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2006-01-23

 

As duas coabitações de Sócrates

Não vou chorar sobre leite derramado. Deu mais ou menos o que diziam as sondagens, numa vitória bem à justa de Cavaco Silva. A menor desde sempre, desde que a disputa presidencial travada era renhida como esta.

Fica muita coisa para discutir acerca de todo este processo, designadamente sobre a escolha e arranque tardios dos candidatos melhor colocados à esquerda para, numa segunda volta, poder defrontar Cavaco, a divisão nas fileiras do PS e, sobretudo, a leitura sociológica dos fluxos de voto e, talvez, não seja uma questão menor tentar perceber o sentido de voto de certas actividades que funcionam em espírito muito próximo do corporativo. Não tenho dúvidas, embora não tenha elementos de medida de que houve uma percentagem significativa de pessoas que aprovam várias das medidas deste governo que foram votar Cavaco e não Soares e que houve outras afectadas por algumas medidas que não votaram ou não votaram Soares.

Mas as minhas expectativas estão centradas mais nas coabitações. Sócrates vai ter que coabitar com Alegre a curto prazo. Com Cavaco os problemas de coabitação pôr-se-ão a mais longo prazo. Cavaco precisa de criar lastro.

Esta derrota do PS, deixando o políticamente correcto de lado, pode acelerar a instabilidade político social. De imediato dentro do PS e depois com efeitos na governação. Há vários cenários possíveis, alguns dramáticos podendo chegar à própria AR. Esperemos como admitem alguns dirigentes que esses cenários não passem de algumas cenas apenas e tudo corra pelo melhor porque este país precisa de ser governado.

A qualidade da segunda cohabitação vai depender muito do que se passar no PS. De qualquer forma, será sempre a prazo, por razões também internas dos partidos apoiantes. Há "casas" para arrumar dentro do novo contexto.

Comments:
Há 11 meses o PS teve 2.573.406 votos; agora, Soares e Alegre tiveram 1.903.066 votos, isto é tiveram MENOS 670.340 votos.

Há 11 meses PSD+PP tiveram 2.054.162 votos; agora, o Cavaco teve 2.745.523 votos, isto é MAIS 691.361 votos.

Há 11 meses o BE teve 364.407 votos; agora, o Louçã teve 288.216 votos, isto é MENOS 76.191 votos.

Há 11 meses a CDU teve 432.000 votos; agora, o Jerónimo teve 466.422 votos, isto é MAIS 34.422 votos.

A soma dos votos perdidos pelas candidaturas de Soares, Alegre e Louçã foi de 704.762 votos e Cavaco ganhou por ter tido mais 64.199 votos que os restantes candidatos...e o único candidato que de facto contribuiu para enfraquecer Cavaco foi Jerónimo! Mas não chegou para anular as perdas do Soares, Alegre e Louçã.
 
E, se me permites, amigo João Abel, que humildade a tua em não te chegares à frente e (re)dizeres, como em tantos posts apregoaste, que o múmia (política)Soares foi "o melhor candidato para derrotar Cavaco Silva". Mas não estás só, pois está para aparecer o primeiro "soarista" que dê o braço a torcer, escondendo-se, quase todos, atrás da grandeza de Soares a quem, como o velho da anedota dos escuteiros, obrigaram a atravessar à rua para contabilizarem a boa acção "do dia". Quanto às tuas preocupações com a governabilidade, estou de acordo contigo - Jerónimo vai-se encarregar de dar razões a Cavaco para dissolver a Assembleia e retornar o PSD no governo (mais um ano, ano e meio). Abraço. João Tunes
 
Meu caro Tunes

Aceito a tua pequena "provocação" mas não se trata de uma questão de humildade e menos de encobrimento da minha posição. Ela foi clara. Defendi aqui a candidatura de Mário Soares, antes de o ser e no domingo votei Soares. Apesar dos resultados desfavoráveis continuo a pensar que no PS e naquelas condições o candidato Soares era o melhor. Agora há sempre os se... Não contei com duas coisas tão importantes (presumo para tão pequena votação): a idade e as posições de esquerda como a posição anti guerra que forma capitalizadas por outras áreas políticas, para além da divisão dentro do PS - a questão determinante e que pode vir a sair muito cara ao País.
 
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