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2005-02-26

 

O PSD está de volta?


Não sei se repararam, mas na reportagem televisiva feita no final do Conselho Nacional do PPD/PSD, quando Miguel Relvas apresentou à comunicação social as conclusões do conclave, referiu-se sempre ao PSD e nunca ao PPD/PSD. Ou foi impressão minha ou a bandeira e o cartaz que estavam por detrás do Miguel Relvas só diziam PSD.
Mas já Santana Lopes, entrevistado também no final desse Conselho Nacional, referiu-se sempre ao PPD/PSD.
Já estavam a falar de partidos diferentes?

Comments:
O PSD é o quê?

Sim, Sócrates ganhou ao centro, nem me parece que haja grande discussão, aliás porque se ganha sempre ao centro. Mas no centro-esquerda, também me parece óbvio. Esquerda Moderna, lembram-se da candidatura a Secretário-Geral?
Sou insuspeito no comentário que aqui faço. Mesmo quando dentro do PS opto por soluções, opções ou lideranças ditas mais à esquerda(apoiei Sampaio em 88 e 92, fui um dos deputados fracturantes da JS de 95 a 99, fui talvez o último dos Ferristas) sempre me vi e, creio, sempre me viram como um moderado, até um chato cinzentão do centrão. A verdade é que Blair fala de um centro radical, e não é que o seu reformismo de esquerda se prepara para limpar pela terceira vez, o que é mais um feito inédito, as eleições na Grã-Bretanha? Bom, mas digamos que se não fosse militante do PS(é muito difícil imaginar como, mas enfim...)alinharia com o PCP em matéria de direitos sociais, com o BE em questões civilizacionais, com o PSD em organização económica e até em parte com o CDS/PP nalgumas opções de protecção à família. Aposto que muitos militantes, simpatizantes e eleitores do PS se revêem também neste perfil.
No entanto, por mais "central" que seja, não me consigo imaginar sem ser de esquerda. Nem imaginar um PS que não seja de esquerda.
E o PSD o que é hoje? Creio que este post que agora comento acertou na mouche. O PSD é um partido fundamental na história da democracia portuguesa e só por isso devia preocupar-nos o seu estado actual, muito para além do gozo fácil do género "estes tipos bateram no fundo, nem sabem o que são". Já que mais não seja, porque me lembro demasiadamente bem do PS em 85 e até de 87. Ainda que a crise aí não fosse tanto de identidade, mas ainda assim.
A verdade é que o PSD, mesmo tendo historicamente com Sá Carneiro assumido a social-democracia numa deferência aceito que até genuína à social-democracia nórdica e não tendo entrado na Internacional Socialista porque o PS já lá estava e não o permitiu, dizia, o PPD/PSD é um partido de direita, como aliás mostram todos os estudos de opinião. De centro-direita, muito bem até. Que alguma esquerda vote ou até milite sempre ou temporariamente no PSD, concedo. Aliás, Cavaco terá dito no seu auge, que a esquerda moderna o apoiava. Não sei se referia a Villaverde Cabral, Prado Coelho ou simplesmente Pacheco Pereira...Guterres também no seu auge viria por seu lado dizer que a direita descomplexada se revia no PS de então. Teriam ambos razão, nem que fosse só pela eleitoralista piscadela de olho ao famigerado centro. Pero que lo hay, lo hay.
Hoje a disputa no PSD é perplexizante pelo desnorte total a que se parecem entregar os seus dirigentes. Tiro o chapéu a Marques Mendes que estrategicamente e com toda a autoridade tem dito o óbvio: o PSD acantonou-se na direita populista, deu demasiado espaço ao CDS/PP e para reganhar o poder tem de se reposicionar ao centro. La Palisse, claro. Não sei se é o líder ideal para ganhar eleitorado, sobretudo para seduzir a dita sociedade civil tão desconfiada dos "homens de partido" que tão claramente Mendes é. Mas isso é com os militantes, naturalmente. Se o fosse(e confesso que me custa muito imaginar-me em tal situação...) optaria por um Cadilhe, um Borges ou até por um Júdice. Mas esses talvez sejam dos tais senadores de camarote...
No entanto, Luís Filipe Menezes, que foi quem mais atacou o PP na campanha, defende-o como interlocutor privilegiado a par do regresso do PSD ao centro-esquerda. Alberto João Jardim, o tal que não perde uma para tentar humilhar a esquerda, defende o regresso à pureza da social-democracia contra a deriva neo-liberal que atacou o partido desde o cavaquismo. Que parte não percebemos? Todas, parece-me. O partido que aclamou por unanimidade Santana há poucos meses de facto parece estar com esquizofrenia aguda e esperemos que não crónica.
Os resultados eleitorais são muito duros, o passado recente é terrível, 4 anos de oposição é brutal, já nem a certeza de Cavaco na Presidência, a possibilidade de não ser necessário para a revisão constitucional, tudo é dose de cavalo para o partido que mais tempo esteve no governo na democracia portuguesa. Mas seriamente o PPD/PSD faz falta à nossa democracia. Sobretudo quando o PS tem maioria absoluta. E para além da imprescindível alternativa, Portugal precisa de um partido de direita que de forma não populista defenda os valores de uma classe média vagamente conservadora nos costumes, mas muito liberal na economia e no papel do estado. A alternativa a isto é o crescimento dos Monteiros, Portas e sabe-se lá o quê? Nogueira Pinto?! Que saudades de Freitas, Lucas Pires e até de Adriano Moreira! De facto, a direita pode sempre supreender-nos mais negativamente do que julgávamos possível.
É por isso que desejo sinceramente um regresso do PSD à normalidade, após, citando um título dos Pink Floyd(e a coisa está de facto muito psicadélica...), A Momentary(esperemos...) Lapse of Reason. Entretanto, que o governo de Sócrates aproveite esta falta de comparência para marcar muitos golos que assegurem a até amplifiquem a vantagem até às autárquicas e às presidenciais. O país todo agradece.

Rui Carreteiro

ps- eu, Rui Carreteiro, puxa-palavrista, socialista, católico, sportinguista e assim, confesso que tenho nestes últimos meses pecado por omissão. Empenhar-me-ei em não reincidir e em compensar a momentânea(menos longa que o governo de Santana, contudo) ausência. De facto, pela dimensão deste post, estava com uma enorme má-consciência.
 
Parabéns pelo regresso. Isto é que foi um comentário para recuperar terreno. Muito bem.
 
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