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2005-06-30

 

A César o que é de César. A Deus o que é de Deus

Na base da velha e sábia máxima que, aliás ouvi ontem ser proferida na TSF pelo presidente da Confap-confederação nacional das associações de pais, a propósito da nota do episcopado português sobre a educação sexual entenda-se o que defende a Igreja Portuguesa: que as famílias portuguesas participem no processo de equacionamento da educação sexual das escolas. Até aqui tudo bem. A questão chave, porém, não é esta. É que na nota que a conferência episcopal vai enviar ao Ministério da Educação defende, de forma muito firme, que as famílias devem intervir na definição dos conteúdos e na selecção dos professores.

A igreja parece ter-se esquecido que estamos num estado laico com uma concordata e que esta posição excede, deixem-me usar um pleonasmo, excessivamente o seu campo de intervenção. Deus segundo aquela velha máxima está em muito a entrar no campo de César. E César certamnete não gosta.

Ainda bem que pelo menos a Fenprof e a Confap já rejeitaram esta intromissão da igreja em matérias que não são da sua esfera.

Mas avançando um pouco mais. Em minha opinião, a igreja, pelos seus tabus e conservadorismo de séculos, é a principal responsável pelo estado de preparação das pessoas para a vida neste campo da sexualidade . Para a igreja sexualidade é sinónimo de procriação e mesmo esta numa visão muito redutora. O projecto em causa, segundo se sabe, está a ser preparado por uma comissão com gente credenciada cientificamente e procura chegar a um programa com uma visão cientifcamente sustentada para base da educação sexual a ser transmitida de acordo com as idades. Por outro lado, a igreja não desconhece a deficiente preparação no seio de grande parte das famílias para abordar esta temática. Por conseguinte, dificilmente se entende esta posição da igreja, que não deixa de ser medo de perder o pé, numa área que gostaria de ter cativa, por lá no fundo reconhecer que a sua intervênção nesta área deixa muito a desejar. Mas desiluda-se já perdeu o pé, essencialmente no meio católico, mesmo no conservador.


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