - disse-me o Sr. do café - veio ter comigo, nós falamos de vez em quando, parece-me boa pessoa, mostrou-me um cartão pessoal e perguntou-me se eu conhecia. Olhe, então ele que me procure porque achei a carteira dele. Sem nada, está claro? Perguntei-lhe. Pareceu-me que disse sim. Afinal não. Ainda bem. Dizia o Sr. do café ainda sem acreditar.
Vou olhar para a Ucrânia com outros olhos. Ou ao menos para aquele Homem.

Comments:
Eu sou pior que um ucraniano, roubei-te o texto! João Tunes
 
...tem cem anos de perdão. Também eu quando me parece assalto blog alheio. Um abraço
 
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