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2005-12-14

 

O Dossier "Empata"

O dossier agrícola está a empatar tudo, em todas as instâncias e sedes internacionais desde há muito tempo onde se procuram eventuais consensos.

É na União Europeia, onde o consenso sobre as perspectivas europeias 2007/2013 podem infelizmente ser adiadas pela política agrícola "comum" para as calendas gregas; é na conferência da OMC em Hong-Kong que começou ontem e onde este mesmo problema pode pôr tudo em causa e na base estão os mesmos protagonistas, a UE. E esta UE é a francesa, com todos os seus apoiantes de cúpula e não das bases.

Se os povos dos países membros da UE estivessem informados, de certeza, não estariam com a cúpula dirigente francesa e levantariam obstáculos às posições intransigentes dessa mesma cúpula. A chamada política agrícola comum é o que há de mais nefasto nas políticas da UE em minha opinião e, por isso, não consigo chegar/perceber como pode a Comissão Europeia alinhar, tão cegamente, contra Blair quando ele pretende um compromisso de mudançadessa política. É tão cego o cheque britânico como a PAC. Só que a PAC são 40% do Orçamento e o próprio cheque é uma decorrência da PAC.

Tudo aponta para que a decisão sobre as perspectivas financeiras europeias seja adiada. É essa a leitura da comunicação social. Ainda vislumbro que algo possa acontecer porque as próximas presidências gostariam de "despachar" este incómodo dossier. Talvez esta predisposição ajude.

O que falta é uma estratégia orientadora para a UE, no contexto do processo de globalização. E não é com uma PAC, como a que existe, que se chega a essa estratégia.


Comments:
A PAC tem muitos defeitos, sendo o maior de serem os países mais ricos da UE (França e Alemanha) os seus maiores beneficiários, mas tem a virtude de defender um sector primário das investidas agressivas de americanos, canadianos e brasileiros... Que seria da agricultura na velha europa se não houvesse PAC? Isso servivia os nossos interesses? Depois de perdermos as industrias para o Leste e para a Ásia, e os serviços para a India, seria do interesse europeu perder também a agricultura para os EUA, Canadá e Brasil?
 
Rui Martins, o problema da PAC não reside em serem os maiores beneficiários os países ricos, mas sim o de sustentar e proteger os agricultores (grandes empresas) mais ricos em vários países e, desta forma, "esmagar" os agricultores detentores de pequenas e médias explorações, através dos preços e redes de distribuição. Segundo, esta situação é insustentável a longo prazo porque os fundos são aplicados na produção de bens muitas vezes não competitivos. Quem não se lembra dos excessos de manteiga etc!! Com esta protecção não há racionalidade económica, pois não se investe em produtos alternativos. Sobre a distorção e os impactos da PAC em Portugal e na Europa aconselho a leitura do último livro de António Campos, exacatamente o das "vacas loucas". Com os fundos orientados (40%) para esta PAC, em que pouca gente a quer, mas não se avança na sua revisão, não se investe a sério nas áreas preconizadas na estratégia de Lisboa (2000), onde há o consenso de que é sobre ela que se pode criar uma Europa avançada.

Mas a PAC não deve ser mudada para deixar entrar as grandes multinacionais que já cá estão, mas para construir uma economia europeia mais sustentada.
 
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