2005-07-26
SOARES À PRESIDÊNCIA (2)
Dado o hipotéctico vezo centrista de Sócrates, parcial, em seu entender, do bloco central, fez um acordo (tácito, naturalmente) com o PSD ou com a direita ou só com Cavaco. Cavaco ajudava a vitória de Sócrates contra Santana Lopes e Sócrates ajudaria Cavaco a chegar a PR não facilitando o aparecimento de nenhum candidato presidencial do PS capaz de o derrotar.
É esta a tradução que faço do "PS enredado em compromissos eleitorais".
Em que assenta esta interpretação da realidade? Na declaração de Cavaco favorável a Sócrates e prejudicial a Santana Lopes na campanha eleitoral para a AR. E na presunção de que Sócrates sabia desde sempre que Guterres não se candidataria.
José Sócrates, de acordo com os hipotéticos "compromissos eleitorais" com o PSD, com a direita ou só com Cavaco, apoiaria Manuel Alegre, um candidato imolado à vitória certa de Cavaco.
Como encaixar então o hodierno apoio de Sócrates a Mário Soares, candidato perigoso para Cavaco? Sócrates foi encostado à parede! Soares disponibilizou-se e Sócrates não teve outro remédio senão dizer que o apoiava.
É isto o que o artigo de Manuel Correia diz? Ele o esclarecerá certamente.
Tenho uma explicação mais simples, menos elaborada, menos maquiavélica para a realidade. O que talvez redunde em não ter em tão alta conta os actores deste drama.
Cavaco com uma declaração favorável a Sócrates mais do que apoiar o candidato socialista a 1ºM quer impedir que o seu arqui-adversário Santana Lopes tenha uma vitória que o possa levar a passar-lhe a perna, candidatando-se ele, Lopes, à presidência da república.
Sócrates, como toda a gente, constacta que o PS não tem nenhuma figura capaz de fazer frente a Cavaco. A não ser, talvez, Guterres. Guterres desmente sempre a sua vontade de se candidatar. O que na realidade não quer dizer, no caso, absolutamente nada. Guterres, no entanto, reaparece em vários eventos públicos e apalpa o terreno da sua popularidade. Guterres preferiu um bom cargo internacional a arriscar. Tanto mais que a onda de popularidade não se esboçava. Sem Guterres, restava Vitorino. Mas Vitorino também não quis. De modo que apenas com Manuel Alegre em carteira, sem condições de vitória, o PS acabou por chegar à hipótese Mário Soares. Hipótese de recurso, sem dúvida, tendo em conta a sua idade. Mas, como aqui, no Puxa Palavra, alguns já tinham concluído, a única que poderia dar garantia de vitória. E, sendo Soares aquele combativo animal político, não era nenhum absurdo considerar que a idade fosse um factor insuperável.
Já que gostam de teorias conspirativas, tomo a liberdade de acrescentar mais uma. Cá vai.
Agora que são muito amigos, Sócrates e Freitas combinam a entrevista que o MNE ia dar ao DN. A coisa está a correr mal e é preciso criar aqui qualquer coisa para desviar atenções. «Vamos lá resolver a história das Presidenciais». Freitas fica encarregue de pegar fogo ao circo e diz-se disposto a avançar para Belém.
Homem de barba rija, poeta de esquerda, Alegre resolve que é hora de voltar a dizer não à reacção e avança confiante.
O Bochechas, que anda farto de não fazer nada e tem uns amigos a dizer-lhe que devia era candidatar-se também, chega-se à frente. Lança a isca no Expresso, para apalpar terreno.
Estava resolvido o problema do primeiro-ministro. Sem dar tempo para ninguém respirar, Sócrates vem a público apoiar Soares e mata dois coelhos de uma só vez: vinga-se de Alegre, que lhe fez a vida negra na luta à liderança do PS, e arranja o candidato ideal. É que, depois da previsivel derrota nas autárquicas, se Soares perder para Cavaco, a derrota será mais do candidato do que do PS... Por outro lado, dá também a Soares a hipótese de se vingar de Alegre, a quem o bochechas não perdoa não se ter juntado ao seu filhote na corrida à liderança do PS.
Ora aqui está a minha teoria da conspiração. Logo eu, que nem sequer tenho um sótão...
Atenção Velhos com "V" e não velhos com "v" como Cavaco, pois estes não tem a ver com a idade mas com o anquilosamento e a preguiça cerebral.
Ana Esteves
Agradeço também a particpação dos outros cementaristas que assim ajudam a ver o caso sob diferentes pontod de vista. É interessante ver a grande actividade e nervosismo da direita com o surgimento da candidatura de MS. Pacheco Pereira, no Abrupto, mais elaborado que Marcelo propõe várias linhas de ataque.
É evidente que se o PS tivesse bons candidatos ganhadores ninguém pensaria ir dar mais trabalhos a um "jovem" de 80 anos. Mas acho que apesar da maçada MS encara o desafio com o seu habitual sentido lúdico da política.
<< Home