2005-08-19
Soares à Presidência (4)
Mário Soares manifestou apoio público à candidatura de Manuel Alegre, caso este último se candidatasse à Presidência da República. Depois, Soares mostrou-se, ele próprio, disponível para concorrer a um terceiro mandato. Entretanto, José Sócrates, cujo candidato presidencial brandido na sua corrida à presidência do PS era António Guterres, prometeu, primeiro a Alegre e, depois, a Soares, o apoio do seu partido, caso eles decidissem candidatar-se. O grande colectivo partidário que o PS é, viu-se, pois, confrontado com duas manifestações de apoio a dois candidatos diferentes, enquanto o diabo esfregava um olho.
Reveste isto alguma gravidade?
Para o meu amigo Raimundo Narciso, Ana Esteves, A.B.C. e outras entidades mais ou menos virtuais (postas a conversar nestas alturas de aperto ideológico), reveste. Porém, não acham pragmático que nos detenhamos a analisar e discutir sobre isso. Dizem eles e elas que, tendo já escolhido (Soares), não é agora tempo de nos pormos com essas perdas do mesmo.
Ao falharem, reverencialmente, (como sempre), a discussão sobre o que Soares tem de melhor e de pior, evitam enxergar o modo acrítico e irreflexivo com que temos vindo a fazer política.
Para evitar o plebiscito de Cavaco Silva, arriscamo-nos a plebiscitar Mário Soares.
Para não deixar o PS no deserto presidencial em que a liderança de Sócrates o internou, relativizam e menorizam, na política, a dimensão ética. Vêem o que se passa (se vêem!) mas afeiçoam-se a um pragmatismo que preza a eficácia em detrimento dos princípios. Mantêm, assim, uma atitude dúbia relativamente ao que mais tem desacreditado a actividade política.
Como é que a pedirem mais do mesmo podem convencer alguém de que estão seriamente preocupados com a cultura política do eucalipto? [ver discussão do poste Soares à presidência (3), aqui]
A alternativa a Soares é a vitória de Cavaco nas próximas presidenciais? Talvez fosse. Todavia o entendimento tácito com o que Soares e a política portuguesa têm de pior, mesmo triunfando sobre Cavaco, não auguram nada de melhor, depois.
E depois, a pressa política que poderá haver em convencer Ramalho Eanes ou Jorge Sampaio a se recandidatarem, poderá não deixar espaço ou tempo para quaisquer discussões.
O que Soares tem de melhor obriga-nos a silenciar o que ele e nós, no nosso pior, dizemos querer transformar?
Assim nos condenamos, pois, a ter no passado o nosso melhor futuro.
Comments:
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Soares não está igual a si próprio. Quem observou a sua última entrevista televisiva pôde aliás constatar isso mesmo.
Quando o nome de Cavaco começou a surgir como inevitável na Presidência porque no PS nenhum nome à altura surgiu, e Vitorino - uma vez mais - fugiu com o rabo à seringa Soares receou ter que viver os anos que lhe restam à sombra do "presidente" Cavaco, o seu arquirival favorito.
Assim avançou por cima de tudo e de todos, à custa de um dos seus mais antigos amigos e sem sequer pensar seriamente nas consequências deste avanço.
Quando o nome de Cavaco começou a surgir como inevitável na Presidência porque no PS nenhum nome à altura surgiu, e Vitorino - uma vez mais - fugiu com o rabo à seringa Soares receou ter que viver os anos que lhe restam à sombra do "presidente" Cavaco, o seu arquirival favorito.
Assim avançou por cima de tudo e de todos, à custa de um dos seus mais antigos amigos e sem sequer pensar seriamente nas consequências deste avanço.
Ai este é que era o poste da tardinha. Meu maroto, Manolo, mas desta vez estou de acordo contigo. Um abraço
Edmiro
Edmiro
Numa coisa tem o autor do artigo razão, Soares rasteirou traiçoeiramente Alegre e há muitas gentes que, por não gostarem do Alegre, não marcam falta. É como um jogo entre a Fátima Felgueiras e o Valentim Loureiro arbitrado pelo autarca de Marco de Canavezes. Vale tudo. Há gente que não é capaz de marcar falta a Soares.
