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2005-07-28

 

Os grandes projectos de Investimento

.... são sempre polémicos, qualquer que seja a decisão política. Porque de política se trata, embora devam estes projectos para uma tomada de decisão assentar em bases técnico-económicas.

Ainda há dias ouvia o Prof. Miguel Beleza a pronunciar-se contra a Expo e o Europeu. Recuando no tempo muitos constestaram o CCB, a ponte Vasco da Gama e, até a AutoEuropa foi considerada um mau investimento por pessoas responsáveis como Pedro Ferraz da Costa, então no cargo de presidente da CIP, com o argumento de que retirava fundos PEDIP aos empresários portugueses, certamente àqueles cujo objectivo é vender a estrangeiros depois pelo maior lucro. Hoje está claro que este investimento, para além dos efeitos indutores na economia, é das nossas poucas tábuas de salvação (até quando?).

Não acho mal a "boa" polémica, entendendo como tal a polémica bem fundamentada que acrescenta conhecimento a quem não sabe e a quem sabe da "poda".

Acho-a de grande utilidade e constitui uma forma de estar cívica e para ela devem ser carreados todos os tipos de argumentos. É o que se passa, aliás, em países como o Reino Unido e nórdicos. Menos em França, apesar de a haver.

Não é infelizmente o que se passa entre nós. Há qualquer coisa de intrínseco que nos leva sempre a uma de duas situações: ou não há ou há má discussão ou as decisões arrastam-se por longas e boas décadas. O Alqueva é um caso paradigmático do atraso e dos seus custos para o país com especial impacte no Alentejo. E hoje que tão bom seria ter um Alqueva em pleno!!!. Até a balança comercial seria outra...já para não falar da seca.

Isto vem a propósito do PIIP (plano de investimentos públicos do actual governo recentemente apresentado) e dos projectos que abrem mais o olho pela sua dimensão: OTA e TGV.

Acho com toda a sinceridade que tem faltado a boa polémica, querendo com isto dizer que falta informação pública e que os actores que têm entrando na polémica incluindo os 13 economistas do manifesto (por muitos dos quais tenho bastante apreço) não carrearam informação útil para quem não sabe e então para quem sabe alguma coisa foi a completa desilusão. O governo também não tem tido um bom desempenho no sentido da boa polémica. Terá avançado e decidido da forma mais fundamentada, acredito, mas não chegaram até nós os fundamentos da decisão e depois de tamanha confusão de traçados de TGV e de alternativas de aeroporto no passado, impunha-se um melhor trato de tão melindrosa questão. Ainda é tempo não de parar com a polémica mas de contribuir para um novo modelo de polemizar entre nós. que diabo não somos um país tão incivilizado!!!Mas parece.

E já agora uma nota final sobre a questão das eólicas, mais grave pela oportunidade perdida nas contrapartidas. Numa visão de futuro as contrapartidas a exigir não eram de "fundos" mesmo de inovação, mas de investimento com transferência de saber a aplicar em sectores emergentes. Alinhou-se numa posição conservadora que, na prática, canaliza o concurso para ampresas europeias e que pouco nos traz para um mudança de estrtura produtiva. O investimento a atrair como contrapartidas deveria ser de origem americana.


Comments:
Hum. Que impacte posivito teve o CCB e o Europeu na nossa economia? O CCB absorveu durante 2 anos 98% do orçamento da Cultura nesse país, e hoje, que input introduz na nossa Cultura? A taxa de retorno desse investimento parece-me muito baixa... E o Euro2004? Ainda hoje estamos a pagar os malditos estádios da bola que infectaram todo o país. Além das cervejeiras e de alguns hotéis que retorno houve?
 
