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2006-04-19

 

Faz amanhã 500 anos

que duas a quatro mil pessoas, homens e mulheres, velhos e crianças, foram chacinadas ou queimados vivas, com a bênção da Igreja católica, numa das mais negras páginas da nossa história, porque eram judeus, cristão-novos ou de tal acusados.



Nuno Guerreiro lançou no seu blog Rua da Judiaria o desafio, que teve grande eco na blogosfera, para que se acendam hoje, 4 mil velas no Rossio, em Lisboa, no 500º aniversário do pogrom.

No Rua da Judiaria, onde se pode saber tudo ou quase, sobre Judaismo, encontra-se reproduzida documentação de muito interesse sobre o pogrom de Lisboa. De lá retirei o extracto que se segue, de um texto de Alexandre Herculano que também está, integral, aqui no Memórias .

Lutz Brückelmann no seu muito interessante blog Quase em Português também deu uma excelente contribuição para o debate e para trazer à superfície muito do que hoje se pensa por aí sobre os Judeus e arredores. Comunicou, de boa fé, a Nuno Guerreiro que "Gostava muito de ouvir os argumentos de quem se incomoda ou irrita com o apelo. Como gostava de ouvir o Nuno explicar em nome de quem, dirigido a quem e para quê o fez." A questão era desassombrada, geradora de um bom debate mas também passível uma interpretação equívoca. [ver aqui aqui e aqui]




"...Desde Janeiro que a peste redobrava de intensidade em Lisboa, e nos princípios de Abril era tal o progresso da epidemia que a mortalidade subia em alguns dias ao número de cento e trinta indivíduos. Faziam-se preces públicas, a 15 do mês ordenou-se uma procissão de penitência...

"O tumulto atraíra maior concurso de povo, cujo fanatismo um frade excitava com violentas declamações. Dois outros frades, um com uma cruz, outro com um crucifixo arvorado, saíram então do mosteiro, bradando heresia, heresia! O rugido do tigre popular não tardou a ressoar por toda a cidade. As marinhagens de muitos navios estrangeiros fundeados no rio vieram em breve associar-se à plebe amotinada. Seguiu-se um longo drama de anarquia. Os cristãos-novos que giravam pelas ruas desprevenidos eram mortos ou malferidos e arrastados, às vezes semivivos, para as fogueiras que rapidamente se tinham armado, tanto no Rossio como nas ribeiras do Tejo.

... O grito de revolta era: Queimai-os! Quantos cristãos-novos encontravam arrastavam-nos pelas ruas e iam lançá-los nas fogueiras da Ribeira e do Rossio. Nesta praça foram queimadas nessa tarde trezentas pessoas...

"Na segunda-feira as cenas da véspera repetiram-se com maior violência, e a crueldade da plebe, incitada pelos frades, revestiu-se de formas ainda mais hediondas. Acima de quinhentas pessoas haviam perecido na véspera: neste dia passaram de mil. Segundo o costume, ao fanatismo tinham vindo associar-se todas as ruins paixões, o ódio, a vingança covarde, a calúnia, a luxúria, o roubo. ...

"Metiam a ferro homens, mulheres e velhos: as crianças arrancavam-nas dos peitos das mães e, pegando-lhes pelos pés esmagavam-lhes o crânio nas paredes dos aposentos. Depois saqueavam tudo."


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Parabéns pelo post. Mesmo meio milénio depois é bom não esquecermos.
 
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