Inácio Videira
Inácio Videira
Olá Videira! Então por Portugal ou a blogar de ÁFrica. Bem vindo em qualquer caso.
Sobre "Soares à Presidência" então.
O debate, para assim chamar a esta floresta de sombras e equívocos,parece-me no mínimo surrealista. Vamos lá a ver se consigo entender.
Aparece um fabiano que quando ainda não se suspeita que Soares venha a ser candidato (14 de Junho, umas semanas antes para ser mais rigoroso) e faz um apelo à sua candidatura. Um mês e meio depois o Sr.(que não sabe nem quererá saber o que penso sobre o caso) "ameaça" candidatar-se. O tal fabiano, no caso, o que escreve estas linhas, grita, éférriá, vitória, foguetes, bandeiras em arco, arraial, arraial!!! O homem vai aceitar! no transe em que a esquerda está é o melhor que se pode arranjar e tem grandes chances de ganhar ao Cavaco. A esquerda?! A esquerda salvo seja, dirão alguns. Claro. Convemhamos. Estou a falar apenas daquela que apoia Sócrates sem reservas, da que apoia Sócrates com reservas, da que não apoia Sócrates mas apesar de tudo não vê o PSD, com ou sem CDS, como uma alternativa melhor, da que, não acreditando que haja milagres, não espera que caia do céu um candidato virgem, puro, imaculado e quiçá milagreiro.
A outra esquerda tem todo o direito de ficar incomodada. Ficar surpreendida por se meter o carro à frente dos bois. Então não temos que discutir a função presidencial antes de apoiar sem mais nem menos um candidato? Sem conhecer nem discutir o programa do candidato a candidato. Estudar os grandes objectivos nacionais e observar a compatibilidade de um e outros? Não temos depois de analisar se o candidato dá garantias de querer cumprir o seu programa? Não necessitamos de estudar para tal o seu passado. Longínquo e presente. Atraiçoou algum amigo que também queria candidatar-se? Deixamos passar isso de ter dito que apoiava o poeta/candidato Manuel Alegre e agora pelas costas, "traiçoeiramente" como Judas, candidata-se ele. Não é isto ignominioso? Candidato assim nunca. Nunca e nunca!
Se os amigos que simpaticamente aqui deixam suas opiniões não chegaram há pouco de qualquer outro planeta escuso-me de lhes apresentar Mário Soares, Cavaco Silva e Manuel Alegre.
Se querem a vitória de Cavaco estão no seu direito e com eles estarão, suspeito, pelo menos à segunda volta,se houver, perto de metade do universo votante.
Como não afirmam apoiar Cavaco presumo que preferem a sua derrota. Desde que, legitimammente, seja por um candidato melhor que ele. Se for Valentim Loureiro prefiro Cavaco, se for Fátima Felgueiras prefiro Cavaco, Se for o ti Alberto prefiro Cavaco, etc,etc. Os incomodados com o apoio "precoce" a Soares é porque acham que ele é uma solução pior ou não melhor que a do Professor? Então têm de dizer para sabermos do que falamos.
Acham que é melhor mas como "traiu" o Manuel Alegre amigo do coração" não queremos. Queremos antes o poeta mesmo que não ganhe. Para não perdermos os valores, nem o sentido ético da política, nem a tonta ingenuidade (se fosse o caso), para não termos mais do mesmo. Mas Cavaco já não é mais do mesmo? Ou a amena conversa de blog "inventaria" o tal candidato?
Depois há também o incómodo da vitória de Sócrates culpado de não ter inventado um candidato. Poderia ter começado logo que o seu preferido Guterres foi lá para fora, a construir um jovem ou uma jovem candidata que ganhasse a Cavaco. Pois.
Meus amigos. Estamos a falar de quê?
Estou à espera que os meus amigos apresentem alternativas ao candidato que me parece ser o único capaz de vencer Cavaco e obviamente melhor, muito melhor, para que este não torpedei o governo de Sócrates como ansiosamente toda a direita espera que ele faça se ganhar as eleições.
Bom fim de semana é o que eu sinceramente desejo a todos.
Sobre "Soares à Presidência" então.
O debate, para assim chamar a esta floresta de sombras e equívocos,parece-me no mínimo surrealista. Vamos lá a ver se consigo entender.
