2006-02-03
O milhão e tal de votos de Manuel Alegre
Não foi surpresa para mim o regresso de Manuel Alegre à AR. O contrário não faria sentido a não ser que MA estivesse convencido da possibilidade de converter a heterogénia massa de votantes na sua candidatura numa homogénia massa de cidadãos organizáveis em torno do que se supõe ser o seu ideário político. E da sua disposição para desbravar tão difícil e incerto território. Nem me refiro ao milhão e tal de eleitores mas, digamos, a 10 mil militantes da cidadania (seja lá isso o que for).
Transformar um somatório de desencontrados descontentamentos numa força com um direccionamento e objectivos precisos não sendo fácil não é impossível. Mas para isso seria necessário transformar o conjunto de legítimos e louváveis anseios de justiça social num corpo de ideias mais precisas e fundamentalmente num caminho (para fugir aos chavões de táctica e estratégia) para se lá chegar. Mas mais do que isso. Muito mais do que isso, criar um exército suficientemente numeroso e combativo para arduamente trabalhar para resultados de médio prazo. Um exército (mesmo admitindo a utopia de exército sem aparelho) onde, para além de generais, haja capitães, sargentos e soldados. Suficientemente motivados. Suficientemente crentes na capacidade política do general. E na sua capacidade de sacrifício em trocar a alcatifa do Estado Maior pelas agruras da picada.
Há no entanto outras ideias. A de Manuel Alegre se tornar a consciência moral de uma corrente dentro do PS para obrigar Sócrates a fazer isto ou aquilo, mais à esquerda. Há algum campo para isso. Pelo menos para obrigar a estudar todas as alternativas. Mas há alguns perigos sérios. Os de desestabilizar um Governo que impôe sacrifícios que ninguém deseja (mas, a não ser num inexistente quadro quase-revolucionário, ninguém sabe como evitar) e que no essencial vai no bom caminho.
A desestabilização do Governo teria como alternativa não as condições sociais da Suécia (porque estamos em Portugal) mas o caminho aberto ao PSD e provavelmente ao verdadeiro neo-liberalismo.
Comments:
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Dá tristeza, não a vil mas a respeitável e amiga tristeza, ler este discurso, pela exposição descarnada de quem se rendeu ao pragmatismo fatalista-socrático e à sina mal digerida de ter andado com um Buda às costas e que em pouco mais que uma ou outra “feira do relógio” conseguiu vender (tirando Campo Maior do Nabeiro, sobrou o quê?).
Dá alegria, não a alarve mas a amiga solidariedade, saber como “eles” se preocupam tanto com Alegre e os seus votos. E como até são, agora, simpáticos e gentis, democráticos e consensuais, dizendo-lhe (ao Poeta): “Por quem é, Camarada, vá por aqui, por aí não que me/nos incomoda, olhe que quando lhe chamámos de Poeta da Política só estávamos a brincar, continue Camarada por favor. E, especial favor, não incomode Sócrates no seu saber bem governar. Se Belém não o vai chatear, ao Sócrates, não o chateie o Camarada que tão bom Poeta é.”
Abraço, João Tunes
Dá alegria, não a alarve mas a amiga solidariedade, saber como “eles” se preocupam tanto com Alegre e os seus votos. E como até são, agora, simpáticos e gentis, democráticos e consensuais, dizendo-lhe (ao Poeta): “Por quem é, Camarada, vá por aqui, por aí não que me/nos incomoda, olhe que quando lhe chamámos de Poeta da Política só estávamos a brincar, continue Camarada por favor. E, especial favor, não incomode Sócrates no seu saber bem governar. Se Belém não o vai chatear, ao Sócrates, não o chateie o Camarada que tão bom Poeta é.”
Abraço, João Tunes
Manuel Alegre passou a campanha a demarcar-se das medidas do Governo que, como deputado, tinha votado a favor alguns meses antes. E agora vai voltar no papel de Manuel Alegre 1 (apoiante do Governo) ou de Manuel Alegre 2 (critico do Governo)?
Para se ser consciência moral tem que se levar isso até às ultimas consequências, mas como deputado da maioria dificilmente escapará desta contradição.
José Manuel
Para se ser consciência moral tem que se levar isso até às ultimas consequências, mas como deputado da maioria dificilmente escapará desta contradição.
José Manuel
Acho piada ao facto de ser comumente aceite que Manuel Alegre está À equerda de Sócrates. Se bem que a política não se jogue numa linha recta, pelo que a noção esquerda-direita é altamente limitadora, sempre considerei Manuel Alegre à direita de Sócrates. Pois Alegre tem muito mais de cacique local (viu-se a triste posição relativamente à co-incineração em Souselas), de barão do partido (ainda que cultive a ideia que está sempre à margem) e de funcionalismo público naquilo que tem de pior (o exemplo da baixa apenas interrompida para ir a determinadas reuniões é bem prova disso).
Manuel Alegre não é um líder, é um umbiguista. E o seu milhão de votos tem a mesma expressão que há uns anos atrás fez surgir um grande resultado no PRD e que logo a seguir desapareceu voltando às suas origens e contentes por terem demonstrado o seu descontentamento.
Manuel Alegre não é um líder, é um umbiguista. E o seu milhão de votos tem a mesma expressão que há uns anos atrás fez surgir um grande resultado no PRD e que logo a seguir desapareceu voltando às suas origens e contentes por terem demonstrado o seu descontentamento.
O Manuel Alegre, se for sensato, recolhe-se ao que sempre foi. Que pouco mais que nada é, politicamente falando. Não lhe conheço nada de especial depois do 25 de Abril, tirando algumas palavras de circunstância e a oposição à incineração nas cimenteiras (errado, quanto a mim, pois tratava-se de uma grande medida de Sócrates e, por isso, acho que deve ser agora retomada).
Apesar disso eu gosto do homem e do poeta. Mas politicamente nem sequer o sei definir, sei é que está fora do seu tempo. Ainda fala de batalhas como se estivéssemos antes de 74.
Se ele e/ou os seus apoiantes mais directos resolverem fazer alguma coisa com o milhão de votos, depressa verão que eles não existem. Porque a quase totalidade desses votos são um não voto em Soares. E os não votos nunca deram para ser investidos em nada.
Portanto, se o MA ainda quiser ficar com uma pequena aura, o melhor será remeter-se à sua habitual inocuidade.
Abraço.
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Apesar disso eu gosto do homem e do poeta. Mas politicamente nem sequer o sei definir, sei é que está fora do seu tempo. Ainda fala de batalhas como se estivéssemos antes de 74.
Se ele e/ou os seus apoiantes mais directos resolverem fazer alguma coisa com o milhão de votos, depressa verão que eles não existem. Porque a quase totalidade desses votos são um não voto em Soares. E os não votos nunca deram para ser investidos em nada.
Portanto, se o MA ainda quiser ficar com uma pequena aura, o melhor será remeter-se à sua habitual inocuidade.
Abraço.
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