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2006-02-27

 

Patriotismo económico

Na sequência dos interessantes artigos de João Abel de Freitas a propósito de OPA e sectores estratégicos vale a pena reflectir no exemplo de Suez.

Na semana passada começaram a vir a público informações sobre uma OPA que o grupo italiano ENEL prepara para adquirir o grupo francês de energia Suez. Imediatament o governo Francês respondeu provocando a fusão da GdF, empresa controlada pelo estado com a Suez. Não é a primeira vez que o governo Francês tenta impedir que empresas necionais passem para controlo estrangeiro, assim foi no verão passado ao conseguir impedir uma OPA de um grupo americano sobre a Danone.

A actual acção sobre a Suez provoca protestos vários:


Podem ver mais informações aqui e aqui.
Comments:
O mesmo patriotismo ocorre na "liberal" Espanha, sempre pronta a ocupar um por um todos os sectores estratégicos nacionais, mas sempre indisposta a ser alvo do mesmo tipo de tomada... Na verdade, é necessária a existência de algum tipo de "patriotismo económico", se não, em última instância todas as empresas do mundo haverão se ser compradas por uma grande multinacional que transfere a sua produção para países de baixo custo como a China e a Ìndia, os lucros para os seus accionistas à custa da miséria de todo o resto. Algures, devem ser estabelecidos limites.
 
A França não é, hélas!, um bom exemplo para (quase) ninguém.

Luís Lavoura
 
O problema é que, se há nestas empresas alguns setores que se pode, compreensivelmente, exigir que sejam protegidos pelo Estado, a maioria dos setores, por outro lado, não apresentam qualquer justificação para serem protegidos.

Por exemplo, na PT, não se justifica que o Estado português se preocupe com a empresa de telemóveis brasileiros, nem com a venda a retalho de telefonemas, nem com os telemóveis. Tudo isso pode estar em mercado concorrencial, e ser oferecido por empresas estrangeiras. A única coisa que, na PT, pode merecer a proteção do Estado, são as redes fixas de cabo e cobre.

Da mesma forma, é ridículo que o Estado francês se esteja a preocupar com... a empresa que fornece eletricidade à Bélgica.

O Estado deve liberalizar - deixar totalmente aos privados - nacionais ou estrangeiros - tudo aquilo que não seja infraestrutura (hardware). Ou seja, a imensa maior parte das coisas.

A PT não passa atualmente, nem nunca passou, de um monopólio que explora os portugueses com a conivência e proteção do Estado.

E essa situação tem que acabar.

Eu, a ser explorado, prefiro sê-lo por quem não seja protegido pelo Estado.

Luís Lavoura
 
Meu caro Luís Lavoura
A minha experiência mostra que no que diz respeito às telecomunicações tem toda a razão. Este é um sector onde a concorrência existe em França, e quem ganhou foi o consumidor, o preço do telefone e do acesso à net em França é hoje dos mais baixos da europa e a proporção de ligações à net em DSL+cabo é das maiores. Por exemplo: eu pago 30euros/mes por 18 Megabits ADSL (com 1Megabit ascendente) telefone ilimitado para França mais 13 paises (incluindo Portugal, UK, USA, Canada).

No entanto o estado tem aqui um papel importante no que diz respeito a alguns aspectos: garantia de igual acesso de todos os operadores à rede (que é gerida pela France Telecom), garantia de um serviço mínimo nas zonas "não rentáveis" para impedir a desertificação do território e finalmente impedir os entraves à concorrência através da formação de monopólios ou cartéis.
 
Pedro Ferreira,

precisamente por causa dos aspetos que Você referiu (garantia de igual acesso à rede a todos os operadores; garantia de manutenção do serviço em zonas não rentáveis; a que eu acrescentaria a própria manutenção da operacionalidade da rede) é que eu considero que faz sentido exigir-se que as redes fixas permaneçam nas mãos do Estado.

Mas isto é muito menos do que exigir a manutenção de uma empresa estatal ou nacional de telecomunicações. A maior parte do negócio da Portugal (e certamente da France) Telecom não é a manutenção das redes fixas, mas sim muitos outros (venda a retalho), os quais poderiam, com vantagem, ser executados por companhias de capital totalmente privado, nacional ou estrangeiro.
 
Meu caro Pedro Ferreira

A concorrência nas telecomunicações está longe de cá se implantar.

Comparando despesas

Com a NETCabo/mês são:45,86 euros com 4 megas.

