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2005-11-13

 

O tão invejado paraíso da flexibilidade no trabalho

A SIC Notícias ofereceu-nos hoje, no programa 60 Minutos da CBS, um pedacinho daquela América que tanto atrai a direita e os patrões europeus.
Bob Simon entrevistava um Ross, empregado de uma distribuidora de cerveja do Colorado. Num dos bares da cidade Ross bebia cerveja com a namorada. Por engano o empregado trouxe-lhe cerveja doutra marca. O genro do patrão que estava com ele propôs-lhe que a substituisse pela da sua marca. Recusou. No dia seguinte foi despedido.

Bob Simon com outras entrevistas conta-nos o caso de outro despedimento em West Virginia porque o patrão soube que na cidade o empregado fizera uma pergunta embaraçosa a um candidato estadual ou o caso do empregado que tinha no seu carro o autocolante errado de um dos candidatos presidenciais e ainda o de duas empregadas, com 14 anos de casa que não obedeceram à recente decisão de proibição de fumar. Todos meteram processos em tribunal e todos perderam. O empresário é o dono da empresa e assim como contrata também despede quando e como quiser. Não há direitos laborais protegidos. O paraíso. Para os patrões, para a economia eu sei lá que mais.
- Mas não era melhor não fumar no trabalho? - Interroga, provocador, Bob Simon.
- Mas não era só no trabalho. Era também em casa ou qualquer sítio. Análise e verificação de nicotina no organismo!

Na Universidade de Louisville decidiu-se criar um programa de bem-estar para reduzir os gastos (das seguradoras?) com a saúde dos empregados. É-lhes proposto respostas fidedignas a um exaustivo inquérito sobre alimentação, bebidas, fumo, hábitos quotidianos e vida sexual. E em consequência um programa para lhes "tratar da saúde". Criaram-se novos postos de trabalho: os "controladores" que inquirem, telefonam e chateiam o empregado para saber se está a cumprir o programa de bem-estar. Quem não melhora as condições de saúde, rua.

A CBS (que creio não pertencer a nenhum Jerónimo de Sousa do lado de lá do Atlântico mas suspeito estar minada pelo anti-americanismo) conta que as seguradoras de saúde determinaram que, nas empresas, 5% dos trabalhadores menos saudáveis são responsáveis por 50% dos despesas e "incentivam" com muita insistência as empresas a que não poupem esforços em obrigar os empregados a melhorar a saúde (foi citado o caso de uma empresa que queria proibir de fumar não apenas os seus trabalhadores mas também as mulheres ou os maridos - talvez para evitar, em casa, o fumador passivo) e a descobrir (e despedir) os 5% menos convenientes.

Sobre a paranóia antitabájica foram citados os casos virtuosos da polícia de Miami que há dois anos atrás tomou a decisão de aceitar polícias que fumem e a CNN que ao fim de 13 anos acabou com tal proibição. Parece que impedia bons recrutamentos.
Mas atenção! (só para me acautelar dos vigilantes de anti-americanismo) Se nem tudo é bom na grande América posso garantir-vos que quase tudo o é. Ia-me a fugir a palavra para Nova York, os liberais, os democratas e tal.

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