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2005-03-09

 

A propósito do post socialismo "moderno" do Raimundo

A leitura do post do Raimundo levou-me a dois breves comentários e a uma nota sobre a reforma nos correios na Suécia. Ainda bem que o preconceito do Raimundo sobre a utilizaçao do termo "socialismo moderno" não está assim tão arreigado. Camões, como ele refere, alertou-nos de muita coisa e uma das quais é esta da adaptação às mudanças. Mas toda a atenção é pouca, pois nem sempre a um invólucro jeitoso corresponde um conteúdo adequado. Depois foi a chamada de atenção para o artigo de Vital Moreira sobre " salvar os serviços públicos". Um artigo com substância a valer uma boa leitura.
A nota sobre as mudanças operadas nos Correios da Suécia vem a propósito de tudo isto (e no post até se fala da qualidade em queda nos correios nacionais), porque essas mudanças traduzem novas formas e instrumentos de "agarrar" o sector público ou, pelos menos, certos domínios do sector público, sustentados numa filosofia de gestão que tenta conjugar competitividade e estado social (alguns economistas suecos referem-se a esta filosofia com o termo de "novo liberalismo").
Entrando nesse "novo liberalismo" o que se passou nos correios suecos (e em outros domínios, como a saúde, ensino, Administração Pública, Transportes, etc.)?. Com a introdução da filosofia e da prática de dois eixos essenciais e estruturantes, a concorrência e a regulação, o buraco financeiro dos correios ficou resolvido e o povo sueco bem servido em serviços postais.
A Suécia torna-se, assim, pioneira no Mundo na ruptura do monopólio da distribuição de cartas. Desde 1993 que, na Suécia, se pode falar com legitimidade de "correios no plural", pois é, a partir deste ano, que o correio nacional, tradicional, passa a confrontar-se com um outro operador - o Citymail - com âmbito de acção nos mercados urbanos e rentáveis.
Mas a reforma não ficou por aqui. Toda a rede de estações e postos de correio foi fechada. Mas não como cá em que se fecha sem alternativa, tendo as populações que percorrer quilómetros e quilómetros para ir a um posto de correio noutra povoação.
Na Suécia fecharam-se estações e postos de correio e em alternativa apareceram, os chamados "pontos de serviço" onde se prestam os serviços postais aos utentes.
O que são estes "pontos de serviço"? São espaços que funcionam nas bombas de gasolina, nos quioques de venda de jornais, nos supermercados, etc, seleccionados pelos correios e que funcionam num horário mais alargado e hoje estes pontos de serviço são em muito maior número do que os postos e estações de correio que existiam
Não houve contestação à reforma? Houve. Vejamos alguns exemplos.
Da parte dos atingidos, os trabalhadores dos correios, a reacção foi fraca por duas razões. Muitos dos trabalhadores aderiram às parcerias, outros negociaram a reforma, até porque havia um grupo significativo de pessoas em idade de reforma.
Várias associações de deficientes têm protestado porque um número significativo de pontos de serviço não satisfazem as condições de acessibilidade adequadas.
Em 8 de Março de 2003 cerca de 53 feministas, das mais conhecidas, publicaram um manifesto protestando contra o facto destes serviços serem prestados em locais onde se vendem filmes e jornais que tratem, por exemplo, do fist fucking.
De tudo isto resulta: o buraco financeiro dos correios resolvido, o orçamento de estado aliviado, e a Suécia tem agora um novo tipo de operadores (correios em forte concorrência) a prestar bons serviços postais.

Comments:
Muito interessante o teu post. Assim até valeu a pena ter escrito o meu.Um abraço
 
Muito interessante. Vale a pena pensarmos se alguma vez algum partido de esquerda em Portugal toleraria uma reforma dos CTT de acordo com tais linhas. Será que o PCP ou o BE estarão alguma vez dispostos a tolerar o abandono do estatismo, para reformar os serviços públicos, abandonando o acessório e o histórico para manter o essencial?
 
Há no nosso País uma cultura de fundo paralisante. O que está é melhor que o que pode vir. E como vivemos muitas décadas em regime de Estado condicionado esse anátema de fundo ainda continua a persistir. As pessoas em todos os domínios agarram-se aos lugares muito tempo. Já viram quem são os nossos "comentadores" desde há vinte anos?
 
A nossa estrutura mental não está ainda receptiva aos dois princípios estruturantes das economias e sociedades nórdicas: a concorrência e a regulação. o meio empresarial recorre sempre aos governos para os proteger por um lado e por outro as entidades reguladoras que vão sendo criadas não beneficiam de um conjunto de princípios comuns e o próprio estado encara-as mais como "uma moda7imitação" do que como um veículo determinante para a saúde da economia e da defesa do consumidor.
 
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
 
Pois, por isso é que estamos a criar o Movimento Liberal Social
 
Ouvi dizer que no início do "socialismo" na Suécia foi abolida a propriedade imobliária privada. Gostava que alguém me esclarecesse sobre este assunto. Muito obrigada.
 
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