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2005-04-08

 

O Papa espectáculo e o Espectáculo do Papa

A RTP confessional.
A inaceitável omnipresença do Papa, por ocasião da sua morte, nos media do Estado laico, releva principalmente da política espectáculo do audiovisual, mas não deixa por isso de ser intolerável. Esperava-se que pelo menos a televisão do Estado, a RTP tivesse o decoro de ser nacional, pluralista e não se apresentar como uma antena do Vaticano.
Que diferença fará este totalitarismo dos media nacionais em torno da morte do chefe espiritual dos católicos da política de propaganda religiosa do antigo Estado talibã do Afeganistão ou da do Estado confessional do Irão.
João Paulo II
Quando morre alguém, pelo menos entre nós, a tradição leva os amigos a sublinhar o que na sua vida havia de melhor e até os estranhos se inibem de lembrar o que era mau. Mas o que tem estado em causa não é o Senhor Karol Wojtyla, natural de Cracóvia e que naturalmente merece o nosso respeito e em alguns aspectos admiração. Nem tão pouco a fé e a emoção dos (verdadeiros) crentes católicos. Mas do que se tem tratado no essencial é da política. Da política de João Paulo II e da sua influência por via religiosa e cultural. E da sua política o que é mais marcante é o seu carácter conservador e reaccionário.
Do seu Governo da Igreja o regresso ao centralismo autoritário, à imposição dogmática de um pensamento nalguns campos "medieval" como é o caso da segregação da mulher na Igreja e na sociedade (mulher procriadora, mulher em casa para criar os filhos), da recusa dos métodos anticoncepcionais, mormente o preservativo como protector da vida face à sida, contra a interrupção voluntária da gravidez, o estigma contra os homosexuais. Recriação de uma hierarquia conservadora na igreja com a selecção predominante de cardeais conservadores, repúdio e marginalização dos movimentos e ideias mais progressistas saídas do Concílio Vaticano II, o favorecimento de crendices e milagres, especialmente em torno das "Imaculadas Virgens Marias" e de Fátima.
Claro que nem tudo era reaccionário ou conservador em Karol Wojtyla. Também havia coisas boas na sua política, como a oposição à guerra, nomeadamente à do Iraque, a sua atitude contra o anti-semitismo e apaziguamento com os Judeus. E haveria ainda a sublinhar traços do seu carácter dignos do maior respeito, admiração e simpatia.
Mas o que as 24horas em 24 horas de televisão, particularmente imperdoável na pública e supostamente plural RTP, nos impingem tem muito pouco de análise imparcial e visão pluralista.

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