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2006-05-19

 

Dan Brown (1)



Ela e Ele.

Passando por cima da crítica do filme The Da Vinci Code, de Ron Howard, que estreou ontem, retomo o texto do livro a que o filme se alapa, com raras excepções. A “indústria cultural” que o livro ajudou a globalizar, apresenta, no imediato, algumas vantagens. Suscita questões normalmente afastadas das temáticas oferecidas quotidianamente aos grandes públicos; interroga o passado e as ideias feitas; convida à reflexão. Apesar do género guionista de uma literatura a que muitos dos nossos Petrónios se apressaram a chamar “de aeroporto”, o sucesso de Brown mostra que ele entendeu, pelo menos, três coisas fundamentais.

Que a força do cristianismo está na divinização de cada um de nós. Cristo, enquanto homem, é o exemplo da paixão, do inconformismo, irmanado aos mais pobres contra a opulência dos ricos, déspotas e poderosos.

Que a força do cristianismo será sempre uma heresia contra a Igreja de Roma que expulsou o “sagrado feminino” por este reconduzir sempre ao renascimento de Cristo, no Homem e na Mulher.

Que não tem sido fácil preservar o exemplo civilizador do cristianismo contra a falsificação institucional, colonizadora, e tiranizadora dos povos.

Deste modo, Dan Brown tem contas a ajustar com a Igreja de Roma. Como Isaac Newton e Galileu; como todos nós.

À sombra do Código, enquanto uns celebram o regresso de Cristo à História, outros inquietam-se com a divinização do humano e a sugestão de que o verdadeiro templo, a Rosa Cruz e o Santo Graal, são as formas milenarmente clandestinizadas de nomear e celebrar a mulher.

Não há nada mais realista do que uma boa ficção.

Comments:
Nunca tinha lido nada assim sobre esse livro. Tenho de lê-lo e já agora ver também o filme.

Fátima
 
Gostei do livro, gostei do filme! Quanto a acreditar ou não na teoria é com cada um de nós!
 
Parabéns pelo texto excelente. Forma e conteúdo (quanto, outrora se discutiu esta dicotomia instrumental!)
Não li nem vi. Vou ver e ler se tiver tempo. Só o preconceito de recusar tudo o que aparece em turbilhão propagandístico me levou ao recato de não ler o best seller
A propósito de Cristo. Como se sabe religiões não se discutem. Mas historicamente a figura mítica de Cristo terá surgido primeiro como Deus ou figura divina só mais tarde se foi criando o Deus-homem. O estudo de religiões e mitos antigos e anteriores à data atribuída ao nascimento de Cristo e de que o religião cristã é tributária é fundamental para o conhecimento do cristianismo. Ao contrário da religião muçulmana em que Maomé é uma figura histórica bem documentada, de Cristo (ou Jesus)como homem, nada há que comprove a sua existência terrena. Cristo e Jesus só começam a ganhar a forma que chega aos nossos dias e que os evangelhos contraditoriamente criam e recriam a partir do século II.
Mas Maomé não é considerado pelos muçulmanos um equivalente de Cristo. Maomé é para os muçulmanos apenas um profeta ou O Profeta, enquanto Cristo é Deus feito homem.
 
É sempre agradável e útil, para mim, passar por aqui. A sua maneira de ler estas questões, RN, encanta-me.
 
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