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2005-09-25

 

Soares à presidência (9)



O «Efeito Zenha»

O que a direita portuguesa valia eleitoralmente em 1986, na primeira volta das eleições para a Presidência da República (46,26% , com o actual Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo do Partido Socialista) não se alterou muito na década seguinte. Cavaco Silva, disputando a Presidência da República a Jorge Sampaio, em 1996, alcançou 46,17%. Salgado Zenha, com 20,93% e Maria de Lurdes Pintassilgo, com 7,44% exprimiram, na primeira volta de 1986 a sensibilidade dos que já então preferiam outros candidatos a Mário Soares. A dinâmica da campanha intensificou-se. Na 2ª volta, Soares beneficiou das transferências, atingindo os 51,28% (obtivera 25,38% na 1ª volta). A abstenção baixou de 24,3% na 1ª volta, para 21, 77%, na 2ª volta.

Para quem se preocupa (demasiado, a meu ver) com as «indesejáveis» motivações de Manuel Alegre, não faria mal recordar que a direita portuguesa, representada por um só candidato na 1ª volta, dificilmente valerá mais do que Cavaco Silva valeu contra Jorge Sampaio em 1996. O «Efeito Zenha» continua a possuir virtualidades positivas para as esquerdas que o PS federa eleitoralmente, com a vantagem de não suplantar ideologicamente as diferenças evidentes.

Se Manuel Alegre se vier, de facto, a candidatar, e se conseguir fazer uma boa campanha, todos teremos a ganhar com isso. Mesmo Mário Soares, se conseguir ser ele a ir à 2ª volta.

Lá no fundo, Alegre está a recordar as injustiças que ele e outros dirigentes do PS, cometeram contra Zenha. Não é demasiado tarde. Contra a tendência de resolver administrativa e tecnicamente as diferenças ideológicas que se acentuam dentro e fora do PS, ele poderá prestar a Salgado Zenha a homenagem que as esquerdas lhe devem. Com vaidades, estátuas, orgulhos e mais o que se quiser.

Esquerdas e Direitas carecem de uma 1ª volta a várias vozes. Há demasiado silêncio em torno de questões que não parecem incomodar nem Mário Soares nem Aníbal Cavaco Silva.


Comments:
«Há alturas de facto em que os intelectuais não prestam mesmo. Há alturas em que os intelectuais não percebem nada. Bem vistas as coisas, é quase sempre assim.»

José Pacheco Pereira
 
saudações amigas.
Caro amigo, por mim o meu voto vai direitinho para o Manuel.
Sem mais um abraço de amizade

 
Do seu post ficou, para mim,o ultimo paragrafo. Apareçam candidatos para promover a discussão do que é importante (e não para revisitarem a história e tentar reescrevê-la a seu favor). FC
 
Caro MC, finalmente escreveu algo que faz sentido. Desculpe-me as falhas de acentuacao mas, como jah deve ter reparado, ando por paragens em que os teclados nao conhecem nem acentos nem cedilhas.
Em breve, voltarei ahs lusas teclas. Estou de acordo com o seu critehrio politico e ideolohgico, mas nao percebo a sua aritmehtica eleitoral. Gostava que me disesse como garante que o candidato da direita nao obtem mais de 50 por cento dos votos expressos na primeira volta. Como interpreta, entao, as sondagens que tem vindo a lume?

WatchDog
 
MC, o seu poste comoveu-me. Evocar o exemplo do grande militante socialista cuja verticalidade o obrigou a defrontar o seu velho amigo Soares, dividindo deliberadamente as esquerdas na primeira volta das presidenciais, por amor dos princípios e de uma ideia republicana de democracia, vem a propósito. Gostei do seu texto e não vislumbro a aplicabilidade, neste caso, da asserção atribuída a Pacheco Pereira. Será ele, também, um intelectual?

