2005-11-23
A reaccionária greve dos professores
A FENPROF e outros sindicatos de professores estão descontentes com a má qualidade do ensino que atribuem aos governos dos últimos 30 anos (para não falar do tempo da outra senhora) mas nunca fizeram uma greve "apenas" por tão insignificante motivo.
Os professores estão descontentes com a reforma aos 65 anos (daqui a 10 anos!) e com o futuro cálculo das pensões como no regime geral.
Mas agora o caldo entornou-se com as aulas de substituição.
A ministra da Educação achou que as aulas são para ser dadas, que os alunos não podem continuar ao abandono quando falta o professor. E que o descontrolo, o deixa andar, tem de acabar.
"No ano lectivo 2004/2005, os professores do ensino pré-escolar, básico e secundário faltaram entre 7,5 e 9 milhões de horas de aula. 9,3% das aulas e da matéria ficaram por dar" Os sindicatos mercê de gloriosa e porfiada luta conseguiram criar 67 regimes diferentes que podem ser invocados pelos professores para faltarem às aulas. (mesmo link). E o que é espantoso é que continua a haver professores que dão poucas faltas. Sem uma única falta no ano anterior houve 6% deles.
A ministra Maria de Lurdes Rodrigues fez, logo em Junho, um despacho obrigando as escolas a organizarem-se para haver aulas de substituição em vez de os alunos irem para a rua, para o café ou para onde bem entenderem e por vezes não entendem bem.
Caiu o Carmo e a Trindade e a FENPROF conseguiu uma gloriosa greve na 6ª feira passada onde o que mais se gritava e "denunciava" era o "absurdo" das aulas de substituição e a "prepotência" da ministra que as impunha.
A lei obriga desde 1995 a aulas de substituição mas... só 7% das escolas cumpriam (a FENPROF fez greve contra este desleixo e abandono dos alunos pelos conselhos directivos?). A situação está a mudar. E já mudou muito.
Interroguei vários professores das minhas relações que me garantiram que se essas aulas de substituição (que estão dentro do seu tempo de trabalho) fossem pagas como horas extraordinárias achavam até muito bem!
Quem viu nesta 2ªfeira "Os prós e os contras" na RTP ficou a perceber várias coisas. Que arrogante não é a ministra mas antes alguns sindicalistas. Que estes chamam falta de diálogo da ministra à sua determinação em não se deixar substituir no Governo pela FENPROF e outros sindicatos. Que a ministra defende os alunos e o ensino e alguns sindicatos predominantemente interesses de duvidosa legitimidade dos professores mesmo que contra o ensino, com forte motivação político-partidária e a secreta esperança de concorrerem para a anseada queda do Governo. Sindicalismo iresponsável e... reaccionário.
Comments:
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Raimundo,
Primeiramente uma declaração de interesse: tb gosto da ministra. Por razões que não vêm ao caso, sei dela no ISCTE e no OCT do Ministério da Ciência e Tecnologia, dos anteriores governos de António Guterres. Porém, não nos faria mal nenhum subir à realidade das escolas e das aprendizagens, e compreender que entre os desideratos da ministra e as práticas no terreno, vai um passo de gigante. Reduzir as razões de descontentamento dos professores às questões suscitadas pelas «aulas de substituição» e não admitir que a sua implementação ganha se tiver a participação dos professores, parece-me má vontade. Numa nota de autocrítica (quase no final) a Ministra reconheceu ser, por vezes, demasiado voluntarista. É verdade. Sempre foi. Para o bem e para o mal. Em suma, apoio as medidas políticas da Ministra e a necessidade imperiosa de serem aplicadas com o indispensável concurso dos professores. Neste sentido, apoio tb os professores que se debatem com carências materiais e organizacionais inimagináveis. Chamar à greve deles «reaccionária» é típico de quem se está a distanciar demasiado das nossas escolas.
Um abraço
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Primeiramente uma declaração de interesse: tb gosto da ministra. Por razões que não vêm ao caso, sei dela no ISCTE e no OCT do Ministério da Ciência e Tecnologia, dos anteriores governos de António Guterres. Porém, não nos faria mal nenhum subir à realidade das escolas e das aprendizagens, e compreender que entre os desideratos da ministra e as práticas no terreno, vai um passo de gigante. Reduzir as razões de descontentamento dos professores às questões suscitadas pelas «aulas de substituição» e não admitir que a sua implementação ganha se tiver a participação dos professores, parece-me má vontade. Numa nota de autocrítica (quase no final) a Ministra reconheceu ser, por vezes, demasiado voluntarista. É verdade. Sempre foi. Para o bem e para o mal. Em suma, apoio as medidas políticas da Ministra e a necessidade imperiosa de serem aplicadas com o indispensável concurso dos professores. Neste sentido, apoio tb os professores que se debatem com carências materiais e organizacionais inimagináveis. Chamar à greve deles «reaccionária» é típico de quem se está a distanciar demasiado das nossas escolas.
Um abraço
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