2006-04-19
O Livro de Presenças do Parlamento
Quando os deputados não estão...
Finalmente, dando satisfação aos numerosos cidadãos que exigiram o índex dos deputados faltosos, o DN (pelo menos) saciou-nos parte da curiosidade, publicando os nomes e a obediência partidária de cada um deles ou delas.
Atormenta-me a dúvida de saber se a curiosidade tão rápida e veementemente veiculada pelos media, se desfará com tão pouco. Importará, por certo, que os deputados faltosos, ao responderem à intimação, respeitem a verdade. De que modo se preparam os justiceiros para validar as respostas? Recorrendo à teoria dos grandes números? Averiguando criminalmente? Não sei.
Sei que, respondendo bem ou mal à intimação, vão continuar como estavam, sem maiores exigências do que as preexistentes, mordiscando as horas, sem que as forças partidárias a que pertencem os deixem sentir-se úteis, criativos e intervenientes. Os modelos de participação partidária não dão para mais; o grau de exigência dos eleitores e da crítica que os media veiculam, também não.
Porém, talvez esteja a desvalorizar um adquirido importante que o saldo desta campanha do «livro-de-ponto» nos trouxe.
Os deputados (todos) vão ter muito mais cuidado (olá se vão!) com o registo das suas presenças no hemiciclo, que é, pelo visto, onde mais falta fazem à nação. A isto terão sido conduzidos pelas torrentes auto-reflexivas da pós-modernidade.
Viva a República!
Atormenta-me a dúvida de saber se a curiosidade tão rápida e veementemente veiculada pelos media, se desfará com tão pouco. Importará, por certo, que os deputados faltosos, ao responderem à intimação, respeitem a verdade. De que modo se preparam os justiceiros para validar as respostas? Recorrendo à teoria dos grandes números? Averiguando criminalmente? Não sei.
Sei que, respondendo bem ou mal à intimação, vão continuar como estavam, sem maiores exigências do que as preexistentes, mordiscando as horas, sem que as forças partidárias a que pertencem os deixem sentir-se úteis, criativos e intervenientes. Os modelos de participação partidária não dão para mais; o grau de exigência dos eleitores e da crítica que os media veiculam, também não.
Porém, talvez esteja a desvalorizar um adquirido importante que o saldo desta campanha do «livro-de-ponto» nos trouxe.
Os deputados (todos) vão ter muito mais cuidado (olá se vão!) com o registo das suas presenças no hemiciclo, que é, pelo visto, onde mais falta fazem à nação. A isto terão sido conduzidos pelas torrentes auto-reflexivas da pós-modernidade.
Viva a República!
Comments:
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"Torrentes auto-reflexivas da pós-modernidade"?
O que quer vocemecê dizer com isso?
Quanto ao resto, parece que tem algum familiar deputado. Ou será MC uma espécie de pseudónimo de um dos deputados faltosos?
Ângelo Marques
O que quer vocemecê dizer com isso?
Quanto ao resto, parece que tem algum familiar deputado. Ou será MC uma espécie de pseudónimo de um dos deputados faltosos?
Ângelo Marques
MC:
Vou apenas responder ao cuidado quanto ao livro de ponto e à sua relação com a falta que fazem ao País.
Faço uma analogia com aqueles funcionários (públicos ou privados) que quando os obrigam a cumprir horários acham-se no direito de não fazer nada.
O horário e a assiduidade são para tua informação uma das questões nas quais as crianças são incentivadasd e avaliadas na escola. E isso é feito por uma razão simples : Numa sociedade tem de haver regras.
A questão das faltas e do livro de ponto é autónoma de eles cumprirem as suas outras obrigações.
Vou apenas responder ao cuidado quanto ao livro de ponto e à sua relação com a falta que fazem ao País.
Faço uma analogia com aqueles funcionários (públicos ou privados) que quando os obrigam a cumprir horários acham-se no direito de não fazer nada.
O horário e a assiduidade são para tua informação uma das questões nas quais as crianças são incentivadasd e avaliadas na escola. E isso é feito por uma razão simples : Numa sociedade tem de haver regras.
A questão das faltas e do livro de ponto é autónoma de eles cumprirem as suas outras obrigações.