Com o telefone: assinatura mensal 13,94 e 14,60 de plano de preços só para rede PT. Para números não PT ou para números especiais PT, tipo Net cabo paga-se. É um logro. Exemplo com chamadas para a NET por avarias paguei 22€ em Fevereiro.

Em resumo se fôr poupado e não furar as regras do quase monópolio PT e não tiver avarias NET, o que é difícil acontecer a um ser humano em Portugal as despesas/mês são 74,40 Euros. Se lhe juntar avarias da NET e os respectivos telefonemas chega aos 100 Euros/mês.
Quem pagar menos que me dê a receita.
 
Uma pequena achega sujeita a correcções de quem perceber mais disto do que eu. A Gaz de France era totalmente pública? Se sim ao ser comprada pela Suez passou a ser o quê? Totalmente privada, não? Então, com a ameaça de OPA de uma empresa estrangeira europeia(italiana) no mercado interno, o governo francês privatizou a GDF.A ser assim como me parece a mim, ainda lhe chamam patriota.Thierry Breton deve estar a dar boas gargalhadas com o seu ar pedante. Mas eu também posso não estar a perceber bem o que se passa e digo isto sinceramente. Seja como for, sou europeísta convicta e este tipo de patriotismos não me dizem nada.Sofia
 
Umas pequenas notas para a Sofia.

A Gas de France não era totalmente Pública (penso que a participação era de 80%).

Agora a empresa resultante da fusão GDF/Suez(privada) terá de ter um estatuto, Qual?

Havia compromissos do governo francês quanto à natureza do capital da GDF (mantê-lo maioritariamente público).

Poderá esta fusão significar uma manobra para privatizar a nova empresa?!! Desconheço os argumentos, excepto aquele do "patriotismo".

Para mim, quando analiso o problema do lado do consumidor/cidadão coloco duas questões: a da qualidade do serviço e respectivo preço, ligados ao projecto de desenvolvimento da economia

Daí que seja cada vez menos sensível a um certo "patrioteirismo" que redunda sempre como se tem viisto em grandes negociatas a prazo.

Se o Estado acha tal ou tal empresa estratégica para o modelo de desenvolvimento que quer implementar tem de ter meios para a segurar.
 
Só para agradecer ao João Abel Freitas pela explicação :-) E concordo com o resto do que diz, aliás também concordo com os comentários que faz mais acima.Sofia
 
Mais uma pequena achega ao que disse o João Abel, é a GdF que vai absorver a Suez, a empresa resultante terá 34% de capital estatal.
Em relação aos preços, este ano o gaz aumentou 17%, mas os privados queriam um aumento de 45%.
 
Mais um comentáriozinho:
Há nesta história elementos estranhos. Por exemplo: Enel ameaçou com uma Opa com antecedência e nunca concretizou, contrariando a lógica dessas operações(leia-se no Libé: "il est assez contraire aux usages de clamer son intérêt pour sa proie, ce qui a pour effet de doper mécaniquement son cours de Bourse, et donc de renchérir d'autant une éventuelle acquisition". Do ponto de vista económico, tratou-se duma simples defesa da Suez mas politicamente a situação é delicada. Há alguns anos o governo francês firmou acordo com sindicatos prometendo manter nas mãos do Estado no mínimo 70% de empresas como GDF e EDF. Lá se vão os 70% na GDF. No fundo privatizaram-na :"La fusion entraînera ni plus ni moins la privatisation de fait de Gaz de France, même si le ministre de l'économie et des finances, Thierry Breton, a prévenu lundi, sur RTL, que l'Etat gardera la minorité de blocage dans la nouvelle entité avec une part du capital "légèrement inférieure à 40 %"(LIbération). Poderiam ter evitado a fusão. Por exemplo com participações cruzadas para reforçar um núcleo duro nas acções da Suez. O patriotismo desempenhou aqui um papel, mas não foi o económico do estado, na minha opinião. Foi o do cidadão francês que, já em pé de guerra com o CPE (contrat de première embauche) dificilmente engoliria uma privatização da GDF. Enfim, é a reflexão que fazemos aqui deste lado. Só mais uma acha para a fogueira :-)Sofia e Alain
 
Em primeiro lugar é "possuir" e não "posseder" como erradamente aparece escrito.

Em segundo lugar como é que o Estado poe exigir a prestação pela PT de um serviço minimo em todo o território se simultaqneamente o próprio Estado Português pretende deixar de o fazer na área da Saúde e Educação???

José Manuel
 
Obrigado pela correcção ao involuntário galicismo, j;a está modificado no texto.
 
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