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2006-04-25

 

25 de Abril, Sempre

Satisfeito com o registo dos cravos do MC, no post logo abaixo, que ele, ao contrário de muitos, não esqueceu, vou no entanto por outro caminho - aquele caminho bem português do desabafo e de revolta, quantas vezes inconsequente.

O 25 de Abril foi uma data memorável para Portugal e para o Mundo. Não sei se exagero ao dizer que foi o maior acontecimento do século XX em Portugal.

Um acontecimento relembrado em cada ano numas cerimónias na AR, fracas e de circunstância que servem mais para os partidos deitar cá para fora "algum fel", também de circunstância, torpedeado em vários locais do País com realce para a Madeira e com um desfile, na Avenida da Liberdade, cada vez mais descaracterizado. Apesar disso lá tenho estado e lá estarei. É o que vai restando desse acontecimento marcante.

O 25 de Abril deveria merecer, no dia a dia, uma presença forte e quem mais deveria estar nessa acção não está - o poder político e os partidos. A indiferença doi a quem, de peito aberto, viviu aqueles acontecimentos. A esperança, que nunca há de morrer, no entanto, murcha um bocadinho como as flores à espera de novo reflorescimento.

O 25 de Abril deveria estar activamente nas escolas, nos programas escollares, desde a mais tenra idade. O 25 de Abril deveria constituir um espécie de Guia do País, sentido e desenvolvido.

Que se fez para memorizar o 25 de Abril? Mudou-se o nome a uma ponte, já feita do tempo do Salazar, umas ruas e o que resta é sem mais valia, com excepção da liberdade.

Nem um centro de documentação digno desse nome e acessível existe por iniciativa pública (com excepção de Coimbra). É de perguntar onde têm estado os nossos ministros da Cultura e os respectivos governos?

No mínimo, o que se pode dizer disto é que tudo isto é triste.


Comments:
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João Abel,

tens razão. Também sinto que se tem criado um ambiente, entre o ingénuo (dos que não o viveram) e o perverso (dos que o viveram a contra-gosto), tendente a desvalorizar a memória e a apagar os símbolos.
Quanto às escolas, sei que muitas Câmaras Municipais (felizmente) organizam festas e conversas com as comunidades escolares, exactamente para recordar aos mais novos que houve uma revolução e que entre o período fascista e os dias de hoje as diferenças são mais do que aparentes.
O drama é que o o projecto de Abril ainda não se completou, mas isso é outra conversa. Pode ficar para Maio.
Um abraço
 
Acabo de ouvir o discurso de Cavaco Silva no parlamento nas comemorações do dia de hoje. Não ouvi os outros, embora em troca breve de ideias com alguns amigos, a qualidade dos discursos dos partidos correspondam ao do meu post. Gama e Cavaco, cada um seu modo, foram diferentes. Cavaco Silva com aquele discurso "surpreendeu", incomodou a direita, porque "indicia" um bloco central, sem PSD, bloco central Belém/S. Bento. A esquerda não PS estará também incomodada neste contexto.
 
A 25 de Abril de 1974 e nos anos imediatos que se lhe seguiram, o cravo vermelho na lapela neste dia comemorativo traduzia, não somente o conforto da conquista da liberdade mas, sobretudo, a esperança do desenvolvimento económico e social do País.

A liberdade não constitui um fim em si mesmo, mas um meio para a melhoria das condições de vida dos cidadãos. A liberdade é condição necessária ao desenvolvimento estrutural, económico e social de um país, mas não é uma condição suficiente.

Ora, as esperanças acalentadas pelo 25 de Abril em proporcionar um maior bem estar aos portugueses estão longe de se encontrarem satisfeitas.
Muito pelo contrário, Portugal aparece hoje na cauda da Europa, com os mais fracos índices de desenvolvimento. Com 10 milhões de habitantes, Portugal possui 2 milhões de pobres e uma distribuição de riqueza que, ano após ano, acentua as desigualdades sociais.

Os obreiros dos desequilíbrios estruturais, das desigualdades sociais que se agravam e do frágil e distorcido desenvolvimento económico, não podem ser outros senão os políticos que conquistaram o poder no 25 de Abril de 1974 e nele se têm perpetuado. Bem instalados na vida, com o poder em suas mãos, é natural que se apresentem felizes, despreocupados e sorridentes de cravo vermelho na lapela.
De Almeida Santos e Vasco Lourenço passando por João Cravinho e Jorge Coelho até Manuel Alegre e Jaime Gama, a todos, a vida nestes últimos 32 anos lhes poderia ter corrido melhor.

Um 25 de Abril inócuo, um cravo vermelho como símbolo dessa inocuidade, como símbolo de uma liberdade castrada de seus objectivos, eis o que se afigura hoje aos portugueses o ritual comemorativo e repetitivo na Assembleia da República
 
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