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2005-09-28

 

Juizes ameaçam com greve

Corria o ano de 1962 e as "festas" do 1º de Maio. A Rua Augusta vinha cheia com os operários da Lisnave e outros metalúrgicos ribeirinhos. Ameaçavam a ditadura com punhos no ar, determinação e desepero, gritos ritmados de "temos fome! temos fome!"
No Rossio esperava-os a polícia de choque e todas as outras polícias de Salazar, acessoradas por agentes paisanos olhando por cima com ar de comando, percebia-se que eram os pides.
A meio da rua o meu saudoso amigo Carlos Plantier, futuro jornalista, mas ainda só estudante da Faculdade de Ciências, incorporou-se na "manif" e gritava, como todos, "temos fome! temos fome!" Mas algo destoava. E logo se percebia. O Carlos como habitualmente vinha com o seu fato completo, calça vincada, sapatinho bem engraxado, camisa branca impecável e gravata a condizer. No meio dos fatos de macaco, ferrugem, óleo, barbas crescidas, gritos sentidos, éramos ali, verdadeiros compagnons de route. E dificilmente, quem nos visse, levaria a sério que tínhamos fome.
Lembrei-me deste Maio ao ouvir as notícias da greve dos juízes e dos magistrados do ministério público.

Comments:
Vêm aí mais greves. O primeiro ministro encontra-se em reflexão. E vai mesmo para uma greve de protesto contra o governo. Vou ser igual aos outros?! Tenho direitos adquiridos e muito desgaste com a gestão deste país.
 
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Boa, Raimundo. Uma nota com esse recorte literário não deve ser reduzida a uma tomada de posição política. É muito mais do que isso. Revela um pensamento que não se limita ao evidente e ao imediato. Eles não tinham fome mas pareciam solidários com os que a tinham, e esse é o caminho para por termo às iniquidades. Hoje é diferente. Está a levantar-se uma espécie de cerco social contra o Governo, por privadas e públicas razões. A bombordo, não vemos isso nem com prazer nem como êxito. É o PS que está a governar e bom seria que governasse bem. Nenhum outro partido das esquerdas está em condições de fazê-lo. Porém quando a acção política bole com direitos adquiridos, não se pode esperar que pessoas e grupos cedam sem receberem algo em troca. Se for uma política, que seja convincente e justa; se for uma promessa, que seja credível; se for um objectivo, que seja consistente e confiável. No caso de o Governo não dispor de nenhum desses trunfos, as pessoas e os grupos sociais atingidos têm o direito de resistência. Como Sócrates - talvez para constrastar à outrance com Guterres - elegeu, de uma só vez, muitos adversários (em vez de parceiros) e sustenta que irá por diante contra ventos e marés, não deixa outra saída aos interesses atingidos. Aí temos o resultado. Se o PS e o Governo supõem que os novos associativismos (sindicais e outros) estão em refluxo, devem ter sido mal informados. O braço de ferro, do modo como está a ser feito, não augura nada de bom. Espero que o espírito marcial ceda lugar à reflexão e, finalmente, à política republicana e democrática, para ela deixar de ser o prosseguimento da guerra por outros meios.
; )
 
"Viemos de longe, de muito longe, o que eu andei para aqui chegar..."
O seu post recordou-me este poema do jose mario Branco. Coisas
FC
 
A questao nao eh directamente colocada mas estah inplicita. Com a estruturacao democrahtica da Republica. Jah que as maconarias e outras organizacoes "discretas" viram o caminho livre, porque nao reconhecer tais direitos ahs associacoes sindicais e equiparadas. Foi o que acabou por acontecer, com excepcoes que dificilmente serao mantidas: militares e paramilitares. Lendo os sinais das ultimas duas dehcadas, em Portugal e noutros paises da Europa, pode-se intuir que a coisa caminha para mais direitos (devidamente regulamentados, eh evidente) e nao menos. Nestes casos, infelizmente, a governacao de Socrates nao tem estado no seu melhor. Eh pena...

Hah uma outra questao, mais complicada. Devem os titulares dos Orgaos de Soberania (incluindo os magistrados judiciais) ter direito de associacao sindical e greve? Tem, de facto, ao contrahrio dos militares e paramilitares. Eles sabem (e podem) distinguir titularidade, atribuicao e funcionalidade. Os militares, coitados, nao. Apesar de nao serem titulares de nenhum orgao de soberania...
Alguem acha que esta argumentacao se tem de peh?

WatchDog
 
O título é muito sugestivo, deixando passar a ideia central de "ameaça". De facto, aqui no DN, devido sobretudo à pressão crítica dos sindicatos, tentamos dessubstantivar e desadjectivar a "ameaça". Pelo visto, no vosso Blogue ainda não...

Zé Francisco
 
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