2005-12-04
Liberdade religiosa, Cruz, Crucifixo, Dogma e Fé (1)
Cortesia da Oficina da Terra (Évora)
Bagão Félix, assina uma prosa no DN de hoje e aqui. É interessante o esforço argumentativo. Mais coisa, menos coisa, acha ele que a Igreja de Roma deve ser lembrada e considerada pelo que fez de bem, (ai a memória, a memória...), pelas concepções, rituais, amuletos e relíquias que impôs na sua milenar missão evangelizadora.
Dado que nos povoou com o dogma, a datação do Génesis, Catedrais, Igrejas, concordatas e missas de costumes, nós, os católicos e os não católicos, que ainda sabemos distinguir a cruz do crucifixo, e separar a postura dogmática da abertura e da tolerância da fé, teríamos de, face à avalanche de marcas do cristianismo e do catolicismo, desistir.
Em vez de reconhecer que em qualquer espaço de liberdade, partilhado, plural, receptivo ao conhecimento, a imposição de exclusivismos religiosos bloqueia no pormenor o que se diz defender em geral, Félix convida-nos ao exercício de passarmos a pente fino as marcas deixadas pelo império católico, das bandeiras aos feriados e das cerimónias de passagem (nascimento, casamento, morte), aos gestos íntimos dos futebolistas crentes, quando pisam o relvado, e o mais que encontrarmos da longa convivência da Igreja Vaticana com a Monarquia Absoluta e o Estado Fascista, e do Estado com a Sociedade. Onde uns ensaiam um passo tímido e razoável, Bagão Félix responde, feroz e desproporcional, com a guerra dos mundos.
Transfigurando uma medida razoável num cataclismo anticlerical cuja origem, no seu raciocínio de cruzada, situa na tomada da Bastilha, não parece esperançoso de persuadir ninguém. Os católicos familiarizados com os múltiplos significados da cruz, e os agnósticos e ateus a par dos mais variados usos dados à imagem de Jesus Cristo crucificado, divertem-se com certeza.
O Cardeal Cerejeira não teria escrito melhor.