Aparece um fabiano que quando ainda não se suspeita que Soares venha a ser candidato (14 de Junho, umas semanas antes para ser mais rigoroso) e faz um apelo à sua candidatura. Um mês e meio depois o Sr.(que não sabe nem quererá saber o que penso sobre o caso) "ameaça" candidatar-se. O tal fabiano, no caso, o que escreve estas linhas, grita, éférriá, vitória, foguetes, bandeiras em arco, arraial, arraial!!! O homem vai aceitar! no transe em que a esquerda está é o melhor que se pode arranjar e tem grandes chances de ganhar ao Cavaco. A esquerda?! A esquerda salvo seja, dirão alguns. Claro. Convemhamos. Estou a falar apenas daquela que apoia Sócrates sem reservas, da que apoia Sócrates com reservas, da que não apoia Sócrates mas apesar de tudo não vê o PSD, com ou sem CDS, como uma alternativa melhor, da que, não acreditando que haja milagres, não espera que caia do céu um candidato virgem, puro, imaculado e quiçá milagreiro.
A outra esquerda tem todo o direito de ficar incomodada. Ficar surpreendida por se meter o carro à frente dos bois. Então não temos que discutir a função presidencial antes de apoiar sem mais nem menos um candidato? Sem conhecer nem discutir o programa do candidato a candidato. Estudar os grandes objectivos nacionais e observar a compatibilidade de um e outros? Não temos depois de analisar se o candidato dá garantias de querer cumprir o seu programa? Não necessitamos de estudar para tal o seu passado. Longínquo e presente. Atraiçoou algum amigo que também queria candidatar-se? Deixamos passar isso de ter dito que apoiava o poeta/candidato Manuel Alegre e agora pelas costas, "traiçoeiramente" como Judas, candidata-se ele. Não é isto ignominioso? Candidato assim nunca. Nunca e nunca!
Se os amigos que simpaticamente aqui deixam suas opiniões não chegaram há pouco de qualquer outro planeta escuso-me de lhes apresentar Mário Soares, Cavaco Silva e Manuel Alegre.
Se querem a vitória de Cavaco estão no seu direito e com eles estarão, suspeito, pelo menos à segunda volta,se houver, perto de metade do universo votante.
Como não afirmam apoiar Cavaco presumo que preferem a sua derrota. Desde que, legitimammente, seja por um candidato melhor que ele. Se for Valentim Loureiro prefiro Cavaco, se for Fátima Felgueiras prefiro Cavaco, Se for o ti Alberto prefiro Cavaco, etc,etc. Os incomodados com o apoio "precoce" a Soares é porque acham que ele é uma solução pior ou não melhor que a do Professor? Então têm de dizer para sabermos do que falamos.
Acham que é melhor mas como "traiu" o Manuel Alegre amigo do coração" não queremos. Queremos antes o poeta mesmo que não ganhe. Para não perdermos os valores, nem o sentido ético da política, nem a tonta ingenuidade (se fosse o caso), para não termos mais do mesmo. Mas Cavaco já não é mais do mesmo? Ou a amena conversa de blog "inventaria" o tal candidato?
Depois há também o incómodo da vitória de Sócrates culpado de não ter inventado um candidato. Poderia ter começado logo que o seu preferido Guterres foi lá para fora, a construir um jovem ou uma jovem candidata que ganhasse a Cavaco. Pois.
Meus amigos. Estamos a falar de quê?
Estou à espera que os meus amigos apresentem alternativas ao candidato que me parece ser o único capaz de vencer Cavaco e obviamente melhor, muito melhor, para que este não torpedei o governo de Sócrates como ansiosamente toda a direita espera que ele faça se ganhar as eleições.
Bom fim de semana é o que eu sinceramente desejo a todos.
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Costuma ser esta a hora em que RN sai à liça e outros e outras debatentes recolhem à sombra das árvores anónimas.
Viva, pois, meu caro amigo Raimundo Narciso.
Reparo com alguma surpresa, confesso, que a dimensão ética e a questão dos princípios não te suscitou nenhum comentário substancial, para além de uma alusão passageira e desdenhosa.
Enquanto os potenciais candidatos não se candidatarem, não percebo nem a pressa nem o receio tão dramatizados. Como sabes, por certo, para esses peditórios, já dei.