Rui Martins

Numa análise de impactos de um investimento não é correcto limitar-mo-nos apenas aos efeitos quantitativos. Há outros como a imagem do País, a projecção de competências demonstradas que têm ou podem ter se devidamente exploradas o seu efeito positivo e por vezes se bem promovido pode arrastar investimentos ou a prestação de serviços ao exterior. Com isto não quero dizer que aceito todos os grandes projectos. E cita bem os dois exemplos mais díspares o CCB e o Euro, lançados por dois governos matricialmente diferentes, contestados exactamente pelo campo oposto.Acho que isto vem em favor da minha tese. Discute-se sem argumentos válidos, sem entrar no essencial na base apenas do político, sem uma visão de conjunto.
 
Concordo com o João Abel de Freitas. Na análise de investimentos (públicos ou privados) não nos podemos remeter a uma avaliação estritamente financeira. Sobretudo nos grandes investimentos, existem externalidades sobre a imagem do país e efeitos estruturantes na economia que, embora incertos e defíceis de estimar, não devem ser ignorados.
 
Concordo com a ideia de que, face à existência de restrições financeiras crescentes, é necessário retomar a avaliação de projectos (i.e., a análise custo-benefícios) como pre-condição essencial para a decisão sobre grandes projectos de investimento. Mas, atenção, a avaliação de projectos não será nunca uma panaceia para eximir a necessidade da decisão política. Tratando-se de estimativas sobre desempenhos futuros (e, frequentemente, reportados a horizontes temporais muito dilatados) e referentes a externalidades cuja valorização monetária é, muitas vezes, indirecta, os resultados da análise custo-benefícios apenas propõem cenários alternativos, a maior parte das vezes não suscptíveis de hierarquização, e que carecem, em última instância de uma opção política.
 
Vergo-me face à sapiência dos 13 Economistas do Manisfesto. No entanto, devo confessar que começo a estar um pouco farto de uma conjunto de sujeitos que falam em nome de uma classe profissional sem qualquer espécie de mandato! E, para além disso, baseiam o seu discurso no pressuposto, a meu ver errado, de que a avaliação de projectos é uma espécie de poção mágica que permite identificar a solução optima para tudo. Em boa verdade, trata-se de um conjunto de sabichões (são quase sempre os mesmos e falam sobre tudo e mais umas botas!), uma espécie de oráculo colectivo que adoram travestir-se de políticos sobre o disfarce de uma falsa inquestionabilidade técnica.
 
Mas a verdade é que os Economistas apenas ocupam o espaço que lhes é dado, de bandeja, pelo governo que comete o erro de não partilhar, de uma forma pedagógica e organizada, informação sobre a OTA e o TGV.
 
O governo está a dar de mão beijada todos os trunfos à oposição ao não ter o cuidado de prestar informação. Na sua atitude louvável de agir "Fundo",podia aqui também dar o ar da sua graça e inovar à maneira nórdica (não é isso que Sócrates disse que era o seu modelo?)promovendo um largo e longo debate (6 meses)sobre estes e outros projectos.Informar é enraizar o poder democrático.
 
A melhor postura dos 13 "sábios", com todo o direito a manifestarem-se,teria sido a de pressionar o governo para a discussão.Não foram por esse caminho,é um direito. O seu manifesto foi assim um produto menor.
 
Entendo que se trata de projectos estruturantes e com grande impacte agora e no longo prazo. Estes projectam podem ser positivos para a imagem de Portugal no exterior. A imagem de um país a caminho da modernidade. Depois são projectos se bem conduzidos dão emprego, podem incorporar saber nacional e internalizar saber e deste modo potenciar actividades existentes e novas e criar novas competências de exportação na área dos serviços. Também há os lobby's.

Tudo isto não justifica que tenhamos de aceitar qualquer decisão. Não é indiferente o traçado do TGV. Nem a localização do novo aeroporto. A decisão é sempre do governo. Mas não houve debate, uma pedra basilar de um Estado em democracia.E aqui o governo está ... a derrapar.
 
Esta questão dos grandes projectos é de facto importante. Tanto nos hipoteca como nos projecta como país. Por isso não pode ser assumido de ânimo leve e sem uma estratégia de fundo. Daí a necessidade de informação e de discussão a partir dela.Contribuir serenamente é um bom exercício de democracia.
Ana Esteves
 
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