2006-05-30
A burocracia como forma de humilhação
Quando cheguei a França no inicio dos anos 90 fui, como muitos outros, confrontado com a odiosa burocracia dos serviços de estrangeiros franceses. Logo de inicio só me concederam uma autorização de residência de um ano com o argumento que as inscrições universitárias eram por um ano; ora na altura os regulamentos comunitários diziam que a duração das autorizações de residência para europeus era igual à validade dos bilhetes de identidade. Após um ano de estudo fui pedir uma nova autorização: lá tive de fazer 20 km de moto durante o dia pois a repartição abre tarde e fecha cedo. Depois de uma boa espera lá me marcaram um dia para voltar com os papeis : cerca de 2 meses depois!
Na data e hora marcada fui ao tal encontro seguindo escrupulosamente as instruções descritas num papel oficial: lista dos documentos (diga-se de passagem com coisas como o extracto do banco de 12 meses), originais e fotocópias na ordem solicitada, etc. A pessoa que me atendeu tinha cara de poucos amigos, aliás diga-se que mal se lhe via a cara pois não levantava os olhos da papelada. Lá lhe fui dando os papeis e as fotocópias para o meu processo, quando pensei que já tinha acabado eis que a senhora me diz: "falta um papel", e eu ingenuamente: "mas está aqui tudo o que vinha na lista", do outro lado do guichet: "você é estudante, falta o certificado de assiduidade", "o que é isso", "a prova de como foi às aulas", "mas eu estou a fazer um doutoramento, não há aulas, estou num laboratório, faço investigação", "se não tem aulas então não é estudante, se não me dá o papel da assiduidade não tem autorização de residência". Por fim, após me terem ameaçado de expulsão lá voltei ao trabalho bastante enervado, o director resolveu o problema escrevendo um papel onde certificava que eu era muito assíduo com o carimbo da École Polytechnique.
Esta pequena experiência pessoal não é nada ao pé do que sofrem os imigrantes não comunitários: em alguns sítios pratica-se um racionamento burocrático que faz as pessoas passarem, por vezes, 10 horas ao frio para terem um papel que lhes dá direito de voltarem alguns meses depois. Aconselho-vos a leitura desta reportagem.
Na data e hora marcada fui ao tal encontro seguindo escrupulosamente as instruções descritas num papel oficial: lista dos documentos (diga-se de passagem com coisas como o extracto do banco de 12 meses), originais e fotocópias na ordem solicitada, etc. A pessoa que me atendeu tinha cara de poucos amigos, aliás diga-se que mal se lhe via a cara pois não levantava os olhos da papelada. Lá lhe fui dando os papeis e as fotocópias para o meu processo, quando pensei que já tinha acabado eis que a senhora me diz: "falta um papel", e eu ingenuamente: "mas está aqui tudo o que vinha na lista", do outro lado do guichet: "você é estudante, falta o certificado de assiduidade", "o que é isso", "a prova de como foi às aulas", "mas eu estou a fazer um doutoramento, não há aulas, estou num laboratório, faço investigação", "se não tem aulas então não é estudante, se não me dá o papel da assiduidade não tem autorização de residência". Por fim, após me terem ameaçado de expulsão lá voltei ao trabalho bastante enervado, o director resolveu o problema escrevendo um papel onde certificava que eu era muito assíduo com o carimbo da École Polytechnique.
Esta pequena experiência pessoal não é nada ao pé do que sofrem os imigrantes não comunitários: em alguns sítios pratica-se um racionamento burocrático que faz as pessoas passarem, por vezes, 10 horas ao frio para terem um papel que lhes dá direito de voltarem alguns meses depois. Aconselho-vos a leitura desta reportagem.
Comments:
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Em Portugal, ao que parece, as coisas não são muito diferentes. Deve ser por a "escola" ser a mesma. A burocracia portuguesa é uma cópia da francesa.
Já trabalhei na Alemanha e nos EUA. Em ambos esses países fui sempre bem tratado pela burocracia. Nada tenho de que me queixar.
Luís Lavoura
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Já trabalhei na Alemanha e nos EUA. Em ambos esses países fui sempre bem tratado pela burocracia. Nada tenho de que me queixar.
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