______________________
Caro Ângelo,
Na prática, é como se eu fosse familiar dos deputados. Melhor ou pior, com as minhas críticas e desaforos, eles continuam a ser eleitos para manterem o funcionamento e autoridade da Assembleia da República que, como o Ângelo por certo sabe, se construiu contra a Assembleia Nacional do regime fascista, com uma Assembleia Constituinte pelo meio. Os melhores e os piores são como meus irmãos. Critico-os, se necessário, mas nunca me esqueço que nós os elegemos para manterem a autoridade do pilar mais importante do regime democrático.
Nessa parte tem razão. Admito que acertou.
Quanto às «torrentes auto-reflexivas da pós-modernidade» também acho que tem razão. Desde logo, porque o meu caro Ângelo, com uma modéstia invejável, admite que não compreendeu. Isso chega-me. Aqui fica a promessa de um poste para descodificar tão entaramelada linguagem.
Obrigado pelos seus comentários.
_____________________
Lester,
Aos funcionários públicos e privados não basta serem assíduos e pontuais.
Quem se der ao trabalho de consultar processos disciplinares, saberá que aonde a organização é bem gerida, não há espaço para a preguiça, incumprimento ou, como soe dizer-se nas minhas paragens, «não há pão para malucos», reparando que, quando quem detém a autoridade da coordenação se está nas tintas, o resto costuma ir de mal a pior. Não é pois uma questão de assiduidade ou pontualidade mas, bem diferentemente, o que com elas, mais ou menos responsavelmente, se faz.
Nas empresas que conheço, (públicas e privadas) com excepção dos postos de trabalho com interacção directa com o público, sujeitos a horários de atendimento, tende a avaliar-se o trabalho pelos resultados, pelo cumprimento de metas, por indicadores qualitativos que não se deixam ludibriar com as pontualidades da macaquice ou com as assiduidades para inglês ver.
Perdoa-me se, de algum modo, te irritei com o «livro de ponto» ou «livro de presenças». Confesso que, de facto, acho uma forma de controlo do desempenho um pouco ultrapassada.
Acho que somos capazes de fazer melhor.
Entre a avaliação do desempenho político durante o mandato e a pulseira electrónica, a soberania não deveria ser tão funcionalizada como alguns parecem desejar.
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Caro Ângelo,
Na prática, é como se eu fosse familiar dos deputados. Melhor ou pior, com as minhas críticas e desaforos, eles continuam a ser eleitos para manterem o funcionamento e autoridade da Assembleia da República que, como o Ângelo por certo sabe, se construiu contra a Assembleia Nacional do regime fascista, com uma Assembleia Constituinte pelo meio. Os melhores e os piores são como meus irmãos. Critico-os, se necessário, mas nunca me esqueço que nós os elegemos para manterem a autoridade do pilar mais importante do regime democrático.
Nessa parte tem razão. Admito que acertou.
Quanto às «torrentes auto-reflexivas da pós-modernidade» também acho que tem razão. Desde logo, porque o meu caro Ângelo, com uma modéstia invejável, admite que não compreendeu. Isso chega-me. Aqui fica a promessa de um poste para descodificar tão entaramelada linguagem.
Obrigado pelos seus comentários.
_____________________
Lester,
Aos funcionários públicos e privados não basta serem assíduos e pontuais.
Quem se der ao trabalho de consultar processos disciplinares, saberá que aonde a organização é bem gerida, não há espaço para a preguiça, incumprimento ou, como soe dizer-se nas minhas paragens, «não há pão para malucos», reparando que, quando quem detém a autoridade da coordenação se está nas tintas, o resto costuma ir de mal a pior. Não é pois uma questão de assiduidade ou pontualidade mas, bem diferentemente, o que com elas, mais ou menos responsavelmente, se faz.
Nas empresas que conheço, (públicas e privadas) com excepção dos postos de trabalho com interacção directa com o público, sujeitos a horários de atendimento, tende a avaliar-se o trabalho pelos resultados, pelo cumprimento de metas, por indicadores qualitativos que não se deixam ludibriar com as pontualidades da macaquice ou com as assiduidades para inglês ver.
Perdoa-me se, de algum modo, te irritei com o «livro de ponto» ou «livro de presenças». Confesso que, de facto, acho uma forma de controlo do desempenho um pouco ultrapassada.
Acho que somos capazes de fazer melhor.
Entre a avaliação do desempenho político durante o mandato e a pulseira electrónica, a soberania não deveria ser tão funcionalizada como alguns parecem desejar.
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