Como desta vez o rasteirado foi Manuel Alegre, que na tua alegre prosa é além de poeta, (coisa que apouca os actores políticos desde Platão, pelo menos) alguém que não pode ou deve clamar por justiça e equidade, permites-te o mimo oitocentista de uma tirada como esta:
«Queremos antes o poeta mesmo que não ganhe. Para não perdermos os valores, nem o sentido ético da política, nem a tonta ingenuidade (se fosse o caso), para não termos mais do mesmo.»
Posto isto, e em aditamento à minha prosa lá de cima, sempre direi que o desconchavo da política portuguesa já não reside tanto em Mário Soares, mas naqueles que lhe estendem a passadeira, como no passado estenderam a outros, reverencialmente e sem condições, sem reclamações, recomendações ou quaisquer outros sinais para além dos atávicos chapéus na mão («Passe V. Exa., a presidência está à sua espera. Faça-lhe, outra vez, bom proveito»), e das bocas fechadas para tudo o que pode molestar as «grandes figuras» do século e os «grandes homens» da história.
Quem acha que eles já não podem ouvir o que tivermos para lhes dizer, ficou, de facto, parado no tempo. A política há-de sobreviver-lhes. Confio.
Poderei vir a votar (outra vez) em Mário Soares. Porém, amigos meus, este é o tempo de lhe dizer publicamente que não aprovo eticamente o que fez, o modo como o fez e o cortejo de silêncio com que se compraz depois de o ter feito.
Os actos ficam com quem os pratica.
O silêncio de desculpabilização acerca deles ficará com quem assim o entender.
Comigo, - não!
Ah!..., e também, é claro, um bom fim de semana para todos.
Costuma ser esta a hora em que RN sai à liça e outros e outras debatentes recolhem à sombra das árvores anónimas.
Viva, pois, meu caro amigo Raimundo Narciso.
Reparo com alguma surpresa, confesso, que a dimensão ética e a questão dos princípios não te suscitou nenhum comentário substancial, para além de uma alusão passageira e desdenhosa.
Enquanto os potenciais candidatos não se candidatarem, não percebo nem a pressa nem o receio tão dramatizados. Como sabes, por certo, para esses peditórios, já dei.
Como desta vez o rasteirado foi Manuel Alegre, que na tua alegre prosa é além de poeta, (coisa que apouca os actores políticos desde Platão, pelo menos) alguém que não pode ou deve clamar por justiça e equidade, permites-te o mimo oitocentista de uma tirada como esta:
«Queremos antes o poeta mesmo que não ganhe. Para não perdermos os valores, nem o sentido ético da política, nem a tonta ingenuidade (se fosse o caso), para não termos mais do mesmo.»
Posto isto, e em aditamento à minha prosa lá de cima, sempre direi que o desconchavo da política portuguesa já não reside tanto em Mário Soares, mas naqueles que lhe estendem a passadeira, como no passado estenderam a outros, reverencialmente e sem condições, sem reclamações, recomendações ou quaisquer outros sinais para além dos atávicos chapéus na mão («Passe V. Exa., a presidência está à sua espera. Faça-lhe, outra vez, bom proveito»), e das bocas fechadas para tudo o que pode molestar as «grandes figuras» do século e os «grandes homens» da história.
Quem acha que eles já não podem ouvir o que tivermos para lhes dizer, ficou, de facto, parado no tempo. A política há-de sobreviver-lhes. Confio.
Poderei vir a votar (outra vez) em Mário Soares. Porém, amigos meus, este é o tempo de lhe dizer publicamente que não aprovo eticamente o que fez, o modo como o fez e o cortejo de silêncio com que se compraz depois de o ter feito.
Os actos ficam com quem os pratica.
O silêncio de desculpabilização acerca deles ficará com quem assim o entender.
Comigo, - não!
Ah!..., e também, é claro, um bom fim de semana para todos.
Ó Kalonge já percebi você gostava era do candidato Manuel Alegre para Cavaco ganhar a corrida. E depois talvez conseguisse deitar abaixo o Governo que ganhou as eleições. Depois você falava co Cavaco e pedia-lhe para ele convidar o Manuel Alegre ou mesmo o Jerónimo de Sousa para primeiro ministro.
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