Ana Alçada
 
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Por partes:

Ana Alçada. Obrigado. Tb não sei o que vem para aqui o JPP fazer. Tem um blogue de porta fechada aos comentários... Deve ser por se tratar de um «intelectual» impoluto, daqueles que não devem ser confundidos com os «outros»...

Paulo (FÚ) e FC. Abraço retribuído.

Watchdog. Não posso garantir nada, como deve de saber. Sigo o movimento, como por certo o meu caro tb faz. Se der uma olhadela aos resultados da Aximage (para não perder tempo, pode seguir o link aqui na badana esquerda do nosso blogue para a «Margem de Erro». Verá como, mesmo sem garantias, o cenário se altera com a entrada de Manuel Alegre. Constatará tb como, à imagem de 1986, por isto e por aquilo, Soares tem dificuldade em descolar na primeira volta...
Não será o «Efeito Zenha»?
Tudo isto leva-me a profetizar a entrada de outro pelo menos, mais um) candidato de peso na corrida para as presidenciais. Vai uma aposta?
 
Bom e oportuno levantamento de dados! A semelhança entre Zenha e Alegre é de facto esmagadora, quase um decalque... E deverá ter o mesmo efeito de antes: Levar Cavaco à 2ª volta!
 
Preparem-se. José Saramago vai declarar que apoia três candidatos à Presidência da República. O nosso Nobel da Literatura soma, e segue.

Zé Francisco
 
O teu raciocínio está bem esgalhado mas julgo-o injusto. Neste combate, o que se exige a Manuel Alegre não tem comparação com o que se exigiu a Zenha. Na altura, Zenha concorreu com o apoio dos "eanistas" e do PCP (foi o aparelho do PCP que lhe fez a campanha, eu estava então no PCP e era nos centros de trabalho do PCP para onde iam os cartazes, foram os militantes do PCP que lhe colaram os cartazes e lhe fizeram a mobilização e os comícios, eu e tantos que o digam). A candidatura de Zenha foi uma coligação contra o PS de eanistas e PCP. Alegre não é nem será nada disso, ao contrário, é uma afirmação da esquerda centrada na esquerda socialista. E os comunistas se vierem e os que vierem serão eles os "companheiros de jornada". Alegre não tem a ver com "democracia popular" mas antes com a esquerda social e política. Penso de que. Abraço. João Tunes
 
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Viva, João.
Revejo-me na experiência histórica que descreveste, mas tenho dela uma interpretação algo diferente. Zenha, na altura, personificou uma candidatura que exprimia a necessidade de uma alternativa ao Mário Soares de então. Andámos ambos por lá, logo devemos lembrar-nos de que o Soares desse tempo era um poucochinho mais de direita, (coitado, forçado a uma coligação com o CDS e a outra com o PPD) e de tal modo que Zenha, articulando um frentismo eanista + PCP + sectores não soaristas do PS, veio segurar os votos das esquerdas que não se reviam em Mário Soares. Aquilo a que eu chamo «Efeito Zenha», tem menos a ver com os pormenores de contexto e, mais, com a tese de que abrir o leque das sensibilidades na primeira volta, mobiliza o eleitorado, motiva mais profundamente as diversas sensibilidades e constitui um capital eleitoral valiosíssimo para a 2ª volta. Estou de acordo contigo, é claro, que Alegre não é Zenha e que, indo a votos Jerónimo e Louçã, cada um arrecadará às claras o que Zenha e Pintassilgo indiferenciaram com seus resultados nos idos de 86 . Porém o «Efeito Zenha» vale mais pela estratégia ganhadora das esquerdas (se necessário malgré elles) do que pelas tonalidades do vermelho.
É das raras circunstâncias em que a divisão das esquerdas, revelando ao mesmo tempo o modo como se estruturam, pode fazer a sua força.
A tua manifestação de apoio a Alegre no «Água Lisa 3», confirma uma parte do «Efeito Zenha» que o autor da Praça da Canção pode vir a desempenhar.
Aquele abraço
 
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